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Azucena Villaflor de De Vincenti (Avellaneda, 7 de abril de 1924 - Buenos Aires, dezembro de 1977) foi uma ativista social e política argentina, uma das fundadoras do movimento Mães da Praça de Maio, grupo devotado a encontrar familiares desaparecidos durante o regime ditatorial militar argentino, instalado em 1976.


Azucena Villaflor De Vincenti
Nascimento 07 de abril de 1924
Avellaneda
Morte Dezembro de 1977

(Voo da Morte)

Parentesco Emma Nitz (mãe)

Florentino Villaflor (pai)

Cônjuge Pedro De Vincenti
Filho(a)(s) Adrián De Vincenti

Cecilia De Vincenti

Néstor De Vincenti

Pedro De Vincenti

Ocupação ativista política e social

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Filha da imigrante Emma Nitz e de Florentino Villaflor, Azucena Villaflor nasceu em 07 de abril de 1924 e foi criada no bairro de Avellaneda, na Argentina. Sua família paterna tinha laços com o peronismo: seu tio Anibal Villaflor participou da marcha de 17 de outubro de 1945 [1]. que ocorreu na Praça de Maio, exigindo a libertação de Juan Perón; alguns de seus primos eram ligados às forças armadas peronistas.

Com pouca escolaridade e poucas posses, aos 15 anos começou a trabalhar numa fábrica; aos 16 trabalhou como secretária numa empresa de eletrodomésticos, onde conheceu Pedro De Vincenti; casou-se com ele em 1949, se dedicou a ser dona de casa e teve quatro filhos: Pedro, Nestor, Adrián e Cecilia de Vincenti. Sua atuação como ativista político-social aconteceu motivada pelo desaparecimento de seu filho Néstor, orquestrado pelo governo vigente.

Contexto Histórico: Ditadura Militar Argentina[editar | editar código-fonte]

Em março de 1976, a Argentina sofreu um golpe político militar, autodenominado Processo de Reorganização Nacional[2], rompendo o governo de Isabelita Perón (marcado por uma crise institucional e econômica) e estabelecendo uma Junta Militar no poder. Uma intervenção militar argentina não era inédita. Anos antes, em 1966, o general Juan Carlos Onganía encabeçou a chamada Revolução Argentina; a experiência fracassou e rapidamente foi restaurado o poder civil em 1970, com o terceiro mandato de Juan Domingo Perón em 1973. Além desta, existiram outras tentativas, em 1930, 1943,1955 e 1962.

A tomada de poder em 1976 foi orquestrada por membros das três Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea), comandada pelos generais Jorge Videla, Emilio Massera e Orlando Agosti. Contra o populismo, essa ditadura foi marcada pela destituição de partidos, pela repressão às mídias e pela violência e abusos aos direitos civis, com torturas e assassinatos daqueles que eram considerados subversivos. Muitos dos filhos dos presos eram entregues à famílias de militares, com identidades alteradas[3]. Inúmeros campos de concentração e centros de detenção e execução foram criados, onde eram mantidos os inimigos políticos do governo. A atuação era legitimada pela argumentação de impedir grupos guerrilheiros, mas eram capturados muitos outros indivíduos, como estudantes, religiosos, operários, entre outros.[4]

Villaflor e as Mães da Plaza de Mayo[editar | editar código-fonte]

No dia 30 de novembro de 1976, Néstor De Vincenti e sua noiva Raquel Mangin foram sequestrados, o que levou sua mãe Azucena Villaflor procurar por eles incessantemente. Néstor era estudante e membro do Partido Justicialista e foi denunciado por fazer parte da organização. Néstor e Raquel haviam sido capturados pela Junta Militar, responsável por um regime que ficou conhecido como Guerra Suja na Argentina. Azucena tentou localizar seu filho em hospitais e prisões e, ao não encontrar vestígios de seu paradeiro, dedicou-se a entrar em contato com órgãos do governo, como o Ministério do Interior, sem contudo encontrar respostas convictas.

