Ponte Eiffel

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Ponte Eiffel
Ponte Eiffel
Ponte Eiffel, em 2009.
Nome oficial Ponte Rodo-ferroviária de Viana do Castelo
Arquitetura e construção
Design Gustave Eiffel
Mantida por Infraestruturas de Portugal
Início da construção Março de 1877
Término da construção Maio de 1878
Data de abertura 1 de Julho de 1878
Comprimento total 645 m
Geografia
Via Linha do Minho / EN13
Cruza Rio Lima
Localização Viana do Castelo, Portugal
Coordenadas

A Ponte Eiffel, também referida como Ponte Rodo-Ferroviária de Viana do Castelo, Ponte Metálica sobre o Rio Lima e Ponte Metálica Ferroviária e Rodoviária sobre o Rio Lima, é uma estrutura que transporta a Linha do Minho e a Estrada Nacional 13 sobre o Rio Lima, junto à cidade de Viana do Castelo, em Portugal. Liga a atual freguesia de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela, na margem norte, à freguesia de Darque, no sítio do Cais Novo, na margem sul, ambas no Município e no Distrito de Viana do Castelo.[1]

Ponte Eiffel de noite, em 2005.

Caracterização[editar | editar código-fonte]

Esta ponte possui um comprimento total de cerca de 645 m, sendo considerada, pelas suas dimensões, como uma obra monumental.[2] É composto por dois tabuleiros metálicos, sendo o superior rodoviário e o inferior ferroviário, que têm uma extensão de 562 m, e estão divididos em 10 tramos contínuos de vigas rectas.[3][4] Utiliza vigas de rótula múltipla.[4] O vão mínimo entre dois pilares é de 46,08 m.[5]

É um símbolo da arquitetura do Ferro em Portugal.

Ponte Eiffel, fotografada por Emílio Biel.

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes e planeamento[editar | editar código-fonte]

Em meados do Século XIX, o principal meio de transporte em Viana do Castelo era o fluvial, utilizando o Rio Lima,[6] devido ao péssimo estado em que as vias rodoviárias se encontravam.[7] Esta situação só se modificou a partir da Década de 1850, com a criação, por decreto de 22 de Julho de 1852, do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, que deu um grande impulso aos transportes terrestres em Portugal.[7] Assim, em 1856, foi concluída a estrada macadamizada do Porto a Viana do Castelo, passando por Barcelos e Famalicão.[8]

Originalmente, a travessia do Rio Lima era feita a bordo de uma barca do concelho; posteriormente, foi substituída por uma ponte em madeira, cuja construção foi autorizada em 1807.[9] No entanto, devido às Invasões francesas, as obras só começaram entre 1818 e 1820.[9] Esta ponte ligava os mesmos locais onde a barca atracava, ou seja, a Praça do Príncipe, na margem direita, ao Cais de São Lourenço, na margem esquerda.[9] A ponte foi desde o princípio considerada como uma solução provisória, tendo-se previsto para depois a sua substituição por uma de pedra;[9] no entanto, as receitas provenientes da portagem eram consideravelmente iguais às despesas de conservação, pelo que o Juiz de Fora de Viana, que administrava a ponte, não conseguia reunir os capitais suficientes para a construção da nova ponte.[10]

Ponte Eiffel em 2011, com a marina ao fundo.

Planeamento[editar | editar código-fonte]

Em 21 de Julho de 1852, uma carta de lei ordenou a realização de obras de forma a melhorar o porto e a barra de Viana do Castelo, e a construção de uma nova ponte sobre o Rio Lima, devido ao mau estado de conservação em que a antiga estrutura se encontrava.[10] Um engenheiro inglês, John Rennie, estudou a situação a pedido de Fontes Pereira de Melo, tendo apontado no seu relatório que a ponte de estacas era um grande obstáculo ao movimento das marés, dificultando consideravelmente o funcionamento regular do Porto de Viana do Castelo, pelo que aconselhava a sua demolição e substituição por uma nova estrutura, que tivesse vãos superiores a 50 pés de altura, e cujos pilares fossem tão estreitos quanto possível.[10] O Conselho Superior de Obras Públicas, reunido em 30 de Março de 1857, determinou que o seu director devia ser incumbido de apresentar um novo projecto; as primeiras propostas para a nova ponte, apresentadas pelo conselheiro Plácido António Cunha de Abreu e John Rennie em 1855, colocavam-na a cerca de 150 metros a montante da antiga estrutura, dando desta forma continuidade directa à Estrada Real n.º 4, que necessitava de uma inflexão a jusante para aceder à ponte de madeira.[11] Em 1875, foi determinado que a nova ponte devia ser construída no local proposto em 1855, e que teria 2 tabuleiros, sendo o inferior destinado à via férrea.[5]

Porém, surgiu uma segunda corrente de opinião acerca do local onde deveria ser instalada a nova ponte; em 1867 uma carta de lei autorizou a construção da Linha do Minho, tendo-se planeado desde o princípio que este caminho de ferro deveria circular pela faixa litoral a Norte de Viana do Castelo.[5] Assim, pensou-se em fazer atravessar a Linha a ocidente da cidade, cerca de 1500 metros a jusante da de madeira, reduzindo desta forma a necessidade de realizar dispendiosas expropriações e evitando-se que a via férrea cercasse o núcleo urbano, constituindo assim um obstáculo ao seu desenvolvimento.[5] No entanto, de forma a permitir o tráfego das embarcações, o tabuleiro teria de ser colocado a uma maior elevação, aumentando assim a complexidade técnica e os custos de construção da ponte em si e dos acessos, especialmente do caminho de ferro, que exigia menores inclinações.[5] Em contraste, a instalação da nova ponte junto à antiga requereria extensivas expropriações, devido ao facto daquela zona ser densamente construída, além que não se podia proceder à demolição do Convento de São Bento, uma vez que ainda não tinham falecido as últimas freiras.[5] Assim, o projecto para a nova ponte foi fixado a cerca de 300 metros a montante da de madeira, com o viaduto na margem direita a passar junto ao limite oriental da cerca do Convento de São Bento.[5] O projecto para a nova ponte foi elaborado pelo engenheiro Gustave Eiffel.[5]

