Masoumeh Ataei

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Masoumeh Ataei
Cidadania Irã
Prêmios

Masoumeh Ataei (nascida no Irã) é uma das vítimas de violência com ácido do Irã, que a deixou cega e com cicatrizes no rosto e na mão direita para o resto da vida. Sua trajetória até a auto-aceitação e seu ativismo a fizeram ser apontada como uma das 100 Mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC em 2015.[1]

O ataque com ácido[editar | editar código-fonte]

Em 2010, Masoumeh Ataei morava em em Isfahan, terceira cidade do Irã,[2] tinha 27 anos e um filho de 2 anos de idade.[3] Seu casamento não estava bem e ela pediu o divórcio e as consequências foram devastadoras. Seu ex-sogro planejou e executou um ataque com ácido, que a deixou cega e com queimaduras graves no rosto e na mão direita.[1][4][5][6][7]

Além disso, a lei iraniana indica que as crianças de casais divorciados devem ficar com a família do homem[1] e a família de seu ex-marido ameaçou punir o menino com o mesmo castigo dela (ataque com ácido) se ela prestasse queixa contra o seu ex-sogro.[2] Sob tais circunstâncias, ela não prestou queixa e ainda teve que lutar pela custódia do filho.[1][2] Sob a lei islâmica do Irã, os dois olhos de uma mulher valem menos do que um dos olhos de um homem.[2]

Depois do ataque, ela decidiu se isolar e não ter outro relacionamento amoroso.[8] Atualmente, Masoumeh Ataei mora com seu filho na capital do seu país, Teerã, ministra aulas de arte para outras pessoas cegas e é totalmente independente.[2] Segundo ela, o mais difícil foi se aceitar:[8] “talvez a beleza facial de uma mulher seja tudo o que ela tem. Quando isso é destruído, é muito difícil para uma pessoa aceitar isso e retornar à sociedade mais uma vez.”[9] Contudo, como ela mesma afirmou:[6]

Depois do ataque[editar | editar código-fonte]

Ao longo de dez anos, ela passou por 38 cirurgias, injeção de nano gordura e tratamento a laser para aliviar a dor e regenerar a pele do seu rosto.[3][6] Em 2016, graças a um generoso doador, ela morou um ano nos Estados Unidos para tentar recuperar a visão de seu olho esquerdo (o menos afetado pela queimadura com ácido) por meio de uma cirurgia. Infelizmente, o tratamento não deu certo.[6]

Em 2020, ela posou para fotos com 50 vestidos diferentes de uma marca de roupas tradicionais iranianas de um ateliê em Teerã, em um projeto da Associação de Apoio às Vítimas de Violência com Ácido do Irã,[6][10][11] e desfilou alguns dos modelos em 17 de outubro do mesmo ano.[3] Ela também tem participado de vários projetos artísticos e culturais[6] (como mostras de arte e de fotografia, exposição de cerâmicas, tigelas esculpidas e estatuetas feitas por ela,[2] e até mesmo atuou em três peças de teatro),[11] sempre engajada na divulgação da questão e na proteção das vítimas de ataques com ácido.[6][12][13]

Os ataques com ácido no Irã[editar | editar código-fonte]

Uma mulher iraniana vítima de ataque com ácido.

Ataque com ácido[14]  é uma forma de agressão violenta [15][16][17] definida como o ato de jogar ácido ou uma substância corrosiva contra o corpo de outro indivíduo, com a intenção de desfigurar, mutilar, torturar ou matar."[18] Autores destes ataques jogam ácido em suas vítimas, geralmente em seus rostos, queimando e danificando a pele, muitas vezes expondo e, por vezes, dissolvendo os ossos.[19] Os tipos mais comuns de ácido utilizado nestes ataques são o ácido sulfúrico e o ácido nítrico. O ácido clorídrico é por vezes utilizado, mas é muito menos prejudicial.[20] Também são utilizadas soluções aquosas de substâncias fortemente alcalinas, tais como soda cáustica (hidróxido de sódio), particularmente em áreas onde os ácidos fortes são substâncias controladas.As consequências duradoras desses ataques podem muitas vezes incluir cegueira, bem como cicatrizes permanentes no rosto e  corpo,[21][22][23] além de dificuldades sociais, psicológicas e econômicas.[18]

Embora os ataques com ácido ocorram em todo o mundo, inclusive na Europa e nos Estados Unidos, esse tipo de violência está concentrada principalmente no Sul da Ásia.[24][25]. Segundo a Reuters, todos os anos, cerca de 50 pessoas são atacadas com ácido no Irã. Mais da metade são mulheres,[6] geralmente “atacadas por familiares ou presumivelmente defensores da linha dura do hijab obrigatório”.[11]