Lenço branco, símbolo do movimento Mães da Praça de Maio

Após meses com resultados falhos, Villaflor decidiu unir forças com outras mulheres que também buscavam familiares desaparecidos, organizando uma série de encontros. Azucena percebeu que só a ação coletiva poderia pressionar o governo militar a dar algum retorno oficial. O movimento resultante dessa união feminina em busca de seus filhos sequestrados pelo governo ficou conhecido como Mães da Praça de Maio, sendo Azucena uma das líderes mais enérgicas. Ela propôs que o grupo entregasse uma petição ao governo para que eles contassem o paradeiro dos desaparecidos:

Uma mulher, muito decidida, nos disse “temos que ser muitas e entrar juntas na Casa de Governo para que nos contem o que aconteceu aos nossos filhos ”. Ela era Azucena. (fala de María del Rosario Carballeda de Cerruti, uma das mães da Praça de Maio, tradução livre)[5]

Em 30 de abril de 1977, Azucena e outras 14 mães reuniram-se num protesto localizado na Praça de Mayo, no centro de Buenos Aires, em frente à Casa Rosada. Realizavam ali marchas em círculos, diante da ordem de não parar ou de se agruparem: as manifestações grupais contra o governo eram proibidas, mas o ato de circular em espaço público não era ilegal. Ações como essa se tornaram frequentes, às 15:30 de todas as quintas-feiras. O uso dos lenços brancos na cabeça se tornou constante, primeiro para facilitar a identificação; depois o lenço ganhou valor simbólico desta luta feminina. Azucena e outros duas mães tiveram uma reunião com o general Albano Harguindeguy, após pressionaram o governo com seus protestos. O militar disse que nada sabia e que talvez os filhos e filhas teriam sumido por conta própria, tendo deixado o país - resposta que não foi aceita pelas mães. Villaflor e o grupo chegaram a se encontrar com Cyrus Vance, na época Secretário de Estado dos EUA, e entregaram a ele petições acerca dos familiares desaparecidos com o intuito de expôr internacionalmente o que acontecia dentro das fronteiras argentinas. Neste momento, Azucena mostrou novamente sua bravura:

Uma mulher veio ao meu lado e disse: “O quê? Você não deu a ele sua petição?" Ela pegou o pedaço de papel das minhas mãos, voltou através da barreira de soldados que protegiam Vance e deu-lhe a mensagem. Era Azucena Villaflor De Vincenti. Naquele dia, a Azucena me mostrou que éramos capazes de fazer coisas que jamais havíamos imaginado. Todos nós sabíamos que estávamos arriscando nossas vidas. Mas não havia outra maneira. (fala de uma das mães da Praça de Maio, tradução livre)[6]

As mães dos desaparecidos se reuniam em delegacias, cafés, igrejas, para debaterem o paradeiro dos filhos sequestrados pelos militares. O movimento se expandiu para além de Buenos Aires: criou-se um rede de contatos pela Argentina. Apareciam para as câmeras implorando pela volta dos filhos, com fotos e placas, bradando slogans como "Com vida os levaram, com vida os queremos". Buscavam conseguir informações com o governo, recebendo silêncio ou descaso, enquanto o Estado negava a responsabilidade dos casos. As mães eram ameaçadas e chamadas de Las Locas de Plaza de Mayo, com o objetivo de desacreditar seus ideais. Com toda sua atuação, as mães começaram a afetar o governo ditatorial, colocando holofotes nessa questão que eles buscavam encobrir.[7]

As mães se organizam, fazem assembleias, constroem uma rede de comunicação. Quase todas são donas de casa, mas aprendem a se mexer escondidas, eles enganam os repressores. Eles militam e cuidam dos netos, pedem habeas corpus em uma avalanche para que bloqueiem os Tribunais. As cartas que vão para diferentes instituições que pedem ajuda, todas têm o mesmo remetente: o endereço da casa da Azucena. (tradução livre) [8]

Desaparecimento e Morte[editar | editar código-fonte]

Um grande baque ao movimento aconteceu em dezembro de 1997, quando as Mães da Praza de Maio fizeram uma nota, pedindo explicações do sumiço de seus filhos em um jornal conservador argentino. Elas buscaram arrecadar os fundos necessários para a publicação, reunindo-se na Igreja de Santa Cruz. Resultante deste encontro, várias participantes do grupo foram apanhadas:

