Mariluce Bittar

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Mariluce Bittar
Mariluce Bittar
Nascimento 7 de fevereiro de 1960
Franca, SP
Morte 18 de fevereiro de 2014 (54 anos)
Campo Grande, MS
Nacionalidade brasileiro
Educação Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso

Mariluce Bittar (Franca, 7 de fevereiro de 1960Campo Grande, 18 de fevereiro de 2014) foi uma professora e assistente social. Foi fundadora do Partido dos Trabalhadores no estado do Mato Grosso do Sul.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Neta de imigrantes sírios que formaram uma grande família árabe no Brasil. Filha de Mamédio Bittar e Manife Miguel Bittar, ela teve cinco irmãos: Marisa Bittar, Mauro Miguel Bittar, Marilena Bittar, Márcio Miguel Bittar (atualmente Senador da República) e Maura Bittar.

Após passar sua infância em fazendas no interior de São Paulo, Mariluce mudou-se para Mato Grosso em 1970 e, em seguida, para Rio Branco e Campo Grande. Em Campo Grande, participou do grupo de jovens católicos NOVATO - Nós Vamos Amar a Todos -, mantido pela Congregação Salesiana, fortalecendo seus valores de igualdade e justiça social.

A partir de 1976, sua família se engajou na oposição à ditadura militar no Brasil. Enquanto parte da família aderiu ao PCB, Mariluce aderiu ao PT. Sua casa tornou-se um centro de reuniões clandestinas, unindo diferentes correntes políticas contra o regime da época.

Inconformada com as desigualdades sociais, Mariluce ingressou no Curso de Serviço Social na FUCMT (Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso) em 1979, esperançosa em uma profissão que poderia contribuir para um Brasil melhor. Participou ativamente do movimento estudantil e, a partir de então, passou a se destacar como uma militante política influente na área social de Mato Grosso do Sul.

Mariluce Bittar faleceu[2] em Campo Grande em 18 de fevereiro de 2014, vítima de câncer, deixando dois filhos: Carime Bittar Falcão, psicóloga, e André Bittar Falcão, fotógrafo.

Atuação política[editar | editar código-fonte]

Como estudante universitária (1979 a 1981), Mariluce Bittar se destacou ao ser eleita Presidente do Diretório Acadêmico José Scampinni (DAJS), após uma campanha bem-sucedida que ela planejou e liderou com seu próprio esforço. Adotando a personagem Mafalda como símbolo, ela demonstrou irreverência, humor e crítica social. Participou ativamente na criação do Cine Clube e do Trote Cultural das Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT) que se tornaram um marco na história política de Campo Grande. O Trote Cultural, em contraposição aos trotes violentos, deu visibilidade para a cidade ao receber artistas renomados e valorizar os músicos locais, especialmente os sul-mato-grossenses, que encantaram o Brasil com a música de fronteira entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai. Mariluce, apaixonada por essa cultura, considerava Almir Sáter seu violeiro favorito e sempre dizia que a canção "Trem do Pantanal", em coautoria com Paulo Simões, deveria ser o hino de Mato Grosso do Sul.

Mariluce Bittar foi uma figura proeminente na luta contra a ditadura militar no Brasil, participando do Movimento de Anistia aos Presos Políticos[3] e, depois, das Diretas-Já (1984). Como estudante universitária, participou da refundação da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1979 na cidade de Salvador. Em 1980, foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT[4]). Sua dedicação aos direitos humanos, à educação e à assistência social a tornou pioneira na introdução de cotas na educação de Mato Grosso do Sul. Mariluce também atuou na comunidade afro-brasileira "Tia Eva", recebendo reconhecimento por seu trabalho em 2008, quando foi premiada no "Mês da Abolição e Dia da África". Em 2000, sua ligação com essa causa a levou ao Memorial Martin Luther King, em Atlanta (EUA).

Mariluce Bittar recebeu reconhecimento por sua dedicação ao ensino e às áreas de Assistência Social e Educação. Em 2014, a Universidade Católica Dom Bosco concedeu-lhe o título de Doutora Honoris Causa em Direitos Humanos.[5] O governo de Mato Grosso do Sul também destacou sua importância, criando a Escola do Sistema Único de Assistência Social – (SUAS/MS) Mariluce Bittar;[6][7] e  instituindo o "Prêmio Mariluce Bittar de Boas Práticas em Assistência Social[8]". Por sua vez, a Câmara Municipal de Campo Grande criou a "Medalha Legislativa Mariluce Bittar[9]". Em 2019, a Secretaria de Educação do estado estabeleceu o "Centro de Formação e Pesquisa Mariluce Bittar[10][11]" em sua homenagem.

