Sociedade Brasileira contra a Escravidão

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A Sociedade Brasileira Contra a Escravidão (SBCE) foi uma instituição brasileira criada pelo engenheiro André Rebouças em parceria com o parlamentar e escritor Joaquim Nabuco, e o advogado e jornalista José do Patrocínio em 7 de setembro de 1880, com o propósito de lutar contra a escravidão no Brasil.[1] A escravatura foi abolida no país em 1888.

Caracterizado por estudiosos como o primeiro grande movimento social brasileiro,[2][3][4] o abolicionismo no país teve mais força no final da década de 1860. Apesar da família imperial ser pouco antipática ao abolicionismo desde a independência do país, nunca houve uma manifestação expressa por parte dos Chefes de Estado em romper com um negócio tão lucrativo como o prosseguimento da escravatura. A exceção ocorreu na década de 1860, quando D. Pedro II recebeu uma carta da Junta Francesa de Emancipação, na qual era pedido (ou melhor, solicitado) ao Imperador que tomasse alguma atitude quanto à continuidade do escravismo em seus domínios. Além disso, o poder decisório legislativo era compartilhado entre o Poder Legislativo e Poder Judiciário, favoráveis a manutenção das estruturas oligárquica e escravista no país, não sendo possível verificar posições ideológicas ou grandes projetos distintos entre eles. Isso possibilitou que eles se revezassem no poder a partir da segunda metade do século XIX, sem que isso gerasse grandes tensões. As reivindicações abolicionistas ganharam novo fôlego no final da década de 1870, com a atuação de D. Isabel e do parlamentar de Joaquim Nabuco (que em 1879 propôs um projeto, rejeitado pelo Legislativo, de abolição gradual da escravatura, com previsão de data de abolição definitiva em 1890[5]) e com a atuação extraparlamentar do engenheiro negro André Rebouças e do jornalista negro José do Patrocínio, que escrevia para o jornal Gazeta de Notícias. Em 1879, também foi fundada a Sociedade Cearense Libertadora, por João Cordeiro e José Correia do Amaral.[3]

Em 1880, na esteira de tais mobilizações, André Rebouças reúne Patrocínio (também fundador, no mesmo ano, da Associação Central Abolicionista) e Nabuco[6] para fundarem a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, instituição que pretendia:

agregar referências de diferentes classes sociais em torno do abolicionismo, visando uma reforma monárquica. A fundação da própria sociedade, cabe destacar, seguia uma série de iniciativas de determinados setores das elites da época, país afora: a manutenção de clubes e associações liberais voltadas à defesa do abolicionismo

 [5]

O Manifesto da Sociedade afirmava que:

Esta Sociedade, por exemplo,abrange á todos; está aberta não só aos homens de Estado que possam compreender o plano e os detalhes de uma obra gigantesca de renovação social, como também aos homens obscuros do povo que só possam odiar a escravidão como instinto de homens livres.

 [7]

A SBCE também editou o jornal O Abolicionista (batizado em alusão a um jornal abolicionista da Espanha,[6] chamado El Abolicionista Español[8]), que circulou entre 1880 e 1881.[5] O fim do jornal se deveu à decisão de tornar o jornal Gazeta da Tarde, de Patrocínio, a voz nacional do movimento.[6]

A SBCE, pelas mãos de Nabuco, buscou se aproximar de importantes instituições abolicionistas na Europa, com a circulação e tradução de seu Manifesto para o Inglês, o francês e o espanhol.[6] A criação da instituição brasileira foi noticiada no prestigiado periódico francês Revue des Deux Mondes[9] e saudada pela British Foreign and Anti-Slavery Society (BFASS). Como nota a socióloga Angela Alonso, o próprio nome da SBCE era uma tradução do da instituição britânica, que inspirava a militância abolicionista de Nabuco e com a qual o parlamentar mantinha contato desde 1879.[6]

Em 1883, Patrocínio e Rebouças também lideraram o processo da fundação da Confederação Abolicionista, entidade que visava reunir as associações abolicionistas do Rio de Janeiro e de outras províncias como Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Ceará e Pernambuco.[3] Os dois também foram autores do Manifesto da Confederação.[10] Também foi sócio fundador e secretário da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, João Clapp, um dos fundadores e presidente da Confederação Abolicionista.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Fundação Joaquim Nabuco Cronologia de Joaquim Nabuco
  2. BRITO, Ênio José da Costa. "O primeiro grande movimento social brasileiro: a campanha abolicionista (1868-1888)". Horizonte, Belo Horizonte, v. 15, n. 47, p. 1056-1073, jul./set. 2017
  3. a b c ALONSO, Angela. Flores, votos e balas. O Movimento Abolicionista brasileiro (1868- 1888). São Paulo: Companhia das Letras. 2015
  4. Alonso, Angela (novembro de 2014). «O abolicionismo como movimento social». São Paulo. Novos estudos CEBRAP (100): 115–127. ISSN 0101-3300. doi:10.1590/S0101-33002014000300007. Consultado em 30 de março de 2019 
  5. a b c BRASIL, Bruno (23 de agosto de 2018). «O Abolicionista – Orgão da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão». Consultado em 30 de março de 2019 
  6. a b c d e Alonso, Angela (dezembro de 2010). «O abolicionista cosmopolita: Joaquim Nabuco e a rede abolicionista transnacional». São Paulo. Novos estudos CEBRAP (88): 55–70. ISSN 0101-3300. doi:10.1590/S0101-33002010000300004. Consultado em 30 de março de 2019 
  7. NABUCO, Joaquim (1880). Manifesto da Sociedade Brasileira contra a Escravidão (PDF). Rio de Janeiro: G. Leuzinger. pp. p. 13 
  8. JIMÉNEZ, Paloma Arroyo. La Sociedad Abolicionista Española, 1864-1886
  9. BERENGER, Paul. "Le Brésil in 1879". Revue des Deux Mondes, nº 37, 1880, pp. 434-57, p. 440.
  10. PATROCÍNIO; REBOUÇAS, José do; André (1883). Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. da Gazeta da Tarde. 22 páginas