O mundo é um palco

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A linha "todo o mundo é um palco [...]" no First Folio de Shakespeare[1]

"O mundo é um palco" (também referido em português como "O mundo inteiro é um palco"; no original em inglês: "All the world's a stage") é a frase que começa um monólogo de William Shakespeare em As You Like It, falado pelo melancólico Jaques no Ato II, Cena VII. O discurso compara o mundo a um palco e a vida a uma peça, e enumera as sete idades da vida de um homem, às vezes referida como as sete idades do homem:[2] infante, escolar, amante, soldado, juiz, pantalão e a velhice, de frente para a morte iminente. Esta é uma das passagens mais citadas de Shakespeare.

Texto[editar | editar código-fonte]

Escultura As Sete Idades do Homem, de Richard Kindersley, em Londres

Origem[editar | editar código-fonte]

As Sete Idades do Homem, por William Mulready, 1838, ilustrando o monólogo

Mundo como um palco[editar | editar código-fonte]

A comparação do mundo com um palco e as pessoas como atores antecede Shakespeare. Juvenal, antigo poeta romano, escreveu uma das primeiras versões desta linha em "Sátira 3": "Toda a Grécia é um palco, e todos os gregos são atores."[3] A peça de Richard EdwardDamon e Pythias, escrito no ano em que Shakespeare nasceu, contém as linhas: "Pitágoras disse que o mundo era como um palco, / Onde muitos atuam suas partes; os espectadores, o sábio".[4] Quando foi fundada em 1599, o teatro de Shakespeare, O Globo, pode ter usado o lema Totus mundus agit histrionem (Todo mundo reproduz o ator), um texto em latim derivado de um tratado do século XII.[5] Em última análise, as palavras derivam de quod fere totus mundus exercet histrionem (porque quase todo o mundo são atores), atribuída a Petrônio, uma frase que teve ampla circulação na Inglaterra na época.

Em seu trabalho anterior, O Mercador de Veneza, Shakespeare também teve um de seus personagens principais, Antônio, comparando o mundo a um palco:

O mundo, para mim, é o mundo, apenas, Graciano: um palco em que todos representamos, todos nós, um papel, sendo o meu triste.
— Ato I, Cena I

Em sua obra O Elogio da Loucura, primeiro impresso em 1511, o humanista renascentista Erasmo pergunta, "Para que mais é a vida do homem, mas uma espécie de pela em que os homens em vários trajes atuam até o diretor movê-los para fora do palco."[6]

As idades do homem[editar | editar código-fonte]

Da mesma forma, a divisão da vida humana em uma série de idades foi um tema comum na literatura e na arte, e Shakespeare teria esperado que seu público reconhecesse. O número de idades varia: três e quatro, sendo o mais comum entre os escritores antigos, como Aristóteles. O conceito de sete idades deriva da filosofia medieval, em que eram construídos grupos de sete, como em nos sete pecados capitais, por razões teológicas. O modelo das sete idades remonta ao século XII.[7] O rei Henrique V tinha uma tapeçaria que ilustrava as sete idades do homem.[8]

De acordo com T. W. Baldwin, a versão de Shakespeare do conceito de idades do homem é baseada principalmente sobre o livro Zodiacus Vitae de Marcello Palingenio Stellato, um texto que ele teria estudado na Escola de Gramática de Stratford, que também enumera fases da vida humana. Ele também tem elementos de Ovídio e de outras fontes de conhecimento.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. William Shakespeare. Mr. William Shakespeares Comedies, Histories, & Tragedies: Published According to the True Originall Copies. [S.l.: s.n.] OCLC 606515358 
  2. Shakespeare's Seven Ages of Man. By William Shakespeare. Van Voorst, 1848. (Also, L. Booth and S. Ayling, 1864 Version.)
  3. Wender, Dorothy. “Roman Poetry: Frim the Republic to the Silver Age. Carbondale: Southern Illinois Univ. Press, 1980. p. 138
  4. Joseph Quincy Adams, Chief Pre-Shakespearean Dramas: A Selection of Plays Illustrating the History of the English Drama from Its Origin down to Shakespeare, Houghton Mifflin Company, Boston; New York, 1924, p. 579.
  5. Marjorie B. Garber. Profiling Shakespeare. [S.l.: s.n.] 
  6. John Masters. The Essential Erasmus. [S.l.: s.n.] 
  7. J. A. Burrow. The Ages of Man: A Study in Medieval Writing and Thought. [S.l.: s.n.] 
  8. PROME, 1423 October, item 31, entries 757–797, quoted in Ian Mortimer, 1415 – Henry V's Year of Glory, p. 45, footnote 2.
  9. Thomas Whitfield Baldwin. William Shakspere's Small Latine and Lesse Greeke. 1. [S.l.: s.n.]