Ordem de batalha da Batalha do Nilo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Batalha do Nilo, Thomas Luny, 1834.

A Batalha do Nilo foi uma batalha naval que teve lugar entre 1 e 3 de Agosto de 1798, na baía de Abukir, perto da foz do rio Nilo, no mar Mediterrâneo, costa do Egipto. A batalha colocou frente-a-frente uma frota da Marinha Real Britânica e uma da Marinha Francesa. Este combate naval foi o ponto alto da campanha de três meses no Mediterrâneo, durante a qual uma expedição francesa, de grandes dimensões, comandada pelo general Napoleão Bonaparte, partiu de Toulon para Alexandria via Malta.[1] Apesar de perseguida de perto por uma frota britânica de 13 navios de linha, um de 4.ª categoria e um sloop, liderados pelo contra-almirante Horatio Nelson, a frota francesa conseguiu chegar a Alexandria, sem qualquer resistência, e fazer desembarcar um exército, o qual Napoleão.[2] A frota que escoltou o comboio francês, o qual consistia em 13 navios de linha, quatro fragatas e várias pequenas embarcações lideradas pelo vice-almirante François-Paul Brueys d'Aigalliers, ancorou na baía de Abukir pois o porto de Alexandria era demasiado estreito, formando uma linha de batalha protegida por uma zona de rochedos a norte e a oeste.[3]

Nelson chegou à costa egípcia no dia 1 de Agosto e descobriu a frota francesa às 14h00. Avançando durante a tarde, os seus navios entraram na baía às 18h20, e atacaram directamente os franceses, apesar da rápida chegada da noite.[4] Aproveitando a grande distância entre o navio da frente, Guerrier, e a zona norte das rochas, o HMS Goliath rodeou a linha francesa, às 18h40, e abriu fogo ao lado bombordo francês, sendo seguido por mais cinco navios britânicos.[5] A restante linha britânica atacou o lado estibordo do comboio francês, e este ficou entre um terrível fogo-cruzado.[6] A batalha prolongou-se por mais de três horas com os britânicos a derrotarem os cinco primeiros navios franceses, mas a ficarem longe do centro, bem defendido.[7] A chegada de reforços permitiu um segundo assalto às 21h00 e, às 22h00, o navio-almirante francês Orient explodiu.[8] Apesar da orte do almirante Brueys, a zona central francesa continuou a lutar até às 03h00, quando o danificado Tonnant conseguiu chegar até à longínqua divisão francesa da retaguarda.[9] Às 06h00, o combate foi reactivado com um ataque dos navios britânicos menos danificados à retaguarda francesa, forçando o contra-almirante Pierre-Charles Villeneuve a fugir para a foz da baía.[10] Outros quatro navios franceses, com muitos danos, não conseguiram juntar-se a Villeneuve, e foram propositadamente encalhados na praia pelas suas tripulações; Villeneuve acabou por escapr para mar aberto com dois navios de linha e duas fragatas.[11] A 3 de Agosto, os últimos dois navios franceses, encalhados na baía, foram derrotados: um deles rendeu-se, e u outro foi propositadamente incendiado pela sua tripulação.[12]

A quase total destruição da frota francesa reverteu a situação estratégica no Mediterrâneo, dando o controlo do mar à Marinha Real Britânica, que o manteve até ao final das Guerras Napoleónicas, em 1815.[13] Nelson e os seus capitães foram efusivamente saudados e generosamente premiados, embora, em privado, Nelson se tenha queixado de que a sua recompensa, não era suficientemente elevada.[14] O exército de Napoleão ficou preso no Médio Oriente e o domínio da Marinha Real teve um papel fulcral na sua derrota no Cerco do Acre,[15] O próprio Napoleão abandonou o exército em 1799 para regressar a França e fazer frente ao início da Guerra da Segunda Coligação.[16] Dos navios capturados, três estavam inoperacionais e foram queimados na baía, e três outros foram aproveitados apenas para serviço civil, devido aos danos recebidos na batalha.[17] Os restantes ficaram ao serviço da Marinha Real; dois fariam parte da Batalha de Trafalgar, em 1805.[18]

Ordens de batalha[editar | editar código-fonte]

Os navios das ordens abaixo estão listados pela ordem em que estavam nas linhas de batalha respectivas. Na coluna das baixas, os valores apresentados dos totais de mortos e feridos são os mais precisos com as fontes disponíveis: devido à natureza da batalha, as vítimas francesas são difíceis de calcular com precisão. Os oficiais mortos nos combates estão assinalados com o símbolo †. Dado que as caronadas não eram tidas em conta na classificação das categorias dos navios,[19] estes poderão ter a bordo mais canhões que o indicado.

