Relações entre França e República Centro-Africana

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Relações entre França e República Centro-Africana
Bandeira da França   Bandeira da República Centro-Africana
Mapa indicando localização da França e da República Centro-Africana.
Mapa indicando localização da França e da República Centro-Africana.


As relações entre França e República Centro-Africana referem-se as relações bilaterais entre a República Centro-Africana e a França. Ambos os países são membros da Francofonia e das Nações Unidas.

História[editar | editar código-fonte]

Colonialismo francês[editar | editar código-fonte]

General Charles de Gaulle em Bangui, 1940.

Durante a partilha da África na década de 1880, a Bélgica, a Alemanha e a França competiram entre si, a fim de controlar o território a norte do rio Ubangi. Em 1903, a França nomeou a sua nova colônia 'Ubangi-Shari' e em 1910, a França incorporou o território junto com outras quatro colônias (Congo francês, Gabão, Chade e Camarões franceses) em uma federação colonial conhecida como África Equatorial Francesa. [1] Inicialmente, o governo francês arrendou grandes partes dos territórios para as companhias europeias e forçou a população local a coletar borracha silvestre, a caçar para obter marfim e peles de animais, e a trabalhar nas plantações. Devido à exploração forçada pelo império colonial francês, os nativos da África Central começaram a se rebelar no início do século XX, o que levaria à Rebelião de Kongo-Wara (1928-1931). [1] A rebelião logo foi suprimida pelo governo francês.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados da África Central fizeram parte do grande exército colonial francês (Troupes coloniales) e lutaram pela França Livre e participaram da Libertação de Paris. Em outubro de 1940, o general Charles de Gaulle chegou a Bangui para visitar o governador Pierre Marie de Saint-Mart e revistar as tropas.[2]

Independência[editar | editar código-fonte]

Logo após a Segunda Guerra Mundial, a França adotou uma nova constituição em 1946 e concedeu cidadania francesa completa aos moradores do Ubangi-Shari e permitiu o estabelecimento de assembleias locais dentro da nova União Francesa.[1] Em dezembro de 1958, o ex-sacerdote católico Barthélemy Boganda tornou-se chefe de governo do Território de Ubangi-Shari. Em março de 1959, Boganda foi morto quando seu avião explodiu e foi substituído por seu primo, David Dacko. Em 13 de agosto de 1960 Ubangi-Shari obteve sua independência da França, alterou seu nome para República Centro-Africana e David Dacko tornou-se o primeiro presidente do país.[1]

Pós-independência[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 1965, um golpe de Estado foi lançado contra o presidente Dacko, conhecido como Golpe de Estado de São Silvestre (com a assistência da França) e o comandante do exército, Jean-Bédel Bokassa, se declarou presidente da República Centro-Africana. Em 1975, o presidente francês Valéry Giscard d'Estaing participou da Cimeira França-África realizada em Bangui. [3] O presidente Giscard ficaria conhecido por visitar o país várias vezes e participar de expedições de caça com Bokassa. [4] Em dezembro de 1976, o presidente Bokassa declarou-se imperador da República Centro-Africana e o custo de sua coroação correspondeu a aproximadamente US $ 20 milhões, o que equivalia ao PIB da nação durante um ano inteiro. O governo francês pagou pela coroação dos imperadores.[5] Devido à repressão generalizada, abuso de direitos humanos e alegações de canibalismo na República Centro-Africana pelo Imperador Bokassa, a França removeu Bokassa do poder numa ação conhecida como Operação Barracuda quando o Imperador estava em uma viagem oficial na Líbia. [4] David Dacko foi reinstalado como presidente da República Centro-Africana e a Bokassa foi posteriormente oferecido asilo na França. Em outubro de 1979, jornal francês Le Canard enchaîné publicou um artigo afirmando que o presidente Giscard havia aceitado dois diamantes de Bokassa enquanto Ministro das Finanças em 1973. O escândalo ficaria conhecido como caso dos diamantes (em francês: Affaire des diamants).[6]

Nos próximos dezenove anos, a França intervirá na política da República Centro-Africana apoiando e removendo presidentes. Em 1997, o presidente centro-africano Ange-Félix Patassé, negociou os Acordos de Bangui para pôr fim ao conflito entre o governo e as forças rebeldes. Como resultado dos acordos, a França fechou sua base militar em Bouar em 1998. [7]

Soldados franceses em Bangui durante a Operação Sangaris, 2014.

