Teodorico de Chartres

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Thierry de Chartres
Teodorico de Chartres
Catedral de Chartres
Morte 1150 c.
 França
Alma mater Escola de Chartres
Ocupação Humanista, filósofo e historiador.

Teodorico de Chartres (Thierry de Chartres, em francês, ou Theodoricus Chartrensis, em latim) (morreu antes de 1155,[1] provavelmente em 1150[2]) foi um filósofo do século XII desenvolvendo a sua ação em Chartres e Paris, França.

A Escola de Chartres foi um centro de estudo avançado antes da primeira universidade ter sido fundada em França, tendo Thierry sido seu chanceler quando o seu antecessor, Gilberto de Poitiers, regressou como bispo à sua cidade natal em 1141. João de Salisbury,[3] Herman de Caríntia e Clarembald de Arras contaram-se entre os estudantes de Thierry.[4]

Além de líder da Escola, Thierry foi uma figura importante na filosofia e ensino do século XII, e como muitos dos mestres da época foi um seguidor dos princípios da obra Timeu de Platão aplicando a filosofia às questões teológicas.[5]

Alguns estudiosos modernos defenderam que Thierry fora irmão de Bernardo de Chartres que tinha fundado a Escola de Chartres, mas pesquisas posteriores têm demonstrado que isso é improvável.[6]

Obras[editar | editar código-fonte]

Hexaemeron[editar | editar código-fonte]

O Hexaemeron interpreta o Livro do Génesis tendo por referência a obra Timeu de Platão. O texto serve como uma defesa racional da existência de Deus, baseando-se na filosofia natural platónica e na lógica aristotélica para explicar a criação do mundo.[4] Thierry afirma que o momento da criação divina foi o início do tempo, e, na sequência disso, a criação evoluiu naturalmente através das combinações dos quatro elementos (fogo, ar, água e terra).[7] Segundo Thierry, Deus criou os quatro elementos no primeiro momento. O fogo que está em constante movimento rodou e iluminou o ar dando origem ao primeiro dia e primeira noite. No segundo dia, o fogo aqueceu a água fazendo-a subir para os céus e formar as nuvens. Devido à redução da água, a terra imergiu no terceiro dia. A continuação do aquecimento das águas acima do firmamento levou à criação dos corpos celestes no quarto dia. O aquecimento posterior da terra foi a causa da vida vegetal, animal e humana que surgiu nos quinto e sexto dias.

A explicação por Thierry da criação do mundo é baseada numa interpretação teológica das quatro causas de Aristóteles, que ele identifica com as três pessoas da Trindade mais a matéria (composta pelos Quatro elementos): o Pai é a Causa eficiente, o Filho é a Causa formal, o Espírito Santo é a Causa final e os quatro elementos são a Causa material.

Segundo Thierry, o acto da criação divina é limitado à criação dos quatro elementos, que a seguir evoluiram por si mesmos, misturaram-se de acordo com proporções matemáticas e fizeram o mundo físico.

Heptateuch[editar | editar código-fonte]

O Heptateuch é uma grande enciclopédia de informação relativa às artes liberais, tudo dentro do contexto da unidade académica e teológica. Em particular, analisa os modos em que diferenciam os vários tipos de conhecimento, fundamentando ainda um único propósito: explicar a ordem na realidade. Os trivium (lógica, gramática e retórica) abordam a veracidade, consistência e beleza da linguagem de expressão. Os quadrivium (geometria, astronomia, aritmética e música) proporcionam o conteúdo intelectual na necessidade de expressão.

Thierry também escreveu alguns comentários sobre De Trinitate de Boécio.

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • Commentaries on Boethius by Thierry of Chartres and His School, ed. N. M. Häring, Toronto 1971.
  • The Latin Rhetorical Commentaries by Thierry of Chartres, ed. K. M. Fredborg, Toronto 1988.
  • The Commentary on the De arithmetica of Boethius, ed. I. Caiazzo, Turnhout 2015.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. Ralph McInerny (1963). «Chapter IV - The School of Chartres». A History of Western Philosophy Vol. II - Part III: The Twelfth Century. The Jacques Maritain Center, University of Notre Dame. Consultado em 30 de abril de 2016. Arquivado do original em 23 de novembro de 2014 
  2. William Turner (1903). «Chapter XXXIII - The School of Chartres». History of Philosophy. The Jacques Maritain Center, University of Notre Dame 
  3.  Herbermann, Charles, ed. (1913). «Theodoric (Thierry) of Chartes». Enciclopédia Católica (em inglês). Nova Iorque: Robert Appleton Company 
  4. a b Giulio D'Onofrio; et al. (1996). The History of Theology: Middle Ages. [S.l.]: Liturgical Press 
  5. Alguns estudiosos dos séculos XIX e XX pensavam que Thierry estava na vanguarda de uma escola hiper-platónica em Chartres, sendo esta a posição refletida História da Filosofia de Turner de 1903, mas devido aos esforços de Richard Southern e outros, este ponto de vista deixou de ser defendido pelos estudiosos modernos.
  6. Paul Edward Dutton (ed.), The Glosae super Platonem of Bernard of Chartres, Toronto 1991, p. 40-42.
  7. Lindberg, David C., The Beginnings of Western Science, p. 210. The University of Chicago Press, 2007.

Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]

  • Édouard Jeauneau, História Breve da Filosofia Medieval, Editorial Verbo, 1968, Lisboa.
  • Peter Dronke, "Thierry of Chartres", in P. Dronke, A History of Twelfth Century Western Philosophy, Cambridge, 1988.
  • Peter Ellard, The Sacred Cosmos: Theological, Philosophical, and Scientific Conversations in the Twelfth Century School of Chartres, University of Scranton Press, 2007.