Ornamento islâmico

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Padrões geométricos [en], arabescos e caligráficos enfeitando o mirabe da Jama Masjid [en] de Fatehpur Sikri, Índia

O ornamento Islâmico é o uso de padrões decorativos na arte islâmica. De forma geral, podem serem divididos entre o arabesco, que se utiliza de elementos curvos baseados em plantas; padrões geométricos [en] com linhas retas ou curvas regulares e caligrafia, consistindo de textos religiosos com uma aparência estilizada, usados tanto de forma decorativa ou para passar um significado. Todos envolvem um entrelaçamento colaborativo e geralmente os três estilos são utilizados em conjunto.

A decoração islâmica teve uma influência significativa nas artes europeias, especialmente no arabesco ocidental.

Visão geral[editar | editar código-fonte]

Mosaico de azulejos zellige: decoração com estuque com caligrafia árabe e arabescos na Madraça Bu Inania, Fez

Em grande parte a arte islâmica evita imagens figurativas para evitar tornar-se objetos de louvor.[1][2] Este aniconismo [en] na cultura islâmica levou os artistas a explorarem arte não figurativa e criaram uma mudança estética na direção de decorações baseadas na matemática [en].[3] Os padrões geométricos islâmicos se derivam dos padrões simples utilizados em cultturas anteriores: Grega, Romana e Sassânida. Existem três formas de decoração islâmica, com as outras sendo o arabesco (baseado em curvas e galhos no estilo de plantas) e a caligrafia islâmica; de forma frequente, os três são utilizados em conjunto em mosaicos, estuque, tijolos e cerâmica na decoração de edifícios e objetos religiosos.[4][5][6][7]

Autores como Keith Critchlow [en][nota 1] argumenta que os psdrões são criados para levar o espectador a ter um entendimento da realidade, em vez de ser uma mera decoração, como os escritores unicamente interessados nos padrões levam a entender.[8][9] Na cultura islâmica, acredita-se que os padrões sejam a ponte com o reino espiritual, o instrumento da purificação da mente e da alma.[10] David Wade[nota 2] declara que "Muito da arte do Islã, seja na arquitetura, cerâmica, textiles ou livros, é a arte da decoração - o que quer dizer, da transformação."[11] Wade argumenta que o objetivo é o de transfigurar, transformar mosteiros "em leveza e padrão", enquanto "as páginas decoradas de um Corão podem transformar-se em janelas para o infinito."[11] Contra isso, Doris Behrens-Abouseif[nota 3] declara em seu livro Beauty in Arabic Culture que uma "diferença principal" entre o pensamento filosófico da Europa Medieval e do mundo Islâmico é de que os conceitos de bom e lindo são separados na cultura Arabe. Ela argumenta que a beleza, seja na poesia ou artes visuais, era aproveitada "por si mesma, sem pensar em critérios religiosos ou morais".[12]

Arabesco[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Arabesco
Relevo de pedra com arabescos de gavinhas, palmetas e meio palmetas no Mesquita dos Omíadas em Damasco

O arabesco islâmico é uma forma de decoração artística consistindo de "padrões rítmicos e lineares de folhagem de rolagem e entrelaçamento, gavinhas" ou linhas simples,[13] geralmente combinados com outros elementos. Geralmente consiste de um único design que pode ser "montado" ou repetido tantas vezes quanto desejado.[14]

Padrões geométricos[editar | editar código-fonte]

Padrão geométrico Girih [en] no Darb-e Imam [en], Isfahan

Os designs geométricos na arte islâmica são geralmente feitos com combinações de quadrados e círculos repetidos, que podem ser sobrepostos e interpelados, tal como arabescos, com os quais são geralmente combinados, para formarem padrões intrincados e complexos, incluindo uma grande variedade de tesselações. Estes podem constituir uma decoração inteira, podem formar uma base para um embelezamento floral ou caligráfico oi podem ir para o fundo ao redor de outros temas. A complexidade e variedade dos padrões usados evoluíram de estrelas simples e drágeas no século nove, através de uma variedade de padrões de 6 a 13 pontos no século 13 e finalmente incluíram estrelas de 14 e 16 pontos no século 16.[4][15][5][16]

