Manuel João Ramos

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Manuel João Mendes Silva Ramos (nascido em 1960) é um antropólogo português,[1] artista e defensor dos direitos cívicos.[2] .  

Infância e educação[editar | editar código-fonte]

Manuel João Ramos nasceu em Lisboa. É o filho mais velho do falecido actor Jacinto Ramos. Licenciou-se em Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 1982. Concluiu o Mestrado em Estudos Literários Comparados em 1987, também em Universidade Nova de Lisboa, e doutorou-se em Antropologia do Simbólico no ISCTE-IUL, depois de seguir cursos doutorais de Cosmologia e Cosmografia Medieval e Renascentista na EHESS, em Paris.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Ingressou no Departamento de Antropologia do ISCTE-IUL em 1984 como assistente estagiário do Prof. José Carlos Gomes da Silva, tendo prosseguido aí a sua carreira até à actualidade, agora como Professor Associado com agregação, especializado em Antropologia do Simbólico e da Cognição. É também é investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (antigo Centro de Estudos Africanos) e seu subdirector de 2006 a 2016. É o director da Biblioteca Central de Estudos Africanos, uma infraestrutura MERIL, localizada na Biblioteca do ISCTE-IUL. De 2009 a 2016, foi membro da direcção da rede europeia de estudos africanos AEGIS.

Tem mantido uma carreira paralela como desenhador e ilustrador, trabalhando para diversos periódicos portugueses, por vezes em colaboração com o escritor Rui Zink.[3] Publicou vários dos seus desenhos de viagem em livros de autoria própria ou em colaboração com outros desenhadores. É membro da rede mundial de Urban Sketchers.

Desde a morte da sua filha mais velha, num desastre automóvel em Agosto de 1998,[4] iniciou um movimento de luta contra a elevada sinistralidade rodoviária em Portugal, empenhando-se posteriormente a nível europeu e mundial nas causas da redução dos riscos rodoviários e da mobilização para formas de mobilidade mais equitativas e sustentáveis. É, desde a sua fundação, o presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados. A sua mobilização cívica levou Helena Roseta a convidá-lo para formar o movimento Cidadãos Por Lisboa e candidatar-se às eleições autárquicas intercalares de Lisboa, em 2007. Foi eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa, em representação daquele movimento cívico local.[5][6] Em 2008, foi eleito vice-presidente da Federação Europeia de Vítimas da Estrada (FEVR) e posteriormente membro da direcção das Aliança Global de ONGs dedicadas à Segurança Rodoviária. É atualmente o representante do FEVR na Colaboração das Nações Unidas para a Segurança Rodoviária, um fórum consultivo da ONU.

Obra principal[editar | editar código-fonte]

As publicações de Manuel João Ramos na área de Antropologia incluem estudos sobre simbolismo e mitologia cristãos (os seus Ensaios em mitologia cristã: as metamorfoses do Prester John, foram publicados pela primeira vez em português em 1997, e posteriormente traduzidos para inglês em 2006) e investigação sobre tradições orais etíopes (Histórias Etíopes: Diário de Viagem, 2000, nova edição em 2010 e tradução inglesa em 2018). Com os historiadores Isabel Boavida e Hervé Pennec, publicou uma edição crítica da História da Etiópia do padre jesuíta Pedro Páez, primeiro em português em 2008, na coleção de Obras Primas da Literatura Portuguesa e depois na Sociedade Hakluyt (Pedro Páez's History of Ethiopia, 1622, em 2 vols. com tradução de Christopher Tribe).[7][8]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Livros e capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

  • Ensaios de mitologia cristã: o Preste João e a reversibilidade simbólica . Lisboa: Assírio & Alvim, 1997 ( ISBN 978-9723704174 ).
  • "Machiavellian Empowerment and Disempowerment. The Violent Struggle for Power in 17th Century Ethiopia", em Angela Cheater (ed.), The Anthropology of Power: Empowerment and Disempowerment in Changing Structures. Londres - Nova York: Routledge, 1999.
  • Histórias Etíopes: Diário de viagem . Lisboa: Assírio & Alvim, 2000.
  • Sinais do Trânsito . Lisboa: Assírio & Alvim, 2000.[9]
  • "Nem mais nem menos? Literalidade e problematização em antropologia". In María Cátedra (coord.) La Mirada Cruzada. Madrid: Catarata, 2002.
  • Essays in Christian Mythology: the metamorphoses of Prester John. Langham: University Press of America, 2006 ( ISBN 978-0-7618-3388-8 ).
  • Memórias dos Pescadores de Sesimbra: Santiago de Sesimbra no Início dos Anos Oitenta do Séc. XX . Memórias da Sociedade de Geografia de Lisboa 10. Lisboa: SGL, 2009.
  • Histórias Etíopes: Diário de Viagem . Lisboa: Edições Tinta da China, 2010 (Segunda edição: ISBN 978-989-671-034-7 ).
  • "From Beleaguered Fortresses to Belligerent Cities". In Alexandra Dias (coord.) State and Societal Challenges in the Horn of Africa: Conflict and processes of state formation, reconfiguration and disintegration. Lisbonne: EBook'IS, 2013. (ISBN 978-972-8335-23-6)
  • Of Hairy Kings and Saintly Slaves. Canon Pyon: Sean Kingston Publishing, 2018 ( ISBN 978-1-907774-19-5 ).[10]

