Quenifra

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Marrocos Quenifra

Khénifra • Jenifra • Xnifra • خنيفرة

 
  Município  
Quenifra vista de Taabit
Quenifra vista de Taabit
Quenifra vista de Taabit
Apelido(s) Alhamra (a vermelha)
Localização
Quenifra está localizado em: Marrocos
Quenifra
Localização de Quenifra em Marrocos
Coordenadas 32° 56' N 5° 40' O
País Marrocos
Região (1997-2015) equinez-Tafilete
Província Quenifra
Características geográficas
População total (2004) [1][2] 71 522 hab.
 • Estimativa (2012) 82 740
Altitude 860 m
Código postal 54000
Sítio khenifra.ws

Quenifra[3] (grafia em francês: Khénifra; em berbere: Jenifra; em berbere: Xnifra; em árabe: خنيفرة) é uma cidade do centro de Marrocos, capital da província homónima, que faz parte da região de Meknès-Tafilalet. Em 2004 tinha 71 522 habitantes[1] e estimava-se que em 2012 tivesse 82 740 habitantes.[2]

A cidade, capital histórica dos Berberes zaianes, encontra-se no eixo Fez-Marraquexe, das quais dista, respetivamente, 165 e 315 quilómetros. Ocupa um planalto que é atravessado pelo rio Morbeia (Oum Errabiaa), o qual passa pela cidade, e é rodeada por quatro montanhas com mais de 2 000 metros, que a isolam das regiões vizinhas.

A geografia local contribui para acentuar as características continentais do clima, caracterizado por invernos rigorosos e muito frios (as temperaturas chegam a descer aos 15°C negativos) e verões muito quentes. A região tem numerosos lagos, pelos quais a cidade é conhecida.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome tem origem no verbo amazigue khanfar, que significa "agredir". o que está relacionado com um facto histórico. A certa altura, a cidade estava foi tomada pela força pela tribo dos Ait Bouhaddou. Para manifestar a sua hegemonia sobre a cidade, os zaianes, outra tribo berbere, fazem de Quenifra uma zona de controle para os não zaianes, estabelecendo uma espécie de sistema aduaneiro para os viajantes em trânsito, os quais eram obrigados a pagar uma taxa. Segundo outra versão anedótica, a etimologia provém da história de um homem forte que agredia quem passava.

O topónimo pode ainda designar o local onde se têm lugar combates de akhanfer, uma luta berbere semelhante ao wrestling que é muito praticada no Médio Atlas.

O nome pode ainda estar relacionado com a geomorfologia local: a cidade situa-se encravada entre quatro montanhas (Alhafra). A alcunha Quenifra Alhamra ("Quenifra, a Vermelha") deve-se à coloração das terras da região.

História[editar | editar código-fonte]

A região de Quenifra sempre teve grande valor estratégico, pois permite controlar o acesso às regiões de Tadla, a sul e de Fez e Taza, a norte, apesar da tenacidade guerreira dos seus habitantes.

Os dois monumentos mais antigos da região atestam o passado da região. A casbá (fortaleza) de Mouha ou Hammou Zayani (homónima de um líder da resistência às forças coloniais francesas do século XX), foi construída pelo emir almorávida Iúçufe ibne Taxufine à beira do Oum Errabiaa e foi restaurada pelo sultão alauita Mulei Ismail em 1688, usando prisioneiros portugueses presos em Mequinez. A reconstrução da casbá inseria-se no reforço do eixo estratégico entre Mequinez, então a capital imperial, e Marraquexe.

A casbá de Adakhssal, a 15 km da cidade e a ponte da cidade sobre o Oum Errabiaa, conhecida localmente como "portuguesa", foram provavelmente construída na mesma época da casbá de Quenifra.

Antes da chegada das tropas do sultão Haçane I em 1877, Quenifra mais não era que um ponto de transição de transumância. Só depois disso Quenifra se tornou uma cidade.

