Mentalidade colonial

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mentalidade colonial é a atitude internalizada de inferioridade étnica ou cultural sentida pelas pessoas como resultado da colonização, ou seja, das pessoas que foram historicamente colonizadas por outros.[1] Ela se corresponde com a crença que os valores culturais do colonizador são inerentemente superiores aos seus próprios.[2] O termo tem sido usado por estudiosos do pós-colonialismo para discutir os efeitos transgeneracionais do colonialismo presentes nas ex-colônias após a descolonização.[3][4]É comumente usado como um conceito operacional para enquadrar a dominação ideológica nas experiências coloniais históricas.[5][6] Na psicologia a mentalidade colonial tem sido usada para explicar casos de depressão coletiva, ansiedade e outros problemas generalizados de saúde mental em populações que sofreram colonização.[7][8] As notáveis influências do Marxismo no conceito pós-colonial de mentalidade colonial incluem Frantz Fanon, que trabalha sobre a fratura da psique colonial através da dominação cultural ocidental,[9] bem como o conceito de hegemonia cultural desenvolvido pelo fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci.[10]

Influências do marxismo[editar | editar código-fonte]

Frantz Fanon[editar | editar código-fonte]

Os escritos marxistas de Frantz Fanon sobre imperialismo, racismo e lutas descolonizadoras influenciaram as discussões pós-coloniais sobre a internalização do preconceito colonial. Fanon abordou pela primeira vez o problema do que ele chamou de "alienação colonial da pessoa"[11] como uma questão de saúde mental através da análise psiquiátrica.[12]

Em Os Condenados da Terra (Les Damnés de la Terre, na edição original), publicado em 1961, Fanon usou a psiquiatria para analisar como acolonização francesa e a carnificina da Guerra da Argélia afetaram mentalmente a autoidentidade e a saúde mental dos argelinos.[13]O livro argumenta que durante o período da colonização houve uma patologia mental sutil e constante que se desenvolveu dentro da psique colonial.[14] Fanon argumentou que a psique colonial é fraturada pela falta de homogeneidade mental e material como resultado da pressão do poder colonial cultura ocidental sobre a população colonizada, apesar das diferenças materiais existentes entre eles.[15]

Aqui Fanon expande os entendimentos marxistas tradicionais de materialismo histórico para explorar como a dissonância entre existência material e cultura funciona para transformar o povo colonizado através dos moldes da burguesia ocidental.[16] Isso significava que o nativo argelino passou a ver sua própria cultura e identidade tradicionais através das lentes do preconceito colonial. Fanon observou que os argelinos médios internalizavam e depois repetiam abertamente comentários que estavam de acordo com a cultura racista institucionalizada dos colonizadores franceses; descartando sua própria cultura como atrasada devido à internalização das ideologias coloniais ocidentais.[17]

De acordo com Fanon, isso resulta em um conflito existencial desestabilizador dentro da cultura colonizada:

