Linda Tayah

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Linda Tayah
Nascimento 13 de março de 1947
Manaus, Brasil
Residência Curitiba, Paraná
Nacionalidade Brasil brasileira
Parentesco Salim Tayah e Behiye Recuan
Cônjuge Viriato Xavier de Mello Filho
Filho(a)(s) José Milton Filho
Ocupação guerrilheira, professora

Linda Tayah de Melo (Manaus, 13 de Março de 1947) foi uma guerrilheira da Ação Libertadora Nacional (ALN) que atuou na luta armada contra a ditadura militar brasileira entre 1969 e 1971.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Linda nasce em Manaus (AM) em 13 de Março de 1947, filha do sírio Salim Tayah e da turca Behiye Recuan.[1] Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 11 anos com a mãe e os irmãos, onde a mãe estabeleceu-se com um comércio no bairro do Grajaú e viveu uma confortável vida. Ouviu falar em política com seu primeiro namorado, o normalista pernambucano José Milton Barbosa, estudante de Economia da UFRJ e sargento do Exército. Ingressou na mesma instituição no curso de História e depois em Ciências Sociais. Foi recrutada no ano de 1969 pelo namorado para juntar-se à Ação Libertadora Nacional, ano em que ele havia sido expulso do Exército e entrado na clandestinidade.

Militância na ALN[editar | editar código-fonte]

No final do ano de 1969, um amigo de José Milton, Aldo de Sá Brito de Souza Neto (assassinado na tortura em janeiro de 1971), pede-a que alugue um apartamento na rua Sá Ferreira para abrigar dois militantes clandestinos — Cida Costa e Aton Filho, o que ela faz sem compreender as implicações, pagando ocasionais visitas ao casal para não erguer suspeitas.

No dia 19 de dezembro de 1969, o apartamento cai, Linda é presa numa feira e levada de volta ao apartamento onde encontra Aton preso e já bastante machucado por agressões. São mantidos em cárcere até a chegada de outro companheiro, o militante Domingos Fernandes. Linda então é levada a um local não discriminado, porém muito afastado, onde passa pela tortura pela primeira vez. Sofre choques e simulações de fuzilamento com um capuz na cabeça, mas resiste à tortura, não revela o nome de José Milton e lança um nome frio para conseguir sua liberdade. É solta apenas em 29 de janeiro de 1970.

Um mês depois é presa novamente, quando o coronel do Codi do I Exército descobre a farsa do nome que usou para ser solta. Dessa vez, abre o nome de José Milton, confessa uma "ação de carro em Laranjeiras"" e é novamente solta, sob o pretexto de que "não queria mais nada com política". Linda então entra pra clandestinidade, como documentado em carta destinada à mãe encontrada pelo I Exército em aparelho desativado. Linda e Zé Milton passam a morar em aparelhos da Organização e ela passa a atuar em ações. Sua primeira ação é o assalto ao restaurante Hungaria e em seguida integra ações de assalto ao Supermercado Morita, a dois carros, a implantação de bomba na Supergel e o assalto à Utilbrás.

Linda passa a morar em uma pensão no Ipiranga após Zé Milton ser detido tentando pegar um avião de Buenos Aires para Cuba e sendo flagrado com documentos falsos. Zé Milton consegue fugir e retorna para São Paulo.[2]

A gravidez na prisão[editar | editar código-fonte]

O fatídico episódio em que a militante Lídia Guerlenda perde a mão ao testar bombas caseiras em treinamento de tiro na região do Embu-Guaçu, zona sul de São Paulo, marca o início dos acontecimentos que culminariam na morte de Zé Milton e em sua prisão. A clandestinidade impedia Lídia de receber atendimento médico adequado e isso força Linda, Zé Milton e Gelson Reicher a buscarem alternativas para a companheira gravemente ferida.

Em 5 de dezembro de 1971, os três circulam fortemente armados em um fusca, buscando o sequestro de um médico para atender Lídia. De acordo com depoimentos feitos por PMs que participaram do cerco, os eventos se sucedem da seguinte maneira:

"No dia 5 de dezembro, os três circulam num fusca cheio de armas pela avenida Sumaré. Percebem com alguma antecedência que logo à frente se desenrola uma ostensiva Operação Arrastão da Polícia Militar. Param o carro, pegam as armas e, tentando disfarçar, entram no portão do sobrado 3240 - como se morassem lá ou estivesse chegando. Assustada com as armas, uma garota no andar de cima faz sinal para os policiais, que vão ver o que está acontecendo. Há um primeiro tiroteio - mas os três conseguem escapar pelo muro dos fundos.