Invasão francesa e pacificação[editar | editar código-fonte]

Quenifra foi tomada em junho de 1914 por uma força da Legião Estrangeira composta por senegaleses, argelinos e gumis marroquinos do 1º Regimento de Atiradores Marroquinos recrutados na região de Chaouia, sob o comando do generais Ditte, Poeymirau e Charles Mangin. Este último tinha adquirido uma reputação lendária em Marrocos durante a campanha nos territórios entre as regiões de Casablanca e a planície de Tadla; era considerado um grande estratego militar que poderia evitar o confronto direto com os zaianes antes da submissão das tribos que viviam desde Chaouia até aos confins do território dos zaianes.

Mapa com as localidades e postos franceses a noroeste de Quenifra e a rota das três colunas que marcharam sobre a cidade de ocidente, norte e leste, após a batalha de Ehri em 13 de novembro de 1914

Segundo o diário das marchas e operações da 2ª bateria do 1º Regimento de Artilharia de Montanha entre 6 de setembro e 16 de outubro de 1913, o comando das tropas em Marrocos estava consciente dos riscos de um confronto direto com os zaianes durante a campanha de Marrocos de 1907-1914. Nestes relatórios, Charles Mangin descreve com precisão as diferentes fases da sua campanha.

A 13 de novembro os rebeldes comandados por Mouha ou Hammou lançam um contra-ataque. Mouha ou Hammou tinha conseguido unir pela primeira vez diversas tribos vizinhas — além de zaianes, havia membros das tribos Ichkirn Elkbab, Aït Ihnd Krouchen e mesmo dos Aït Hdiddou e dos Aït Atta entre os rebeldes. O assalto resultou na na batalha de Elhri, a 20 quilómetros de Quenifra, imprudentemente iniciada pelo coronel Laverdure. A pesada derrota dos Franceses obriga à evacuação da casbá, ocupada pelos legionários desde junho de 1914. A resposta dos Franceses não tarda e em pouco tempo conseguem retomar a região, isolar os zaianes, restringindo-lhes o seu território e obrigando-os a procurar refúgio nas montanhas. O bloqueio dos zaianes conclui-se com êxito, permitindo que a fértil planície de Tadla, o chamado celeiro de Marrocos, fosse colocado em segurança contra os ataques daquela tribo.

Após a submissão da maior parte dos chefes tribais do Médio Atlas central, nomeadamente de Mouha Ou Saïd Ouirra de El Ksiba e Mohand N'hamoucha de El Hajeb e de outras tribos das planícies, os legionários de Charles Mangin e de Paul Henrys controlam a região de Quenifra, embora a pacificação da região só fique concluída oficialmente em 2 de junho de 1920 com a submissão do paxá Hasan Amahzoune ao general Poeymirau, um colaborador próximo do marechal Lyautey, o residente geral (governador colonial) do Protetorado Francês do Marrocos.

Após a pacificação[editar | editar código-fonte]

A cidade não se desenvolveu durante o protetorado, pois fazia parte do que os colonizadores chamavam "Marrocos inútil".

Em 1930 ocorreram manifestações contra o Dahir berbere, o decreto do sultão que alterava o sistema judicial tradicional nas regiões tribais berberes, onde a Charia (lei islâmica) já não era aplicada, e cujo objetivo era separar os Berberes das comunidades árabes. O Dahir berbere era apoiado pelos Franceses, a quem convinha a desunião entre Berberes e Árabes e a quem o decreto abria caminho para tomarem posse de terras tribais berberes, por alguns caides, liderados por Thami El Glaoui e por uma elite de intelectuais hostis aos Berberes.

Em agosto de 1934 ocorrem novamente manifestações contra o Dahir berbere, com greves e orações evocando o "Alatife" (nomes de Alá) pedindo a Deus que os Berberes não fossem separados dos seus irmãos Árabes. Este movimento de protesto, lançado pela elite burguesa de Fez formada no ensino tradicional, irá liderar a resistência até à independência em 1956.

