Rosalindo Souza

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Rosalindo Souza
Rosalindo Souza
Nascimento 2 de janeiro de 1940
Itaguaçu da Bahia
Morte Desconhecido
Xambioá
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Rosalvo Cypriano de Souza
  • Lindaura Correia Silva
Alma mater
Ocupação advogado

Rosalindo Souza (Itaguaçu, 2 de janeiro 1940 - ?) foi um guerrilheiro brasileiro, contra a ditadura militar. O local de morte e a data ainda são desconhecidos, alguns documentos apontam que foi no dia 16 de setembro 1973 nas Terras de João do Barraco, embora outros indiquem que sua morte ocorreu  em 9 de setembro 1973 no município de Xambioa (TO).[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Itaguassú estudou no Centro Educacional Alfredo Dutra, em Itapetininga, mesma cidade onde terminou o ginásio. No ensino médio teve uma pausa nos estudos, devido a convocação para cumprir o serviço militar, após ter sua dispensa em 1960, ele voltou a morar na região metropolitana do Sorocaba; Começou a trabalhar como diretor da secretaria da câmara municipal.[1]

No ano de 1963, iniciou seus estudos acadêmicos, como consequência se mudou para Bahia, onde tinha ingressado na  Universidade Federal para cursar direito, e durante este período também trabalhou como escriturário no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. Começou então como militante ativo ao fazer parte do movimento estudantil, e ainda foi eleito presidente do Centro Acadêmico Rui Barbosa. A  atuação no movimento estudantil, logo passou a ser monitorado pelos órgãos de informações do estado; em contrapartida  resultou que em 1969 Rosalindo teve mais uma sua trajetória nos estudos interrompida, foi bloqueado quando tentou se matricular no 4° da faculdade direito [2] Rosalindo mudou-se para o Rio de Janeiro,onde residiu por algum tempo com o casal Dinalva e Antonio Carlos, seus amigos da Bahia, também Ainda no Rio de Janeiro concluindo os estudos em Direito, na Faculdade Cândido Mendes. Quando retornou à Bahia, inscreveu-se nos quadros da OAB e montou um escritório de advocacia em Itapetinga.

Em 1971, Rosalindo foi denunciado e julgado à revelia perante a Justiça Militar, que o condenou a dois anos e dois meses de reclusão. No mês de abril, dias antes de sua sentença ser prolatada, viajou para a região de Caianos, no sudeste do Pará, para integrar o Destacamento da Guerrilha do Araguaia. Conhecido como Mundico nas redondezas, o guerrilheiro fez um cordel que ficou famoso entre os moradores da região intitulado Romance da libertação[3]

Rosalindo viajou para a região de Caianos em abril de 1971, dias antes de ser condenado à revelia a dois anos e dois meses de prisão pela Justiça Militar. No Araguaia, integrou-se ao Destacamento C da guerrilha. Era um artista, fez canções, poemas, peças de teatro. Durante sua presença na região da guerrilha adotara o codinome “Mundico”. Poeta, Rosalindo fora autor de cordéis que tinham como objetivo aproximar as Forças Guerrilheiras do Araguaia, formadas por militantes do Partido Comunista do Brasil, e a população local. População essa constituída, por sua vez, por um grande número de negros, oriundos de frentes migratórias que chegavam ao Pará em busca de terras, vindas de estados como o Maranhão, Piauí e Goiás. Antes de compor cordéis como o Romance da Libertação, ao qual apenas alguns trechos chegaram aos dias atuais.[3]

Escritos[editar | editar código-fonte]

Rosalindo teve um de seus poemas publicado no “O Anuário do Colégio Antônio Vieira”, em 1958:

"GRANDEZAS"[editar | editar código-fonte]

"Aos píncaros mais altos

Sonhei um dia subir,

Galgar em grandes saltos

A glória de um belo porvir.

Imaginava grandeza

Em tudo, não sei porque.

O futuro uma beleza,

Ser grande, queria ser.