Sofremos todos os tipos de violência, todos os tipos de ameaças. Três mães foram levadas em 1977: Azucena Villaflor, Esther Careaga e María Ponce de Bianco. As duas últimas foram sequestradas na Igreja de Santa Cruz à minha frente, fui testemunha, e a Azucena Villaflor foi raptada na esquina da sua casa em 10 de dezembro de 1977. (fala de María del Rosario Carballeda de Cerruti, uma das mães da Praça de Maio, tradução livre)[9]

No dia 8 de dezembro, algumas mães foram sequestradas na Igreja de Santa Cruz. Azucena, contudo, estava na casa de Emilio Mignone, advogado e defensor dos direitos humanos, trabalhando justamente na publicação da nota com outras mães, assustadas com a captura das colegas. No dia 9 de dezembro, elas entregaram o trabalho feito para que ele fosse publicado. No dia seguinte, 10 de dezembro de 1977, Azucena Villaflor foi sequestrada por um grupo armado comandado por Alfredo Astiz, um oficial do exército outrora infiltrado no grupo das Mães da Praça de Maio, reconhecido hoje como o anjo loiro da morte.[10]

Os familiares, principalmente o marido de Azucena Villaflor, tinham esperanças que a mulher fosse solta, mas tudo que receberam sobre o desaparecimento da esposa e mãe foi silêncio. Ela foi levada à um centro de tortura da Escola de Mecânica da Armada: era tudo que a família Villaflor sabia. Eles não tiveram o direito de descobrir o que aconteceu com Azucena, muitos menos a possibilidade de sepultar e velar a matriarca.

Mães da Praça de Maio colocam flores na placa de Azucena Villaflor - Foto Daniel Garcia/AFP

Meses depois, alguns corpos foram encontrados na costa do Atlântico, perto de Santa Teresita e de Mar del Tuyú na província de Buenos Aires e enterrados como desconhecidos numa cidade vizinha[11]. Em 2003, como consequências das ações da CONADEP (que buscava investigar as inúmeras violações dos direitos humanos ocorrida entre 1976-1983 bem como o destino dos desaparecidos), os corpos foram recuperados no cemitério de General Lavalle.

Somente em 2005 os restos de Azucena Villaflor foram exumados e identificados dentre esses corpos, juntos com os de Léonie Renée Duquet, uma freira que também foi capturada na ação na Igreja de Santa Cruz, e os de outras três mães. Os corpos foram analisados pela Equipe Argentina de Antropologia Forense: eles mostravam fraturas consistentes com as de alguém lançadas do alto, provavelmente contra água. Ficou provado que Villaflor teria sido imposta à um dos “voos da morte”, comuns no regime ditatorial argentino para descartar seus desafetos políticos: as vítimas eram drogadas, despidas, colocadas em um avião e atiradas ao mar. Após a identificação, os restos mortais de Azucena foram cremados e parte das cinzas foram espalhadas na Praça de Maio, onde uma placa foi instalada para recordar sua memória.

Legado[editar | editar código-fonte]

“Foi um momento difícil para nós, mas nós não estávamos quebradas. Eles pensaram que havia apenas uma Azucena, mas não havia apenas uma. Havia centenas de nós.” (fala de uma das mães da Praça de Maio, tradução livre).[12]

Mesmo após seu sequestro e assassinato, o grupo da qual Villaflor foi uma das fundadoras continuou com suas reivindicações e atraiu atenção mundial para a causa, tornando-se um organização formal em 1979, sendo nominado para o prêmio Nobel da Paz em 1980 e ganhando o Prêmio Sakharov de Liberdade de Pensamento em 1992.

Presidenta Cristina Fernandez, Premio Azucena Villaflor a Julio Morresi

Hoje, Azucena Villaflor é o nome de escolas e também de ruas na Argentina, inclusive à de uma próxima a Praça de Maio. [13]

Em homenagem à mobilização de Villaflor na luta pelos direitos humanos, um pequeno coletivo feminista foi chamado de La Casa de la Mujer Azucena Villaflor, na cidade de la Plata, cuja origem remonta o final da década de 1980. Seu impacto político é focado no âmbito universitário e na militância política local.[14] [15].

