Palácio Anchieta (Espírito Santo)

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Palácio Anchieta
Palácio Anchieta (Espírito Santo)
Fachada do Palácio Anchieta, 2019.
Nomes anteriores Igreja de São Tiago
Colégio de São Maurício
Palácio Presidencial
Tipo Residência oficial
Sede do governo estadual
Estilo dominante
Arquiteto Afonso Brás
Justin Norbert
Início da construção 1551 (Primeira Igreja de São Tiago)
Fim da construção 1935
Proprietário atual Governo do Estado do Espírito Santo
Geografia
País Brasil
Coordenadas 20° 19' 17" S 40° 20' 23" O

Palácio Anchieta é a sede do poder executivo do estado do Espírito Santo, Brasil. O palácio localiza-se exatamente a frente do Porto de Vitória, na entrada da Cidade Alta, um dos bairros mais antigos da cidade. O Palácio é utilizado como sede do Governo do estado do Espírito Santo desde o século XVIII, sendo uma das sedes de governo mais antigas do Brasil.

História[editar | editar código-fonte]

Antiga Igreja de São Tiago e Colégio dos Jesuítas (fundado em 1551) de Vitória, no Espírito Santo, em 1912. Atual Palácio Anchieta. Pintura de 1956, acervo do palácio.

No ano de 1551 a recém criada Vila de nossa Senhora da Vitória sofre o início de grandes construções. Os padres da Companhia de Jesus, liderados pelo padre Afonso Brás, principiaram a construção do conjunto arquitetônico formado pela Igreja de São Tiago e pelo Colégio dos Jesuítas, atual Palácio Anchieta. [1]O padre Afonso Brás descreve em 24 de agosto de 1551 a sua chegada na capitania do Espírito Santo e os trabalhos empenhados:

De Porto Seguro ao Espírito Santo são sessenta léguas. Quando chegamos, os moradores nos receberam com grande prazer e alegria, e desde que cheguei até à Páscoa, não me ocupei nem entendi em outra coisa, se não em confessar e fazer uma pobre casa, para nos podermos recolher nela; ela está coberta de palha e sem paredes. Trabalharei para que se edifique uma ermida junto dela em um local muito bom, no qual possamos dizer missa, confessar, pregar a doutrina e outras coisas semelhantes. (...) Pregamos a cada dia a doutrina aos escravos desta Vila que são muitos. (...) É esta terra onde estou no presente a melhor e mais fértil de todo o Brasil.[2]

Em 1570, um incêndio destrói a primeira sede da igreja de São Tiago, mobilizados pelo padre Inácio de Tolosa, missionários em agradecimento à acolhida após um naufrágio na foz do Rio Doce iniciavam a construção de uma nova sede para a Igreja de São Tiago, agora em pedra, no mesmo local da anterior, depois da perfuração de um poço de 8 metros atrás da igreja.[3]

Altares laterais da Antiga igreja de São Tiago evidenciados após as obras de restauro iniciadas em 2004.

A Casa de São Tiago, sob a forma de colégio e seminário, foi por mais de duzentos anos o farol da educação na província do Espírito Santo. [4]

Lápide do túmulo de José de Anchieta esculpida em pedra de Lioz.
Relicário com pintura e fragmento de osso de José de Anchieta exposto no túmulo simbólico no Palácio Anchieta.

Entre os personagens ilustres que passaram pelo complexo foi  o padre José de Anchieta que, em 1587, ficou responsável por dirigir e concluir a primeira ala do Colégio de São Tiago de frente para a praça João Clímaco e a igreja de Nossa Senhora da Conceição em Anchieta. Devido à suas funções estabeleceu-se na Vila de Vitória como Superior. De 1592 a 1594 foi nomeado Visitador das casas do Sul. Em 1596, foi nomeado governador e conselheiro da Casa de Vitória. Posteriormente conseguiu dispensa de suas funções e retirou-se para Reritiba, onde faleceu no dia 9 de junho. [5] Foi sepultado em Vitória, em frente ao altar principal da antiga igreja de São Tiago, onde até hoje é possível visitar o túmulo simbólico, pois em 1610 os restos mortais foram removidos para Bahia.[6]

A Igreja de São Tiago, inaugurada no inicio do ano de 1552, erigida ao lado da casa do colégio, possuía espaço suficiente para os serviços litúrgicos e acomodação dos religiosos. Em 1666, a estrutura da igreja ameaçava desabar e sofreu um processo de remodelamento, procedimento este que fez a igreja parecer uma nova construção.[7]

Em 1707, foi erguida a segunda ala do colégio de frente para a baía de Vitória e em 1734 a terceira ala foi construída, fechando o pátio interno, junto à segunda torre da igreja. [3]

Em 1727, o teto foi restaurado e as paredes sustentadas. Em 1747, a quarta ala é edificada, adjacente à igreja, formando um quadrilátero.[3] Em 1757, com a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas os bens pertencentes aos clérigos, assim como o complexo jesuítico de São Tiago, foram incorporados ao patrimônio nacional.[8] Em dezembro de 1759, Vitória presenciou a prisão do Reitor do colégio e de 5 padres.[9]

Foto da cidade de Vitória em 1903. Observa-se o complexo jesuítico no canto esquerdo com suas imponentes torres antes de sofrer as remodelações no governo de Jerônimo Monteiro.