  •   Esta cor indica que os navios foram capturados durante a batalha
  •   Esta cor indica que os navios foram destruídos durante a batalha

Frota britânica[editar | editar código-fonte]

Frota do contra-almirante Nelson
Navios Classificação Canhões Comandante Baixas Notas
Mortos Feridos Total
HMS Goliath 3.ª categoria 74 Capitão Thomas Foley
21
41
62
Mastros e casco danificados com gravidade
HMS Zealous 3.ª categoria 74 Capitão Samuel Hood
1
7
8
Pouco danificado
HMS Orion 3.ª categoria 74 Capitão James Saumarez
13
29
42
Pouco danificado
HMS Audacious 3.ª categoria 74 Capitão Davidge Gould
1
35
36
Pouco danificado
HMS Theseus 3.ª categoria 74 Capitão Ralph Willett Miller
5
30
35
Casco danificado com gravidade
HMS Vanguard 3.ª categoria 74 Contra-almirante Horatio Nelson
Capitão Edward Berry
30
76
106
Mastros e casco danificados com gravidade
HMS Minotaur 3.ª categoria 74 Capitão Thomas Louis
23
64
87
Pouco danificado
HMS Defence 3.ª categoria 74 Capitão John Peyton
4
11
15
Mastros pouco danificados
HMS Bellerophon 3.ª categoria 74 Capitão Henry Darby
49
148
197
Sem mastros e muito danificado
HMS Majestic 3.ª categoria 74 Capitão George Blagden Westcott  
50
143
193
Perda do mastro principal e o mastro de mezena; casco danificado com gravidade
HMS Leander 4.ª categoria 50 Capitão Thomas Thompson
0
14
14
Pouco danificado
HMS Alexander 3.ª categoria 74 Capitão Alexander Ball
14
58
72
Mastros danificados com gravidade
HMS Swiftsure 3.ª categoria 74 Capitão Benjamin Hallowell
7
22
29
Muito danificado
HMS Culloden 3.ª categoria 74 Capitão Thomas Troubridge
0
0
0
Encalhado na zona rochosa de Abukir durante o ataque; não participou na batalha. Casco danificado com gravidade.
HMS Mutine Sloop 16 Tenente Thomas Hardy
0
0
0
Assistiu o Culloden durante a batalha e não participou na batalha
Total de baixas: 218 mortos, 678 feridos, 896 no total[Note A]
Fonte: James, pp. 152–175, Clowes, p. 357

Frota francesa[editar | editar código-fonte]

