Teodomiro Romeiro dos Santos

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Teodomiro Romeiro dos Santos
Teodomiro Romeiro dos Santos
Juiz do Trabalho da 6.ª Região
Período de 1993
2012
Dados pessoais
Nascimento 1953
Natal, Rio Grande do Norte
Falecimento 14 de maio de 2023 (70 anos)
Recife, Pernambuco

Theodomiro Romeiro dos Santos (Natal, 1953Recife, 14 de maio de 2023) foi um magistrado brasileiro. Tornou-se o primeiro civil condenado à pena de morte no período republicano brasileiro, com base na Lei de Segurança Nacional.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Foi filho de uma professora com um capitão do Exército. Teve seis irmãos, cinco deles do casamento de seu pai com a irmã de sua mãe. Foi casado com Maria da Conceição Contija Lacerda.[3] Casou-se novamente com Virgínia Lúcia de Sá Bahia, com quem teve quatro filhos: Bruno, Fernando Augusto, Mário e Camila.[4]

Ele queria cursar medicina, e se envolveu com movimentos estudantis e assistenciais. Por causa da repressão dos líderes estudantis após o assassinato do secundarista Edson Luiz em maio de 1968, Theodomiro mudou-se para São José dos Campos, Brasília e então a Salvador, onde passou a auxiliar na montagem de aparelhagem para o pessoal e em ações de pichação, panfletagem e planejamento de ações de expropriação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).[3]

Em 25 de maio de 1970, participou do assalto ao Banco da Bahia, onde o dinheiro seria usado em uma ação abortada onde os cônsules norte-americanos em Salvador e Recife seriam sequestrados e trocados por presos políticos ligados ao PCBR. Durante o assalto, uma senhora viu o ocorrido e ligou para a polícia, que resultou em um tiroteio. O saco de dinheiro acabou sendo perdido e os militantes tiveram que fugir sem o dinheiro.[3]

Em 27 de outubro de 1970, na avenida Vasco da Gama, em Salvador, Theodomiro Romeiro, Getúlio de Oliveira e Paulo Pontes, todos membros do então clandestino PCBR, estavam reunidos no Dique do Toró junto com Dirceu Régis discutindo suas futuras atuações por causa da intensa vigilância da polícia.[3] Dirceu Régis se retirou, e pouco tempo depois os três receberam voz de prisão de quatro agentes do governo. Na ocasião Getúlio conseguiu fugir, sendo perseguido por um dos agentes, mas Theodomiro e Paulo Pontes foram presos e algemados um ao outro. Com a mão esquerda livre, ao entrar no automóvel que os conduziria à prisão, Theodomiro sacou o revólver que estava em sua pasta e disparou três vezes, acertando dois dos agentes: um sargento da Aeronáutica, que morreu com um dos tiros; e um agente da Polícia Federal, que saiu ferido. Preso, Theodomiro foi condenado à morte naquele mesmo ano, mas teve essa pena comutada para prisão perpétua em 1971.[5] Ele também foi espancado por agentes da Polícia Federal durante o trajeto para a cadeia, onde foi espancado e eletrocutado antes de prestar depoimento. Ele foi preso no Forte do Barbalho.[3]

Sua denúncia foi proposta em 13 de novembro de 1970 pelo Procurador Militar Antônio Brandão Andrade, com a acusação baseando-se na Lei de Segurança Nacional. Seu caso seria julgado em sua totalidade por oficiais da Aeronáutica nomeados pelo Ministro da Aeronáutica, caracterizando-se como um tribunal de exceção. Seus advogados foram apontados pelo Conselho, não sendo lhe dada a chance de escolher um nome para a sua defesa, e não foi permitido que os réus se comunicassem. Theodomiro foi condenado à pena de morte por 4 a 1.[3][6]

Em 5 de abril de 1971, Theodomiro e Paulo entraram com um recurso no Conselho de Justiça direcionado ao Superior Tribunal Militar (STM). Sua pena foi reduzida a prisão perpétua por ele ainda ser menor de idade. Theodomiro entrou com embargos na ação, todos negados pelo STM. Ele, então, entrou com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo uma redução de pena para 30 anos de prisão, porém houve erros no envio e foi negado pelo ministro do STM Nelson Barbosa Sampaio. Seu advogado requeriu a vista do processo, recurso que foi parcialmente aceito pelo STF.[3]

Sabendo-se excluído da anistia política de 1979 e sob o risco de acabar sendo morto pela repressão, Theodomiro Romeiro dos Santos protagonizou, em agosto daquele ano, uma fuga da prisão.[7] Ele havia sido preso na Penitenciária Lemos de Brito desde dezembro de 1972. Com a nova Lei de Segurança Nacional de 1978, sua sentença foi diminuida para 8 anos.[6] Theodomiro pediu a liberdade condicional por já ter cumprido metade da pena. O pedido foi negado, e, então, ele fugiu. Em 30 de outubro de 1979, ele pediu auxílio à Nunciatura Apostólica em Brasília, que o exilou para o México e em seguida para a França.[3]

Retornou ao Brasil apenas em 1985, após a expiração de sua condenação, e se graduou em Direito. Theodomiro aposentou-se como juiz do Tribunal Regional do Trabalho de Pernambuco. Recebeu anistia, mas, por motivações ideológicas, jamais pleiteou qualquer indenização.[8][9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Theodomiro Romeiro dos Santos». Fundação Perseu Abramo. 23 de abril de 2006. Arquivado do original em 4 de novembro de 2013 
  2. «'Nunca achei que seria executado', diz primeiro brasileiro condenado à morte no período republicano». BBC Brasil. Consultado em 8 de janeiro de 2018 
  3. a b c d e f g h Abal, Felipe Cittolin; Reckziegel, Ana Luiza Setti (2018). «O primeiro condenado à morte na República: Theodomiro Romeiro dos Santos e a Justiça Militar». Revista História & Perspectivas (58). ISSN 2176-4352. doi:10.14393/HeP-v31n58-2018-10. Consultado em 3 de janeiro de 2024 
  4. João Pedro Pitombo (15 de maio de 2023). «Theodomiro Romeiro, condenado à morte pela ditadura, morre aos 70». Folha de S.Paulo. Consultado em 3 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2024 
  5. Silveira, E. Galeria F. Documentário (2017).
  6. a b Paulo, Luís Guilherme Barrucho Da BBC Brasil em São (28 de abril de 2015). «Veja história do primeiro condenado à morte no Brasil republicano». Mundo. Consultado em 3 de janeiro de 2024 
  7. «25 anos de uma obra ainda incompleta». Consultado em 8 de agosto de 2014. Arquivado do original em 6 de julho de 2011 
  8. Bergamo, Mônica (26 de setembro de 2011). «Julião e Theodomiro Romeiro dos Santos são anistiados». Instituto Humanoitas Unisinos. Da coluna de Mônica Bergamo, jornalista, publicada no jornal Folha de S. Paulo, 26-09-2011. Consultado em 4 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  9. «Juiz preso durante ditadura recebe anistia em Pernambuco». Jornal Extra de Pernambuco. 3 de outubro de 2011. Arquivado do original em 5 de janeiro de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]