Lei Lola

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Lei Lola
Congresso Nacional do Brasil
Citação Lei nº 13.642 de 03/04/2018
Jurisdição Todo o Brasil
Aprovado por Câmara dos Deputados
Aprovado em 7 de dezembro de 2017
Aprovado por Senado Federal
Aprovado em 7 de março de 2018
Transformado em lei por Presidente Michel Temer
Transformado em lei em 3 de abril de 2018
Histórico Legislativo
Primeira casa: Câmara dos Deputados
Citação do projeto de lei PL 4614/2016
Apresentado por Dep. Luizianne Lins
Apresentado em 3 de março de 2016
Aprovado 7 de dezembro de 2017
Segunda casa: Senado Federal
Citação do projeto de lei PLC 186/2017
Recebido de Câmara dos Deputados em 8 de dezembro de 2017
Aprovado 7 de março de 2018
Palavras-chave
Estado: Em vigor

A Lei 13.642/18, conhecida como Lei Lola, foi uma lei sancionada no governo Temer que permite a investigação de quaisquer casos de misoginia na internet pela Polícia Federal.[1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Lola Aronovich é ameaçada desde 2008

Dolores Aronovich Aguero, mais conhecida como Lola Aronovich, é uma argentina naturalizada brasileira que leciona literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC), e é conhecida pelo seu blog feminista Escreva Lola Escreva.[2] Ela passou a ser ameaçada de morte desde 2008, quando seu blog foi aberto.[3] A maior parte das ameaças que recebe vêm de fóruns anônimos como o Dogolachan, pois ela entrou em desavenças com seu criador, Marcelo Valle Silveira Mello, por ter classificado o Massacre de Realengo como feminicídio em 2011[4] e denunciado seu site racista, Sílvio Koerich, em 2013.[5] Além dela, sua família também passou a ser ameaçada. Seu marido, Silvio Cunha Pereira, passou a receber ameaças desde 2014.[6][7] O Dogolachan é o maior site da extrema-direita no Brasil[8] e é conhecido por estar envolvidos em ameaças e assassinatos, como o Massacre de Suzano.[9] Em uma dessas ameaças, GOEC disse em 2016 de faria uma chacina na UFC que deixaria 300 mortos caso a universidade não demitisse Lola,[10] porém pediu desculpas quando passou a ser investigado.[11] Em outro caso, os channers criarm um site parodiando seu blog, o Lola Escreva Lola, onde a acusaram de manter um cassino ilegal em Fortaleza, onde Lola venderia drogas, animais silvestres e também funcionaria como uma clínica de aborto. Também foi acusada de desviar verbas de sua universidade e a denunciaram para a ouvidoria e para a Polícia Federal. Em outro caso, em 2017, Marcelo a processou duas vezes, e foram planejados atentados contra a sua vida no Dogolachan. Suas advogadas, porém, conseguiram que a audiência fosse feita por vídeoconferência. Posteriormente, as advogadas se retiraram do caso por também estarem sendo ameaçadas. Um advogado assumiu o caso, mas também saiu por sua filha passar a ser ameaçada. A nova advogada assinava como um homem, para evitar os assédios.[4]

Promulgação[editar | editar código-fonte]

Lola denunciava várias das ameaças que sofria em delegacias especializadas em crimes cibernéticos, delegacias no geral e na Delegacia da Mulher, porém a investigação era dificultada pela falta de vínculo de Lola com os agressores e pelos sites que a ameaçavam estarem hospedados fora do país.[12] Além disso, até então existiam poucas leis que regulamentavam crimes na internet, sendo elas o Marco Civil da Internet, a Lei Geral de Proteção de Dados e a Lei Carolina Dieckmann,[13] o que leva criminosos a acharem brechas para saírem impunes.[14][15]

O caso ganhou a atenção da deputada do Partido dos Trabalhadores (PT) Luizianne Lins, que criou o Projeto de Lei 4.614/16 .[3] Lins entendia que, pelos crimes possuirem caráter interestadual e internacional, a investigação deveria ser feita pela Polícia Federal, e não pela Civil.[4] Ela foi outorgada no dia 3 de abril de 2018 pelo então presidente Michel Temer e os ex-Ministros da Justiça e da Mulher, Família e Direitos Humanos Torquato Jardim e Gustavo do Vale Rocha.[1] O processo de promulgação foi rápido, durando apenas quatro meses.[4]

