Nepsis

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Nepsis (Grego: νῆψις) é um conceito e prática presente, primariamente, na teologia cristã oriental. Significa sobriedade, abstinência ou vigilância, de modo que o verbo nepso tem por significado: manter-se sóbrio, abster-se de vinho, e constitui uma condição de sobriedade e atenção adquirida após um período de catarse. Assim, "é um método espiritual que confronta todo o humano com a graça de Deus, a reunião de si mesmo: concentração, foco e quietude (hesychia); a postura da mente e do coração discernentes".[1][2]

São Hesíquio, o sacerdote define nepsis como "uma contínua fixação e interrupção do pensamento na entrada do coração." e como consta na Filocalia: "constitui um método espiritual que, com a ajuda de Deus, liberta inteiramente o homem dos pensamentos e das palavras apaixonadas e também das más ações, se for praticada por um bom tempo e arduamente. Ela fornece também, na medida do possível, um conhecimento seguro de Deus o Incompreensível, e abre os mistérios divinos e ocultos. Ela conduz ao cumprimento de todos os mandamentos de Deus, do Antigo e do Novo Testamento, e propicia todos os bens do século futuro. Ela consiste propriamente na pureza do coração, a qual, por causa de sua grandeza e de sua beleza (ou mais exatamente devido à nossa negligência), é tão rara entre os monges hoje em dia. É ela que Cristo beatificou quando disse: 'Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus'. Tal é a sua eminência. Ela se adquire a um alto preço. Praticada longamente, ela se torna um guia que nos conduz à via direita e que agrada a Deus".[3]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo vem originalmente da Primeira Epístola de Pedro do Novo Testamento (1 Pd 5:8, νήψατε, γρηγορήσατε. ὁ ἀντίδικος ὑμῶν διάβολος ὡς λέων ὠρυόμενος περιπατεῖ ζητῶν τινα καταπιεῖν — Bíblia do Peregrino: Sede sóbrios, vigiai, pois vosso adversário, o Diabo, como leão rugindo, dá voltas buscando a quem devorar.[4]). No texto, nepsis aparece em sua forma verbal, no modo imperativo, como um comando de urgência para a vigilância, vigília e sobriedade: "Sede sóbrios, vigiai".

Relação com o ascetismo[editar | editar código-fonte]

No Cristianismo Ortodoxo, a luta contra a corrupção das paixões é conduzida através do esforço ascético para purificar a alma, se torna necessário, portanto, alcançar uma relação harmoniosa entre o espírito e o coração, a fim de desenvolver e edificar a personalidade na vida da graça – pois o caminho da união não é um mero processo inconsciente, e esse pressupõe uma vigilância incessante do espírito e um esforço constante da vontade.[5]

Referências

  1. «Aesthetic Nepsis, Enargeia and Theophany: Looking for the Christian Image». Orthodox Arts Journal (em inglês). 30 de abril de 2014. Consultado em 10 de maio de 2023 
  2. «A Espiritualidade Hesicasta». www.ecclesia.org.br. Consultado em 10 de maio de 2023 
  3. «The Philokalia : the complete text | WorldCat.org». www.worldcat.org. Consultado em 10 de maio de 2023 
  4. BÍBLIA. Português. Bíblia do Peregrino. Comentários de L. A. SCHÖCKEL. São Paulo: Paulus, 2002.
  5. Lossky, Vladimir (1976). The Mystical Theology of the Eastern Church. Nova Iorque: St. Vladimir's Seminary Press