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O conceito de letramento digital pode ser definido como o domínio das tecnologias digitais, mais precisamente a apropriação que um sujeito faz das ferramentas de comunicação disponibilizadas graças aos recursos tecnológicos. Nesse contexto, o letramento digital envolve: habilidades para construir sentidos a partir de textos multimodais; capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informações disponibilizadas eletronicamente,  bem como formas de expressão cultural. Portanto, reflete as novas práticas de letramento originadas pela cultura letrada digital e propõe seu uso no próprio ambiente virtual.[1]

Esse ambiente multissemiótico, multimodal, em que muitas linguagens são reunidas em um texto impresso, também são realizados por um conjunto de aplicativos e softwares digitais que favorece inúmeras possibilidades de desenvolver conteúdos interativos integrados às redes sociais de compartilhamento de imagens e vídeos. O saber-fazer[2] interage nessa dinâmica virtual (comunicativa e educativa) que explora variadas narrativas (ficcionais e não ficcionais), tipos de gêneros e atravessa diversas plataformas digitais de comunicação. Essa práxis digital fortalece as relações sociais e amplia a capacidade interpretativa da realidade cotidiana, possibilitando uma ação que extrapola o campo virtual das atividades digitais, tornando iniciativas de interesse público em ações concretas. Dessa forma, a tecnologia passou a ser o principal instrumento para práticas ou eventos de letramento digital que promovem diálogos entre governo e sociedade.

Assim, além de dominar as técnicas, o usuário  precisa compreender a aplicação destas no meio virtual, conforme  Aquino (apud Glotz e Araújo), "letramento digital significa o domínio de técnicas e habilidades para acessar, interagir, processar e desenvolver multiplicidade de competências na leitura das mais variadas mídias. Um indivíduo [...] precisa também ter capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informação disponibilizada eletronicamente e ter familiaridade com as normas que regem a comunicação com outras pessoas através dos sistemas computacionais". [3]

Com isso, estar nesse ambiente de práticas digitais faz os antigos meios de comunicação se adaptarem às novas circunstâncias comunicativas que necessitam abrir novos canais para interagir com as pessoas em rede, permitindo que os gêneros programáticos se modifiquem em seus formatos para se adequar à nova realidade das audiências situadas em outras dimensões no ciberespaço. Essa aplicação, por sua vez, significa interagir com a informação e com o mundo sempre mediado por telas ou minitelas de acordo com Guillermo Orozco[4],

Xavier e Buzato[5] afirmam que o letramento digital pressupõe o domínio das ferramentas digitais, mas de modo a garantir as práticas letradas, atribuindo sentido ao que se lê e escreve na tela, habilidades essas que envolvem a compreensão do emprego de imagens, sons, a não linearidade dos hipertextos, a seleção e a avaliação das informações. Dessa forma, para ser considerado letrado em algo, o indivíduo precisa ser competente na leitura e na escrita em diferentes práticas sociais. Saber usar o computador, bem como smartphones e tablets como ferramentas, é um dos elementos que caracteriza um letrado digital. Mas, para ser letrado digital, é necessário ser, antes, letrado no idioma, para que seja possível manusear as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), utilizá-las de maneira consciente, crítica e explorar suas potencialidades. Assim, para Xavier, “ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital”.


Para Coscarelli e Ribeiro, "Letramento digital diz respeito às práticas sociais de leitura e produção de textos em ambientes digitais, isto é, ao uso de textos em ambientes propiciados pelo computador ou por dispositivos móveis, tais como celulares e tablets, em plataformas como e-mails, redes sociais na web, entre outras". De acordo com elas, "Ser letrado digital implica saber se comunicar em diferentes situações, com propósitos variados, nesses ambientes, para fins pessoais ou profissionais. Uma situação seria a troca eletrônica de mensagens, via e-mail, sms, WhatsApp. A busca de informações na internet também implica saber encontrar textos e compreendê-los, o que pressupõe selecionar as informações pertinentes e avaliar sua credibilidade". Nesse sentido, o conhecimento para utilizar as ferramentas digitais de comunicação, como aplicativos e softwares, torna-se importante no exercício da prática interativa mediada pela tecnologia como construção coletiva do saber promovidas pelas capacidades discursivas, cognitivas e que transformam as dinâmicas comunicativas e educativas da vida em sociedade. O letramento digital ocorre nesse contexto em que pessoas são impactadas pelas mudanças decorrentes nos modos analógicos de circulação do conhecimento e produção de sentidos, o que constitui as inúmeras transformações que a sociedade podem sofrer, de acordo com Barbero (apud Orozco) [6].

Práticas e eventos de letramento digital[editar | editar código-fonte]

No contexto do Letramento digital, é preciso tratar de conceitos como Práticas de Letramento Digital (PLD) e Eventos de Letramento Digital (ELD), propostos por Souza, a partir da atualização para a cultura digital dos conceitos originados em um conjunto de pesquisas que ocorreram durante os Novos Estudos do Letramento: Práticas de Letramento (cunhado por Brian Street) e Eventos de Letramento (cunhado por Shirley Brice Heath).

Kleiman afirma que Práticas de Letramento são um "Conjunto de atividades envolvendo a língua escrita para alcançar um determinado objetivo numa determinada situação, associadas aos saberes, às tecnologias e às competências necessárias para a sua realização." Como exemplo, a autora cita uma aula presencial. Nessa seara, Práticas de Letramento Digital, de acordo com Souza, estão "Situadas no contexto da cibercultura, englobam as concepções que as configuram e as ações dos participantes em situações de aprendizagem com o uso de Mídias Digitais". Como exemplo, podemos citar uma aula virtual.

