O Encilhamento

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O Encilhamento – cenas contemporâneas
O Encilhamento
Capa "O Encilhamento", edição 2021.jpg
Autor(es) Alfredo d'Escragnolle Taunay
Idioma Português
País  Brasil
Lançamento 1893

O Encilhamento – cenas contemporâneas, ou conhecido simplesmente como O Encilhamento é um romance brasileiro de Alfredo d'Escragnolle Taunay, dividido em 70 capítulos que possui como cenário a Crise do Encilhamento. Publicados inicialmente em forma de folhetim pelo jornal carioca Gazeta de Notícias, a partir de 26 de fevereiro de 1893. A obra foi assinada como de Heitor Malheiros, pseudônimo usado por de Alfredo D’Escragnolle Taunay, o visconde de Taunay.[1]

Este período conturbado da história do Rio de Janeiro e do Brasil é retratado em forma de romance pelo Visconde de Taunay. Para prender a atenção do leitor, Taunay criou uma trama na qual o personagem principal se vê dividido entre viver uma aventura com uma mulher casada ou seguir o rumo natural que a sociedade esperava dele: casar-se com uma jovem. Entre festins e conversas de gabinetes, o ambiente do Encilhamento é retratado de forma entrelaçada com críticas veladas ao militarismo vigente na recém imposta República.

Análise e enredo[editar | editar código-fonte]

Taunay transpôs para o Brasil a fórmula que Emile Zola utilizou em um de seus romances, onde personagens reais apareciam com nomes modificados e praticando ações também relacionadas com as que empreenderam na vida real. Compôs assim um minucioso retrato da euforia especulativa a partir de três personagens principais, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink, Paulo de Frontin e Henry Lowdes, o visconde de Leopoldina, que apareciam no romance sob os nomes de Meyermayer, Lamarin e Drowns, o visconde de Petrolina.[1][2]

Monarquista ressentido, e diretamente abalado em seu futuro político e em sua fortuna pessoal, Taunay, com efeito, em nenhum momento pretendeu pintar um retrato isento do que se passava. Sua idéia foi diminuir e desancar a República destacando as trampolinagens do Encilhamento, reais e imaginárias, construindo assim uma poderosa metáfora para promessas que a República fracassara em cumprir e, mais importante, produzindo uma das utilizações mais ferinas do ataque no campo ético como ferramenta de luta política.[1][3]

Talvez nem mesmo fossem necessários os exageros de Taunay: os fatos reais eram suficientemente escabrosos. O fato é que o romance teve imensa e duradoura influência sobre a historiografia, que, com a ajuda da narrativa conservadora dos eventos da década de 1890 proporcionada por financistas como Pandiá Calógeras, para ficar apenas neste, consagrou a versão de que a primeira década republicana foi perdida em devaneios. [1]

Histórico de publicação[editar | editar código-fonte]

“O Encilhamento” chamou a atenção do público carioca ao ser publicado como uma novela no extinto jornal Gazeta de Notícias, ganhando a primeira edição em volume reunido ainda em 1893, pela Livraria Magalhães. Trinta anos depois, uma segunda edição foi apresentada por Afonso d'Escragnolle Taunay, renomado intelectual e filho do Visconde de Taunay, finalmente revelado como autor do livro. Na ocasião, a Primeira República já apresentava claros sinais de desgaste na política do café com leite, centrada na alternância de poderes entre as oligarquias paulista e mineira.

Uma terceira edição da obra foi publicada em agosto de 1971 pela Editora Itatiaia, na esteira do crash das Bolsas do Rio de Janeiro e São Paulo, após a reorganização do sistema financeiro nacional em meados da década de 1960, que trouxe novo ânimo para o mercado de capitais do Brasil, seguido por mais uma crise traumatizante.

Em 2021 a Montecristo Editora lançou edição digital da obra enriquecida com a inserção de citações que contextualizam as referências do livro à mitologia greco-romana, à produção literária da época, além da tradução de diversas frases de efeito, grafadas principalmente em francês e latim além de prefácio de Jean Tosetto, autor e editor de livros de investimentos da Suno Research.[4]

Referências

  1. a b c d Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - (CPDOC). «Encilhamento» (PDF). Fundação Getúlio Vargas - FGV. Consultado em 5 de outubro de 2020 
  2. MEDEIROS, Camylla Lima de. A obra folhetinesca de visconde de Taunay (Tese). Departamento de Letras – Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN 
  3. Academia Brasileira de Letras. «Visconde de Taunay: Biografia». Consultado em 5 de outubro de 2020 
  4. Visconde de Taunay (2021). O Encilhamento. São Paulo: Montecristo Editora. ASIN B09MDRM95W. ISBN 9781619652880