Mobiliário de Lina Bo Bardi

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Lina Bo Bardi foi uma renomada arquiteta modernista, que além de contribuir para a arquitetura, foi figura central no desenvolvimento do mobiliário moderno brasileiro. Unindo os ideais modernistas com as tradições e materiais locais, Lina desenhava móveis que se adaptavam ao contexto local e que contribuíram para o surgimento de um mobiliário autenticamente nacional. Dentre as centenas de móveis projetados por Lina, o mais célebre deles é a Poltrona Bowl, peça que foi responsável por alavancar sua fama internacional e que atualmente faz parte do acervo permanente do MoMA.[1][2]

Contexto Histórico[editar | editar código-fonte]

Durante os anos 40 o Brasil se torna destino para muitos imigrantes europeus, Lina Bo Bardi decide migrar para o Brasil em 1946, chegando aqui ela encontra um país em um processo de grandes transformações econômicas, políticas, sociais e culturais. O país deixava de ser essencialmente agrário e dava seus primeiros passos rumo à industrialização e urbanização, este processo se inicia na ditadura do Estado Novo com Vargas (1937 – 1946) e se intensifica nos governos de JK (1956 – 1961).[3] Lina enxergava com entusiasmo o desenvolvimento industrial brasileiro, porém, tinha o temor que o país pudesse ser invadido por produtos repletos de modismos de outras nações que ignoraram completamente a cultura local. Com esta preocupação, a arquiteta passa a projetar tendo como fonte de inspiração a cultura popular brasileira e busca criar uma identidade nacional que se oponha aos estilos estrangeiros.[4]

Cadeiras de Lina Bo Bardi na Casa de Vidro
Cadeiras de Lina Bo Bardi na Casa de Vidro
Bancos de Lina Bo Bardi no SESC Pompéia
Bancos de Lina Bo Bardi no SESC Pompéia.

Período no Studio Palma e Fábrica Pau Brasil[editar | editar código-fonte]

Lina Bo Bardi começou a fazer seus primeiros desenhos de mobiliários quando ainda estava atuando na Itália, junto de seu amigo Carlo Pagani no estúdio “Bo e Pagani”. Já nos primeiros projetos como o da “Casa sul mare di Sicilia” já se fazia presente a valorização da cultura local alinhada à arquitetura e a ambientação.[5]  Ao se mudar para o Brasil os projetos de mobiliário de Lina se tornaram mais expressivos, com a fundação do Studio de Arte Palma e a fábrica de móveis Pau Brasil Lina desenha mais de uma centena de móveis. Nesta fase a designer buscou experimentar diferentes tipos de materiais em seus móveis, como compensado de madeiras genuinamente brasileiras, tecidos de chita, couro e ferro. Para cada projeto Lina realizava uma análise profunda sobre os costumes e formas de vida dos brasileiros, um exemplo disso são seus estudos a respeito de como o corpo se adequa às redes de balanço e a posição de cócoras. Posteriormente esses estudos serviram como base para a produção de alguns móveis, como a Cadeira Tripé. Durante sua atuação no Studio Palma Bo Bardi produziu alguns de seus móveis mais famosos, como a Poltrona Zig Zag, a Poltrona de Balanço e a Cadeira Tripé. Contudo, em 1950 o Studio Palma e a fábrica de móveis Pau Brasil fecham suas portas por conta do pouco sucesso comercial mas apesar do fim do estúdio, Bo Bardi seguiu projetando móveis, mesmo que com menos frequência.[6]

Principais obras[editar | editar código-fonte]

Cadeira dobrável do auditório do MASP (1947)[editar | editar código-fonte]

Criada em 1947, a cadeira dobrável surgiu por uma necessidade de mobiliários modernos que pudessem compor o auditório do museu, esse modelo pretende ser prático através de sistema de dobra que facilita o empilhamento. Bo Bardi se inspirou em cadeiras de circo para criá-la. É considerada uma das primeiras cadeiras verdadeiramente modernistas.[7]

Poltrona Tripé de Lina Bo Bardi (1948)
Poltrona Tripé de Lina Bo Bardi (1948).

Poltrona Tripé (1948)[editar | editar código-fonte]

Inspirada pelos costumes populares de se repousar em redes, Bo Bardi lança no início dos anos 1950 a Poltrona Tripé, este item incorpora a ideia de assento-encosto em uma estrutura única até então. Seu design feito com lona de couro solta e leve, unido de sua estrutura metálica permite uma movimentação e um ajuste ao corpo. É uma poltrona que representa o progresso industrial e a produção em massa, sendo considerada um marco do mobiliário brasileiro.[8]

Poltrona de Balanço (1948-1949)[editar | editar código-fonte]

Projetada entre 1948 e 1949 para a biblioteca da Casa de Vidro, essa poltrona tem formas arredondadas em voga na época por conta das obras de Oscar Niemeyer e do organicismo de Rino Levi. Feita de madeiras como cedro, freijó, imbuia e sucupira.[9]

Poltrona para auditório (1950)[editar | editar código-fonte]

Criada em 1950 para ocupar o maior auditório do Museu de Arte de São Paulo, a Poltrona para auditório tem como seu diferencial toda a sua estrutura ser feita em aço tubular cromado, além dos encostos estofados de plástico cinza.