Em agosto de 1953 a deposição do sultão Maomé V pelos Franceses desencadeia uma vaga de descontentamento na população que não pára de crescer até conduzir à chamada revolução de Quenifra — a 20 de agosto de 1955, no aniversário da deposição de Maomé V, ocorre uma insurreição na cidade. São mortos três jornalistas e uma vaga de protestos eleva-se nas cidades de Oued Zem, Immouzer Marmoucha e Casablanca. A revolta foi duramente reprimida por ordem de Gilbert Grandval, nomeado residente-geral em plena crise franco-marroquina em junho de 1955, e especialmente sangrenta para a população de Quenifra, sobretudo para as tribos zaianes que cercavam a cidade. O comandante das tropas de Marrocos, Raymond Duval, ordenou um massacre que se, segundo as números oficiais — qualificados de ridículas por Charles-André Julien[carece de fontes?] — se cifrou em 700 mortos marroquinos e 49 europeus. Oued Zem foi especialmente fustigada pelo massacre. Raymond Duval morreu nas montanhas de Quenifra a 22 de agosto de 1955 quando o avião onde seguia explodiu.

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b «Recensement général de la population et de l'habitat 2004». www.hcp.ma (em francês). Royaume du Maroc - Haut-Comissariat au Plan. Consultado em 18 de fevereiro de 2012 
  2. a b «Maroc: Les villes les plus grandes avec des statistiques de la population». gazetteer.de (em francês). World Gazeteer. Consultado em 18 de fevereiro de 2012 [ligação inativa] 
  3. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira Vol. XVII. Lisboa: Editorial Enciclopédia. 1950s. p. 565 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bennouna, Mehdi (2010), Héros sans gloire, ISBN 9782316001186 (em francês), Paris: Paris Mediterranee, consultado em 24 de dezembro de 2013 
  • Berger, François (1929), Moha Ouhammou le zayani (em francês), Atlas 
  • Bernie, Georges (1945), La bataille d'El Hri (em francês), Gauthey 
  • Bernie, Georges (1945), "MohaOu Hammou, guerrier berbère (em francês), Gauthey 
  • Delacre, Jean, Le Maroc grandeur nature (em francês), MEEM 
  • Ellingham, Mark; McVeigh, Shaun; Jacobs, Daniel; Brown, Hamish (2004), The Rough Guide to Morocco, ISBN 9-781843-533139 (em inglês) 7ª ed. , Nova Iorque, Londres, Deli: Rough Guide, Penguin Books 
  • Guennoun, Saïd (1933), La Montagne Berbère: Les Ait Oumalou et le Pays Zaïan (em francês), Rabat: Oumnia 
  • Guennoun, Saïd (1934), La voix des monts, Mœurs de guerres berbères (em francês), Rabat: Oumnia 
  • Guillaume, André; Guillaume, Augustin Léon (1946), Les berbères marocains et la pacification de l’Atlas Central(1912-1933) (em francês), R. Julliard 
  • Olsen, Miriam Rovsing (1997), Chants et danses de l'Atlas (Maroc), ISBN 9782742712441 (em francês), Cité de la musique / Actes Sud 
  • Peyron, M. (2005), «Khénifra», Encyclopédie berbère (em francês), 27, Edisud, pp. 4236-4239, consultado em 24 de dezembro de 2013 
  • La pacification du Maroc / Le Lt-colonel Th. Delay (em francês), Paris: Éditions Berger-Levrault, 1952 
  • Le Guide Vert - Maroc, ISBN 978-2-06-100708-2 (em francês), Paris: Michelin, 2003, p. 275 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Quenifra
  • «Parc National de Khénifra». ma.chm-cbd.net (em francês). Clearing House Mechanism on Biodiversity of Morocco - Convention on Biological Diversity. 7 de outubro de 2011. Consultado em 18 de fevereiro de 2012 
  • «Khénifra». www.maroctourisme.org (em francês). Consultado em 18 de fevereiro de 2012 
  • «Les tapis berbères». www.association-tiwizi-suisse.ch (em francês). Tiwizi Association Berbero-Suisse pour la solidarité. Consultado em 24 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 19 de outubro de 2013 
  • «Le pays de Khénifra» (PDF). www.rdv21.org (em francês). Rendez Vous 21. Consultado em 18 de fevereiro de 2012 
  • «Carte de Zayane». tribusdumaroc.free.fr (em francês). Consultado em 24 de dezembro de 2013 
  • Bencheikh, Souleïman (março de 2011). «Siba, révoltes et révolution». www.sbencheikh.com (em francês). Zamane. Consultado em 24 de dezembro de 2013