Pedro de Melo, o Púcaro

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Pedro de Melo, o Púcaro
Alcaide-mor de Pinhel
Pedro de Melo, o Púcaro
Armas dos Melo, no Livro do Armeiro-Mor (1509)
Nascimento Circa 1465
Morte ?
Cônjuge Ana de Gouveia (1.º casamento

Briolanja Pereira (2.º casamento)

Pai Martim Afonso de Melo, 7.º senhor de Melo
Mãe Brites de Sousa, filha do senhor de Regalados
Título(s)
  • Comendador-mor da Ordem de Avis
  • 1.º Morgado de S. Paio
  • Morgado da quinta do Paço do Infante (ou Paço de Nespereira)
Ocupação Fidalgo, Militar
Filho(s) Fernão de Melo, 2.º morgado de S. Paio (2.º casamento)
Filha(s) Ana de Melo (1.º casamento)

Pedro de Melo, o Púcaro (c. 1465 - ?), foi um fidalgo português da segunda metade do século XV, que ganhou a sua alcunha em virtude de um famoso incidente, relatado pelo cronista Garcia de Resende, em que o rei D. João II tomou a sua defesa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filho de Martim Afonso de Melo, 7.º senhor de Melo (c. 1412 - c. 1483), com D. Brites ou Beatriz de Sousa, filha de Pedro Gomes de Abreu (c. 1408 - 1453), senhor de Regalados, e de sua mulher, D. Aldonça de Sousa (nascida cerca de 1408, e filha de D. Lopo Dias de Sousa, 8.º mestre da Ordem de Cristo).[1][2]

Ignora-se a data exata do seu nascimento,[3] mas tendo sua irmã mais nova, D. Isabel de Melo, casado em 1494 com o 2.º visconde de Vila Nova de Cerveira, com geração,[4] é provável que tenha nascido em data próxima dos meados da década de 1460.

Muito jovem, fez serviço militar em África[1] e, regressado a Portugal, foi moço-fidalgo e vassalo da casa de D. João II.

Exerceu o cargo de Alcaide-mor de Pinhel e foi também comendador-mor da Ordem de Aviz.

Instituiu o morgadio de S. Paio, na quinta homónima, situada no termo de Gouveia.[5]

Sucedeu a sua avó paterna, Teresa Freire de Andrade (que era neta do 6.º mestre da Ordem de Cristo, D. Nuno Rodrigues Freire de Andrade), na quinta do Paço de Nespereira e respectivo morgadio. A quinta era também conhecida como "quinta do Paço do Infante", pois nela o futuro D. João I foi instruído pelo 6.º mestre da Ordem de Cristo, a quem o rei D. Pedro I confiara a educação do seu filho bastardo.[5]

Pedro de Melo ficaria famoso por um incidente relatado por Garcia de Resende, na sua obra Vida e Feitos d’El-Rey Dom João Segundo.

De acordo com o cronista, sendo Pedro de Melo, "muito bom cavaleiro e muito desmanhoso", fidalgo da casa do rei, levou um dia, à mesa do soberano, água num púcaro. Mas, tremendo-lhe a mão, deixou cair o púcaro da salva, tendo-se a água espalhado pelo chão, o que levou os convivas da mesa do rei a reagir com risos. Mas D. João II logo cortou cerce essa reação, defendendo o seu vassalo, e lembrando o seu serviço militar, com as seguintes palavras:[6]

De que vos rides? Nunca lhe cahio a lança da mão, ainda que lhe cahisse o pucaro

E Pedro de Melo, muito contente com a intervenção do rei a seu favor, logo lhe tornou a dar de beber.

Casamentos e descendência[editar | editar código-fonte]

Casou duas vezes.

A primeira vez, c. 1499,[7] com Ana de Gouveia, filha de Gil Afonso de Gouveia, "homem honrado da Beira";[8] com geração, uma filha, D. Ana de Melo, casada com Rui Freire de Andrade, da casa dos senhores de Sandomil.

Casou pela segunda vez, c. 1502,[7] com D. Briolanja Pereira,[9] filha de Fernão Pinto, senhor da quinta (ou honra) de Real, comendador de Moimenta da Beira na Ordem de Cristo, e de sua mulher D. Isabel de Miranda de Berredo; neta paterna de Gonçalo Vaz Pinto, 2.º senhor de Ferreiros e Tendais, e de sua mulher D. Guiomar de Castro (filha dos 1ᵒˢ senhores de Gouveia do Tâmega e neta dos 1ᵒˢ condes de Atouguia); neta materna de D. Vasco Pereira, senhor de Fermedo, e de sua mulher D. Isabel de Miranda.[5]

Do 2.º casamento de Pedro de Melo, o Púcaro, foi filho sucessor Fernão de Melo, 2.º morgado de S. Paio (casado, c. 1529,[7] com Francisca de Barbuda, neta materna de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia),[10] cuja linha primogénita varonil de descendência se manteve até o século XVII, na pessoa do seu trineto, Fernão de Melo Soares, moço fidalgo da Casa Real em 1648 e chefe da varonia dos Melo, em Portugal.[11]

