Segundo Galilea

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Segundo Galilea, (Santiago, 3 de abril de 1928 – Santiago, 27 de maio de 2010) foi um sacerdote católico chileno.

Em 22 de setembro de 1956, foi ordenado como sacerdote. Trabalhou no Centro de Formação Missionária e no CIDOC em Cuernavaca (México). Colaborou com o Instituto Pastoral Latino-americano (IPLA), do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), e com a Confederação de Religiosos de América Latina (CLAR). Foi diretor da revista "Pastoral Popular". Ministrou cursos a missionários latino-americanos enviados ao extremo oriente. Foi diretor espiritual do Seminário de San Carlos, em Havana (Cuba).

É considerado um dos fundadores da Teologia da Libertação, juntamente com José Comblin, Gustavo Gutiérrez e Juan Luis Segundo. Fez contribuições importantes nos estudos de temas como a evangelização, a religiosidade popular, a pastoral libertadora, a espiritualidade e da mística[1].

Galilea faleceu no dia 27 de maio de 2010[2].

Reflexões sobre a evangelização[editar | editar código-fonte]

Galilea acreditava que os pobres são os verdadeiros sujeitos da evangelização, pois esses sofrem, a todo momento, a experiência dramática da dor e da frustração como parte da realidade humana, e revelariam o rosto humano de um Jesus que sofre, e desse modo, mostrariam que a libertação, na situação atual, passaria necessariamente pela cruz. Os pobres seriam o "sacramento histórico" que revelaria a realidade evangélica da dor de Jesus de Nazaré e seriam o caminho para a experiência de comunhão.

Com essa visão, Galilea, se afastou da concepção do cristianismo como "religião de observância", que apresenta um Cristo anistórico, individualista, reacionário e triunfalista, e opta por um cristianismo da radicalidade do Evangelho, da encarnada, do seguimento de Jesus o Cristo crucificado[1].

Reflexões sobre a religiosidade popular[editar | editar código-fonte]

Galilea chegou às seguintes conclusões sobre a religiosidade popular:

  1. o catolicismo popular seria parte da cultura e dos processos de libertação dos povos latino-americanos;
  2. a religiosidade popular seria muito persistente na América Latina, apesar das profundas transformações sociais e culturais pelas quais passou o subcontinente;
  3. o estudo da religiosidade popular deveria levar em conta, além dos fatores propriamente religiosos, os fatores próprios das culturas populares nas quais a religiosidade se desenvolve, fatores ligados ao subdesenvolvimento e à marginalização e fatores que procedem da tradição histórica, a simbologia e o "inconsciente coletivo";
  4. existiria um paradoxo entre a importância da religiosidade popular e os obstáculos à sua valorização, devido a diversos motivos, que incluem os preconceitos contra o sincretismo.

Galilea integrava a corrente "cultural" da Teologia da Libertação, que acreditava que a religiosidade popular era um elemento chave para a libertação, tendo em vista que a cultura seria um importante elemento da identidade do povo latino-americano.

Nesse contexto, Galilea sustentava que uma correta pastoral popular deveria acompanhar o povo em sua tomada de consciência sobre as potencialidades libertadoras da cristã e sobre o crescimento dos valores da fé, o que resultaria na sua politização. A fé seria, portanto, inspiradora de um dinamismo social e fator positivo na libertação do ser humano latino-americano. Mais especificamente, Galilea, afirmava que uma pastoral popular libertadora deveria:

  1. relativizar as expressões religiosas que o catolicismo popular tende a absolutizar;
  2. integrar as dimensões originariamente cristãs como a solidariedade comunitária e a fraternidade nas expressões religiosas individualistas como parte essencial de todo ato religioso;
  3. descobrir o que há de protesto contra a injustiça e a opressão nas manifestações religiosas populares.

Para que essa pastoral tenha êxito, seria necessária uma opção global pela Igreja dos pobres, de modo a "convocar efetivamente os pobres a formar o Reino de Deus". Isso deveria traduzir-se em uma mobilização social e política, que devolvesse aos pobres sua dignidade e sua vocação histórica e os orientasse a transformar as estruturas que os oprimem[1].

Fé e política[editar | editar código-fonte]

Galilea acreditava que a luta pela libertação seria um ponto de encontro entre política e contemplação e, nesse contexto, questionava:

  1. os cristãos meramente "contemplativos", muito voltados para os valores 'propriamente' religiosos e às dimensões transcendentes do cristianismo, mas poucos voltados para o compromisso social imanente ao cristianismo; e
  2. os "militantes-comprometidos", que valorizavam apenas a militância social e o compromisso com as tarefas históricas com certo descuido com a dimensão orante da fé.

