Usuária:Leni.ribeiro/Catilinárias

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As Catilinárias (em latim In Catilinam Orationes Quattuor) são uma série de quatro discursos célebres do cônsul romano Marco Túlio Cícero, pronunciados em 63 a.C. contra o senador Lúcio Sérgio Catilina.

Oração de Cícero contra Catilina, de César Maccari.


História[editar | editar código-fonte]

Em 63 a.C., Marco Túlio Cícero ocupava o posto de cônsul, cargo máximo do Senado, quando descobriu que um de seus colegas organizava uma conspiração para assassiná-lo. O mentor do complô era o senador Lúcio Catilina.[1]

Após três tentativas frustadas de conquistar o Consulado, Catilina reuniu em torno de si um grupo de nobres militares com o objetivo de formar um exército, eliminar certos membros da aristocracia romana, deflagrar um golpe de Estado contra o Senado e tomar o controle do poder da República romana. Nesse período, a política de Roma girava em torno de dois polos centrais: de um lado, estavam os Conservadores, representantes e membros do grupo aristocrático, detentores de riquezas fundiárias e que dominavam os assentos do Senado; do outro, estava o Partido Popular, formado pelos representantes das demais forças sociais. Catilina pertencia a este segundo grupo e conseguiu conquistar diversos cargos que formavam o cursus honorum: foi questor em 76 a.C., pretor em 68 a.C. e em 67 a.C., foi nomeado governador da província da África. Após conseguir acumular recursos, mediante o auxílio de Crasso[2], pretendia lançar sua candidatura ao consulado no ano de 66 a.C.. Entretanto, por conta de uma acusação de extorsão feita por representantes africanos da província ao Senado em Roma, Catilina teve sua candidatura ao consulado suspensa. Era a primeira tentativa de eleger-se que se frustrava. Inclusive, nesse ano Cícero pensou assumir a defesa de Catilina no processo de extorsão. Futuro cônsul e futuro golpista estavam então em boa paz, apenas um ano antes de se transformarem em inimigos. Pouco mais de um ano antes da primeira Catilinária. [3]

Apesar do impedimento imposto a Catilina, o Partido Popular havia conseguido a indicação de dois de seus representantes. Mas, por conta de serem acusados de utilizarem processos eleitorais ilícitos, foram impedidos de assumir os cargos, sendo substituídos por dois partidários dos Conservadores. Tal fato constituiu mais um duro golpe às pretensões políticas dos membros do Partido Popular, que por isso organizaram uma conspiração onde estava prevista a morte dos dois cônsules indicados, Lúcio Mânlio Torquato e Lúcio Aurélio Cota, no dia em que tomassem posse dos cargos. Além disso, eles objetivavam apoiar a cadidatura de Catilina nas eleições consulares de 65 a.C.. Contudo, os planos foram descobertos, e a tentativa de golpe não se realizou.

Mesmo com o fracasso, Catilina, após se desvencilhar das acusações de corrupção na província africana, lançou mais uma vez sua candidatura nas eleições consulares de 64 a.C., com mais seis candidatos, sendo Marco Túlio Cícero um dos seus principais adversários. O resultado das eleições de julho de 64 a.C. concedeu a vitória à Cícero que tinha aliado-se a Marco Antônio contra a ferrenha campanha política de Catilina. Cícero, agora cônsul, mesmo propondo inicialmente uma política de coexistência pacífica com seus adversários, empreendeu uma forte oposição ao Partido Popular e, ao se aproximarem as eleições consulares de 63 a.C., Catilina reiniciou sua campanha eleitoral, proferindo ameaças contra a aristocracia. Porém, Catilina novamente não conseguiu se eleger e iniciou a sua conspiração contra o Senado.

Ao se inteirar dos planos de seu adversário, Cícero convocou uma reunião do Senado e proferiu o primeiro de seus quatro célebres discursos contra Catilina. A intervenção de Cícero se tornou um clássico da política e, mesmo passados dois mil anos, ainda hoje são repetidas as suas sentenças acusatórias contra Catilina, que fora flagrado em atitude criminosa. As acusações foram declaradas em pleno senado romano. [4]

O primeiro e o último destes discursos foram dirigidos ao Senado de Roma, os outros dois foram proferidos diretamente ao povo romano. Todos os quatro foram compostos para denunciar explicitamente Lúcio Sérgio Catilina. Após o confronto aberto por Cícero no senado, Catilina resolveu afastar-se do cargo, indo juntar-se a seu exército ilícito para armar uma defesa.

No ano seguinte, em 62 a.C., o rebelde falhado, além de ter sido declarado como traidor, acabou por cair, vindo a morrer no campo de batalha após ser cercado por legiões.


Trecho do primeiro discurso das Catilinárias[editar | editar código-fonte]

Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)? (Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?).[5]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Últimos suspiros da República romana História viva. Página visitada em 28 de fevereiro de 2013.
  2. WOLF, Roberto G. Conjuração de Catilina. São Paulo: Paumape, 1995.
  3. WOLF, Roberto G. Conjuração de Catilina. São Paulo: Paumape, 1995.
  4. TAVARES, André Luiz Cruz. A presença da história antiga nos compêndios didáticos de história da primeira república e a construção identitária nacional Página visitada em 14 de março de 2013.
  5. CÍCERO. Exórdio: Cícero censura a vergonhosa audácia de Catilina. In Primeira oratória de Cícero contra Catilina ou Oratio Prima (Habita in Senatu). 8 de novembro de 63 a.C.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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