Deste Fernão de Melo Soares foi filha herdeira D. Jacinta de Melo, casada com Lourenço de Melo Sampaio, da casa dos senhores de Ribalonga.[11][12][13] Do casamento houve geração, uma única filha, D. Josefa Antónia Maria Caetana de Melo (Trancoso, Póvoa do Concelho, bp. 08.10.1691), que casou duas vezes: a 1.ª vez com Nicolau Pereira Pinto da Fonseca,[14] 7.º morgado de S. Nicolau de Alcongosta, com geração (são bisavós de Bento de Queiroz Pereira Pinto Serpe e Melo, 10.º morgado de Alcongosta, cuja descendência primogénita seguiria os apelidos Queiroz de Ataíde Pinto Mascarenhas);[15] e a 2.ª vez com Francisco Banha de Sequeira Coutinho, comendador de Manteigas na Ordem de Cristo, com geração, que viria a seguir os apelidos Homem de Sampaio e Melo.[11]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Sousa, D. António Caetano de (1735–1749). «Biblioteca Nacional Digital. Historia Genealógica da Casa Real Portuguesa. Tomo XII, parte I, Livro XIV, cap. V». purl.pt. p. 434. Consultado em 3 de outubro de 2023 
  2. «Manuel Abranches de Soveral - Souza (Arronches). Os filhos e netos do "muj honrrado barom" Dom Frei Lopo Dias de Souza, 8º mestre da Ordem de Cristo». www.soveral.info. p. 8. Consultado em 3 de outubro de 2023 
  3. Rodrigues, Abel (1 de janeiro de 2013). «O Arquivo da Família Melo (Séc. XIV-XIX): do "arranjamento" iluminista à integração no Sistema de Informação Casa de Mateus». Actas do 3º Congresso Internacional da Casa Nobre: 494. Consultado em 6 de outubro de 2023. SC 03 - Soares de Melo (Séc. XV) SSC 03.04 - Pedro Soares de Melo, "O Púcaro" 
  4. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra. Livro Terceiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. pp. 87, 347. Em 1494 [o 2.º visconde de Vila Nova da Cerveira, D. João de Lima] já era pela segunda vez casado [com] D. Isabel de Melo, filha de Martim Afonso de Melo, 7.º senhor de Melo ... carta de 6 de julho de 1494 de padrão de tença ... a D. João de Lima ... e a D. Isabel de Melo, sua mulher 
  5. a b c «Manuel Abranches de Soveral - Mello e Souza. Descendência legítima na comarca de Viseu.». www.soveral.info. p. III. Consultado em 3 de outubro de 2023 
  6. Resende, Garcia de (2007). “Vida e Feitos d’El-Rey Dom João Segundo” (1545), Texto da Edição Crítica de Evelina Verdelho. Coimbra: Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra. p. 129 
  7. a b c Girão, Guilherme de Souza (10 de junho de 2021). Souza Girao e Vale na descendência de D.Pedro e D.Inês de Castro. Lisboa: Guilherme de Souza-Girão. pp. 49 – 50 
  8. Alão de Morais, Cristóvão (1943). «Biblioteca Nacional Digital. Pedatura Lusitana : nobiliário de familias de Portugal (ano de 1665). pub. Alexandre António Pereira de Miranda Vasconcellos, António Augusto Ferreira da Cruz, Eugenio Eduardo Andrea da Cunha e Freitas. - Porto : Livr. Fernando Machado. Tomo I, Volume Primeiro». purl.pt. p. 482 - 7. Consultado em 3 de outubro de 2023 
  9. Sousa, D. António Caetano de (1749). «Biblioteca Nacional Digital. Historia genealogica da Casa Real Portugueza. Tomo XII, parte II.». purl.pt. p. 815. Consultado em 9 de outubro de 2023 
  10. Manuel Abranches de Soveral, op. cit., Mello e Souza, III: "D. Francisca de Barbuda [era filha de] ... D. Susana de Almeida, filha do grande Dom Francisco de Almeida, 1º vice-rei da Índia."
  11. a b c «Anuário da Nobreza de Portugal - 1985 - III. Tomo II». www.biblioteca-genealogica-lisboa.org. 1985. pp. 1041–1042. Consultado em 3 de outubro de 2023. D. Josefa Antónia Maria Caetana de Mello, bapt. 08.10.1691 ... casada em 1.ᵃˢ núpcias com Nicolau Pereira Pinto da Fonseca, morgado de Alcongosta, filho primogénito do morgado do Arco...[era filha de] Lourenço de Mello São Payo ... da casa de Ribalonga e sua mulher D. Jacinta de Mello ... filha herdeira de Fernão de Mello Soares ... chefe da varonia dos de Mello em Portugal... 
  12. «Pensar ansiães: À descoberta de Ansiães». pensar ansiães. Consultado em 9 de outubro de 2023. 1500-03-16. Confirmação pelo rei D. Manuel I de Ruy Dias de Sampayo, alcaide-mor de Ansiães, como 'senhor dos direitos reais de Ribalonga'. 
  13. «Biblioteca Nacional Digital. Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. Tomo XVIII.». purl.pt. p. 153. Consultado em 9 de outubro de 2023 
  14. «Nicolau Pereira Pinto da Fonseca. Alvará. Fidalgo Escudeiro acrescentado a Fidalgo Cavaleiro. (9 de maio de 1696) - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 3 de outubro de 2023 
  15. Trigueiros, João (5 de setembro de 2010). «Heráldica e Genealogia: Casa do Morgado de São Nicolau - Fonseca, Oliveira e Proença (Séc. XVIII) - Alcongosta, Fundão.». Heráldica e Genealogia. Consultado em 3 de outubro de 2023