Análise[editar | editar código-fonte]

A lei é um marco por ser a primeira vez em que a palavra "misoginia" aparece na legislação brasileira.[12] Porém, Lola reitera que "tem uma distância grande entre você aprovar uma lei e aplicar uma lei". Além disso, a lei prevê apenas a investigação. De acordo com Vladimir Aras, procurador representante do Ministério Público Federal, os juizes apenas julgarão se os crimes forem transicionais e previstos em tratados internacionais.[3] A misoginia em si não é crime, apesar de que ações ligadas a ela sejam. Portanto, mesmo que investigado, o caso poderá não ser julgado.[4]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Michel Temer, Torquato Jardim e Gustavo do Vale Rocha. «Legislação Informatizada - LEI Nº 13.642, DE 3 DE ABRIL DE 2018 - Publicação Original». Presidência da República do Brasil. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  2. «Blogueira Lola Aronovich é ameaçada novamente: "adoraria esfregar sua cara fétida no chão"». Revista Fórum. 6 de fevereiro de 2019. Consultado em 2 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2022 
  3. a b c «Desafio é tornar lei conhecida, diz blogueira que inspirou legislação sobre misoginia na internet - Notícias». Câmara dos Deputados. 13 de junho de 2018. Consultado em 2 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2022 
  4. a b c d e Gomes, Sabrina da Silva (5 de maio de 2022). «Manifestações de ódio contra as mulheres no meio digital : uma análise da Lei nº 13.642/2018 – Lei Lola». Consultado em 2 de novembro de 2022 
  5. Luana Benedito (17 de março de 2019). «Lola Aronovich, vítima de fóruns de ódio: pais precisam saber o que os filhos fazem na web». O Dia. Consultado em 13 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2022 
  6. Aronovich, Lola (10 de maio de 2018). «QUADRILHA MISÓGINA QUE NOS ATACA HÁ ANOS PRESA HOJE!». O Cafezinho. Consultado em 4 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 29 de maio de 2018 
  7. Aronovich, Lola (10 de maio de 2018). «QUADRILHA MISÓGINA QUE NOS ATACA HÁ ANOS PRESA HOJE!». Escreva Lola Escreva. Consultado em 4 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 15 de maio de 2018 
  8. Santos, Douglas Rafael dos (9 de setembro de 2019). «Breve análise de movimentos de extrema direita em diferentes locais e épocas». RIUFAL. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  9. Tatiana Farah. «Criador do Dogolachan, fórum dos assassinos de Suzano, cumpre 41 anos de prisão no Paraná». BuzzFeed. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  10. Lola Aronovich (7 de dezembro de 2020). «AMEAÇAS A VEREADORAS NEGRAS E TRANS NÃO DEVEM SER TRATADAS ISOLADAMENTE». Escreva Lola Escreva. Consultado em 12 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2022 
  11. «Em e-mail enviado à Fórum, hater mascu pede desculpas à PF e mantém ameaças a blogueira». Revista Fórum. 6 de janeiro de 2017. Consultado em 12 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2022 
  12. a b AZEVEDO, Dalila Arruda; BEZERRA, Waydson Carvalho (10 de dezembro de 2021). «LEI LOLA: O DIREITO DIGITAL NO COMBATE A MISOGINIA». Conexão Unifametro 2021, edição XVII. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  13. «Crimes digitais: leis aplicáveis». POSESA. 14 de fevereiro de 2022. Consultado em 2 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2022 
  14. Alexandre Atheniense. «Falta de lei sobre crimes virtuais leva à impunidade, diz especialista». Jusbrasil. Consultado em 2 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2022 
  15. Helder Lima (12 de dezembro de 2015). «Impunidade de crimes cibernéticos alimenta ódio e ataques ao feminismo». Rede Brasil Atual. Consultado em 2 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2022 

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]