Roberto Mashaba

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Robert Ndevu Mashaba (Ntembi, Catembe, 18551939) foi um activista e missionário cristão evangélico em Moçambique, pioneiro na introdução Igreja Metodista Wesleiana na então colónia portuguesa do Índico. Pertencente à etnia Ronga, converteu-se à Igreja Metodista enquanto trabalhava como imigrante no território britânico de Natal[1]. Quando regressou a Moçambique, fundou uma escola e assumiu-se como missionário protestante e activista dos direitos da população local face à administração colonial portuguesa[2]. Em 1896, no contexto da luta das forças portuguesas contra Gungunhana, foi preso e deportado para Cabo Verde, mas quatro anos depois, por pressão de grupos religiosos britânicos, foi libertado e enviado para a África do Sul. Foi então ordenado pastor metodista, tendo-se notabilizado pela tradução de mais de cem hinos religiosos para a língua tsonga[3].

Biografia[editar | editar código-fonte]

Robert Mashaba nasceu em Catembe (KaTembe) por volta de 1855[4], numa família da etnia ronga. O pai dedicava-se à caça e comércio de produtos da caça. Influenciado por parentes que tinham emigrado para a Colónia do Cabo, emigrou para Durban e, depois, para a Cidade do Cabo.

Aprendeu a ler e escrever e em Port Elizabeth, onde se fixara em 1875, converteu-se ao cristianismo, tendo no processo aderido ao metodismo, sendo baptizado pelo Rev. Robert Lamplough, cujo nome adoptou. Depois de diversos empregos, entre os quais o trabalho nas minas de diamantes de Kimberley, em 1882 ingressou na reconhecida escola protestante de Lovedale, no leste da então colónia britânica do Cabo, onde aprofundou os seus conhecimentos literários e formação religiosa. Depois de ter trabalhado como mensageiro no Departamento Telegráfico Kimberley, regressou para Moçambique em Fevereiro de 1885, onde aprendeu a língua portuguesa numa missão católica em Lourenço Marques[5].

Trabalhou na construção do caminho de ferro de Lourenço Marques a Ressano Garcia, e com os proventos obtidos fundou escolas missionárias em Komatipoort, KaTembe e Lourenço Marques (em 1889). O seu trabalho missionário passou a partir de 1893 a receber o apoio da Sociedade Missionária Metodista Wesleyana.

Mas visto pela Igreja Católica Romana local e pelas autoridades coloniais, 1895 foi denunciado como colaborador dos chefes da resistência ronga contra a administração colonial portuguesa durante a chamada revolta de Nwamantibyane, ou do Matibejana, e dos acontecimentos que levaram à prisão e deportação de Gungunhana, imperador de Gaza. Em consequência, foi preso e deportado para a ilha do Fogo, em Cabo Verde, sendo um dos presos enviados para o exílio a bordo do paquete África.

Por pressão dos grupos religiosos britânicos junto do governo britânico, e deste sobre as autoridades portuguesas, foi libertado em 1902, mas com a condição de jamais regressar a Moçambique[6]. Fixou-se então na África do Sul, onde foi ordenado ministro metodista e até 1935 trabalhou como como pastor wesleyano em Germiston e Pimville, no Transvaal. Autorizado a regressar a Moçambique, faleceu em 1939. Uma das suas maiores contribuições foi a tradução de mais de cem hinos e diversas obras religiosas para a língua tsonga.

Notas

  1. Harries, P. Work, Culture and Identity: Migrant Labourers in Mozambique and South Africa c. 1860-1910. Joanesburgo: Witwatersrand University Press, 1995.
  2. Jonas Alberto Mahumane, Representações e Percepções Sobre Crenças e Tradições Religiosas no Sul de Moçambique: O Caso das Igrejas Zione. Universidade de Lisboa (mestrado em Antropologia Social e Cultural), Lisboa, 2008.
  3. "Mashaba, Robert Ndevu". J. A. Millard, in Dicionário de Biografias Cristãs de África.
  4. Outras fontes apontam 1850 como o ano de nascimento.
  5. Universidade Eduardo Mondlane, História de Moçambique, Vol. 3, pp. 32-33.
  6. Jan van Butselaar, Africains, missionaires et colonialistes. Les origines de l 'Église presbyterienne du Mozambique (Mission Suisse) 1880-1896. Leiden: E.J. Brill, 1984, pp. 167-175.

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