Atuação Acadêmica[editar | editar código-fonte]

Mariluce Bittar, formada em Serviço Social pela FUCMT em 1981, complementou seus estudos graduados com Filosofia, curso concluído em 2013. Sua primeira pesquisa, realizada ainda como estudante, abordou a vida na Favela Nhá-Nhá, ganhando reconhecimento e repercussão na área social de Mato Grosso do Sul. Mestre pela PUC-SP em 1987, tornou-se especialista no papel das primeiras-damas nos governos estaduais.[12] Seu doutorado na UFSCar em 1999[13] e pós-doutorado na UFSC em 2009 aprofundaram seus estudos sobre a presença salesiana na educação de Mato Grosso e o papel da UCDB como instituição salesiana nessa presença. Defensora da educação inclusiva foi uma professora apaixonada pela profissão, dedicando-se à docência na UCDB de 1987 a 2014. Foi nessa mesma instituição, sucedânea da FUCMT, que Mariluce, quando estudante, havia presidido o Diretório Acadêmico DAJS.

Mariluce Bittar, especialista em políticas do ensino superior, teve significativa contribuição para a transformação da FUCMT em UCDB,[14] sendo reconhecida por sua atuação nos Cursos de Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Educação, onde alcançou feitos notáveis, como elevar a nota do programa na Avaliação da CAPES de 4 para 5 em 2007. Amada e admirada por seus alunos, ela orientou dezenas de pesquisas em Iniciação Científica, Mestrado, e Cursos de Especialização. No Doutorado, não lhe foi possível orientar além de uma pesquisa pois a doença a colheu no auge de sua maturidade intelectual. Com alunos e ex-alunas, Mariluce criou e coordenou o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino Superior (GEPES) o qual, após o seu falecimento acrescentou "Mariluce Bittar" ao seu nome. Além disso, ela exerceu importante papel nacional, sendo Vice-presidente da ANPEd[15] e coordenadora de diversos grupos de trabalho e pesquisas sobre políticas de educação superior. Mesmo não sendo parte da rede federal de ensino superior, sua competência e liderança foram reconhecidas no cenário nacional com predominância científica de instituições públicas. Ela se destacou como Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq[16] e como avaliadora do INEP em Cursos de Graduação em todo o país.[17]

Mariluce Bittar dedicou-se, nos últimos anos de vida, à pesquisa sobre políticas educacionais,[18] especialmente na educação superior, abordando temas como expansão,[19] privatização,[20] acesso,[19] democratização[21][22] e ações afirmativas[23]. Sua produção científica inclui livros, capítulos e artigos sobre educação e direitos sociais.[24] Além disso, ela era uma perfeita escriba. Tinha o hábito de registrar suas experiências em diários de viagem e reuniões de trabalho. Deixou cadernos escritos à mão revelando a sua personalidade crítica; seu desacordo com o produtivismo acadêmico e sua forte conexão com a sociedade, elo que Mariluce jamais perdeu.

