Secreção vaginal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A secreção vaginal ou muco cervical é uma secreção produzida no colo do útero pelo epitélio glandular das criptas cervicais.[1]

Funções[editar | editar código-fonte]

Possui a função de impedir a proliferação de microrganismos no aparelho genital feminino. Além disso, auxilia no trajeto do espermatozoide ao óvulo[1].

Método do Muco ou Billings[editar | editar código-fonte]

Por meio de mudanças hormonais no decorrer do ciclo menstrual ocorrem alterações nas características do muco cervical que auxiliam na identificação do período ovulatório, na qual ocorre pela auto-observação das características do muco cervical e da sensação por ele provocada na vulva.[1]

No inicio do período, o muco cervical apresenta aspecto grumoso, dificultando a ascensão dos espermatozoides pelo canal cervical. O muco cervical, sob ação estrogênica, produz, na vulva, uma sensação de umidade e lubrificação, indicando o tempo da fertilidade, momento em que os espermatozoides têm maior facilidade de penetração no colo uterino. Nessa fase, o muco é transparente, elástico, escorregadio e fluido, semelhante à clara de ovo, o casal deve abster-se de relações sexuais caso queiram evitar gravidez. Ao término da menstruação (fase pré-ovulatória), pode começar uma fase seca ou com secreção igual e contínua na aparência e na sensação que dura, em geral, dois, três, ou mais dias.[1]

Para esse tipo de método existem algumas recomendações tais como:[1][2]

1) Registrar diariamente informações sobre a menstruação, características do muco cervical e dias em que houve relações sexuais.

2) Identificar corretamente os dias que pode ou não haver relações sexuais.

3) Aprender a  distinguir o muco cervical de corrimentos vaginais, do líquido seminal e da presença do líquido ejaculado.

Bacterioscopia Vaginal[editar | editar código-fonte]

A diminuição da quantidade de bacilos que habitam a flora vaginal proporciona um ambiente adequado para proliferação de microrganismos oportunistas. Quando invasão se instala há a produção de leucorreais. Neste artigo serão tratadas as análises das seguintes doenças, vaginose bacteriana (VB), a candidíase e a tricomoníase, responsáveis em conjunto por 90% das secreções vaginais anormais.O principal agente etiológico da vaginose bacteriana é a Gardnerella vaginalis. Entretanto há presença de outros organismos associados a esta patologia como: Atopobium vaginae, Bacteroides, Prevotella, Mobiluncus, Mycoplasma, Peptostreptococcu. A candidíase tem como agente etiológico Candida albicans e a tricomoníase é causada pelo Trichomonas vaginalis.[3]

A Bacterioscopia de Secreção Vaginal ou Exame Microscópico Vaginal, é um exame realizado através da coloração de gram, permite um estudo acurado das características morfotinturiais das bactérias e outros elementos (fungos, leucócitos, outros tipos celulares). Presta informações importantes e rápidas para o início da terapia, fornecendo informações semiquantitativas em algumas infecções e estabelecendo o diagnóstico em muitos casos.[4]

Coleta[4][editar | editar código-fonte]

Cuidados antes da realização da coleta:

1) Não estar menstruada;

2) Evitar ducha e cremes vaginais na véspera da coleta;

3) Três dias de abstinência sexual.


Coleta Vaginal [5]

1) Inserir um espéculo (sem lubrificante; usar água morna) na vagina.

2) Retirar o excesso de muco cervical com swab de algodão.

3) Inserir os swabs indicados, rodar por alguns segundos sobre o fundo do saco, retirar e voltar aos meios indicados no kit:

Swab seco: realizar as lâminas para bacterioscopia da secreção fresca.

Swab do meio de transporte para cultura aeróbia/fungos.

Coleta endocervical[5]

1) Inserir um espéculo (sem lubrificante) na vagina e retirar o excesso de muco cervical com swab de algodão.

2)  Inserir os swabs indicados no canal endocervical até a ponta do swab não ser mais visível, rodar por alguns segundos, retirar evitando o contato com a parede vaginal, e voltar aos meios indicados no kit:

Swab seco: realizar as lâminas para bacterioscopia da secreção fresca.

Swab seco: Mycoplasma/Ureaplasma - mergulhar o swab dentro da solução do tubo fornecido e agitar. Remover o swab e identificar o tubo.

Swab do meio de transporte específico para Chlamydia trachomatis - mergulhar o swab dentro da solução do tubo fornecido e agitar vigorosamente.

3) Comprimir o swab contra a parede do tubo. Qualquer excesso de muco deve ser retirado da amostra.

4) Remover o swab e identificar o tubo.

