Semifará

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Semifará, o Judeu.
Semifará
Representação de Semifará.

Semifará, o judeu é o sétimo personagem a ser julgado por seus pecados no Auto da Barca do Inferno e o sexto a "embarcar" na Barca do Inferno [1]. Ele representa a religião e pretende salientar como os judeus eram mal considerados pelos cristãos. Tanto o Diabo como o Anjo não o acusam diretamente, pois o Diabo não o quer na sua barca, assim como o Anjo não o considera digno de ir para o paraíso.

Caracterização[editar | editar código-fonte]

Judeu Lituano

No texto de Gil Vicente, o personagem não possui um trecho que o descreva fisicamente. Porém, quando adaptado para Comic, o judeu toma a forma de um senhor barbudo de meia-idade, cabelos e olhos pretos, vestido com uma turca cinza e uma Kipá [1], bem similar a um judeu lituano. Seu físico não é muito forte, sendo menor que o Diabo e quase da mesma altura do parvo. Semifará possui uma personalidade forte, além de uma fé inabalável, como quando ele usa das pragas do Egito [2] para ofender Satanás, quando este se recusa a passar o bode que o judeu carrega. Não só isso, o personagem aparenta possuir algumas semelhanças com o onzeneiro, como quando ambos tentam subornar o Diabo através de dinheiro [1], isso revela um certo preconceito caricato de apego à riquezas materiais, comumente atribuído a judeus durante o Humanismo.

Trajetória[editar | editar código-fonte]

Em vida[editar | editar código-fonte]

Pouco se sabe sobre a trajetória do judeu, porém, através de acusações feitas pelo parvo, é reforçada a ideia de que Semifará rejeita o cristianismo. O Parvo acusa-o de roubar a cabra e ter realizado atos de profanação quando em vida, como urinar na Igreja de São Gião e comer carne durante a semana santa [3]. Também é notório uma ligação deste personagem com o fidalgo, pois quando é rejeitado pelo Diabo, pede a intercessão do nobre, tal qual como fazia em vida, quando era influente na sociedade [1].

Purgatório[editar | editar código-fonte]

Após sua morte, Semifará chega ao cais acompanhado de um bode e encaminha-se direto ao Diabo, pedindo para embarcar, pois sabe que é condenado. Mas até o Diabo se recusa a levá-lo. Ele então tenta subornar o demônio, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, aconselha-o a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar-se dele: é impedido, acusado pelo parvo de comer carne durante o Dia Santo. Por fim, o Diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, entretanto, rebocados, pois, o judeu era tão ruim que sequer deveria se misturar aos cristãos, mesmo que estes sejam pecadores.

Símbolos e Representações[editar | editar código-fonte]

O bode é um dos símbolos do Judaísmo [4].

Representando as demais religiões não cristãs, o tratamento recebido pelo judeu faz-nos pensar em um preconceito do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal tratamento a este personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o reinado de Dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos" [5]. Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época. Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais desses dois períodos: ao mesmo tempo que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval. A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira de Vicente serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores.

Julgamento Final[editar | editar código-fonte]

Argumentos[editar | editar código-fonte]

Após realizar a leitura do Auto da Barca do Inferno e suas diversas adaptações literárias, é possível chegar a conclusão de Semifará, o judeu, era sim merecedor de ir para o inferno. Entretanto, o personagem não é uma má-pessoa por ser um judeu, mas sim por seus atos de roubo, ganância e abuso de poder quando em vida. Isso o classifica tão ruim quanto os demais pecadores que embarcam para o Inferno, e não o torna pior que eles, como acusa o Diabo.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Referências