Travessias Imaginárias

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Travessias Imaginárias
Literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva
Autor Mirna Queiroz (org.)
País Brasil
Idioma português
Gênero ensaio
Data de publicação 2020
Editora Edições Sesc São Paulo
Número de páginas 264
ISBN 9786586111279

Travessias Imaginárias é uma coletânea de dez ensaios, nos quais pesquisadores das literaturas de língua portuguesa contemporâneas fazem uma reflexão crítica a respeito de obras literárias produzidas em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo-Verde no século XX e nas primeiras décadas do século XXI. Trata-se de uma contribuição aos estudos de literatura comparada em língua portuguesa, organizada por Mirna Queiroz.

Os seus principais temas são autoficção em obras portuguesas e em obras de escritoras angolanas, breves panoramas da produção ficcional de Moçambique e de Cabo-Verde após a independência, a ficção científica brasileira contemporânea, o diálogo entre imagem e texto em livros ilustrados para crianças, o romance de formação, a relação com a morte e as novas poéticas manifestadas em romances contemporâneos.

As inter-relações entre as obras das literaturas de língua portuguesa colocadas em diálogo neste livro tornam possível detectar as suas linhas de força[1] assim como as confluências e diferenças literário-culturais[2].

Ensaios[editar | editar código-fonte]

A vida está lá, na escrita? Espaços biográficos na prosa portuguesa contemporânea[editar | editar código-fonte]

Sabrina Sedlmayer, após discutir e conceituar o termo autoficção como “diferentes tipos textuais em primeira pessoa”,[3] investiga as características, as transformações e os questionamentos que seis importantes escritores portugueses contemporâneos imprimiram à escrita de si em certas obras: José Luís Peixoto em Autobiografia; Vergílio Ferreira em Conta-corrente, Jorge de Sena em Sinais de fogo, Herberto Helder em Photomaton & vox, Dulce Maria Cardoso em O retorno e Isabela Figueiredo em Cadernos de memórias coloniais.

Duas vozes da nova geração literária de mulheres angolanas: Luaia Gomes Pereira e Djaimilia Pereira de Almeida[editar | editar código-fonte]

Luís Kandjimbo contribui para os estudos literários da diáspora africana ao comparar os efeitos dos romances escritos por mulheres negras em dois espaços diferentes: Luanda e Portugal. Analisa as práticas textuais de autoficção produzidas por duas escritoras angolanas, pertencentes à mesma geração literária: Luaia Gomes Pereira e Djaimilia Pereira de Almeida. A primeira em Todos nós fomos distantes e a segunda em Esse cabelo preocupam-se tanto em dar voz às figuras femininas quanto em tematizar o corpo da mulher “no espaço e nos lugares onde se inscreve”.[4]

Panorama (muito geral) da ficção narrativa moçambicana contemporânea[editar | editar código-fonte]

Fátima Mendonça reconstitui o processo de formação da literatura moçambicana contemporânea, a qual é marcada fortemente por narrativas que procuram estabelecer uma literatura nacional, a partir dos parâmetros estabelecidos pelo Partido Frelimo e pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), utilizando como procedimento o entrecruzamento entre fatos históricos e fatos fictícios e a inserção da oralidade no escrito. Muitas dessas obras reencenam o período da guerra pela independência (1964-1975) e o da guerra civil (1976-1992). Ao longo do ensaio, a autora comenta as condições de produção de obras publicadas de três gerações literárias, de 1970 até 2019, o que torna este ensaio um breve panorama desta literatura pós-colonial.

O “esquecimento da morte” ou a catábase em Nicodemos Sena e Calane da Silva[editar | editar código-fonte]

António Cabrita pesquisa minuciosamente a relação com a morte e o processo de saída do Inferno em dois livros contemporâneos de notável linguagem poética: a novela A Mulher, o Homem e o Cão, publicada em 2009, pelo escritor brasileiro Nicodemos Sena e o romance de formação Nyembète ou as Cores das Lágrimas, publicado em 2004, pelo escritor moçambicano Calane da Silva. O conceito fundamental deste ensaio é a ideia de uma catábase (descida aos infernos) às avessas, uma vez que em ambos os textos os protagonistas já se encontram numa região sombria e espectral.

O peso da batina: modulações do Bildungsroman em O Outro Pé da Sereia e A Rainha Ginga[editar | editar código-fonte]

Ana Ribeiro escolhe dois romances O Outro Pé da Sereia, do moçambicano Mia Couto, e A Rainha Ginga, do angolano José Eduardo Agualusa, que recriam literariamente períodos da história desses países marcados pela chegada dos portugueses ao território. Após estabelecer que a “evolução da personagem é uma condição necessária”[5] para que um texto seja considerado como romance de formação e vê-lo como fio comum entre os textos, analisa como os protagonistas inexperientes e jovens, durante suas viagens marítimas, são levados a questionar suas identidades e a passar por processos de transformação interior.

