Prudence Crandall

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Prudence Crandall
Prudence Crandall
Nascimento 3 de setembro de 1803
Hopkinton, Rhode Island, Estados Unidos
Morte 28 de janeiro de 1890 (86 anos)
Elk Falls, Kansas, Estados Unidos
Nacionalidade Estados Unidos estadunidense
Ocupação Professora e abolicionista
Assinatura

Prudence Crandall (Hopkinton, 3 de setembro de 1803 - Elk Falls, 28 de janeiro de 1890) foi uma professora primária estadunidense e abolicionista. Tornou-se conhecida por abrir uma escola para meninas e mulheres, tanto brancas quanto negras, que recebeu forte boicote dos cidadãos da região por aceitar negras entre as alunas.[1][2] Hoje é considerada uma heroína do estado de Connecticut.[3]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Prudence nasceu em 1803 na região rural de Hope Valley, no município de Hopkinton, em Rhode Island, filha de Pardon and Esther Carpenter Crandall, casal que professava o quakerismo. Quando tinha 17 anos, seu pai levou a família para a cidade de Canterbury, em Connecticut.[4] Em 1831, Prudence e a irmã Almira compraram uma casa e abriram uma escola para meninas e moças, a Canterbury Female Boarding School.[2] Tinha dois irmãos Hezekiah Crandall, Reuben Crandall, e uma irmã, Almira Crandall.[5]

A escola[editar | editar código-fonte]

No outono de 1832, Sarah Harris Fayerweather, filha de um negro liberto e fazendeiro que morava perto de Canterbury, foi matriculada na escola de Prudence e Almira, para cursar o magistério. Sarah estudou nas mesmas escolas municipais que as meninas brancas que estudavam na escola de Prudence. É provável que esta tenha sido a primeira classe mista de brancos e negros dos Estados Unidos.[6] Muitos cidadãos proeminentes da cidade se opuseram à matrícula de Sarah e pressionaram Prudence para que recusasse a aluna, mas ela se recusou a negar sua vaga. Com isso, muitos pais brancos retiraram suas filhas da escola de Prudence.[1][2]

A partir daí Prudence se dedicou a oferecer estudos para as meninas negras. Depois de fechar a escola temporariamente, Prudence começou a acolher meninas negras em sua escola em 2 de março de 1833. William Lloyd Garrison, abolicionista e apoiador da escola, colocou anúncios no jornal a respeito de vagas.[6] Conforme a notícia se espalhou, muitas famílias negras enviaram suas filhas para a escola de Prudence. Crianças vindas de Boston, Providence, New York, Filadélfia, além daquelas da região de Canterbury, começaram a se matricular em 1º de abril de 1833.[2][6]

Prudence ensinava diversas disciplinas: leitura, redação, aritmética, geografia, astronomia, história natural, filosofia, química, desenho, pintura e música, além de francês. Os estudantes pagavam 25 centavos de dólar por trimestre, metade adiantado, para cobrir os custos, limpeza e manutenção da escola. Os livros e equipamentos eram comprados pelas alunas, mas com desconto. Porém, a escola acabou durando pouco tempo, devido à forte oposição da população e até do governo do estado.[2][6]

Oposição[editar | editar código-fonte]

Os cidadãos de Canterbury primeiro protestaram e até reuniram o conselho municipal na tentativa de fechar a escola. Em seguida, os protestos se tornaram avisos, ameaças e em seguida vandalismo. Mesmo com todo o preconceito, Prudence continuou com suas aulas. Mas em 24 de maio de 1833, o legislativo do estado passou uma leia que proibia escolas de lecionar para alunos negros de fora de Connecticut sem permissão do município. Em julho, Prudence foi presa e levada para a prisão do condado, onde esperou até seu julgamento.[3][6]

Pela nova lei, os cidadãos também passaram a perseguir os alunos de Prudence. Fecharam as lojas e locais de reunião de seus familiares, negavam transporte e até atendimento médico. Envenenaram o poço da escola com fezes de animais e a impediram de conseguir água em outro lugar. Uma de suas alunas, de 17 anos foi presa e depois libertada pelo abolicionista Samuel J. May por meio de doações. Ainda assim, a escola continuou funcionando, enfurecendo a população ainda mais.[3][4][6]

Ao ver o apoio de Samuel J. May à Prudence Crandall, o deputado e depois juiz federal, Andrew T. Judson disse:

