Sociolinguística variacionista

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A Sociolinguística variacionista, também chamada de Teoria da Variação e Mudança ou ainda de Sociolinguística Quantitativa ou Laboviana, consiste em uma área de estudos proposta pelo linguista estadunidense William Labov com o intenção de explicar a variação simultânea sistemática da língua em sociedade. O propósito de Labov é estudar a estrutura e a evolução de uma língua dentro do seu contexto social. A visão de que a língua é heterogênea trouxe a percepção de que há diferentes maneiras se de utilizar a mesma língua e isso varia de acordo com os seus falantes ou grupos sociais.

A metodologia quantitativa da Sociolinguística variacionista concentra-se em uma comunidade de fala, entendida como um grupo de sujeitos ou usuários que compartilha de forma consciente os mesmos valores associados aos usos da língua em um determinado tempo e espaço. Dentro de uma comunidade são selecionados informantes, a partir de alguns critérios, para compor uma amostra. Logo após, são realizadas entrevistas por meio de um roteiro pré-estabelecido com o objetivo de observar o uso linguístico vernacular dos informantes, sem interferência (ou com o mínimo possível de interferência) do pesquisador. Depois de gravadas, as entrevistas são transcritas sistematicamente, possibilitando a comparação linguística de diferentes comunidades de fala.

A Sociolinguística variacionista proporciona uma série de contribuições para a descrição das variedades do português em diversos níveis.

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

A sociolinguística se consolidou como uma área dos estudos linguísticos no século XX, mais precisamente na década de 60. A partir daí, outras subdivisões surgiram como a Sociolinguística variacionista, a Sociolinguística interacional e a Sociolinguística educacional. A vertente da Sociolinguística variacionista surgiu a partir da publicação da obra de Weinreich, Labov e Herzog (em 1968) com o propósito de descrever o uso variável da língua e os determinantes sociais e linguísticos dessa variação[1].

Inicialmente, Labov preocupou-se com a motivação social da mudança sonora na ilha de Martha's Vineyard, no estado americano de Massachussetts.[2] Os estudos sobre a mudança fonética dentro desta comunidade de fala serviram de base para a constituição de sua dissertação de mestrado, orientada pelo professor Uriel Weinreich.

Com este panorama, a relação entre língua e sociedade passou a ser o foco dos estudos linguísticos que anteriormente estavam direcionados para a língua enquanto sistema de signos e de valores correspondentes, deixando a fala (parte individual) de lado. Dessa maneira, Labov discordou de Saussurre quando o suíço ignorou a fala e considerou apenas o estudo do sistema linguístico visto como homogêneo.

Compreendendo a heterogeneidade da língua, Labov se interessou pelo estudo sistemático das variações linguísticas e os fatores externos que condicionam estas variações. Ao correlacionar variação e mudança, o linguista estadunidense rompe com uma importante dicotomia proposta por Saussurre – diacronia e sincronia – promovendo uma aproximação entre estes dois aspectos.

A partir de seus estudos, Labov constatou que não há falantes com um estilo único, todos apresentam variações fonológicas e sintáticas em suas manifestações linguísticas. As ações de alguns grupos no Brasil, ao longo dos anos, foram de suma importância para a descrição do português brasileiro, com destaque para o Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL), na Universidade do Rio de Janeiro (1980); o grupo Variação Linguística Urbana na Região Sul do Brasil (VARSUL) o grupo Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPB) e o grupo Dialetos Sociais Cearenses.

Termos associados[editar | editar código-fonte]

Há três termos dentro da vertente variacionista que merecem uma atenção especial para não serem confundidos: variedade, variante e variável.

  • Variedade diz respeito às diferentes formas de manifestação de uma língua que estão associadas à elementos sociais, regionais, históricos e culturais[3]. Uma pessoa que mora na região sul do Brasil, por exemplo, não fala do mesmo modo que uma pessoa da região nordeste. Dentro desse termo há ainda outras classificações: dialeto, socioleto, idioleto e cronoleto.
  • Variante diz respeito às formas linguísticas concorrentes que comportam o mesmo sentido.
  • Variável consiste no traço, construção ou forma linguística que apresenta algumas variantes de acordo com as observações realizadas por um pesquisador.[3]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • BAGNO, Marcos. Língua, linguagem, linguística: pondo os pingos nos ii. 1 ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
  • BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. Sâo Paulo: Parábola Editorial, 2007.
  • BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós Cheguemu na Escola e Agora? São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
  • MOLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.) Introdução a sociolinguística: O tratamento da variação. São Paulo: Editora Contexto, 2003.
  • ZILLES, Ana; GUY, Gregory, R. Sociolinguística Quantitativa. Instrumental de Análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

Referências

  1. SILVA, Isabel Maria da. Sociolinguística Variacionista, Ensino de Línguas Estrangeiras e Avaliação de Livros Didáticos. Disponível em: https://revistaapalavrada.files.wordpress.com/2014/11/06_izabelmariadasilva_artigo.pdf. Consultado em 12 de dezembro de 2019
  2. OLIVEIRA, Thiago Soares de. A sociolinguística e a questão da variação: um panorama geral. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rl/article/viewFile/3168/4551. Consultado em 12 de dezembro de 2019
  3. a b «Sociolinguística - Variedade, variante e variavel». Estudo Prático. 20 de abril de 2015. Consultado em 12 de dezembro de 2019