Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Tipo observatório, património histórico
Operador(a) Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Página oficial (Website)
Geografia
Coordenadas 30° 1' 55.652" S 51° 13' 18.568" O
Mapa
Localidade Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Localização Porto Alegre - Brasil
Patrimônio bem tombado pelo IPHAN

O Observatório Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também conhecido como Observatório Astronómico da UFRGS (OA), está localizado na cidade de Porto Alegre. Construído no começo do século XX, tinha como objetivo inicial marcar a hora certa da cidade.

Desde o seu surgimento, foi um órgão de atuação destacada por suas pesquisas e serviços de astronomia e meteorologia. O Observatório Astronômico reivindica a primazia de ser o observatório mais antigo do Brasil, que manteve seu prédio, parte significativa dos instrumentos e funcionalidade originais até hoje.

Com uma arquitetura luxuosa e um acervo de equipamentos avançados para a época, o OA é um marco para a cidade, evoluindo junto com ela. Atualmente, desenvolve atividades de um centro de divulgação científica e museu de ciências.

Inventário[editar | editar código-fonte]

Luneta Meridiana Repsold. Fonte: Site do Observatório, foto de Claudio Bevilacqua

O OA possui um rico inventário de instrumentos históricos, sendo os principais:

  1. Luneta Terrestre Gautier 100 mm, França 1907.
  2. Luneta Equatorial Gautier 190 mm, França 1907.
  3. Luneta Meridiana Gautier 75 mm, França 1908.
  4. Luneta Meridiana Repsold 75 mm, Alemanha c. 1912.

Ainda conta com uma coleção de instrumentos de medidas, diversos relógios e cronômetros, entre outros.

Histórico[editar | editar código-fonte]

A ideia de se construir um observatório astronômico na cidade de Porto Alegre inicia-se em 1899, com um esboço do projeto feito pela Escola de Engenharia (EE).Em 1906, o governo do estado concede terreno e verbas para a construção desse observatório, e para a compra dos instrumentos necessários. Em 18 de setembro deste ano é fundado o Instituto Astronômico e Meteorológico (IAM), como um órgão da EE.

Num contexto fortemente influenciado pelos ideais positivistas do caráter utilitário da ciência, O IAM não estava destinado à pesquisa científica, mas sim, à prestação de serviços, dentre eles, o Serviço da Hora Certa e a implantação de estações meteorológicas no Estado do Rio Grande do Sul, além das aulas de astronomia de posição e geodésia para os alunos da EE.

O conjunto todo tinha caráter de Escola Politécnica, conforme declara o engenheiro-chefe do IAM no Relatório da EE de 1913:

"...vereis que nosso instituto progride e em breve estará em condições de poder hombrear com os institutos irmãos de modo a formar um conjuncto homogêneo. A Escola de Engenharia, centro de ensino polytechnico solido, base da grandeza de um paiz... (Relatório da EE, 1913)."
Eng. Manoel Itaquy com sua equipe na Sala Meridiana em 1909. Fonte: Acervo do Museu do Observatório Astronômico

Projetado pelo engenheiro Manoel Assumpção Barbosa Itaquy, o prédio do IAM teve sua pedra fundamental colocada pelo então presidente (governador) do Estado do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, e finalmente inaugurado em 24 de janeiro de 1908. Para mais detalhes sobre o prédio, ver a seção Descrição Arquitetônica.

Nos seus primeiros anos, engenheiros foram treinados para as funções básicas do OA, capacitados para fazer previsões de eclipses, observações de duplas, manter o Serviço da Hora Certa, elaborar efemérides, coletar dados de sismografia e magnetismo, entre outras tarefas.

O sinal de hora era dado utilizando uma lâmpada encarnada situada na torre do Instituto Ginasial Júlio de Castilhos (prédio próximo, destruído por um incêndio em 1951; tratava-se de um palacete de arquitetura eclética, com uma torre central visível à grandes distâncias). Também através de sinal elétrico a hora era transmitida para a Intendência Municipal. Era possível fazer consultas diárias por telefone, diretamente à secretaria do Observatório. Anos mais tarde, outros locais altos receberam lâmpadas. A partir de 1958, o sinal horário era comunicado através do rádio da Universidade.