Sonhei viver abastado,

Senti o amor nascer,

Sonhei na glória e honrado,

Sonhei meu nome crescer"[...]

Outro escrito importante de Rosalindo Souza foi a canção do Guerrilheiro. Rosalindo, também teria escrito outro romance: ‘O Encontro do Osvaldão com a Dina’.[4]

“Canção do Guerrilheiro do Araguaia”,[editar | editar código-fonte]

[...] Nas selvas sem fim da Amazônia

Vive e combate o guerrilheiro sem par

Valente e destemido

Sua bandeira fulgente é lutar

Sua tarefa gloriosa Realiza com ardor

Avançar, empunhar todas as armas

Contra o inimigo opressor![...][5]

Prisão e desaparecimento[editar | editar código-fonte]

No relatório de Arroyo consta que Mundicio morreu ao final do mês de setembro de 1973, por conta de um acidente envolvendo arma que portava.O relatório do ministério da marinha entregue ao ministro da justiça em 1993, apresenta a morte do guerrilheiro em setembro de 1993, mas havendo um possível erro de datilografia com relação ao ano.[6]

Já o Diário de Maurício Grabois registra a morte de Mundico no dia 16 de agosto de 1973 e não estabelece como certo o acidente com a arma, apesar de indicá-lo como uma hipótese provável. Este documento assinala, também, que seu corpo foi encontrado na mata, próximo a casa de um camponês e que havia sido enterrado perto desse lugar, recebendo homenagens de seus companheiros. Mesmo concordando com a data de morte assentada pelo Diário de Maurício Grabois, o Relatório do Ministério do Exército, de 1993, traz uma nova versão para o ocorrido, afirmando que a morte de Rosalindo se deu em combate com forças de segurança. Em contrapartida no relatório apresentado na mesma ocasião ao Ministério da Aeoronatica, fez referência a outras informações que a morte do guerrilheiro mas não elucidam a data ou o desenrolar dos fatos que culminaram na morte de Mundico.[7]

Investigação

Entre elas está documento do Comitê Brasileiro pela Anistia, datado de novembro de 1979 e declaração de José Genoíno (na época, deputado federal), publicada pela Folha de S.Paulo de 26 de junho de 1978. Na contramão das informações anteriores, o ex-guia do Exército Sinésio Martins Ribeiro declarou ao Ministério Público Federal (MPF), em 2001, que – quando ainda estava preso na base de Xambioá durante agosto ou setembro – viu a cabeça de Rosalindo. Sinésio sustenta que os guerrilheiros teriam matado Mundico e que a sepultura, localizada nas terras de um outro regional referido apenas como João do Buraco, foi mostrada por este aos militares ao ser preso. Dias depois, a sepultura foi cavada e os militares cortaram a cabeça e enterraram novamente o corpo. Segundo o depoimento, a cabeça foi levada para a base, mostrada aos presos para reconhecimento e deixada exposta, por alguns dias, perto do barracão do Exército antes de ser enterrada novamente.[8]

Nova Versão[editar | editar código-fonte]

Há uma nova versão publicada pelo jornal estadão no dia 21 de setembro de 2014 com relação a morte de Rosalindo Souza, na qual um ex-guia do exercito alega ter matado Rosalindo[9]

Olímpio Pereira, afirma que o guerrilheiro teria matado um amigo seu – João Pereira – em 1972. E que, em setembro de 1973, com a indicação da localização de Mundico feita por irmãos de João, seguiu-o pela mata, encontrando-o no casebre de um morador chamado João do Buraco. Ele relata que disparou apenas um tiro, à espreita, matando-o.