Linda tem um .38. Gelson outro. Zé Milton um INA. Perseguidos, chegam à rua Veríssimo da Glória. Gelson se esconde na residência de número 62. Linda e Zé fazem refém, no meio da vida, o soldado Valdomiro Trombeta. Obrigam-no a parar um Galaxie, fazem os ocupantes descerem e prostrarem no chão. Linda toma o volante, .38 em punho. Zé Milton, INA engatilhada, coage o soldado a entrar com ele no banco da frente. Valdomiro reluta. Percebe, no meio do rebuliço, que muitos outros PMs estão chegando. Grita para não atirarem: "Os terroristas vão me matar". Num segundo de descuido a INA de Zé Milton aproxima-se muito da cintura de Valdomiro - que tenta tomá-la. Os dois brigam, Linda acerta a mão esquerda do soldado, os outros PMs atiram no casal, Linda acerta um tiro na coxa direita do soldado Alcides Rodrigues de Souza. Linda é baleada. Zé Milton está morto. Gelson consegue fugir."[3][4]

Baleada na testa, Linda chega à "Oban", como ainda chamavam os guerrilheiros os então denominados DOI/CODI, onde, alega-se, tentam fazer a identificação, trazendo diversos presos para tentar reconhecê-la, mas nenhum conseguia, dado o estado de seu rosto. Passam por ela com uma maca com o corpo de Zé Milton, dizendo que ele ainda estaria vivo e pedindo para que ela falasse. Isso dura 40 minutos, até ser enfim levada para o Hospital das Clínicas, onde é retirada a bala de sua cabeça e fica internada por sete dias, sob forte vigia, até ser levada novamente para a Oban. Aí é constatada sua gravidez, que seu companheiro morreu sem nunca saber e continua passando por torturas - choques elétricos, espancamentos, forçada à nudez. Sérgio Fernando Paranhos Fleury participa pessoalmente de interrogatórios. Ela passa os primeiros meses de gravidez então sob a "Oban" (DOI/CODI) de Carlos Alberto Brilhante Ustra, onde alega ter sido induzida ao aborto, e que seus torturadores teriam dito a ela que ela tinha "um útero de ferro", por não perder o filho que carregava, posto que o aborto nunca ocorreu. Passa então a ir mensalmente para o Hospital das Clínicas para consultas de rotina da gravidez e sai da Oban no dia do parto, 28 de agosto de 1972. De lá, é transferida para o Presídio Tiradentes, sem antes passar novamente pela Oban, às ordens de Ustra, que sentia-se orgulhoso, crendo ter cuidado de Linda e seu filho, José Milton, batizado em homenagem ao falecido pai. O filho fica sob a tutela da família e Linda só é solta no dia 22 de março de 1974.[5]

Vida após a prisão[editar | editar código-fonte]

Quando sai da prisão, Linda recompõe a vida. Forma-se em Ciências Sociais e Psicologia e muda-se para Curitiba. Casa-se com o também guerrilheiro Viriato Xavier de Mello Filho, com quem tem um filho. Trabalhou como professora municipal.[6]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b «José Milton Barbosa - Comissão da Verdade» (PDF). Comissão da Verdade. Consultado em 14 de janeiro de 2019 
  2. CARVALHO, Luiz Maklouf (1998). Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Editora Globo. pp. 241–246. ISBN 9788525021335 
  3. CARVALHO,, Luiz Maklouf (1998). Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Editora Globo. pp. 250–251. ISBN 9788525021335 
  4. MIRANDA, Nilmário; TIBÚRCIO, Carlos (1999). Dos filhos deste solo - Mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado. São Paulo: Perseu Abramo/Boitempo. 650 páginas. ISBN 9788585934378 
  5. CARVALHO, Luiz Maklouf (1998). Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Editora Globo. pp. 250–262. ISBN 9788525021335 
  6. CARVALHO, Luiz Maklouf (1998). Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Editora Globo. pp. 262–263. ISBN 9788525021335