Microscopia[5][editar | editar código-fonte]

Direto

Neste método é sem coloração, ele permite a observação a morfologia bacteriana e avaliar a existência de motilidade. Sua finalidade é para pesquisa a fresco de Trichomonas em secreções, fungos (leveduri-formes ou filamentosos) e em diferentes materiais.

Consiste em gotejar a salina (uma gota) no centro de uma lâmina de microscopia e nela suspender uma colônia ou uma alçada do material a ser investigado. Cobrir com uma lamínula e examinar ao microscópio, com objetiva de 40X ou 100X (óleo de imersão).

Coloração de Gram

É usada para classificar bactérias com base no tamanho, morfologia celular e comportamento diante dos corantes. Função: para bacterioscopia da maioria dos materiais biológicos ou culturas de microrganismos em meios sólidos ou líquidos.

Para preparação do esfregaço: identificar a lâmina de maneira segura, rolar toda a superfície do swab sobre a lâmina para não destruir as células, fixar rapidamente na chama, quando material é escasso, demarcar a área do esfregaço, proceder o método de coloração mais apropriado.

Obs: materiais clínicos coletados com swab são menos recomendados para cultura. Coletar, sempre que possível, dois swabs: um será utilizado para fazer o esfregaço e o outro para cultura

Fixação[5][editar | editar código-fonte]

Pode ser por calor, com lâmina seca à 50° C ou por metanol ou etanol no esfregaço seco, colocar uma a duas gotas de álcool (1min), drenando o excesso, sem lavar.

Coloração[5][editar | editar código-fonte]

1) Cobrir a área com a solução de cristal-violeta por cerca de um minuto.

2) Desprezar o cristal-violeta e lavar suavemente com água corrente.

3) Cobrir a área do esfregaço com a solução de iodo durante cerca de um minuto.

4) Descorar a lâmina com a mistura álcool-acetona, até que o solvente escorra incolor.

5) Alternar com água corrente (jato fraco). O tempo usualmente utilizado nesta etapa é de cerca de 10 segundos.

6) Cobrir o esfregaço com Fucsina básica por cerca de 30 segundos.

7) Lavar com água corrente.

8) Deixar secar ao ar.

Leitura[5][editar | editar código-fonte]

Inicialmente, visualiza-se na objetiva de 10X para avaliar a qualidade da amostra, localização do agrupamento bacteriano, filamentos, pseudo-hifas e leveduras. Posteriormente, passa para a objetiva de imersão (100X) e examinar várias áreas para melhor avaliação da coloração e dos diferentes tipos de microrganismos presentes.

Resultados[6][editar | editar código-fonte]

Os resultados têm como base a presença de “clue cells” e bacilos Gram variáveis curtas na caracterização de Gardnerella vaginalis e a presença de bacilos Gram-negativos curvos caracterizados como Mobiluncus spp. A presença no exame direto à fresco da secreção vaginal de blastosporos e ou pseudo-hifas de leveduras foi caracterizado como Candida spp e a presença de protozoários flagelados foi caracterizada como Trichomonas vaginalis.

Análise Clínica[editar | editar código-fonte]

A vaginanose bacteriana é a causa mais comum de corrimento vaginal, podendo cursar com corrimento vaginal de cor branca acinzentada, de odor fétido, ou sem sintomas. A secreção vaginal na candidíase apresenta aspecto caseoso ou em placas aderentes à mucosa vaginal. O prurido vulvar, em geral intenso, produz escoriações e/ou fissuras superficiais, determinadas por coçaduras. A secreção vaginal na tricomoníase apresenta de coloração amarelo-esverdeada e odor fétido. Há queixa de irritação e desconforto vulvar.[6]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e Ministério da Saúde, BRASIL (2002). Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico/Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher – 4a edição. Brasília DF: Ministério da Saúde 
  2. MOREIRA, L.M.A. (2011). Métodos contraceptivos e suas características. In: Algumas abordagens da educação sexual na deficiência intelectual. Salvador BA: EDUFBA 
  3. CAMARGO, K.C. (2015). «Secreção vaginal anormal: Sensibilidade, especificidade e concordância entre o diagnóstico clínico e citológico.». Rev Bras Ginecol Obstet. 
  4. a b Sorocaba, Centro Médico Sorocaba. «Preparo do Exame: Bacterioscopia secreção vaginal.». Centro Médico Sorocaba. Consultado em 18 de junho de 2019 
  5. a b c d e f Vigilância Sanitária, Agência Nacional de (2014). Procedimentos Laboratoriais: da Requisição do Exame à Análise Microbiológica. Brasília DF: ANVISA 
  6. a b MOTA, D.A. (2012). «Prevalência de vaginose bacteriana em pacientes que realizaram bacterioscopia de secreção vaginal em laboratório de saúde pública.». Rev Bras Clin Med.