Maadi (sítio arqueológico)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Maadi.
Maadi
Maadi (sítio arqueológico)
Localização de Maadi em relação a outros sítios coetâneos do Baixo Egito
Localização atual
Maadi está localizado em: Egito
Maadi
Coordenadas 29° 58' N 31° 15' E
País  Egito
Província Cairo
Dados históricos
ca. 3 800-3 500 a.C. Idade do Cobre
Cultura Maadi-Buto
Notas
Escavações 1930-1948
Desde meados dos anos 1980

Maadi foi um sítio arqueológico do Calcolítico localizado próximo do Cairo, capital do Egito. Foi investigado entre 1930 e 1948, mas nenhuma sequência cronológica coerente foi definida. Desde meados da década de 1980, novas escavações foram feitas na porção oeste do sítio em resposta à progressiva destruição por ocupação moderna.[1]

Localização[editar | editar código-fonte]

Maadi está na margem oeste do Nilo, ao sul do Cairo, a 10 quilômetros ao norte de Omari num cume na entrada do Uádi Ti, o que coloca-a fora do alcance das zonas sujeitas às inundação do rio.[2] Foi um dos maiores sítios escavados do Período Pré-Dinástico do Baixo Egito e dada sua localização teve relevância como comunidade agrícola, artesã e metalúrgica e ponto de ligação no comércio inter-regional entre o Alto Egito e o Oriente Próximo. A ecologia da zona onde o sítio está localizado é rica em fauna e flora oriunda da planície do rio e áreas extensas da hinterlândia desértica. Compreende uma área de 18 hectares e tinha uma população estimada de menos de 1 000 pessoas.[3]

Características[editar | editar código-fonte]

Data do começo do IV milênio a.C. e é contemporâneo a Nacada I-IIB. Foi escavado seletivamente. Sua organização mostra poucos sinais de planejamento urbano e não há indícios da separação de áreas às atividades específicas (econômica, ritual, residencial).[2] Foi tido como os "restos de uma cidade em expansão" [4] e é formado por um sítio principal ligado a um cemitério e um sítio secundário ligado a outro cemitério. Possui cabanas ovais, estruturas em forma de ferradura, casas subterrâneas, estruturas retangulares (talvez currais), lareiras e silos (localizados nas bordas do assentamento).[5] Os edifícios subterrâneos se assemelham aqueles da Cultura de Bersebá.[6]

Ao possuir edifícios de estocagem bem desenvolvidos, propôs-se que era uma sociedade bem-organizada que baseou suas atividades em elaborado sistema de estocagem. Tijolos secos ao Sol e pedras com argamassa foram usadas para erigir os edifícios e a diversidade das formas das estruturas pode indicar diferenciação social;[2] a tecnologia de tijolos pode ter sido inventada no Levante e foi importada ao Egito.[7] Paliçadas e longas valas estreitas formavam parte das defesas da cidade, mas há evidência de que foi saqueada e queimada ao menos uma vez.[8] Não há claros indícios de que Maadi desempenhou atividades metalúrgicas, mas dada sua posição pensa-se que fosse centro de importação, manufatura e disseminação de cobre e objetos de cobre.[9] Buto, no delta, produziu abundante conjunto lítico e cerâmico comparável aos conjuntos de Maadi.[10]

Em Buto, Maadi e Mendes foram achadas cerâmicas fibrosas atípicas.[11] Nos estratos inferiores de Maadi, há betume que provavelmente era oriundo do mar Morto, na Palestina.[12]

De seus restos faunísticos (7595 ao todo), 79,5% eram de animais domesticados, enquanto o restante eram de peixes (10,6%), moluscos (7,5%) e animais selvagens (2,4%).[13] Comparando padrões de outros sítios e com base na análise osteológica dos ossos, concluiu-se que dos animais domésticos os suínos eram aqueles destinados ao consumo da carne, sendo abatidos com menos idade, enquanto os bovinos e ovi-caprinos produziam leite e lã.[14] Dos ossos de animais domésticados (6 038 ao todo), 20,6% são suínos, 38,3 são bovinos e 41,1% são ovi-caprinos.[15] Há alguns exemplos de figurinhas animais encontradas em Maadi, mas ao que parece são diferentes daquelas coetâneas do sul do Levante.[16]

Referências

  1. Wengrow 2006, p. 84.
  2. a b c Lloyd 2014, p. 39.
  3. Peregrine 2001, p. 159.
  4. Hayes 1965, p. 122.
  5. Byrnes 2005a.
  6. Morkot 2005, p. 92.
  7. Moeller 2016, p. 62.
  8. Hayes 1965, p. 123.
  9. Lloyd 2014, p. 39-40.
  10. Midant-Reynes 2000, p. 218.
  11. Wilson 2007, p. 26.
  12. Sowada 2009, p. 26.
  13. Vermeersch 2004, p. 269.
  14. Vermeersch 2004, p. 268.
  15. Vermeersch 2004, p. 270.
  16. Anfinset 2014, p. 101.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anfinset, Nils (2014). Metal, Nomads and Culture Contact: The Middle East and North Africa. Londres e Nova Iorque: Routledge 
  • Hayes, W. C. (1965). Most Ancient Egypt. Chicago: University of Chicago Press 
  • Lloyd, Alan B. (2014). Ancient Egypt: State and Society. Oxford: Oxford University Press 
  • Midant-Reynes, Beatrix (2000). The Prehistory of Egypt: From the First Egyptians to the First Pharaohs. Oxford: Blackwell. ISBN 0-631-21787-8 
  • Moeller, Nadine (2016). The Archaeology of Urbanism in Ancient Egypt - From the Predynastic Period to the End of the Middle Kingdom. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Morkot, Robert (2005). The Egyptians: An Introduction. Londres e Nova Iorque: Routledge 
  • Peregrine, Peter N.; Ember, Melvin (2001). Encyclopedia of Prehistory Volume 1: Africa. Nova Iorque: Springer Science+Business Media, LLC 
  • Sowada, Karin (2009). Egypt in the Eastern Mediterranean During the Old Kingdom: An Archaeological Perspective. Friburgo; Gotinga: Academic Press Fribourg; Vanderhoeck & Ruprecht 
  • Vermeersch, Pierre M.; Neer, Wim van; Hendrickx, Stan (2004). «El Abadiya 2, A Naqada I Site near Danfiq, Upper Egypt». Egypt at Its Origins: Studies in Memory of Barbara Adams : Proceedings of the International Conference "Origin of the State, Predynastic and Early Dynastic Egypt," Krakow, 28 August - 1st September 2002. Lovaina; Paris; Dudley, Massachusetts: Peeters Publishers 
  • Wengrow, D. (2006). The Archaeology of Early Egypt: Social Transformations in North-East Africa, C.10,000 to 2,650 BC. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Wilson, Penelope (2007). «The Nile Delta». In: Wilkinson, Toby. The Egyptian World. Nova Iorque: Routledge