Galilea dizia que:

"O cristão comprometido com a libertação vai se tornando um contemplativo na medida em que capta o que Deus quer para o outro, e faz disso a razão decisiva de seu compromisso. Na medida que se faz capaz de manter a universalidade do amor, sem renunciar à sua preferência pelos oprimidos".

Galilea definia a contemplação como o "encontro experimental com Deus" em todas as dimensões da existência humana, que se traduz no encontro com Jesus de Nazaré e com o "irmão menor". O encontro com Jesus estaria na raiz de toda conversão, como mostra o Novo Testamento através de diversos exemplos, como os encontros de Jesus com a (mulher samaritana, Zaqueu, os apóstolos, Pedro, os Discípulos de Emaús, Paulo de Tarso, etc.

Galilea destacava especialmente a importância da "presença de Cristo" nos "pequenos", principalmente com base em: Mateus 25:31–46, que seria o fundamento da dimensão social e coletiva do cristianismo.

De acordo com Galilea, os valores tradicionais da contemplação, seriam:

  1. a gratuidade (negação do utilitarismo;
  2. crucificação do egoísmo e purificação de si mesmo;
  3. saída do egoísmo para o encontro com o outro, com Dios, reencontro com a realidade última das coisas;
  4. solidão, aridez, "noite escura" e deserto.

Galilea destacava que foi no deserto que se forjaram os grandes profetas de Israel e os profetas cristãos da Teologia da Libertação na América Latina. O deserto seria um lugar de distanciamento do "sistema", entendido como sociedade injusta e enganadora[1].

Obras[editar | editar código-fonte]

  • "Hacia una pastoral vernácula" (1966);
  • "Introducción a la religiosidad popular" (México, 1967);
  • "Para una pastoral latinoamericana" (Buenos Aires, 1968);
  • "Evangelización en América Latina" (1970);
  • "La vertiente política de la pastoral" (Quito, 1970) (co-autor);
  • "¿A los pobres se les anuncia el evangelio?" (Bogotá, 1972);
  • "Contempla-ción y apostolado" (Bogotá, 1973);
  • "Pastoral y lenguaje" (Bogotá, 1973) (co-autor);
  • "Espiritualidad de la liberación" (Santiago, Chile, 1973);
  • "¿Adónde va la pastoral?" (1974);
  • "¿Los pobres nos evangelizan?" (Bogotá, 1977);
  • "Religiosidad popular y pastoral" (Madri, 1979);
  • "Espiritualidad de la liberación según las bienaventuranzas" (Bogotá, 1979);
  • "El mensaje de Puebla" (Bogotá, 1979);
  • "El camino de la espiritualidad" (Bogotá, 1982);
  • "El futuro de nuestro pasado. Los místicos españoles desde América Latina" (Narcea, Madrid, 1985);
  • "El alba de nuestra espiritualidad. Vigencia de los padres del desierto en la espiritualidad contemporánea" (Narcea, Madrid, 1986);
  • "La música de Dios" (Madrid, 1987);
  • "Espiritualidad de la esperanza" (Madrid, 1988);
  • "Tentación y discernimiento" (Madrid, 1991);
  • "El discípulo cristiano" (Madrid, 1996);
  • "Quan els sants són amics" (Barcelona, 1996).

Colaborações em obras coletivas (em castelhano)[editar | editar código-fonte]

  • "Análisis empírico de la religiosidad popular", em "Catolicismo popular" (Aldo Büntig org.) (Quito, 1969), pp 53-63;
  • "La teología de la liberación como crítica de la actividad de la Iglesia en América Latina", em "Fe y secularización en América Latina" (Bogotá, 1972);
  • "La fe como principio crítico de promoción de la religiosidad popular", em "Fe y Secularidad, Fe cristiana y cambio social en América Latina" (Sígueme, Salamanca, 1973), pp. 15-158;
  • "Jesús y la liberación del pueblo", en Seladoc, Panorama de la teología latinoamericana, II (Sígueme, Salamanca, 1975), pp 33-44;
  • "Teología de la liberación y nuevas exigencias cristianas", em "La nueva frontera de la teología en América Latina" (Rosino Gibellini, (ed.)) (Salamanca, 1977), pp. 156-173;
  • "Ejemplo de recepción selectiva y creativa del Concilio. América Latina en las conferencias de Medellín y de Puebla", em "La recepción del Vaticano II" (Giusppe Alberigo e J P Jossua (eds.)) (Cristiandad, Madrid, 1987), pp. 86-101[1].

Referências

  1. a b c d e La Teología de La Liberación Juan José Tamayo Arquivado em 14 de fevereiro de 2016, no Wayback Machine., em espanhol, acesso em 04 de junho de 2016.
  2. Segundo Galilea. Na mão uma valise, e no coração Jesus[ligação inativa], acesso em 14 de junho de 2016.
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