Cadeira Preguiçosa (1951)[editar | editar código-fonte]

Projetada em 1951 em centro maciço e sisal natural, a cadeira faz referência às redes de balanço possuindo uma trama que permite uma circulação de ar, além disso, a cadeira tem como maior diferencial propor se sentar de cócoras, algo comum na cultura indígena.

Poltrona Bowl (1951)[editar | editar código-fonte]

Criada por Lina Bo Bardi em 1951, a Poltrona Bowl é provavelmente sua obra mobiliária mais famosa. Essa peça consiste em duas partes soltas: um assento semiesférico e um suporte de ferro com quatro pés, que envolve somente a base do assento, o que dá a sensação ao observador de que a peça está flutuando. Para projetar a poltrona, Bo Bardi se inspirou nas tigelas entalhadas por caiçaras. É um móvel que se adapta ao “sentar” próprio e individual de seu ocupante. A obra garantiu visibilidade internacional à arquiteta e tornou-se símbolo de seu pensamento, mostrando a infinidade de possibilidades na interação do homem com o objeto.[10][11]

Bancos de Lina Bo Bardi no SESC Pompéia
Bancos de Lina Bo Bardi no SESC Pompéia

Banco Sesc Pompéia (1979-1980)[editar | editar código-fonte]

Para o mobiliário do Sesc Pompeia, Bo Bardi desenvolveu um estilo fundamentado na simplicidade dos materiais e da estética. Pode-se perceber isso nos bancos de laminado industrial e madeira maciça criados entre 1979 e 1980 para o ambiente do restaurante.

Cadeira Girafa (1986)[editar | editar código-fonte]

Criada em conjunto com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, a Girafa foi concebida como uma cadeira para o restaurante Casa do Benini. Seguindo a linha de simplicidade do design de Lina, essa cadeira permite o empilhamento em espiral e, originalmente, era feita com madeira de Pinheiro do Paraná.  O nome vem da altura do espaldar em formato de “T” [12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ANELLI, Renato. Ponderações sobre os relatos da trajetória de Lina Bo Bardi na Itália.  Pós. v.17 n.27. São Paulo, Junho 2010.
  • ANELLI, Renato. Del diseño a la artesanía. ArquitecturaViva. 2015; 180.
  • RUBINO, Silvana. Corpos, cadeiras, colares: Charlotte Perriand e Lina Bo Bardi. Cadernos Pagu [online]. 2010, n. 34.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. PERROTTA-BOSCH, Francesco (2021). Lina: Uma biografia. São Paulo: Todavia. 576 páginas. ISBN 978-65-5692-130-3 
  2. ORTEGA, Cristina Garcia (2008). Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. doi:10.11606/T.16.2008.tde-20092010-092353 
  3. ORTEGA, Cristina Garcia (2008). Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paul. pp. 43–46. doi:10.11606/T.16.2008.tde-20092010-092353 
  4. PERROTTA-BOSCH, Francesco (2021). Lina: Uma biografia. São Paulo: Todavia. pp. 42–44. ISBN 978-65-5692-130-3 
  5. ORTEGA, Cristina Garcia (2008). Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. pp. 278–281. doi:10.11606/T.16.2008.tde-20092010-092353 
  6. PERROTTA-BOSCH, Francesco (2021). Lina: Uma biografia. São Paulo: Todavia. pp. 353–359. ISBN 978-65-5692-130-3 
  7. «Etel Design - Cadeira Auditório MASP». Etel Design (em portuguese). Consultado em 26 de outubro de 2021 
  8. «Etel Design - Poltrona de Três Pés». Etel Design (em portuguese). Consultado em 26 de outubro de 2021 
  9. «Etel Design - Poltrona de Balanço». Etel Design (em portuguese). Consultado em 26 de outubro de 2021 
  10. Ortega, Cristina Garcia. «Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) - interlocuções entre moderno e local»: p. 146-153. Consultado em 26 de outubro de 2021 
  11. «Lina Bo Bardi. Bowl chair. 1951 | MoMA». The Museum of Modern Art. Consultado em 26 de outubro de 2021 
  12. Ortega, Cristina Garcia. «Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) - interlocuções entre moderno e local»: p. 321-417. Consultado em 26 de outubro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]