Usuário(a):Beatriz N Queiroz/Testes

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Raul Amaro Nin Ferreira
Beatriz N Queiroz/Testes
Nascimento 2 de junho de 1944
Rio de Janeiro
Morte 11 de agosto de 1971 (27 anos)
Rio de Janeiro
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Joaquim Rodrigo Nin Ferreira
  • Mariana Lanari Ferreira
Alma mater
Ocupação engenheiro

Raul Amaro Nin Ferreira (Rio de Janeiro,2 de junho de 1944 - Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1971) - filho de Mariana Lanari Ferreira e Joaquim Rodrigo Nin Ferreira, formado em engenharia mecânica com especialização em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da universidade Católica do Rio de Janeiro. Fez um curso de aperfeiçoamento em Engenharia Econômica, na PUC-RJ. Trabalhava no Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), no Ministério da Indústria e Comércio. Estudioso de problemas econômicos, participou quando estudante de grupos da Democracia Cristã. Em 1964 ,representou a delegação brasileira em um Congresso no Peru. Em 1966 foi convidado pelo Departamento de Estado Americano para o Congresso da Universidade Notre Dame, U.S. Foi morto durante a ditadura militar após sofrer diversas torturas orquestradas pelos órgãos de repressão da época (DOPS).[1][2]

É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, uma entidade criada pelo governo brasileiro que apura mortes e desaparecimentos ocorridos durante o regime militar.[3][1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Raul Amaro Nin Ferreira, filho de Mariana Lanari e Joaquim Rodrigo, nasceu no dia 02 de junho de 1944 na cidade do Rio de Janeiro. Se especializou em Engenharia de Produção na PUC-RJ.Durante a sua formação representou o Brasil em congressos pela America Latina e nos EUA.[1]

Foi militante do Movimento Revolucionário de 8 de Outubro e lutava contra a opressão vivida durante a ditadura. Durante sua formação participou de grupos de estudos econômicos porque era contra a tortura e a desumanidade que vivia a população no país. [1]

Foi preso durante uma blitz militar em 01 de agosto de 1971 e foi torturado durante 12 dias na sede do DOPS-Codi do Rio de Janeiro e no Hospital Central do Exército. Debilitado, Raul Amaro Nin Ferreira morreu em 12 de agosto de 1971 no HCE vítima das opressões da ditadura militar.[1]

Prisão[editar | editar código-fonte]

Em 31 de julho de 1971, Raul e um casal de amigos do trabalho, Saindin Denne e Yone da Silva Denne saíram de uma festa e estavam indo para o bar Castelinho, onde continuaram as comemorações. O carro foi parado por uma blitz do exército, na entrada do Leme. Tanto ele como os colegas não tinham carteira de trabalho e identidade do rapaz era antiga, explicaram ao policiais que eram técnicos do Ministério de Indústria e Comércio e que não usavam carteira de trabalho, após identificação foram liberados. Saíram do restaurante, por volta de uma e meia da madrugada, 01 de agosto. Foram parados pela blitz pela segunda vez, na rua Ipiranga, no bairro das Laranjeiras essa intitulada “Pará-Pedro”. Os agentes revistaram o carro e encontraram alguns mapas consideraram os pertences suspeitos e prenderam Raul e o casal de amigos que o acompanhavam. Raul foi encaminhado segundo documentos do Serviço Nacional de Informações (SNI), para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS-GB), onde permaneceu preso até a manhã do mesmo dia.[1][3]

No começo da tarde os agentes que tinham como líder da missão Mário Borges, foram até a casa do pais de Raul, localizada na Gávea para fazer buscas no local, mas descobriram que o rapaz não morava ali e sim sozinho em um apartamento em Santa Teresa. Ao chegarem no apartamento localizado na rua Santa Cristina, 46, sendo acompanhados pelos pais do rapaz que foram proibidos de entrar no local, até mesmo seu cunhado advogado. Revistaram o local e encontraram segundo eles materiais suspeitos, como transmissores de rádio, panfletos referentes ao Movimento Revolucionário de 8 de Outubro (MR-8) e do Movimento Universitário de Resistência à Ditadura (MURD). Os agentes saíram do local à noite levando Raul algemado e se recusaram a informar o seu destino.[1][3]

Circunstância da Morte[editar | editar código-fonte]

Entre a noite do dia primeiro para a madrugada do dia 02 de agosto de 1971, Raul passou pela “Declaração do Interrogado” realizada pelo agentes do DOI-Codi, do I Exército. Retornou ao DOPS após quatro horas do término da revista em sua casa e foi reconhecido por outros presos políticos como Aquiles Ferrari e Alex Polari de Alverga.[1]

No dia 3 de agosto de 1971, foi interrogado novamente pelos agentes do DOI-CODI e submetido a espancamentos e outras agressões. Em 4 de agosto de 1971 foi transferido para o Hospital Central do Exército( HCE) por recomendação médica e devido o seu estado físico. Novamente em 11 de agosto de 1971 foi submetido a um novo interrogatório nas dependências do Hospital sob tortura. Veio a óbito em 12 de agosto de 1971 em decorrência das torturas que sofreu no DOI-Codi e no HCE. A família de Raul foi informada de sua morte no dia 12 de agosto de 1971 após um telefonema do diretor do HCE, general Rubens do Nascimento Paiva. Seu corpo foi liberado de madrugada após autópsia realizada Doutor Rubens Pedro Macuco Janine, seu tio-avô, Manoel Ferreira médico legista tentou acompanhar o procedimento mas foi impedido. Raul Amaro foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.[1]

Imprensa[editar | editar código-fonte]

A morte de Raul Amaro Nin Ferreira foi informada em nota no jornal O Globo em sua edição de 27 de agosto de 1971.[1]