Em 1876, a autarquia enviou uma representação ao rei, chamando a atenção para os graves problemas que resultariam da utilização de dois tabuleiros sobrepostos, uma vez que o tabuleiro rodoviário ficaria muito acima do nível do rio, obrigando à instalação de rampas nas duas margens, que, além de dispendiosas, também seriam de difícil acesso e constituiriam um obstáculo a futuros melhoramentos.[7] Assim, propunham uma solução alternativa, na qual os dois tabuleiros estariam paralelos, ao nível do cais.[7] No entanto, esta sugestão não foi atendida, demonstrando o nulo impacto do poder local no processo de planeamento da ponte, que foi directamente coordenado pelo governo central.[7]

Ponte Eiffel, em 2014.

Construção e inauguração[editar | editar código-fonte]

A empresa de Gustave Eiffel também foi encarregada pela construção,[2] que foi dirigida pelos engenheiros João Matos e Boaventura Vieira.[5] As obras começaram em Março de 1877 e foram concluídas em Maio do ano seguinte.[5]

Em 30 de Junho de 1878, foi inaugurado o troço entre Darque e Caminha, tendo a cerimónia sido feita no edifício provisório da Estação de Viana do Castelo.[12] Este troço entrou ao serviço no dia 1 de Julho.[13]

Era, à altura, a ponte mais comprida nos caminhos de ferro portugueses e foi a primeira construída em Portugal com duplo tabuleiro.

A construção da ponte, junto com a implementação da via férrea e o alargamento da zona portuária, modificaram profundamente a cidade de Viana do Castelo.[6]

Vista geral da Ponte, em 1967.

Remodelação[editar | editar código-fonte]

Em 1936, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses fez grandes obras de reparação nesta ponte.[14]

Nos finais do Século XX, foi alvo de grandes obras de beneficiação, como parte de um programa da empresa Caminhos de Ferro Portugueses para reabilitar as suas pontes metálicas, e permitir que continuassem em serviço.[4] Esta intervenção incluiu a instalação de cabos de pré-esforço às estruturas metálicas.[4]

Em 2007, toda a estrutura recebeu uma grande intervenção de reabilitação, que durou quase dois anos e que custou 15 milhões de euros. A intervenção aumentou a largura do tabuleiro de 6,88 metros para oito metros, seis dos quais para a faixa de rodagem e os restantes para dois passeios de um metro de largura cada.

Em 2014, a travessia foi alvo de uma empreitada de substituição integral do piso do tabuleiro rodoviário, que se encontrava “totalmente esburacado”.

A última intervenção realizada na ponte centenária foi realizada em 2016, para a substituição dos aparelhos de apoio da travessia rodoferroviária sobre o rio Lima, num investimento de 117.790 euros.

Classificação[editar | editar código-fonte]

Em Outubro de 2020, a Direção-Geral do Património Cultural propôs a classificação da ponte como Monumento Nacional.[15]

Referências literárias[editar | editar código-fonte]

No primeiro volume da sua obra As Farpas, Ramalho Ortigão descreve a passagem pela Ponte Eiffel:

Ver também[editar | editar código-fonte]

Leitura recomendada[editar | editar código-fonte]

  • Linha do Minho - Ponte Eiffel sobre o Rio Lima. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional E. P. 2007 
  • VASCONCELOS, António; PINTO, Adriano Barros; et al. (2015). Pontes ferroviárias do Alto Minho: Barcelos, Viana do Castelo, Caminha e Valença do Minho. [S.l.]: Fundação Caixa Agrícola do Noroeste. 225 páginas. ISBN 978-989-980-65-4-2 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ORTIGÃO, Ramalho (1986) [1890]. As Farpas. O País e a Sociedade Portuguesa. 15. Lisboa: Clássica Editora. 276 páginas 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
  • SANTOS, José Coelho (1989). O Palácio de Cristal e Arquitectura de Ferro no Porto em Meados do Século XIX. Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida. 387 páginas 

Referências

  1. Ficha na base de dados SIPA
  2. a b REIS et al, p. 32
  3. SANTOS, p. 329
  4. a b c d MARTINS et al', p. 123
  5. a b c d e f g h i j FERNANDES, p. 64
  6. a b FERNANDES, p. 59
  7. a b c d e FERNANDES, p. 65
  8. FERNANDES, p. 56
  9. a b c d FERNANDES, p. 60
  10. a b c FERNANDES, p. 62
  11. FERNANDES, p. 62-64
  12. FERNANDES, p. 82
  13. «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 69 (1652). 16 de Outubro de 1956. pp. 528–530. Consultado em 15 de Janeiro de 2016 
  14. «O que se fez em Caminhos de Ferro durante o ano de 1936» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 49 (1179). 1 de Fevereiro de 1937. pp. 86–87. Consultado em 12 de Novembro de 2013 
  15. «Proposta classificação da ponte Eiffel de Viana como monumento nacional» 
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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