Ângelo Arroyo comenta em seu relatório: “[...] acontecimentos negativos ocorreram também em setembro: a morte de Mundico, do C, por acidente com a arma que portava...”. No entanto, segundo o relatório do Ministério do Exército, de 1993, Rosalindo “teria sido morto no dia 6 Ago 73, em combate com as forças de segurança”. O relatório da Marinha marca setembro.[10]

Em declaração prestada ao Ministério Público, em São Geraldo do Araguaia, em 19 de julho de 2001, Sinésio Martins Ribeiro, ex-colaborador do Exército na região, conta que, quando ainda estava preso no curral da base de Xambioá, viu a cabeça de Rosalindo. Isto se deu entre agosto e setembro porque as roças ainda não tinham sido queimadas e quem descobriu a sepultura foi o João do Buraco,  proprietário do local onde estava enterrado o Mundico.[9]

As terras do João do Buraco eram frequentadas pelos guerrilheiros e João do Buraco, ao ser preso pelo Exército, mostrou a sepultura. O Exército não havia travado combates neste local e por isso disse que foram os guerrilheiros que mataram o Mundico. O Exército chegou lá por volta de 4 ou 5 dias após, cavou a sepultura, cortou a cabeça e enterrou novamente o corpo. A cabeça foi levada para a base e mostrada aos presos para reconhecimento. Ela estava meio destruída, o cabelo solto e João do Buraco reconheceu o Mundico.[11]

CONCLUSÃO DA CNV[editar | editar código-fonte]

A CNV apontou Rosalindo como um desaparecido político por não terem sido entregues os restos mortais aos seu familiares.Conforme o exposto na Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros:

“o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subsequente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade”. “tem o dever de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis. Assim, recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso de Rosalindo Souza, localização de seus restos mortais, retificação da certidão de óbito, identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos no caso"[...][12]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

  • Em 2015 foi um dos homenageados pela Câmara Municipal de Itapetinga-BA . Recebeu o título de cidadão itapetinguense por ter prestado serviços ao município.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Rosalindo Souza». Memórias da ditadura. Consultado em 27 de novembro de 2019 
  2. «Revista especial Faculdade Direito UFBA». " Faculdade Direito UFBA". 1 de dezembro de 2014 
  3. a b «IDENTIFICANDO O IMAGINÁRIO DOS ATORES DO ARAGUAIA - "O Imaginário dos Militares na Guerrilha do Araguaia" (Dissertação de Mestrado, Cap. 2) | Hugo Studart». Hugo Studart. Consultado em 27 de novembro de 2019 
  4. Humberto Gomes, José Hugo (1 de setembro de 2016). «A guerrilha do Araguaia» (PDF). Universidade Federal do Tocantins 
  5. "Gomes Barbosa", "José Humberto" (1 de setembro de 2016). «A guerrilha do Araguaia : Memória,esquecimento e Ensino de História na região do conflito.» (PDF). UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS - UFT 
  6. «Rosalindo Souza». Memórias da ditadura. Consultado em 25 de novembro de 2019 
  7. Dias, José Alves; Araújo, Camilla Fernandes (2013). «Rosalindo de Souza: a Experiência de um Militante Comunista no Araguaia (Rosalindo de Souza: la Experiencia de un Militante Comunista en Araguaia)». Revista Binacional Brasil-Argentina: Diálogo entre as ciências. 2 (1): 149–159. ISSN 2316-1205 
  8. «Relatório Volume III - Mortos desaparecidos políticos» (PDF). "COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE". 1 de dezembro de 2014 
  9. a b «Ex-mateiro desvenda morte de Rosalindo - Política». Estadão. Consultado em 25 de novembro de 2019 
  10. «Relatório de mortos e desaparecidos políticos - volume III» (PDF). Comissão Nacional da Verdade. 1 de dezembro de 2014 
  11. «Ex-mateiro desvenda morte de Rosalindo - Política». Estadão. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  12. «Relatório Volume III- Mortos e desaparecidos políticos» (PDF). "COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE". 1 de dezembro de 2014 
  13. «Câmara entrega títulos de cidadania itapetinguense nesta quinta-feira». ITAPETINGA 24 HORAS. 8 de dezembro de 2015. Consultado em 22 de novembro de 2019