Sonja Ashauer

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Sonja Ashauer
Sonja Ashauer
Conhecido(a) por Primeira brasileira que se doutorou em Física
Nascimento 9 de abril de 1923
São Paulo, São Paulo
Morte 21 de agosto de 1948 (25 anos)
São Paulo, São Paulo
Nacionalidade brasileira
Alma mater Universidade de Cambridge
Orientador(es)(as) Paul Dirac
Instituições Universidade de São Paulo
Campo(s) física
Tese Problems on electrons and electromagnetic radiation (1948)

Sonja Ashauer (São Paulo, 9 de abril de 1923 — São Paulo, 21 de agosto de 1948) foi a primeira brasileira a concluir um doutorado em física e a segunda mulher a se graduar em física no Brasil, junto a Elisa Frota Pessoa, que se graduou no mesmo ano na Universidade do Brasil.[1] Sonja foi aluna do célebre físico britânico Paul Dirac na Universidade de Cambridge e uma proeminente física teórica.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Sonja nasceu em São Paulo, em 1923. Filha do engenheiro de origem alemã Walter Ashauer e de Herta Graffenbenger[1], também alemã, demonstrou desde cedo uma inteligência excepcional, motivada em grande parte por seu pai. Fez seus estudos secundários no Ginásio da Capital do Estado de São Paulo, onde foi colega de classe do também físico Roberto Salmeron e do jurista Hélio Bicudo.[1]

Ingressou no curso de física na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1940 e graduou-se bacharel em física em 1942, fazendo parte da brilhante geração de físicos formados por Gleb Wataghin, natural da Rússia e grande contribuidor para as pesquisas de física no Brasil e na Itália[1] e um dos precursores da física no Brasil[2]. Já na graduação ela era reconhecida como uma excelente estudante por seus professores, como observa-se no relato de Marcelo Damy:

"Ela sempre se distinguiu como uma das melhores estudantes na Faculdade e mostra um grande entendimento dos problemas da Física.[3]"

Terminou sua licenciatura em Física no início de 1944 e foi contratada por Gleb Wataghin como assistente de Cadeira de Física Teórica e Física Matemática[3]. Durante sua atuação como assistende de Wataghin, ela trabalhou em vários problemas de mecânica quântica, especialmente em estatísticas de núcleos e partículas elementares em temperaturas extremamente altas[3][4]. Ainda nesse ano Sonja publicou um artigo nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, no qual calcula o coeficiente de absorção de radiação para o efeito fotoelétrico com dois estudos de caso: fóton absorvido por um elétron ligado, ou não, a um núcleo[3][5]. Em 1945 recebeu uma bolsa para estudar na Universidade de Cambridge, onde trabalhou por três anos sob a orientação do prêmio nobel Paul Dirac. Nesse período, Sonja concentrou-se nos problemas da recém formulada eletrodinâmica quântica. Durante sua estadia em Cambridge, ela manteve contato por correspondência com Gleb Wataghin, onde ficam evidentes a amizade e o respeito que tinham um pelo outro. Em uma carta de 29 de Março de 1947, ela escreve a Wataghin dizendo que Dirac havia acabado de voltar dos Estados Unidos e já se preparava para passar um ano em Princeton, de forma que ela teria que ficar sob supervisão de alguém que poderia não ter interesse no trabalho que estava desenvolvendo. Ela também comenta a dificuldade que estava tendo para definir o foco principal de sua pesquisa[3][6] e Wataghin responde que, embora não pudesse ajudar com sugestões de tema, ela poderia voltar para o Brasil e reassumir seu cargo de 2ª assistente. Na mesma carta ele escreve ainda:

"Não dê importância extrema para o título acadêmico. Para mim, o que realmente importa é a pesquisa.[7]"

Em junho do mesmo ano, ela volta a escrever para ele dizendo que até dezembro terminaria sua tese e voltaria para o Brasil. É importante ressaltar que quando Sonja começou suas pesquisas na Inglaterra, às mulheres só era permitido obter o título de bacheral. Após o ano de 1948, elas conquistam o direito de obter todos os títulos, de forma que, no mesmo ano, Sonja Ashauer foi uma das primeiras mulheres a obter doutoramento concedido pela Universidade de Cambridge[3], defendendo a tese "Problems on electrons and electromagnetic radiation". Com o diploma de PhD em mãos e três trabalhos publicados no Mathematical Proceedings of the Cambridge Philosophical Society e no Proceedings Royal Society, ela retorna para a Universidade de São Paulo e retoma seu cargo de assistente do professor Gleb Wataghin. Ela foi a primeira mulher brasileira a ser nomeada membro da Cambridge Philosophical Society[8].

Destaca-se em todos os relatos sobre Ashauer sua grande competência para a Física, sendo descrita por Dirac como:

"(...) ela era sempre muito industriosa e aguda em seu trabalho, e fez úteis contribuições à ciência, que sobreviverão em seus trabalhos publicados[3]."

Morte[editar | editar código-fonte]

Sonja teve uma morte prematura, aos 25 anos, no dia 21 de agosto de 1948, somente cinco meses depois de ter retornado ao Brasil. Ela foi internada no Hospital Alemão Oswaldo Cruz (antigamente, Hospital Alemão) na cidade de São Paulo pela família, porém, já se encontrava extremamente doente. Em seu atestado de óbito, diz-se que a causa da morte foi “broncopneumonia, miocardite e colapso cardíaco”.[1]

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • Ashauer, S. (1948). "A Generalization of the Method of Separating Longitudinal and Transverse Waves in Electrodynamics" Proc R Soc A 194: 206-217. DOI: 10.1098/rspa.1948.0074 (preview)
  • Ashauer, S. (1947). "On the self-accelerating electron". Mathematical Proceedings of the Cambridge Philosophical Society, 43, pp 506-510. DOI: 10.1017/S0305004100023768. (preview)

Referências

  1. a b c d e «Pioneiras da ciência no Brasil». Consultado em 15 de agosto de 2018. Arquivado do original em 17 de setembro de 2013 
  2. Roberto Salmeron (ed.). «Gleb Wataghin». Revista de Estudos Avançados da USP. Consultado em 31 de agosto de 2019 
  3. a b c d e f g Saitovitch, Elisa M. B.; Funchal, Renata Z.; Barbosa, Marcia C. B.; Pinho, Suani T. R.; Santana, Ademir E. (2015). Mulheres na Física. Casos históricos, panorama e perspectivas. São Paulo: Livraria da Física. pp. 95–113 
  4. «Declaração de Gleb Wataghin ao The Board of Research Studies of the British Concil». Arquivo Histórico do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Departamento de Física USP. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  5. Ashauer, Sonja (31 de dezembro de 1944). «Sobre a Teoria Quântica do Coeficiente de Absorção». Rio de Janeiro: Anais da Academia Brasileira de Ciências. Tomo XVI. N. 4. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  6. «Carta de Sonja Ashauer a Gleb Wataghin». Arquivo Histórico do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Departamento de Física da USP. 29 de março de 1947. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  7. «Carta de Gleb Wataghin a Sonja Ashauer». Arquivo Histórico do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Departamento de Física USP. 8 de maio de 1947. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  8. «Relatório das atividades didáticas e científicas do professor Gleb Wataghin no período de 1947 a 1948». Arquivo Histórico do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Departamento de Física da USP. 14 de setembro de 1948. Consultado em 11 de outubro de 2020 
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