Tigela decorada com caligrafia cúfica, século X

Padrões geométricos ocorrem numa variedade de formas na arte e arquitetura islâmica, incluindo carpetes kilim,[17] girih [en] persa[18] e azulejos zellige marroquino,[19] abóbada decorativa de muqarnas,[20] jali (gelosias de pedra esculpida e perfurada),[21] cerâmica,[22] couro,[23] vitral,[24][25] carpintaria[26] e metalurgia.[27][28]

Caligrafia[editar | editar código-fonte]

A caligrafia é o elemento central da arte islâmica, combinando tanto o apelo estético quanto uma mensagem religiosa. Por vezes é a forma dominante de ornamento; outras vezes, é combinado com o arabesco.[29] A caligrafia é usada para decorar edifícios como mesquitas, madraças e mausoléus; objetos de madeira como caixões e cerâmica como ladrilhos e tigelas.[30][31]

Sete painéis de arabescos ocidentais, Farnsborough, Inglaterra. Desenhos por Jules Lachaise e Eugène-Pierre Gourdet, 1880-1886

Influência nos ornamentos ocidentais[editar | editar código-fonte]

Um estilo ocidental de ornamento baseado no arabesco islâmico desenvolveu-se na Europa a partir da Veneza do século XV; tem sido chamado Moresque [en] ou arabesco ocidental. Tem sido usado numa grande variedade de artes decorativas, especialmente em design de livros e encadernação.[32] Mais recentemente, William Morris, do movimento de Arts & Crafts, foi influenciado pelos três tipos de ornamentos islâmicos.[33]

Notas

  1. Critchlow foi um professor de arquitetura e autor de um livro sobre padrões islâmicos.
  2. Wade é um autor de uma série de livros sobre padrões em diversos estilos artísticos.
  3. Behrens-Abouseif é uma professora de história da arte e arquitetura na SOAS.