O caso mais absurdo ocorreu em 2011. Majid Mohavedi (camponês e seguidor ferrenho do Islã) havia pedido Ameneh Bahrami (estudante de 24 anos) em casamento e ela o havia rejeitado.[2][26] "Uma das primeiras medidas tomadas por ele foi a de ligar incansavelmente para a mãe de Bahrami para que ela intercedesse e o ajudasse a conquistar sua linda filha que havia conhecido na Universidade de Azad, em Teerã, capital do país".[26] Ele a perseguiu por certo tempo e depois a atacou com ácido quando ela esperava pelo ônibus após sair de seu trabalho, deixando-a cega e desfigurada no rosto, nas mãos e nos braços. Ameneh Bahrami mudou-se para a Espanha, onde havia melhores tratamento. Passou por 19 cirurgias bastante dolorosas apenas para reconstruir sua face. Com as intervenções, ela conseguiu recuperar a visão parcial de um dos olhos.[26]

Em 2018, sete anos depois do ataque, sob muita pressão pública e seguindo a lei islâmica (Xaria), os tribunais ordenaram que Majid fosse cegado de ambos os olhos com 10 gotas do mesmo ácido que jogara em Ameneh em cada um dos olhos. A própria Ameneh poderia realizar o cegamento, se quisesse. Ela aceitou, pois queria que ele ficasse com medo. No momento da realização da pena, ela o perdoou e ele caiu ajoelhado a seus pés, em prantos.[2]

A irmã mais nova de Ameneh Bahrami explicou as ações:

O ativismo de Masoumeh Ataei tem feito a diferença para a alteração das leis do Irã sobre o assunto. Em 2020, ela e outras quatro vítimas de ataque com ácido (homens e mulheres) exigiram do parlamento iraniano uma legislação mais dura contra esse tipo de violência. No mesmo ano, a Assembleia Nacional do Irã aprovou (161 votos a favor e 9 contra) uma legalização que permite a condeção com pena de morte para os autores de ataques com ácido.[6][9]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Masoumeh Ataei foi incluída na lista de 100 Mulheres da BBC de 2015, por sua história, sua trajetória até a auto-aceitação e seu ativismo.[1]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e «BBC 100 Women 2015: Who is on the list?». BBC News (em inglês). 17 de novembro de 2015. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  2. a b c d e f g h AFP. «Iran acid attack victims find new identity in art». www.rudaw.net. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  3. a b c MX, Exilio. «Pese a ataque con ácido en la cara, mujer iraní se convierte en modelo». exilio.mx (em espanhol). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  4. «Iranian woman finds modeling career and self-acceptance after acid attack | Reuters.com». Reuters (em inglês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  5. Nations, United. «Photography 4 Humanity». United Nations (em inglês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  6. a b c d e f g h i «Of Courage & Life: She Survived An Acid Attack, Now A Model & An Inspiration For So Many Others». IndiaTimes (em inglês). 17 de novembro de 2020. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  7. «Dix ans après avoir été attaquée à l'acide, Masoumeh devient mannequin». parismatch.com (em francês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  8. a b «FOTOS I De víctima de un ataque de ácido que la dejó ciega a modelo de pasarela». es-us.noticias.yahoo.com (em espanhol). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  9. a b «Iranian Acid Victims Pave Their Way into the Modeling Sector». Al Bawaba (em inglês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  10. «هنر کمک کرد تا راحت‌تر در جامعه حضور داشته باشم/ مردم درباره هنرم می‌پرسند نه حادثه‌ای که برایم رخ داد». خبرگزاری ایلنا (em persa). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  11. a b c «Iranian press review: Conservatives gear up for 2021 presidential elections». Middle East Eye (em inglês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  12. Rogers, Jack (22 de novembro de 2015). «UAE's Most Inspirational Women: BBC 100 Women 2015 List». Emirates Woman (em inglês). Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  13. «Trending for freedom and unpicking the #BLMKidnapping hashtag». BBC News (em inglês). 5 de janeiro de 2017. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  14. "Cambodian victim on her acid attack".
  15. Karmakar, R.N. (2003).
  16. "World Now".
  17. "Man Who Threw Acid at Woman Blames 2 Others". latimes.
  18. a b "Breaking the Silence: Addressing Acid Attacks in Cambodia" (PDF).
  19. Swanson, Jordan (2002).
  20. Welsh, Jane (2009).
  21. Bandyopadhyay, Mridula and Mahmuda Rahman Khan, 'Loss of face: violence against women in South Asia' in Lenore Manderson, Linda Rae Bennett (eds) Violence Against Women in Asian Societies (Routledge, 2003), ISBN 978-0-7007-1741-5
  22. "CNN.com - Bangladesh combats an acid onslaught against women - November 11, 2000".
  23. Bahl, Taru; M.H. Syed (2004).
  24. "Q&A: Acid attacks around the world".
  25. "How many acid attacks are there?"
  26. a b c Previdelli, Fabio (14 de novembro de 2020). «Cruelmente desfigurada por um perseguidor: a comovente história de Ameneh Bahrami». Aventuras na História. Consultado em 25 de dezembro de 2022