Referências

  1. Do Estado, Correio (19 de fevereiro de 2014). «Morre a professora Mariluce Bittar, fundadora do PT/MS». A Crítica. Consultado em 25 de abril de 2024 
  2. Do Estado, Correio (18 de fevereiro de 2014). «Mariluce Bittar morre aos 54 anos em Campo Grande». Correio do Estado. Consultado em 20 de abril de 2024 
  3. «Lei da Anistia». Wikipédia, a enciclopédia livre. 8 de julho de 2023. Consultado em 20 de abril de 2024 
  4. http://www.dothnews.com.br. «Morre a professora Mariluce Bittar, fundadora do PT/MS». www.acritica.net. Consultado em 20 de abril de 2024 
  5. «UCDB entrega título de Doutor Honoris Causa a professores e salesianos». site.ucdb.br. Consultado em 20 de abril de 2024 
  6. bbento, Mahmod A. Issa/ (17 de abril de 2024). «Secretária Nacional vai levar modelo inédito de Escola de Assistência Social para outros estados». www.sead.ms.gov.br. Consultado em 20 de abril de 2024 
  7. «Governo do Estado inaugura hoje a primeira escola de Assistência Social do Brasil - RHS Licitações». RHS Licitações - Licitação.com.br é o portal da RHS Licitações, empresa que atua no mercado de compras governamentais. Suas contribuições abrangem tanto a administração pública quanto o setor privado. 2 de junho de 2015. Consultado em 20 de abril de 2024 
  8. webmaster (12 de dezembro de 2018). «Prêmio "Mariluce Bittar: Boas Práticas de Gestão na Assistência Social 2018". - Prefeitura Municipal de Bonito - MS». Consultado em 20 de abril de 2024 
  9. alemaciell@gmail.com (22 de maio de 2019). «Vereador Ayrton Araújo participa de sessão solene nesta quarta-feira». Câmara Municipal de Campo Grande - MS. Consultado em 20 de abril de 2024 
  10. bbento, Mahmod A. Issa/. «De olho na valorização dos profissionais da educação, SED investiu na formação continuada em 2019». www.sed.ms.gov.br. Consultado em 21 de abril de 2024 
  11. bbento, Mahmod A. Issa /. «Na vanguarda da educação nacional, Currículo de Referência é lançado em MS». SEGOV. Consultado em 21 de abril de 2024 
  12. BITTAR, Mariluce. A Face Oculta da Assistência. Campo Grande -MS: CECITEC/UCDB, 1994.
  13. BITTAR, Mariluce (1 de janeiro de 2015). «UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA: UMA IDENTIDADE EM CONSTRUÇÃO» (PDF). Universidade Católica Dom Bosco. Consultado em 20 de abril de 2024 
  14. BITTAR, Mariluce. A educação e a presença salesiana na região centro-oeste. Revista de Educação Pública, ED UFMT, v. 12, p. 177-190, 2003.
  15. «Nota de Falecimento - Profa. Dra. Mariluce Bittar». ANPEd. 18 de fevereiro de 2014. Consultado em 21 de abril de 2024 
  16. «Pesquisadores da UCDB recebem bolsa do CNPq». site.ucdb.br. Consultado em 21 de abril de 2024 
  17. MEC, MEC (13 de setembro de 2013). «Despacho do Ministro». Consultado em 20 de abril de 2024 
  18. BITTAR, Mariluce (1 de julho de 2010). «Produção do conhecimento em políticas de educação superior no Brasil: o protagonismo da Rede Universitas/Br e do GT Política de Educação Superior da ANPEd». Série-Estudos. Consultado em 20 de abril de 2024 
  19. a b FIGUEIREDO, Gil Vicente Reis de; BITTAR, Mariluce (12 de maio de 2014). «LA UNIVERSIDAD EN AMÉRICA LATINA: EDUCACIÓN SUPERIOR EN BRASIL. AMPLIACIÓN DEL ACCESO Y FORTALECIMIENTO DEL SECTOR PÚBLICO». Política Universitaria. Consultado em 20 de abril de 2024 
  20. FERREIRA Jr, Amarilio; BITTAR, Mariluce (28 de junho de 2014). «O "manifesto neoliberal" que anunciou as políticas educacionais implantadas pelos governos de Margaret Thatcher (1979-1990)». Revista HISTEDBR On-line (55): 399–410. ISSN 1676-2584. doi:10.20396/rho.v14i55.8640483. Consultado em 21 de abril de 2024 
  21. BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce (13 de junho de 2014). «Os movimentos estudantis na História da Educação e a luta pela democratização da universidade brasileira». EccoS – Revista Científica (34): 143–159. ISSN 1983-9278. doi:10.5585/eccos.n34.4346. Consultado em 21 de abril de 2024 
  22. BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce (14 de novembro de 2012). «História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade». Acta Scientiarum. Education (2). ISSN 2178-5201. doi:10.4025/actascieduc.v34i2.17497. Consultado em 21 de abril de 2024 
  23. BITTAR, Mariluce; CORDEIRO, Maria José de Jesus Alves; ALMEIDA, Carina Elisabeth Maciel de (24 de julho de 2007). «Política de Cotas para Negros na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – um estudo sobre os fatores da permanência». UCDB. Série-Estudos (24): 143 - 156. Consultado em 20 de abril de 2024 
  24. BITTAR, Mariluce (2013). «Desigualdade Regional e Políticas Públicas: Educação Superior e Exclusão na Região Centro-Oeste» (PDF). Repositório Universidade Federal do Ceará. Consultado em 20 de abril de 2024