Em março de 2009, as tropas francesas foram implantadas em Bangui depois de relatos de que os rebeldes estavam tomando a capital para remover o presidente François Bozizé do poder. [8] Em 2012, uma guerra civil eclodiu na República Centro-Africana quando rebeldes, em sua maioria muçulmanos conhecidos como Séléka, depuseram o presidente Bozizé do poder em 2013 e instalaram Michel Djotodia como Presidente. Após a remoção de Bozizé, um grupo rebelde majoritariamente cristão conhecido como anti-balaka se rebelou contra o governo e os cidadãos muçulmanos no país. A Séléka e as forças do governo lutam contra o anti-balaka e os cidadãos cristãos no país. Como resultado do conflito étnico e religioso na República Centro-Africana, a França regressa ao país para deter o derramamento de sangue através da implantação de 1.000 soldados e veículos blindados numa missão de manutenção da paz conhecida como Operação Sangaris. [9] O presidente francês François Hollande visitou as tropas francesas na República Centro-Africana em dezembro de 2013. [10] As tropas permaneceram na República Centro-Africana até 2016. [11] O presidente Hollande retornou à República Centro-Africana em maio de 2016 para supervisionar a retirada das tropas francesas do país, que foi concluída em outubro de 2016, e reuniu-se com o presidente recém-eleito Faustin-Archange Touadéra.[12]

Ajuda[editar | editar código-fonte]

Em 2014, a França contribuiu com 170 milhões de euros de ajuda para a República Centro-Africana. Este dinheiro de ajuda pagou pela assistência civil, além de despesas militares, assistência humanitária, apoio ao processo eleitoral, apoio para o fim da crise e governança democrática no país. Na conferência de doadores em Bruxelas, em 17 de novembro de 2016, a França anunciou um auxílio de 85 milhões de euros em três anos, incluindo 15 milhões de euros para o fundo "Bêkou".[13] [14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Encyclopedia Britannica: Central African Republic - The Colonial Era
  2. Richard Bradshaw, Juan Fandos-Rius (2016). Historical Dictionary of the Central African Republic: Saint-Mart, Pierre Marie de. [S.l.]: Rowman & Littlefield. 816 páginas 
  3. Les 24 sommets France-Afrique (1973-1981) - RFI Afrique, 28 de maio de 2010 (em francês)
  4. a b Jean-Bedel Bokassa, Self-Crowned Emperor Of the Central African Republic, Dies at 75 - The New York Times, HOWARD W. FRENCH, 5 de novembro de 1996 (em inglês)
  5. Jay Nordlinger (2017). Children of Monsters: An Inquiry into the Sons and Daughters of Dictators. [S.l.]: Encounter Books. 280 páginas 
  6. France's President Says He Sold Bokassa Jewels - The New York Times, 11 de março de 1981 (em inglês)
  7. La France Ferme Ses Bases Militaires de Centrafrique - LES ECHOS, 25 de julho de 1997 (em francês)
  8. BBC: Central African Republic profile - Timeline (em inglês)
  9. French troops sent into Central African Republic in effort to stop bloodshed - The Guardian, 6 de dezembro de 2013 (em inglês)
  10. France's Hollande Visits CAR After 2 French Soldiers Killed - VOA News, 10 de dezembro de 2013 (em inglês)
  11. France, withdrawing forces, says will not abandon Central African Republic - Reuters, 31 de outubro de 2016 (em inglês)
  12. Hollande à Bangui pour le désengagement des troupes françaises - L'Express, 13 de maio de 2016 (em francês)
  13. Aide publique au développement
  14. Brussels Conference for the Central African Republic