Ficção científica brasileira contemporânea: uma leitura sobre Braulio Tavares e Lady Sybylla[editar | editar código-fonte]

Cristhiano Aguiar discute a tendência e as implicações da categoria literatura fantástica e o lugar da ficção científica diante dessas classificações. A partir disso, perscruta dois contos contemporâneos da ficção científica brasileira “Cão 1 Está Desaparecido”, de Lady Sybylla, e “O Molusco e o Transatlântico”, de Bráulio Tavares, os quais, à sua maneira, retomam os tradicionais temas da distopia e da viagem espacial.

O molde oco: fôrmas e formas em Nuno Ramos[editar | editar código-fonte]

Clara Rowland analisa as figuras da sepultura, da exumação e do molde esvaziado no livro Ó, de Nuno Ramos, colocando-as em relação com a cena “a lenta exumação de um corpo”[6] do filme Viaggio in Italia, de Roberto Rosselini e com as obras plásticas do artista, como a instalação 3 lamas (ai pareciam eternas), na qual réplicas das casas em que viveu o artista são parcialmente afundadas em três lamas de cores diferentes, compondo uma paisagem posterior à chuva, quando a lama prevalece, conjugando, no chão, terra e água, para, talvez, melhor dissolver as formas.[7] Ao final do percurso, a autora formula a poética do livro com o termo “falso ensaio”[8] usado pelo escritor para definir o livro.

Rui Nunes e Maria Gabriela Llansol: nas margens da literatura[editar | editar código-fonte]

Maria João Cantinho analisa, por meio do escrutínio de suas obras, os aspectos que diferenciam o estilo de Maria Gabriela Llansol e o de Rui Nunes, escritores portugueses contemporâneos reconhecidos pela crítica e pela academia devido à “ousadia de desconstruir o paradigma clássico da narrativa”.[9] A partir da observação e interpretação dos procedimentos literários dos autores, estabelece os elementos que aproximam a obra de ambos e permite a formulação de uma nova poética baseada numa “estética do fragmento”.[10]

O livro ilustrado: um campo de experimentação em Angela Lago e Catarina Sobral[editar | editar código-fonte]

Maria Schtine Viana examina como a composição das páginas e das cores de Vazio, da portuguesa Catarina Sobral, contribui para a narrativa assim como os efeitos da circularidade da imagem e da palavra no livro Cena de rua, da brasileira Angela Lago, relacionando-as com outras obras das escritoras Além disso, comenta a intertextualidade que há entre o livro Tão tão grande e o Tampinha das respectivas autoras citadas. O pano de fundo desta análise está na contextualização a respeito das contribuições de John Dewey, Jean Piaget e Vigotsky sobre a educação e a aprendizagem da criança, as quais influenciaram a produção do mercado editorial de livros destinados a esse público e, por fim, na reflexão sobre a singularidade da imagem nos tipos de livro ilustrado.

Travessias imaginárias: literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva. A escrita ficcional cabo-verdiana contemporânea[editar | editar código-fonte]

Manuel Brito-Semedo traça a trajetória do movimento literário cabo-verdiano no século XX em diálogo com o processo de independência nacional. Elenca e comenta as principais obras que colocam em cena visões do movimento claridoso assim como as questões suscitadas pela democracia e o multipartidarismo propostos nos anos 1990. Apresenta também considerações a respeito das obras das vozes mais representativas da ficção cabo-verdiana e um quadro com a produção ficcional de 1999 a 2019.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Literatura comparada

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. FIGUEIREDO, Eurídice. Literatura Comparada: o Regional, o Nacional e o Transnacional. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v.1, n.23, Rio de Janeiro: Abralic, 2013, p. 45-46.
  2. MACIEL, Maria Esther. Em: Travessias Imaginárias:Literaturas de Língua Portuguesa em Nova Perspectiva. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020.
  3. GASPARINI, Philippe. Autoficção é o nome de quê?. Em: Noronha, Jovita Maria Gerheim (org.). Ensaios sobre a Autoficção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
  4. Kandjimbo, Luís. Em: Travessias imaginárias:literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 44.
  5. RODRIGUEZ FONTELA, María de los Ángeles. Poética da Novela de Autoformación: o Bildungsroman Galego no Contexto Narrativo Hispânico. Santiago de Compostela: Centro de Investigacións Linguísticas e Literárias Ramón Piñero, 1996, p. 164.
  6. ROWLAND, Clara. Em: Travessias imaginárias:literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva.. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 177.
  7. CORREIA, Maraíza Labanca. a mais: uma experiência de leitura dos restos em Nuno Ramos (2016). (Tese de Doutorado). Belo Horizonte: Faculdade de Letras UFMG, 2016, p. 83.
  8. ROWLAND, Clara. Em: Travessias imaginárias:literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva.. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 193-194.
  9. CANTINHO, Maria João. Em: Travessias imaginárias:literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva.. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 213.
  10. CANTINHO, Maria João. Em: Travessias imaginárias:literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 214.