Referências

  1. Bouaissa, Malikka (27 de julho de 2013). «The crucial role of geometry in Islamic art». Al Arte Magazine. Consultado em 1 de dezembro de 2015 
  2. Bonner, Jay (2017). Islamic geometric patterns : their historical development and traditional methods of construction. New York: Springer. p. 1. ISBN 978-1-4419-0216-0. OCLC 1001744138 
  3. Bier, Carol (Setembro de 2008). «Art and Mithãl: Reading Geometry as Visual Commentary». Iranian Studies. 41: 9. JSTOR 25597484. doi:10.1080/00210860802246176 
  4. a b «Geometric Patterns in Islamic Art». Heilbrunn Timeline of Art History. Metropolitan Museum of Art. Consultado em 1 de dezembro de 2015 
  5. a b Hankin, Ernest Hanbury (1925). The Drawing of Geometric Patterns in Saracenic Art. Memoirs of the Archaeological Survey of India No. 15. [S.l.]: Government of India Central Publication Branch 
  6. Baer 1998, p. 41.
  7. Clevenot 2017, pp. 7-8, 63-112.
  8. Critchlow, Keith (1976). Islamic Patterns : an analytical and cosmological approach. [S.l.]: Thames and Hudson. ISBN 0-500-27071-6 
  9. Field, Robert (1998). Geometric Patterns from Islamic Art & Architecture. [S.l.]: Tarquin Publications. ISBN 978-1-899618-22-4 
  10. Ahuja, Mangho; Loeb, A. L. (1995). «Tessellations in Islamic Calligraphy». Leonardo. 28 (1): 41–45. JSTOR 1576154. doi:10.2307/1576154 
  11. a b Wade, David. «The Evolution of Style». Pattern in Islamic Art. Consultado em 12 de abril de 2016. Much of the art of Islam, whether in architecture, ceramics, textiles or books, is the art of decoration – which is to say, of transformation. The aim, however, is never merely to ornament, but rather to transfigure. ... The vast edifices of mosques are transformed into lightness and pattern; the decorated pages of a Qur’an can become windows onto the infinite. Perhaps most importantly, the Word, expressed in endless calligraphic variations, always conveys the impression that it is more enduring than the objects on which it is inscribed. 
  12. Behrens-Abouseif, Doris (1999). Beauty in Arabic Culture. [S.l.]: Markus Wiener. pp. 7–8. ISBN 978-1-558-76199-5 
  13. Fleming, John; Honour, Hugh (1977). Dictionary of the Decorative Arts. [S.l.]: Penguin. ISBN 978-0-670-82047-4 
  14. Robinson, Francis (1996). The Cambridge Illustrated History of the Islamic World. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-66993-1 
  15. Broug, Eric (2008). Islamic Geometric Patterns. [S.l.]: Thames and Hudson. pp. 183–185, 193. ISBN 978-0-500-28721-7 
  16. Abdullahi, Yahya; Bin Embi, Mohamed Rashid (2013). «Evolution of Islamic geometric patterns». Frontiers of Architectural Research. 2 (2): 243–251. doi:10.1016/j.foar.2013.03.002 
  17. Thompson, Muhammad; Begum, Nasima. «Islamic Textile Art and how it is Misunderstood in the West – Our Personal Views». Salon du Tapis d'Orient. Consultado em 3 de dezembro de 2015 
  18. «Gereh-Sazi». Tebyan. 20 de agosto de 2011. Consultado em 4 de dezembro de 2015 
  19. Njoku, Raphael Chijioke (2006). Culture and Customs of Morocco. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. p. 58. ISBN 978-0-313-33289-0 
  20. Tabbaa, Yasser. «The Muqarnas Dome: Its Origin and Meaning» (PDF). Archnet. pp. 61–74. Consultado em 2 de dezembro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 8 de dezembro de 2015 
  21. «For Educators: Geometric Design in Islamic Art: Image 15». Metropolitan Museum of Art. Consultado em 2 de dezembro de 2015 
  22. «Geometric Decoration and the Art of the Book. Ceramics». Museum with no Frontiers. Consultado em 7 de dezembro de 2015 
  23. «Geometric Decoration and the Art of the Book. Leather». Museum with no Frontiers. Consultado em 7 de dezembro de 2015 
  24. King, David C. King (2006). Azerbaijan. [S.l.]: Marshall Cavendish. p. 99. ISBN 978-0-7614-2011-8 
  25. Sharifov, Azad (1998). «Shaki Paradise in the Caucasus Foothills». Azerbaijan International. 6 (2): 28–35 
  26. Gereh-Sāzī. Encyclopaedia Iranica. Consultado em 2 de dezembro de 2015 
  27. Baer, Eva (1983). Metalwork in Medieval Islamic Art. [S.l.]: SUNY Press. pp. 122–132. ISBN 978-0-87395-602-4 
  28. Gibb, Sir Hamilton Alexander Rosskeen (1954). The Encyclopaedia of Islam. [S.l.]: Brill Archive. pp. 990–992. GGKEY:N71HHP1UY5E 
  29. Department of Islamic Art. "Calligraphy in Islamic Art" In Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art (October 2001)
  30. Mozzati, Luca (2010). «Calligraphy: The Form of the Divine Word». Islamic Art. [S.l.]: Prestel. pp. 52–59. ISBN 978-3-7913-4455-3 
  31. «Bowl with Kufic Calligraphy». Brooklyn Museum. Consultado em 30 de setembro de 2020 
  32. Harthan, John P. (1961). Bookbinding 2nd ed. [S.l.]: HMSO for the Victoria and Albert Museum. pp. 10–12. OCLC 220550025 
  33. «A Place in Pattern: Islamic Art and its Influence in British Arts & Crafts». William Morris Society. 2020. Consultado em 14 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 3 de outubro de 2020 

Fontes[editar | editar código-fonte]