No Ocidente, o círculo familiar, os efeitos da educação e o relativamente alto padrão de vida da classe trabalhadora oferecem uma proteção mais ou menos eficiente contra a ação nociva desses passatempos, mas em um país africano, onde o desenvolvimento mental é desigual, onde a colisão violenta de dois mundos abalou consideravelmente antigas tradições e jogou o universo das percepções fora de foco, a impressionabilidade e a sensibilidade do jovem africano estão à mercê dos vários ataques feitos sobre eles pela própria natureza da cultura ocidental”.[18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Nunning, Vera. (06/01/2015). Fictions of Empire and the (un-making of imperialist mentalities: Colonial discourse and post-colonial criticism revisited. Forum for world literature studies. (7)2. p.171-198.
  2. David, E. J. R.; Okazaki, Sumie (1 de abril de 2010). «Activation and Automaticity of Colonial Mentality». Journal of Applied Social Psychology (em inglês). 40 (4). 850 páginas. ISSN 1559-1816. doi:10.1111/j.1559-1816.2010.00601.x 
  3. David, E. J. R. (2010). «Testing the validity of the colonial mentality implicit association test and the interactive effects of covert and overt colonial mentality on Filipino American mental health.». Asian American Journal of Psychology (em inglês). 1 (1): 31–45. doi:10.1037/a0018820 
  4. Unconscious dominions : psychoanalysis, colonial trauma, and global sovereignties. Anderson, Warwick, 1958-, Jenson, Deborah., Keller, Richard C. (Richard Charles), 1969-. Durham, NC: Duke University Press. 2011. ISBN 9780822393986. OCLC 757835774 
  5. Goss, Andrew (2009). «Decent colonialism? Pure science and colonial ideology in the Netherlands East Indies, 1910–1929». Journal of Southeast Asian Studies. 40 (1): 187–214. ISSN 1474-0680. doi:10.1017/s002246340900006x 
  6. Felipe, Lou Collette S. (2016). «The relationship of colonial mentality with Filipina American experiences with racism and sexism.». Asian American Journal of Psychology (em inglês). 7 (1): 25–30. doi:10.1037/aap0000033 
  7. Paranjpe, Anand C. (11 de agosto de 2016). «Indigenous Psychology in the Post- Colonial Context: An Historical Perspective». Psychology and Developing Societies (em inglês). 14 (1): 27–43. doi:10.1177/097133360201400103 
  8. Utsey, Shawn O.; Abrams, Jasmine A.; Opare-Henaku, Annabella; Bolden, Mark A.; Williams, Otis (21 de maio de 2014). «Assessing the Psychological Consequences of Internalized Colonialism on the Psychological Well-Being of Young Adults in Ghana». Journal of Black Psychology (em inglês). 41 (3): 195–220. doi:10.1177/0095798414537935 
  9. Rabaka, Reiland (2010). Forms of Fanonism : Frantz Fanon's critical theory and the dialectics of decolonization. Lanham, Md.: Lexington Books. ISBN 9780739140338. OCLC 461323889 
  10. The postcolonial Gramsci. Srivastava, Neelam Francesca Rashmi, 1972-, Bhattacharya, Baidik, 1975-. New York: Routledge. 2012. ISBN 9780415874816. OCLC 749115630 
  11. Fanon, Frantz (2008). Black Skin, White Masks. London, United Kingdom: Pluto Press. pp. xxiii. ISBN 978-0-7453-2849-2 
  12. Robertson, Michael; Walter, Garry (2009). «Frantz Fanon and the confluence of psychiatry, politics, ethics and culture». Acta Neuropsychiatrica. 21 (6): 308–309. ISSN 0924-2708. doi:10.1111/j.1601-5215.2009.00428.x 
  13. Bell, Vikki (4 de janeiro de 2011). «Introduction: Fanon's The Wretched of the Earth 50 Years On». Theory, Culture & Society (em inglês). 27 (7–8): 7–14. doi:10.1177/0263276410383721 
  14. Fanon, Frantz (1961). The Wretched of the Earth. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980, Farrington, Constance. New York: Grove Press, Inc. pp. 250. ISBN 978-0802150837. OCLC 1316464 
  15. Fanon, Frantz (1961). The Wretched of the Earth. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980, Farrington, Constance. New York: Grove Press, Inc. pp. 194. ISBN 978-0802150837. OCLC 1316464 
  16. Fanon, Frantz (1961). The Wretched of the Earth. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980, Farrington, Constance. New York: Grove Press, Inc. pp. 162. ISBN 978-0802150837. OCLC 1316464 
  17. Fanon, Frantz (1961). The Wretched of the Earth. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980, Farrington, Constance. New York: Grove Press, Inc. pp. 161. ISBN 978-0802150837. OCLC 1316464 
  18. Fanon, Frantz (1961). The Wretched of the Earth. Sartre, Jean-Paul, 1905-1980, Farrington, Constance. New York: Grove Press, Inc. pp. 194–195. ISBN 978-0802150837. OCLC 1316464