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Cine Ipiranga
Prédio completo do Cine Ipiranga e Hotel Excelsior visto de lado, São Paulo (SP)
Prédio completo do Cine Ipiranga e Hotel Excelsior visto de lado, São Paulo (SP)
Uso atual Patrimônio Histórico
Rede Exibidora Playarte
Localização Av. Ipiranga, 786, Centro, São Paulo
Inauguração 07 de abril de 1943
Fechamento 09 de fevereiro de 2005
Capacidade 1.936 assentos


O Cine Ipiranga foi uma sala de cinema de São Paulo, localizada no centro da cidade, na Avenida Ipiranga, esquina com a Avenida São João, sob o número 786. Inaugurada em 1943 e projetada pelo arquiteto brasileiro Rino Levi (1901-1965), seu funcionamento foi até 2005, quando a empresa responsável pela sala à época, a Alvorada, anunciou o encerramento de suas atividades [1]. Em 2014, o edifício, que comportou tanto o antigo Cine Ipiranga quanto o antigo Hotel Excelsior, passou pelo processo de tombamento e foi declarado como patrimônio histórico do estado de São Paulo.

História[editar | editar código-fonte]

A sala foi projetada pelo arquiteto brasileiro Rino Levi e tinha capacidade para receber até 1.936 espectadores por sessão, distribuidos entre balcão, plateia e pullman. Em cima do cinema, localizado na avenida Ipiranga, uma das mais importantes de São Paulo, foi construído um prédio, que se tornou o Hotel Excelsior.[2][3][4]

Inaugurado oficialmente em 7 de abril de 1943 com o filme Seis Destinos, de Julien Duvivier, o Cine Ipiranga tornou-se um dos principais cinemas paulistanos. A sala pertenceu na maior parte de sua história ao circuito da Empresa Cinematográfica Serrador (que havia sido fundado pelo empresário Francisco Serrador). Com a decadência deste circuito, o Ipiranga passou a ser controlado pelo grupo Alvorada.

No final da década de 1970, a sala de 1.936 lugares foi dividida em duas. Em fevereiro de 2005, o cinema teve suas atividades encerradas.[5] O grupo responsável pela administração da sala divulgou, no dia 9 de fevereiro de 2005, um comunicado em que não informava os motivos, mas anunciava o encerramento de suas atividades [5].

O valor arquitetônico do Cine Ipiranga é tão relevante que, em 2009, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo, o Conpresp, tombou os espaços internos e as relações espaciais e arquitetônicas existentes entre os elementos que os compõem, incluindo a galeria de entrada, o saguão das bilheterias, as salas de espera e a sala de projeção [1] [6]. A medida que alguns anos depois tombou o edifício por completo e em nível estadual, desta vez pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, o Condephaat, que já havia sido autorizada em sessão de 25 de outubro de 2010, só foi oficializada em 2014 [7]. De acordo com o texto do documento que reconheceu o valor histórico do bem e o tornou patrimônio oficial público, instituindo sobre ele um regime jurídico especial de propriedade, o prédio é exemplar no que diz respeito à arquitetura moderna e é caracterizado por sobrepor, em um terreno pequeno, “uma grande torre de hotéis e uma monumental sala de cinema, ambos representativos de programas inovadores e característicos de meados do século 20 em São Paulo” [8].

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

Por mais de trinta anos, o cinema foi uma das maiores formas de recreação coletiva em São Paulo. Por atrair as pessoas independentemente de características como idade e sexo - crianças, jovens, velhos, homens e mulheres frequentavam as salas de cinema indiscriminadamente -, registros apontam que nem mesmo a inauguração do Estádio Municipal do Pacaembu, em 1940, causou efeito maior sobre a população, já que tratava-se de um programa exclusivamente adulto e masculino, ao passo que o cinema era para todos [9].

No que diz respeito à arquitetura, um dos pontos mais abordados no processo de tombamento do edifício para justificar a sua classificação enquanto patrimônio histórico, pode-se dizer que ela é inovadora e representa um importante marco no processo de modernização da cidade de São Paulo [10].

Arquiteto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Rino Levi

Rino Levi foi um arquiteto e urbanista brasileiro, filho de de imigrantes italianos. Em 1921, ingressa na Escola Preparatória e de Aplicação para os Arquitetos Civis em Milão, na Itália. É conhecido pelo seu pioneirismo na reivindicação por uma arquitetura moderna no Brasil. Condizente com as posições da escola romana, propõe uma modernização sem rupturas com a tradição clássica. Em 1927, um ano após retornar ao país de origem, inicia uma carreira independente, projetando pequenas residências e conjuntos de casa de aluguel para membros da comunidade italiana paulista [11].

Sua primeira obra moderna realizada é o Pavilhão da L. Queiroz na Feira de Amostras do Parque da Água Branca, em 1931. Cinco anos depois, em 1936, a construção do Cine Ufa-Palácio lhe traz oportunidades para um novo programa em decorrência da aplicação bem sucedida de princípios de acústico no ambiente. Para além dos cinemas, foi responsável pela projeção de diversos edifícios residenciais e comerciais, galpões e hospitais, além de ter contribuído na organização de uma proposta de reelaboração do ensino na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde lecionou até 1959. Seu último projeto é o Centro Cívico de Santo André, ganhador de um concurso público em 1965, ano de sua morte [11].