Julgamento[editar | editar código-fonte]

O proeminente abolicionista de Nova Iorque, Arthur Tappan, doou 10 mil dólares para a causa de Prudence e para a contratação de advogados. O caso desafiava a constitucionalidade da lei estadual que proibia escolas de aceitar alunos negros de outros estados. A defesa argumentou que negros eram cidadãos de outros estados, portanto não havia nenhum impedimento legal para suas matrículas em escolas de Connecticut. Além disso, a defesa também focou na privação de direitos para estudantes negros, o que ia contra a Constituição dos Estados Unidos.[2][3] Há a acusação negou o fato de que negros libertos fossem cidadãos em qualquer estado. No fim, o juri não conseguiu chegar a um veredito.[7]

Um segundo julgamento na corte estadual decidiu contra Prudence e sua escola e o caso prosseguiu para a corte de apelações (hoje a Suprema Corte estadual) em julho de 1834. A decisão anterior foi revertida e o caso foi encerrado em 22 de julho por um erro no processo. A lei estadual proibia a matrícula de crianças negras vindas de fora do estado, desde que uma permissão fosse dada pela autoridade civil e pelo conselho municipal. Como a acusação não abordou a questão da licença da escola, a corte entendeu que não havia crime e fechou o caso. A corte porém não argumentou a respeito da cidadania de negros em todos os estados.[8]

O processo judicial não impediu a escola de continuar funcionando, porém o vandalismo dos moradores de Canterbury aumentou, que ficaram tão irados com a decisão do tribunal que tacaram fogo na escola em 9 de setembro de 1834. Pela segurança dos alunos, de sua família e a sua própria, Prudence fechou a escola em 10 de setembro de 1834.[2][6] A lei foi revogada em 1838.[9]

Últimos anos e morte[editar | editar código-fonte]

Em agosto de 1834, Prudence se casou com o reverendo Calvin Philleo, da igreja batista. O casal se moveu para Massachusetts por um tempo, mas também moraram em Nova York, Rhode Island e Illinois. O casal não teve filhos, mas Calvin já tinha três filhos do primeiro casamento. Calvin sofreu por muitos anos de doenças mentais e faleceu em Illinois em 1874. Já viúva, Prudence voltou a usar seu nome de solteira e se mudou para Elk Falls, no Kansas, para morar com seu irmão Hezekiah, em 1877.[5]

Em 1886, o estado de Connecticut homenageou Prudence, com apoio de Mark Twain, dando-lhe uma pensão anual de 400 dólares (hoje equivalente a 11 mil dólares). Prudence feio a falecer em 28 de janeiro de 1890, em Elk Falls, aos 86 anos e foi enterrada no cemitério da cidade.[3][6][10]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. a b c Samuel J. May (ed.). «A Canterbury Tale: A Document Package for Connecticut's Prudence Crandall Affair» (PDF). Universidade Yale. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  2. a b c d e f g Connecticut History (ed.). «Prudence Crandall Fights for Equal Access to Education». Connecticut History. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  3. a b c d e Connecticut History (ed.). «State Heroine Prudence Crandall». Connecticut History. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  4. a b Women History Blog (ed.). «Prudence Crandall». Women History Blog. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  5. a b The Famous People (ed.). «Prudence Crandall Biography». The Famous People. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  6. a b c d e f g h Jennifer Rycenga (ed.). «A Greater Awakening: Women's Intellect as a Factor in Early Abolitionist Movements, 1824–1834». Journal of Feminist Studies in Religion. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  7. Universidade Yale (ed.). «A Statement of Facts. Respecting the School for Colored Females in Canterbury, CT Together with a Report of the Late Trial of Miss Prudence Crandall». Advertiser Press. Consultado em 23 de setembro de 2017. Arquivado do original em 7 de junho de 2010 
  8. Connecticut Reports (ed.). «Crandall v. State of Connecticut». Connecticut Reports: Proceedings in the Supreme Court Volume 10. Consultado em 23 de setembro de 2017 
  9. Universidade Yale (ed.). «Connecticut's Black Law». Universidade Yale. Consultado em 23 de setembro de 2017. Arquivado do original em 19 de outubro de 2012 
  10. Find a Grave (ed.). «Prudence Crandall Philleo». Find a Grave. Consultado em 23 de setembro de 2017