Relatos[editar | editar código-fonte]

Segundo relatos de Alex Polari, Raul retornou ao DOPS  andando e falando, mas bem debilitado.[1]

O ex comandante do Centro de Operações de Defesa Interna (Codi) do I Exército, Adyr Fiúza de Castro afirma em depoimento no livro “Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão”, que Raul foi chicoteado com fios no DOPS.[2][1]

Marco Aurélio Magalhães, ex-soldado que serviu o 1º Batalhão de Polícia do Exército afirmou em depoimento prestado que viu Raul caído e espancado na sala de interrogatório e com o corpo coberto por hematomas. Disse ainda que Raul havia sido interrogado pelo capitão do DOI-CODI e um sargento da unidade. Completou seu testemunho afirmando que ouviu de um colega de trabalho que assistiu o depoimento do rapaz e que esse foi espancado na parte genital e na barriga e que a última vez que o viu ele estava despido e coberto por uma manta enquanto era examinado pelo médico da unidade que recomendou a sua transferência para o Hospital Central do Exército, afirmando que Raul estava morrendo. A impressão que o ex-soldado teve era de que Raul estava desmaiado e que utilizaram magneto para produzir choque elétrico e um cassetete de madeira.[2]

Investigações[editar | editar código-fonte]

O apartamento de Raul, localizado na cobertura, sofreu dias antes um assalto no momento em que ele estava no serviço e no dia em que sua empregada não trabalhava. Roubaram apenas o gravador, fitas, uma vitrola portátil e um casaco de camurça.[2]

Sua mãe, Mariana Lanari Ferreira retornou ao HCE em 17 de agosto de 1971 para saber como seu filho foi tratado durante a estadia no local. O diretor General Rubens a recebeu e lhe deu alguns detalhes. Conversou com o enfermeiro Pedro Hito que cuidou do seu filho, mas não conseguiu conversar com o enfermeiro Miguel que segunda suas fontes tinha o afeto de seu filho. Soube que seu filho deu entrada no hospital com pressão 10 e 6 e passou nos outros dias para 11. Foram feitas radiografias e exames de sangue. Raul não se alimentava direito porque vomitava muito. Tomou soro, antibiótico e anti-inflamatórios. Foi atendido por um gastroenterologista e acharam desnecessário a análise de um cardiologista no caso. Melhorou um pouco e dois dias depois piorou novamente. Na quarta-feira (11 de agosto de 1971) segundo informações do enfermeiro Raul não conseguia andar e foi amparado ao banheiro pela manhã e quando voltou tinha uma tosse suspeita, o diretor disse que acho que a tosse era decorrente de um problema cardíaco.  Foi realizado um novo exame de sangue que destacou uma queda das hematias e uma alta dos glóbulos brancos. Aplicaram outra dose de sangue e lhe submeteram a uma transfusão de sangue. O diretor afirmou que saiu mais tarde do hospital desse dia e que deixou recomendações ao médico de plantão sobre o caso de Raul, chegou a chamar um cardiologista pela manhã porque se dizia preocupado. Ao chegaram na enfermaria pela manhã do dia 12 de agosto de 1971, o diretor e o enfermeiro encontraram Raul com falta de ar e implorando por clemência. Em sua palavras: “Tire-me deste horror, Pedro”. A cama foi levantada e colocado oxigênio. Segundo relatos, não houve assistência naquela noite e que o hospital possuía 1.200 leitos e apenas um médico de plantão. O enfermeiro conta que Raul permaneceu lúcido e morreu no início da tarde durante um breve refeição. Mariana ainda conta em depoimento que tanto no dia da morte quanto na visita uma semana depois o diretor do Hospital Central do Exército, General Rubens se mostrou preocupado em tirar o seu nome da reta, afirmando que não tinha responsabilidade nenhuma pela morte e que apenas cumpria ordens.[2][1]

Em 11 de agosto de 2014, o Doutor Nelson Massini apresentou o “Parecer Médico Legal sobre a Tortura e Morte de Raul Amaro Nin Ferreira nos Anos de Chumbo” em audiência pública organizada pela CEV-Rio e pelos familiares da vítima. Nele se comprova que Raul foi torturado durante sua prisão no DOI-CODI e no interior do HCE. Aponta ainda uma diferença entre a quantidade de lesões descritas no exame feito no Hospital Central do Exército e às descrita no exame cadavérico, indicando que o rapaz sofreu novas lesões após dar entrada no HCE. o doutor conclui que as lesões são oriundas de sofrimento físico, ou seja, tortura como alegava a família.[2][1]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Em junho de 2014, familiares de Raul Amaro Nin Ferreira plantaram uma árvore em sua homenagem na Vila dos Diretórios, na PUC-RJ, a iniciativa foi organizada pelo Centro Acadêmico de História da PUC-RJ e contou com a presença de familiares, amigos e membros da comunidade acadêmica. [4]

Um documentário intitulado " Tire-me desse horror, Pedro" tinha sido aprovado pela Ancine em 2014, mas foi cancelada pela mesma sem causa específica. O longa contaria com base no dossiê feito pela família os últimos doze dias do jovem que faleceu durante a ditadura militar. [4][5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n «Raul Amaro Nin Ferreira». Memórias da Ditadura. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  2. a b c d e f «Raul Amaro Nin Ferreira - Acervo Pessoal». Armazém Memória. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  3. a b c «Raul Amaro Nin Ferreira». Desaparecidos Políticos. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  4. a b Ferreira, Paula (2 de junho de 2014). «Em homenagem na PUC-RIO familiares de militantes mortos pela ditadura plantam árvore». O Globo. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  5. «Tire-me desse horror!». Ancine. Consultado em 22 de novembro de 2019