Mário Ottoboni

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mário Ottoboni
Mário Ottoboni
Nascimento 11 de setembro de 1931
Barra Bonita
Morte 14 de janeiro de 2019 (87 anos)
São José dos Campos
Cidadania Brasil
Ocupação jornalista, escritor, advogado

Mário Ottoboni (Barra Bonita, SP, 11 de setembro de 1931 - São José dos Campos, SP, 14 de janeiro de 2019) foi um jornalista, escritor, advogado e criador da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC).

Foi casado com Cidinha Ottoboni, que faleceu na mesma data que Mário, mas em 2016.[1][2]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Mário Ottoboni nasceu em Barra Bonita, município do estado de São Paulo. Aos 12 anos, sua família se moveu para o município de São José dos Campos.[1][2]

Ele se formou advogado pela Faculdade de Direito do Vale do Paraíba.[1][2]

Quando adulto, trabalhou como secretário de Administração da Câmara municipal de São José dos Campos por 27 anos.[2] Em junho de 1967, recebeu do Legislativo Municipal o título de Cidadão Joseense.[1][2]

Além do trabalho como secretário, foi jornalista e radialista, trabalhando para os jornais locais Diário da Manhã e a Rádio Piratininga. Também se envolveu com o futebol local. Durante seu mandato como presidente do Esporte Clube São José, viabilizou a construção do Estádio Martins Pereira.[3][1] Também foi autor de vários livros e peças teatrais. Em 1965, início da ditadura militar, uma delas foi censurada e teve atores e cenários detidos. O autor foi fichado como “comunista atuante no Vale do Paraíba”.[2]

Fundação da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC)[editar | editar código-fonte]

Em 1972, fundou a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), uma ONG cristã, que procura ressocializar presos do sistema carcerário brasileiro através de um método humanizado. A primeira prisão sob a gerência da APAC se deu em São José dos Campos, no mesmo ano de fundação. Na época, a sigla APAC significava "Amando o Próximo, Amarás a Cristo".[4][nota 1]

Em 1974, a entidade foi separada em duas: a entidade jurídica, a APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados - e a entidade espiritual, a APAC - Amando o Próximo, Amarás a Cristo.[4]

No modelo de prisão da APAC, não há policiais nem uniformes para os prisioneiros. O método APAC, entre seus elementos, tem o trabalho e a religiosidade no processo de ressocialização do preso. Os próprios presos possuem as chaves dos portões.[2][6][7]

Prisões gerenciadas pela APAC estão localizadas em diversos estados do Brasil, incluindo Minas Gerais,[6] Ceará,[4] Rio Grande do Sul[8] e São Paulo.[4]

As APACs são unidades que são organizadas pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), que por sua vez é ligada à Prison Fellowship International.[9][4][10]

Morte[editar | editar código-fonte]

Mário Ottoboni estava internado em uma UTI no Hospital Antoninho da Rocha Marmo, em São José dos Campos. Acabou por falecer no dia 14 de janeiro de 2019 por falência múltipla de órgãos.[1]

A Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) divulgou nota de pesar pela morte e ressaltou o trabalho de Ottoboni. "Mário Ottoboni é daquelas pessoas insubstituíveis e seu óbito deixa o mundo mais pobre", afirma a entidade.[11]

Como legado, foram criadas mais de 100 APACs pelo Brasil, além da aplicação do método APAC, mesmo que de forma limitada, em países como Alemanha, Estados Unidos, Países Baixos, Noruega, Colômbia, Costa Rica, Chéquia, Singapura e Chile.[12][13]

Notas

  1. apesar das menções de que a Prison Fellowship International seja parte da ONU, ela tem apenas caráter consultivo para a ONU[5]

Referências

  1. a b c d e f «Morre em São José o jornalista e advogado Mário Ottoboni, criador da APAC». www.camarasjc.sp.gov.br. Consultado em 4 de abril de 2021. Cópia arquivada em 4 de abril de 2021 
  2. a b c d e f g Canofre, Fernanda (27 de janeiro de 2019). «Mortes: O homem que criou um modelo alternativo de cadeias no Brasil» 
  3. «Morre Mário Ottoboni, o presidente do São José que construiu o Martins Pereira». Seção de Esporte. O Vale. Consultado em 4 de abril de 2021 
  4. a b c d e Tomaz, Rosimayre. «Método APAC: estratégia humana e eficaz de reinserção do preso no convívio social - Jus.com.br | Jus Navigandi». jus.com.br. Consultado em 4 de abril de 2021 
  5. «United Nations Website - Description of Prison Fellowship International's ECOSOC Status». Arquivado do original em 15 de dezembro de 2007 
  6. a b Lopes, Edilene (22 de abril de 2018). «O presídio sem guardas nem algemas que dá certo no Brasil»Subscrição paga é requerida. Gazeta do Povo. Consultado em 4 de abril de 2021. A metodologia APAC segue 12 elementos, dentre eles o trabalho e a espiritualidade, além da máxima de que “ninguém é irrecuperável” 
  7. Vallina, Lupe De la (25 de agosto de 2017). «Presídios sem polícia, uma utopia real no Brasil»Subscrição paga é requerida. EL PAÍS. Consultado em 4 de abril de 2021. [...] que defende um modelo de prisão sem policiais, armas nem motins, onde os detentos não usam uniforme. Têm uma cama individual e comida digna. 
  8. Mendes, Letícia; Dornelles, Renato (29 de março de 2019). «Transformação no cárcere: como funciona a primeira prisão sem guardas do RS». GaúchaZH. Consultado em 4 de abril de 2021 
  9. «O que é a Prison Fellowship International?». www.fbac.org.br. Consultado em 4 de abril de 2021 
  10. «APAC Is Changing Lives in Brazil». Prison Fellowship International (em inglês). 30 de setembro de 2019. Consultado em 4 de abril de 2021 
  11. «Morre Mário Ottoboni, advogado que criou modelo de ressocialização de presos». Consultor Jurídico. Consultado em 4 de abril de 2021 
  12. «The Educational Method of APAC Prisons». LA CIVILTÀ CATTOLICA (em inglês). 13 de dezembro de 2018. Consultado em 4 de abril de 2021. This method is used in some prison wings in 23 other countries – such as the Netherlands, Norway, Hungary, the United States, Colombia, Costa Rica, the Czech Republic, Germany, and Singapore. In particular, in Chile there are 23 APAC prisons with 2,500 inmates. [Este método é utilizado em algumas alas de prisão em 23 outros países - como Holanda, Noruega, Hungria, Estados Unidos, Colômbia, Costa Rica, República Tcheca, Alemanha e Cingapura. Em particular, no Chile existem 23 prisões da APAC com 2.500 detentos.]