Instituto Ginasial Júlio de Castilhos. Fonte: Banco de Imagens SPH 173 em base digital

Com o avanço das comunicações através de ondas de rádio, o OA passou a receber sinais horários do Observatório Nacional (ON) do Rio de Janeiro. O sinal deixou de ser transmitido pela Rádio da Universidade em 1990 e o Serviço da Hora Certa foi desativado, encerrando-se assim um ciclo de relevantes serviços prestados à sociedade sul-rio-grandense.

O OA também publicava diariamente boletim do tempo nos principais jornais da época como A Federação, Correio do Povo e A Manhã, e divulgava as efemérides astronômicas no Céo do Mez, seção que perdurou no Correio do Povo até os anos 1980 com outras denominações. Os fenômenos notáveis como eclipses e cometas recebiam artigos especiais.

Em 1934 é criada a Universidade de Porto Alegre que incorporou a EE. Em 1942 a parte da Meteorologia foi federalizada, restando ao OA as atividades didáticas e relativas à Astronomia. Em 1950, ingressou na esfera federal com a criação da UFRGS. Na Reforma Universitária implementada em 1969/70, a área de Astronomia foi agrupada com a área de Física, e o OA/UFRGS passou a ser um órgão auxiliar do Instituto de Física (IF) da UFRGS com a denominação que permanece até o dia de hoje: Observatório Astronômico da UFRGS (OA).

Com a criação do Departamento de Astronomia (DA) da UFRGS e a inauguração do Observatório do Morro Santana, no começo da década de 70, as pesquisas científicas e atividades de ensino que eram realizadas pelo OA ficaram a cargo deste Departamento e as observações para as primeiras pesquisas foram feitas no Observatório Astronômico do Morro Santana (OMS).

Atualmente o OA desenvolve diariamente atividades voltadas à comunidade, tais como, visita guiada ao museu, observação do céu e oficinas, promovendo uma relação social com a astronomia. Organiza também observações de efemérides como eclipses, passagens de cometas, e aproximações de planetas, com destaque para a passagem do cometa Hale-Bopp em 1996, quando montou estrutura observacional com vários telescópios na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, que contou com mais de 5 mil visitantes.

Dimensão cultural e simbólica[editar | editar código-fonte]

O OA, desde sua fundação é uma instituição técnica e científica muito demandada pela sociedade sul-rio-grandense, perante a qual goza de muito prestígio. A hora certa era solicitada por telefone e eram atendidos milhares de pedidos anuais. A previsão do tempo também era demandada de modo semelhante. Considerando-se as circunstâncias da época, estes números são imponentes.

A missão atual do OA é ampliar o acesso da sociedade às ciências astronômicas e afins através da divulgação da ciência e da sua história, do ensino não formal e do apoio ao ensino formal; preservar, restaurar e divulgar o acervo histórico; prestar serviços na área da astronomia; prestar apoio técnico às atividades de observações astronômicas locais do Departamento de Astronomia e fomentar a transdisciplinaridade.

Descrição arquitetônica[editar | editar código-fonte]

Fachada principal do Observatório Astronômico

Sua arquitetura é uma verdadeira preciosidade do estilo Art Nouveau, sendo talvez o mais rico e completo exemplar remanescente na cidade. Na fachada destacam-se: a escultura representando a musa da Astronomia, Urânia; a cúpula giratória de 5 metros do laboratório de observação, feita de chapas de aço e revestimento interno de madeira; e seus suntuosos elementos decorativos. Também notável é o afresco, no interior do terceiro pavimento, de Cronos — deus grego do tempo, Saturno para os romanos — obra realizada pelo pintor alemão Ferdinand Sehlatter em 1908.

Afresco Chronos.

Construído em três pavimentos, o prédio possuía duas torres, uma cilíndrica até hoje conservada, que comporta a luneta equatorial Gautier e outra, de base quadrada, que abrigava a luneta meridiana Gautier de 75 mm. A torre da meridiana foi demolida e todo o sistema desativado em 1967 devido à obsolescência do sistema de Hora Certa e necessidade de espaço físico. A circulação das pessoas no prédio é vertical, através de escadas helicoidais em torno das torres. O prédio é orientado em relação aos pontos cardeais, estando a fachada principal com a entrada voltada para o Oeste.