Frota do vice-almirante Brueys
Linha de batalha
Navio Classificação Canhões Comandante Baixas Notas
Mortos Feridos Total
Guerrier 3.ª categoria 74 Capitão Jean-François-Timothée Trullet ~350–400 baixas[20] Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado, mas destruído mais tarde por se mostrar inoperacional.
Conquérant 3.ª categoria 74 Capitão Etienne Dalbarade   ~350 baixas[21] Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por HMS Conquerant; não voltou a participar em acções de batalha.
Spartiate 3.ª categoria 74 Capitão Maurice-Julien Emeriau
64
150
214
[22]
Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por became HMS Spartiate.
Aquilon 3.ª categoria 74 Capitão Antoine René Thévenard  
87
213
300
[8]
Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por HMS Aboukir; não voltou a participar em acções de batalha.
Peuple Souverain 3.ª categoria 74 Capitão Pierre-Paul Raccord Baixas pesadas Mastro do traquete e mastro principal destruídos, e casco danificado com gravidade. Capturado de designado por HMS Guerrier; não voltou a participar em acções de batalha.
Franklin 3.ª categoria 80 Contra-almirante Armand Blanquet
Captain Maurice Gillet
~400 baixas[23] Mastro principal e mastro de mezena destruídos, e casco danificado com gravidade. Capturado de designado por HMS Canopus.
Orient 1.ª categoria 120 Vice-almirante François-Paul Brueys d'Aigalliers  
Contre-Admiral Honoré Ganteaume
Captain Luc-Julien-Joseph Casabianca  
~1,000 baixas[24] Destruído por uma explosão no paiol de munições.
Tonnant 3.ª categoria 80 ComodoroAristide Aubert Du Petit Thouars   Baixas pesadas Sem mastros, encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 3 de Agosto e designado por HMS Tonnant.
Heureux 3.ª categoria 74 Capitão Jean-Pierre Etienne Poucas baixas Encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 2 de Agosto mas mais tarde queimado por se mostrar inoperacional.
Mercure 3.ª categoria 74 Tenente Cambon Poucas baixas Encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 2 de Agosto mas mais tarde queimado por se mostrar inoperacional.
Guillaume Tell 3.ª categoria 80 Contra-almirante Pierre-Charles Villeneuve
Captain Saulnier
Poucas baixas Escapou a 2 de Agosto
Généreux 3.ª categoria 74 Capitão Louis-Jean-Nicolas Lejoille Poucas baixas Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto
Timoléon 3.ª categoria 74 Capitão Louis-Léonce Trullet Poucas baixas Encalhado e danificado com gravidade. Afundado pela sua tripulação a 3 de Agosto.
Fragatas
Sérieuse 5.ª categoria 36 Capitão Claude-Jean Martin Baixas pesadas Afundou-se devido aos danos recebidos na batalha.
Artémise 5.ª categoria 36 Capitão Pierre-Jean Standelet Poucas baixas Afundado pela sua tripulação a 2 de Agosto.
Justice 5.ª categoria 40 Capitão Villeneuve
0
0
0
Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto
Diane 5.ª categoria 40 Contra-almirante Denis Decrès
Captain Éléonore-Jean-Nicolas Soleil
0
0
0
Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto
A vanguarda da linha francesa era apoiada por canhões instalados na ilha de Abukir, por canhoneiras e navios bombardeiros posicionados na zona rochosa a oeste da linha.[25] Embora tivessem participado na batalha, pouca influência tiveram; alguns ficaram encalhados, e um navio bombardeiro foi afundado pela sua tripulação.[26]
Total de baixas: ~3000–5000[nota 1]
Fonte: James, pp. 152–175, Clowes, p. 357

Notas

  1. As fontes variam muito nos seus números: Adkins refere que as vítimas britânicas foram de 218 mortos e 677 feridos, e as francesas de 5235 mortos ou desaparecidos e 3305 capturados, incluindo cerca de 1000 feridos.[27] William Laird Clowes dá valores precisos para cada navio britânico, num total de 218 mortos e 678 feridos, e cita uma estimativa para as baixas francesas de 2000 a 5000, numa média de 3500.[28] Juan Cole apresenta 218 mortos britânicos e perdas francesas de 1700 mortos, 1000 feridos e 3305 prisioneiros, a maioria dos quais regressou a Alexandria.[29] Robert Gardiner enumera as perdas britânicas como 218 mortos e 617 feridos; e as francesas de 1600 mortos e 1500 feridos.[18] O historiador naval William James também refere 218 mortos e 678 feridos britânicos, e uma estimativa para as perdas francesas entre 2000 e 5000, aproximando-se mais do limite inferior dos seus cálculos.[24] John Keegan calcula os mortos britânicos em 208 e os feridos em 677; os franceses terão tido vários milhares de mortos e cerca de 1000 feridos.[30] Steven Maffeo regista um valor de 3000 baixas francesas e 1000 britânicas.[31] Noel Mostert refere as vítimas britânicas em 218 mortos e 678 feridos, e estima entre 2000 e 5000 as baixas francesas.[32] Para Peter Padfield as baixas britânicas foram de 218 mortos e 677 feridos, e as francesas de 1700 mortos e cerca de 850 feridos.[33] Digby Smith estima os mortos britânicos em 218, e os feridos em 678; as vítimas francesa terão sido de 2000 mortos, 1100 feridos e 3900 capturados.[34] Oliver Warner apresenta 5265 franceses mortos ou desaparecidos, e 3105 prisioneiros, e, para os britânicos, 218 mortos e 677 feridos. De um modo geral, quase todos os prisioneiros franceses regressaram a território egípcio durante a semana seguinte à batalha.[26]