Em 2003, através do decreto n°1.200, o Ministerio de Justicia, Seguridad y Derechos Humanos da Argentina instituiu o prêmio anual Azucena Villaflor de De Vincenti, concedido à cidadão ou entidade que se dedicaram na defesa dos direitos humano.[16]

Ver Também[editar | editar código-fonte]

Sugestões de Leitura[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CASTELLI, Natacha Dias. Memórias de pais de desaparecidos políticos argentinos, um diálogo das telas para a história. Porto Alegre: Aedos, v.7, n.16, p.508-513, 2015.
  • MCFARLAND, Sam. Azucena Villaflor, the Mother of the Plaza de Mayo, and Struggle to End Disappearances. International Journal of Leadership and Change, vol. 6, p. 57-66.
  • MOLINARI, Bárbara. Dos modos de protagonismo femenino en el siglo XX finisecular. La Plata, V Jornadas de Sociología de La UNLP, 2008.
  • MOLINARI, Bárbara. La construción de una identidad colectiva feminista: el caso de la Casa de la Mujer Azucena Villaflor. I Jornadas CINIG de Estudios de Género y Feminismos, 2009.
  • NAVARRO, Marysa. The personal is political: Las Madres de Plaza de Mayo. In: ECKSTEIN, Susan (orgs.). Power and Popular Protest: Latin American Social Movements. Califórnia, 2001.
  • NEIBURG, Federico G. O 17 de outubro na Argentina: Espaço e produção social do carisma.
  • NOVARO, Marcos; PALERMO, Vicente. A Ditadura Militar Argentina 1976-1983: Do golpe de Estado à Restauração Democrática. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
  • OBLIGADO, Clara. Azucena Villaflor, la madre del pañuelo blanco. Asparkia, 17. 2006, p.231-239.
  • QUADRAT, Samantha Viz. Aparição com vida: As Madres de Plaza de Mayo e a luta por justiça. Niterói, v.3, n.1, p. 111-122, 2002.
  • Testimonio de Lydia Stella Mercedes "Taty" Miy Uranga de Almeida. Entrevista realizada en la Biblioteca Nacional, 2012.
  • Testimonio de María del Rosario Carballeda de Cerruti. Entrevista realizada en la Biblioteca Nacional, 2012.
  • Testimonio de Nora Cortiñas. Entrevista realizada en la Biblioteca Nacional, 2012.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. NEIBURG, Federico G. O 17 de outubro na Argentina: Espaço e produção social do carisma.
  2. NOVARO, Marcos; PALERMO, Vicente. A Ditadura Militar Argentina 1976-1983: Do golpe de Estado à Restauração Democrática. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
  3. http://temas.folha.uol.com.br/40-anos-do-golpe-militar-na-argentina/24-de-marco-de-1976/ditadura-deixou-como-legado-o-consenso-sobre-democracia.shtml
  4. http://www.usp.br/memoriaeresistencia/?page_id=239
  5. https://www.bn.gov.ar/uploads/transcripciones/maria-del-rosario-cerruti.pdf Villaflor.
  6. Rita Arditti, Searching for Life: The Grandmothers of the Plaza de Mayo and the Disappeared Children of Argentina. (Berkeley, CA, University of California Press,1999), p. 53.
  7. https://www.politize.com.br/ditadura-argentina-maes-praca-maio/
  8. OBLIGADO, Clara. Azucena Villaflor, la madre del pañuelo blanco. Asparkia, 17. 2006, p.235
  9. https://www.bn.gov.ar/uploads/transcripciones/maria-del-rosario-cerruti.pdf
  10. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10/prisao-perpetua-para-astiz-na-argentina.html
  11. https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/09/internacional/1512826383_129100.html
  12. Fisher, Jo. Mothers of the Disappeared (Boston: South End Press, 1989), p.89,
  13. https://www.google.com/maps/place/Azucena+Villaflor,+Buenos+Aires,+Argentina/@-34.6116189,-58.364654,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x95a335282b21f1fb:0x12e9b7417e9cabf1!8m2!3d-34.6116233!4d-58.3624653
  14. MOLINARI, Bárbara. La construción de una identidad colectiva feminista: el caso de la Casa de la Mujer Azucena Villaflor. I Jornadas CINIG de Estudios de Género y Feminismos, 2009
  15. MOLINARI, Bárbara. Dos modos de protagonismo femenino en el siglo XX finisecular. La Plata, V Jornadas de Sociología de La UNLP, 2008
  16. http://www.saij.gob.ar/legislacion/decreto-nacional-2313-2012-premio_anual_azucena_villaflor.htm?39