Em 1796, um outro grande incêndio destruiu o interior do templo, inclusive a imagem de São Tiago. As imagens de Santo Inácio de Loyola e de São Francisco Xavier que integravam o altar foram transferidas para a igreja de São Gonçalo. Somente em 1798, dois anos após o incêndio, o prédio é recuperado e denominado Palácio do Governo.[10]

Em 1860, o palácio passa por obras de reforma e recebe o imperador Dom Pedro II e a imperatriz Dona Teresa Cristina Maria. Suas majestades permanecem no estado durante 15 dias.[3]

Durante o governo de Jerônimo Monteiro (1908 -1912) o palácio, ex-igreja, sofreu as maiores remodelações. O conjunto sofreu grandes mudanças e recebeu uma nova roupagem arquitetônica com características ecléticas muito populares nos primeiros anos do século XX e difundidas pelos modernistas.

As obras ficaram a cargo do engenheiro Francês Justin Norbert, que também foi responsável pela construção do mercado da capixaba no centro da capital. O telhado original foi elevado, as fachadas foram remodeladas e é feita uma nova abertura em direção à Baia de Vitória.

A igreja de São Tiago foi comprada do Bispado em 23 de novembro de 1911 e anexada ao prédio do palácio, antigo espaço utilizado como casa e colégio.[11] A torre da direita foi demolida na primeira grande reforma e a segunda em 1919, no governo de Bernardino Monteiro.[12]

Em 1945, o Palácio recebeu oficialmente o nome de Anchieta, em homenagem ao padre, por meio do decreto de nº 15.888 assinado pelo governador Jones dos Santos Neves. [6]

Em 1983, o edifício foi Tombado pelo Conselho Estadual de Cultura e em 2004, iniciou-se a primeira grande obra de restauro que só foi concluída em 2009.[10]

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

Como o palácio era uma Igreja, durante as reformas, corpos (provavelmente de Fidalgos) foram encontrados nos terrenos.

Como é um prédio de origem Jesuítica, o Santo Anchieta, que dá nome ao prédio foi um de seus hóspedes, o prédio possui uma relíquia do Santo, um pedaço de sua Tíbia.

É a única construção jesuítica que no período colonial possuiu 2 torres sineiras e 1 relógio. Com seu quadrilátero imponente, foi por muitos anos a maior construção do Estado do Espírito Santo e um dos 4 edifícios no Brasil que possuem a técnica do esgrafito, uma técnica mourisca do séc XVI.

O altar da igreja de São Thiago foi restaurado e atualmente o palácio está aberto à visitação de terça a sexta das 09 às 17 horas, e aos sábados e domingos das 09 às 16 horas, uma viagem no tempo, há quatro séculos.

Atualmente possui obras de arte com valores inestimáveis, patrimônio do Estado do Espírito Santo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Jornal A Gazeta, 26/09/1994.
  2. SANTOS, Estilaque Ferreira dos.  História da Câmara Municipal de Vitória: os atos e as atas. Vitória: Câmara Municipal de Vitória, 2014; (V. 1 - A trajetória de uma das primeiras câmaras do Brasil): p 35.
  3. a b c d PRODEST. «Palácio Anchieta comemora 460 anos». SECULT. Consultado em 11 de agosto de 2018 
  4. Neida Lúcia Novaes. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Vitória, Nº 44, 1994.
  5. AQUINO, FELIPE (17 de maio de 2018). «Quem foi São José de Anchieta?». Editora Cleófas. Consultado em 29 de julho de 2018 
  6. a b Monteiro, Amanda (1 de abril de 2014). «Fantasma de Anchieta assombra sede do governo do ES, reza lenda». G1 ES. Consultado em 29 de julho de 2018 
  7. Moraes, Neida Lúcia (2002). Espírito Santo - História de suas lutas e conquistas. [S.l.: s.n.] 
  8. Serafim Derenzi, Luiz (14 de março de 2017). «A instrução após a expulsão dos Jesuítas – Por Serafim Derenzi». Morro do Moreno. Consultado em 29 de julho de 2018 
  9. Freire, Mário (19 de junho de 2015). «Expulsão dos Jesuítas - Por Mário Freire». Morro do Moreno. Consultado em 29 de julho de 2018 
  10. a b PRODEST. «Governo ES - Palácio Anchieta». www.es.gov.br. Consultado em 29 de julho de 2018 
  11. «Inaugurada obras de restauração do Palácio Anchieta nesta quinta-feira» 
  12. Dias, F. V. pátio jesuítico no palacio Anchieta: narrativas tipo-morfológicas e paisagísticas na cidade de Vitória (ES). Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, p. 167-169. 2014.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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