Referências

  1. James, p. 151
  2. Clowes, p. 356
  3. Gardiner, p. 31
  4. Adkins, p. 23
  5. James, p. 164
  6. Gardiner, p. 33
  7. Clowes, p. 366
  8. a b Keegan, p. 65
  9. James, p. 172
  10. James, p. 173
  11. Mostert, p. 272
  12. Adkins, p. 37
  13. Mostert, p. 274
  14. Jordan & Rogers, p. 219
  15. Rose, p. 144
  16. Gardiner, p. 62
  17. James, p. 185
  18. a b Gardiner, p. 39
  19. James, Vol. 1, p. 32
  20. James, p. 166
  21. James, p. 167
  22. Germani, p. 59
  23. James, p. 171
  24. a b James, p. 176
  25. Clowes, p. 353
  26. a b Warner, p. 121
  27. Adkins, p. 38
  28. Clowes, p. 370
  29. Cole, p. 109
  30. Keegan, p. 66
  31. Maffeo, p. 271
  32. Mostert, p. 273
  33. Padfield, p. 132
  34. Smith, p. 140

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Adkins, Roy & Lesley (2006). The War for All the Oceans. [S.l.]: Abacus. ISBN 0-349-11916-3 
  • Clowes, William Laird (1997) [1900]. The Royal Navy, A History from the Earliest Times to 1900, Volume IV. [S.l.]: Chatham Publishing. ISBN 1-86176-013-2 
  • Cole, Juan (2007). Napoleon's Egypt; Invading the Middle East. [S.l.]: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-4039-6431-1 
  • Gardiner, Robert, ed. (2001) [1996]. Nelson Against Napoleon. [S.l.]: Caxton Editions. ISBN 1-86176-026-4 
  • Germani, Ian (janeiro de 2000). «Combat and Culture: Imagining the Battle of the Nile». The Northern Mariner. X (1): 53–72 
  • James, William (2002) [1827]. The Naval History of Great Britain, Volume 1, 1793–1796. [S.l.]: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-905-0 
  • James, William (2002) [1827]. The Naval History of Great Britain, Volume 2, 1797–1799. [S.l.]: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-906-9 
  • Jordan, Gerald; Rogers, Nicholas (julho de 1989). «Admirals as Heroes: Patriotism and Liberty in Hanoverian England». The Journal of British Studies. 28 (3): 201–224 
  • Keegan, John (2003). Intelligence in War: Knowledge of the Enemy from Napoleon to Al-Qaeda. [S.l.]: Pimlico. ISBN 0-7126-6650-8 
  • Maffeo, Steven E. (2000). Most Secret and Confidential: Intelligence in the Age of Nelson. London: Chatham Publishing. ISBN 1-86176-152-X 
  • Mostert, Noel (2007). The Line upon a Wind: The Greatest War Fought at Sea Under Sail 1793–1815. [S.l.]: Vintage Books. ISBN 978-0-7126-0927-2 
  • Padfield, Peter (2000) [1976]. Nelson's War. [S.l.]: Wordsworth Military Library. ISBN 1-84022-225-5 
  • Rodger, N.A.M. (2004). The Command of the Ocean. [S.l.]: Allan Lane. ISBN 0-7139-9411-8 
  • Rose, J. Holland (1924). «Napoleon and Sea Power». Cambridge Historical Journal. 1 (2): 138–157 
  • Smith, Digby (1998). The Napoleonic Wars Data Book. [S.l.]: Greenhill Books. ISBN 1-85367-276-9 
  • Warner, Oliver (1960). The Battle of the Nile. London: B. T. Batsford