O interior do edifício era ricamente decorado com gesso e pinturas coloridas. Tal decoração deteriorou-se por debaixo das camadas sucessivas de tintas restando agora em uma pequena parte. Parte do mobiliário e madeirame interno foram substituídos, excetuando-se as aberturas e escadarias. Em agosto de 2002, o prédio histórico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foi entregue restaurado à sociedade.

Administração e uso[editar | editar código-fonte]

O Observatório Astronômico da UFRGS, como órgão auxiliar do Instituto de Física e museu de ciências, recebe visitas de escolas, mediante agendamento, e público geral. Contando com servidores e bolsistas de ensino em astronomia, o OA abre para visitas ao museu e observações noturnas e para escolas e grupos.

No ano de 2017, o órgão recebeu mais de 120 escolas da Educação Básica à Superior. Dentre as escolas atendidas, 75,9 % são escolas públicas. Esses dados reforçam o compromisso e a importância do trabalho do órgão, principalmente voltado para a educação não formal de Astronomia, com a educação pública e com a sociedade.

Contexto e ambiente[editar | editar código-fonte]

Eng. Manoel Itaquy observando na Luneta Equatorial Gautier em 1910. Acervo do Museu do Observatório Astronômico

O surgimento do Observatório provém de uma decisão política-ideológica, do Presidente do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, bem como da elite gaúcha das primeiras décadas do século XX, fortes defensores do positivismo. Ancorado na filosofia de Augusto Comte, acreditavam que a industrialização era o passaporte para a modernidade. Assim, estabelecido um padrão horário e uma forma de prever o tempo, a sociedade poderia seguir seu caminho em rumo ao progresso.

Sandra Pesavento (1991,p.43), ao analisar as transformações urbanas ocorridas na cidade de Porto Alegre no início do século XX, incluiu a Escola de Engenharia juntamente com outras instituições de ensino superior ou profissionalizantes a ela ligadas, “[...] como parte do processo de transformações econômico-sociais na qual a cidade impunha-se o aprimoramento de suas elites e a sua profissionalização da mão-de-obra”.

Luneta Equatorial Gautier. Foto de Claudio Bevilacqua

Criado com o objetivo da preparação técnica de engenheiros nos conceitos de Geodésia e Astronomia, e também na prestação de serviços como a Hora Certa, o OA diversificou suas atividades, atingindo amplas esferas da sociedade. Hoje desempenha, além de observação, o papel de uma instituição de memória ao abrigar em seu acervo as coleções formadas pelos instrumentos que foram utilizados desde a sua fundação. Deste modo, a construção que o abriga e os instrumentos originariamente adquiridos para trabalho e uso, agora formam um singular patrimônio sócio-científico.

Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]

  • Araújo César Augusto Papini de. A trajetória do observatório Astronômico do Rio Grande do Sul (1907 a 1933): tecendo relações entre História, Ciência e Patrimônio. 2013, 55p. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia), Curso de Bacharelado em Museologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
  • Bevilacqua, C. M. "O Observatório da UFRGS: patrimônio histórico nacional" em História da Astronomia no Brasil. Oscar T. Matsuura (Org.). Comissão Editorial: Alfredo T. Tolmasquim, Antonio Augusto P. Videira, Christina H. Barboza e Walter J. Maciel. Companhia Editora de Pernambuco. Realização Museu de Astronomia e Ciências Afins. 2013, 633-655
  • Levorci Neto, Antonio. Gestão do Conhecimento como instrumento de gestão em uma IFES: Diagnóstico e proposições para o Observatório Astronômico da UFRGS. Porto Alegre , 2017.
  • Vasconcellos, César A. Zen; Bernasiuk, Chistoph e Bica, Eduardo L. Damiani (2008), Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: 100 anos. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Referências

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Observatório Central da UFRGS. Site institucional. Disponível em:UFRGS Observatório
  • Cattelan, Luís Gustavo Prates & Brito, Alan Alves. PORTO ALEGRE: CIDADE DAS ESTRELAS: Uma perspectiva histórica pelas lentes de seus Observatórios Astronômicos.