Sudaca

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A palavra sudaca é, de acordo com a definição do Dicionário da língua espanhola da Real Academia Espanhola, uma expressão depreciativa utilizada para referir-se às pessoas naturais da América do Sul.[1] Outras fontes não normativas citam também a variante «sudoca», com significado similar.[2][3]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Segundo o dicionário de jargões de Francisco Umbral, o vocábulo tem sua origem na corruptela juvenil do termo espanhol «sudamericano» (sul-americano) na fala das classes populares durante a movida madrileña.[4][5] Neste movimento cultural, já se pode verificar seu uso por parte de Carlos Segarra, o líder da banda rockabilly Los Rebeldes, que aos 16 anos disse literalmente que tocava «ao lado de magos, sudacas e travestis».[6] A expressão, assim como outras definidas por Umbral como «jargão de geração», foi adotada posteriormente pelo Dicionário da Real Academia Espanhola.

História[editar | editar código-fonte]

No final dos anos 1970 e princípio dos 80, muitos exilados políticos vindos da Argentina, do Chile e do Uruguai chegaram à Espanha. Eles contavam com a grande solidariedade da sociedade espanhola da Transição, sendo costumeira a programação de eventos como conferências, concertos e exposições, dentre outros. Nas ruas do centro de Madri também havia grupos de música andina que improvisavam com charangos, quenas, bumbos e violões. Estes acontecimentos fizeram com que o folclore sul-americano virasse moda e fosse conhecido como a «movida sudaca», que viveu também sua época de ouro em contraposição à madrilenha e dando, assim, início ao uso do termo.[7]

Uso[editar | editar código-fonte]

Alguns sul-americanos podem utilizar este termo de forma irônica para referir-se a si mesmos.[8] Assim, em 1988, um grupo de mulheres espanholas e sul-americanas residentes na Espanha, dentre elas, por exemplo, a escritora uruguaia Carmen Posadas, criou a associação Sudacas Reunidas S.A. para lutar contra a discriminação sofrida pelas mulheres sul-americanas na Espanha.[9] Com o mesmo sentido debochado, pode-se empregar a palavra «Sudáquia ou Sudacalândia» para aludir-se à América do Sul.[10]

Outras expressões pejorativas usadas na Espanha para se referir às pessoas da América do Sul são «panchito» (aplicado só a indivíduos de aspecto ameríndio), «machu picchu» (apelido de um personagem da série de televisão espanhola "Aída" interpretado pelo ator Óscar Reis, que fazia uma caricatura do estereótipo do imigrante sul-americano na Espanha), «guachupino» e «payopony» (neologismo racista utilizado principalmente por pessoas de etnia cigana para fazer alusão a latino-americanos de traços ameríndios, é composto pelos vocábulos «payo», palavra caló que significa «pessoa não cigana», e pony — adaptado ao espanhol com a grafia «poni» —, «cavalo de baixa estatura»).[11][12][13][14]

Referências

  1. «Entrada de «sudaca»». Diccionario de la lengua española (em espanhol). Consultado em 26 de outubro de 2010 
  2. Montoya, Ramiro (2005). Diccionario comentado del español actual en Colombia [Dicionário comentado do espanhol atual na Colômbia] (em espanhol). Madrid: Vision Net. p. 347. ISBN 9788498215021 
  3. Escobedo Rodríguez, Antonio (1994). Estudios de lexicología y lexicografía [Estudos de lexicologia e lexicografia🔗 (em espanhol). Almería: Universidad de Almería, Servicio de Publicaciones. p. 201. ISBN 9788482400006 
  4. Ignacio Frías (21 de julho de 2003). «Origen de los términos 'sudaca' y 'gallego'» [Origem dos termos 'sudaca' e 'galego'] (em espanhol). Centro Virtual Cervantes. Consultado em 26 de outubro de 2010 
  5. Umbral, Francisco (1983). Diccionario cheli (em espanhol). [S.l.]: Grijalbo Mondadori. ISBN 9788425314674 
  6. «Los Rebeldes» [Os Rebeldes] (em espanhol). PopEs80. Consultado em 26 de outubro de 2010. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2010 
  7. Carlos de Urabá (22 de março de 2010). «El diablo anda suelto» [O diabo anda solto] (em espanhol). Kaosenlared. Consultado em 26 de outubro de 2010. Cópia arquivada em 2 de abril de 2010 
  8. Pascal, León (2002). Crónicas sudacas: historias de Volo Kalamaky y otras hierbas chilensis (em espanhol). [S.l.]: RIL Editores. ISBN 9789562842150 
  9. Casaús Arzú, Marta Elena (2002). «Reflexiones sobre los americanos en España» [Reflexões sobre os americanos na espanha] (PDF) (em espanhol). Cuadernos de trabajo social, vol. 14. ISSN 0214-0314. Cópia arquivada (PDF) em 20 de fevereiro de 2009 
  10. García, Margarita. «Sudaquia. Historias de América Latina» [Sudáquia. Histórias da América Latina] (em espanhol). Diario Clarín. Consultado em 26 de outubro de 2010. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2010 LJ
  11. Fitch, Roxana (2006). «Entrada de «panchito» en el Diccionario de jergas de habla hispana» [A entrada de «panchito» no dicionário de jargões de fala espanhola] (em espanhol). N. Charleston: BookSurge. ISBN 978-1-4196-3220-4 
  12. Lino Portela (2 de março de 2009). «Entrevista a Óscar Reyes» [Entrevista com Óscar Reyes] (em espanhol). Diario El País. Consultado em 29 de maio de 2009 :¿Sabe que por su culpa a muchos camareros inmigrantes les llaman Machu Picchu? [Sabia que por sua culpa muitos garçons imigrantes são chamados de Machu Picchu?]
  13. Fitch, Roxana (2006). «Entrada de «guachupino» en el Diccionario de jergas de habla hispana» [A entrada de «guachupino» no dicionário de jargões de fala espanhola] (em espanhol). N. Charleston: BookSurge. ISBN 978-1-4196-3220-4 
  14. Fitch, Roxana (2006). «Entrada de «payopony» en el Diccionario de jergas de habla hispana» [A entrada de «payopony» no dicionário de jargões de fala espanhola] (em espanhol). N. Charleston: BookSurge. ISBN 978-1-4196-3220-4 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Manuel Alvar Ezquerra (1990). Diccionario actual de la lengua española (em espanhol). [S.l.]: Vox 
  • Diccionario general ilustrado de la lengua española (em espanhol). [S.l.: s.n.] 1973 
  • Julia Sanmartín (1998). Diccionario de argot [común] (em espanhol). [S.l.]: Editorial Espasa 
  • Diccionario de uso del español actual (em espanhol). [S.l.]: SM, Madrid. 1996 
  • Andrés y Ramos (1999). Diccionario del español actual (em espanhol). [S.l.]: Aguilar, Madrid 
  • Francisco Umbral (1983). Diccionario cheli (em espanhol). [S.l.]: Grijalbo, Barcelona 
  • Manuel Seco y Elena Hernández (1999). Diccionario breve de dudas y dificultades (em espanhol). [S.l.]: Espasa-Calpe, Madrid 
  • Roxana Fitch (2006). Diccionario de jergas de habla hispana (em espanhol). [S.l.]: BookSurge, N. Charleston, SC 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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