Características arquitetônicas[editar | editar código-fonte]

Fachada do Cine Ipiranga

Na área central de São Paulo, em meados do século XX, um edifício de programa complexo foi projetado: um cinema de quase 2.000 lugares e um hotel de 200 quartos coexistindo sobre um terreno relativamente pequeno, interligados por uma grande área de acesso aos dois. No que diz respeito à engenharia do projeto, ele realizou um grande feito no sentido de permitir a sobreposição da torre de apartamentos sobre a sala de espetáculos sem interferência do apoio da estrutura no espaço. Para evitar colunas na sala de cinema, as vigas de grandes dimensões são responsáveis por exercer a transição [12].

O interior da sala de cinema é composto por uma platéia e dois balcões. O que os antecede é um amplo saguão com escadaria grandiosa. A arquitetura do lugar é marcada por linhas geométricas, curvas sinuosas, revestimentos de mármore, luminárias e corrimãos metálicos. O lado de fora do prédio, por sua vez, é marcado pela ortogonalidade dividida em segmentos que harmonizam-se entre si. Na torre predomina uma faixa com grelha de padrão quadrado em que se dispõem os balcões dos quartos. Sob a grelha dos balcões, um reticulado de mesma base é preenchido por janelas, envoltas por elementos cerâmicos vazados em segmento, correspondente à estética do restaurante do hotel. Uma grande marquise ladeada por dois elementos verticais divide esse trecho do pavimento térreo, caracterizado por uma sequência de colunas gigantes que anunciam o acesso ao edifício pela Avenida Ipiranga [12].

As características que marcam o momento histórico de grande exaltação das salas de cinema no contexto urbano são os detalhes ornamentais, as luminárias e os painéis, situados em espaços grandiosos e cenográficos. Ainda que a atenção aos detalhes possa ser vinculada à aura estética que paira sobre a própria produção cinematográfica hollywoodiana dos anos 1940, é inegável que esses elementos pertencem a uma ordem geometrizada e de linhas puras presente em toda a produção do arquiteto. O Cine Ipiranga é parte da série de salas de espetáculo projetados por Rino Levi (1901-1965). Ao lado desta, estão outros destaques como o Cine Art-Palácio, inaugurado como Ufa-Palace, a partir do qual os princípios aplicados à acústica do ambiente lhe renderam outras oportunidades para projetar cinemas: Cine Universo (1936), Cine Art-Palácio de Recife (1937) e o Teatro Cultura Artística (1942) [12].

Com o processo de tombamento, é recomendada a preservação integral da sala de cinema Ipiranga, cuja concepção original, até agora, foi conservada em grande parte. Detalhes de corrimão e luminária, por exemplo, permanecem intactos. O Hotel Excelsior, que também faz parte da obra, tem preservadas suas fachadas externas, que apresentam características fundamentais de arranha-céu vinculado à arquitetura moderna. Ainda assim, o interior do hotel já sofreu reformulações e adaptações, incluindo a renovação dos quartos e banheiros, nos quais materiais novos já foram utilizados [10].

Significado histórico e cultural[editar | editar código-fonte]

Esquina mais próxima ao Cine Ipiranga, localizado na Avenida Ipiranga, 786

Em 2014, o edifício que abrigou o antigo Hotel Excelsior e o antigo Cine Ipiranga, situado na Avenida Ipiranga, 770 e 786, respectivamente, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo, o Condephaat. De acordo com publicação no Diário Oficial no dia 14 de maio de 2014, o órgão, pertencente à Secretaria de Cultura, decidiu por tombar o bem por considerar que “a obra do arquiteto Rino Levi e de seus colaboradores teve caráter modelar em diferentes tipos de programas arquitetônicos, sempre em intensa relação com a paisagem, urbana ou natural”. Ainda de acordo com a publicação no caderno de cultura, a obra foi considerada parte expressiva e fundamental dos processos de transformação e modernização pelos quais a cidade de São Paulo passou, sobretudo na segunda metade do século XX. Outro ponto levado em conta foi o pioneirismo de Rino Levi, sobretudo no que diz respeito às especificidades técnicas e plásticas das grandes salas de espetáculo de São Paulo projetadas pelo profissional [10].

Referências

  1. a b Conpresp tomba Cine Ipiranga por completo - O Estado de S. Paulo, 07 de outubro de 2009
  2. Revista Acrópole, n. 58, 1943.
  3. Revista Acrópole, n. 61, p. 489-493, 1943.
  4. Inimá Simões 1990 - "Salas de cinema em São Paulo", p.48, 64
  5. a b Cine Ipiranga, um dos últimos do centro, fecha suas portas hoje - Folha Online, 10 de fevereiro de 2005
  6. RESOLUÇÃO Nº 09/CONPRESP/2009 Secretaria Municipal de Cultura
  7. Tombamento do Cine Ipiranga é confirmado - Veja SP, 14 de maio de 2014
  8. Edifício que abrigouo Cine Ipiranga é tombado Folha de S.Paulo, 15 de maio de 2014
  9. Salas de Cinema em São Paulo Inimá Simões, p. 10
  10. a b c Resolução SC-24, de 12-05-2014 Diário Oficial, Poder Executivo, Seção 1, 14 de maio de 2014
  11. a b Rino Levi (1901-1965) Enciclopédia Itaú Cultural
  12. a b c Processo de tombamento Condephaat Secretaria de Estado da Cultura

Ipiranga Categoria:Cultura de São Paulo (cidade) Categoria:Patrimônio histórico de São Paulo