Volumes editados[editar | editar código-fonte]

  • Carta do Preste João das Índias: versões medievais latinas, editadas e apresentadas por MJ Ramos, traduzidas do latim por Leonor Buescu. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998.
  • A Pintura Narrativa Etíope: Arte Narrativa na Etiópia . Com João Paulo Cotrim. Lisboa: Bedeteca de Lisboa - Câmara Municipal de Lisboa, 2000.
  • A Matéria do património: memórias e identidades. Lisboa: Colibri, 2003.
  • Konso-Harar: fotoetnografias na Etiópia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.
  • The Indigenous and the Foreign in Christian Ethiopian Art: On Portuguese-Ethiopian contacts in the 16th-17th centuries. Com Isabel Boavida. Aldershot: Ashgate, 2004.
  • Espírito de missão, número temático dos Cadernos de Estudos Africanos, 15. Com Rodolfo Soares. Lisboa: Centro de Estudos Africanos - ISCTE, 2008.
  • The Walker and the City. Com Mário J. Alves. Lisboa: Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, 2010.
  • Memória e Artifício: Matéria do património II . Com António Medeiros. Memórias da Sociedade de Geografia de Lisboa 11. Lisboa: SGL, 2010.
  • Risco e trauma rodoviários em Portugal . Lisboa: Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, 2011.
  • Pedro Páez's History of Ethiopia, 1622, 2 vols. Com Isabel Boavida e Hervé Pennec. Traduzido por Christopher Tribe. Londres: Sociedade Hakluyt, 2011.
  • African Dynamics in a Multipolar World (avec Ulf Engel). Leiden: Brill, 2013.
  • Fluid Networks and Hegemonic Powers in the Western Indian Ocean (avec Iain Walker et Preben Kaarsholm). Lisbonne: EBook'IS, 2017.

Artigos em revistas[editar | editar código-fonte]

Obra literária e artística[editar | editar código-fonte]

  • Os Surfistas, de Rui Zink; ilustrações de Manuel João Ramos. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 2002.
  • Major Alverca, por Manuel João Ramos e Rui Zink. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2003.
  • Série O Bebé que (incluindo The Boy Who didn't like Television. Nova York: McAdam / Cage, 2004.)
  • Traços de Viagem, de Manuel João Ramos. Lisboa: Livraria Bertrand, 2009.

Traduções[editar | editar código-fonte]

  • Mitos e símbolos na arte e civilização indianas . por Heinrich Zimmer, Tradução de Manuel João Ramos e Ana Vasconcelos e Melo. (introdução de José Carlos Gomes da Silva). Lisboa: Assírio & Alvim, 1996.
  • Sonhos, ilusão e outras realidades de Wendy Doniger O'Flaherty, Tradução de Manuel João Magalhães, revista por Manuel João Ramos. Introdução de José Carlos Gomes da Silva, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. «Ramos, Manuel João». worldcat.org 
  2. "ONU denuncia crimes contra a humanidade na Eritreia". RFI, Neidy Ribeiro Publicado RFI-Jun 9, 2016
  3. Manuel João Ramos / Rui Zink: Major Alverca, review in Novacultura.de
  4. "Girl's death spurs action over Portugal's lethal highways", The Guardian, 8/03/1999
  5. Resultados e Vereadores Eleitos – C. M. Lisboa. Memoriavirtual.net, 15/07/2007
  6. "Vereador sai zangado da CML", Correio da Manhã, 9/09/2008
  7. Review of Pedro Páez’s History of Ethiopia, 1622 by Donald Crummey (The Catholic Historical Review)
  8. Review of Páez's History of Ethiopia, 1622 by Leonardo Cohen (The Journal of African History)
  9. Sinais do Trânsito
  10. Review of Of Hairy Kings and Saintly Slaves by Anaïs Wion (Cadernos de Arte e Antropologia)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]