Por sua vez, Evento de Letramento é "uma situação de interação mediada pelo texto escrito, uma ferramenta conceitual para examinar em comunidades específicas de uma determinada sociedade, as formas e funções das tradições orais e letradas e as relações coexistentes entre a linguagem falada e escrita" (HEATH, apud FERNANDES; CRUZ; AMANTE). Como exemplo, podemos citar o ato de tomar notas durante uma aula. Nessa seara, Eventos de Letramento Digital é uma "situação em que um suporte, portador ou interface digital se torna parte integrante da interação entre os participantes e seus processos interpretativos" Como exemplo, podemos citar a participação de alunos em um fórum de discussão ou chat.

Letramento digital e sala de aula[editar | editar código-fonte]

A cultura de letramentos nos leva a uma reflexão da prática do professor que também precisa se atualizar e dominar novas habilidades e fazer com que o aluno possa “analisar e se posicionar reflexivamente diante dos textos... e, sobretudo, tem de lidar com os multiletramentos exigidos pelas mudanças sociais” (ANSTEY; BULL).

As reflexões trazidas por Ferreira e Orlando defendem a aprendizagem da língua de modo plural, já que estamos vivendo num turbilhão de mudanças, com novas tecnologias surgindo a cada segundo. Hoje, com as novas demandas, é importante repensar o fazer em sala de aula, tendo um professor que desenvolva as suas práticas dentro de um ambiente mais colaborativo, crítico e reflexivo. Logo, o docente deve estar preparado para atuar diante de novos desafios no exercício de sua profissão (BORBA; ARAGÃO).

Diante desse contexto, um olhar atento para as novas tecnologias é necessário, pois estas vêm exercendo grandes mudanças nas mais variadas instâncias da vida social (COPE; KALANTZIS). Devido a tais alterações, muitos alunos já estão imersos na “era digital” e “para eles, fazer é mais importante do que saber" (FIELDHOUSE; NICHOLAS). No  que diz respeito a essa imersão dos alunos na "era digital", resiste, ainda, de certa forma, o consenso equivocado quanto aos alunos saberem mais de tecnologias digitais do que os professores.

Contudo, esse saber não é utilizado para o objetivo educacional, na maioria das vezes. Sobre isso, Dudeney, Hockly e Pegrum (), retomam termos como “nativos digitais” e “geração internet” para nos lembrar que as habilidades dos estudantes, em geral, são para outros fins. E é nessa lacuna que entra o professor, quem vai mediar a relação aluno e tecnologias digitais, propondo didaticamente os objetivos educacionais a serem alcançados com determinada atividade. As tecnologias digitais, entendidas como potencializadoras dos recursos existentes que contribuem para a aprendizagem, igualmente devem servir como potencializadoras da capacidade do aluno em lidar com as ferramentas tecnológicas de maneiraforma segura e responsável, valendo-se delas para aprendizagens diversas.  

Kenski ressalta que as tecnologias precisam ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente. Além de compreender a tecnologia como uma ferramenta de aprendizagem, é necessário que o professor incorpore as ferramentas tecnológicas em sua metodologia, tendo vista sua forte influência na vida dos alunos. É importante ressaltar que a pura inserção dessas novas tecnologias em sala de aula não é o suficiente, pois não se trata da simples troca de um suporte, mas de uma ferramenta que, quando integrada às práticas docentes, pode se tornar uma grande aliada da aprendizagem. Por sua vez, Orozco diz que o usuário da tecnologia atua como produtor e criador de informações, iniciador de processos, fonte e ponto de partida de conhecimentos; age como emissor e não mero receptor e consumidor da informação que se oferece nas variadas mídias e suas telas.

A interatividade é muito mais que interação e, na mesma infovia[7], a comunicação na educação está muito além do simples uso dos meios no ensino. O importante nesse processo é a comunicação no trabalho do educador, estudante, nos meios e ferramentas utilizadas para a construção coletiva de sentidos e subjetividades.

Ampliando o conceito de letramento digital[editar | editar código-fonte]

Conforme pontuaram Dudeney, Hockly e Pegrum, os letramentos digitais podem ser didaticamente classificados pelos focos de Linguagem, Informação, Conexões e (Re)desenho. No foco da Linguagem, estão relacionados: letramento impresso, em SMS, em hipertexto, em multimídias, em jogos, móvel e em codificação. No foco Informação, estão agrupados: letramento classificatório, em pesquisa, em informação, em filtragem. No foco Conexões, letramento pessoal, em rede, participativo e intercultural. E, no foco (Re)desenho, o letramento remix. Em cada um desses focos há sempre uma complexidade crescente entre os letramentos, como no Foco Linguagem: do letramento impresso ao letramento em codificação.

Ramal aponta que, assim como o hipertexto, nossa forma de leitura e escrita estão se aproximando da maneira como pensamos, não existindo limites para a imaginação e a criatividade, fazendo junção e composição de leituras diversas.

A leitura de hipertextos: múltiplas fontes[editar | editar código-fonte]

A prática de hipertexto é um processo de origem analógica, iniciado por meio da atividade de escrever e imprimir o livro físico. Um dos grandes exemplos é o famoso romance-enciclopédia de 100 mil palavras, “O Dicionário Kazar[8]'', do escritor servo Milorad Pavitch[9], que apresenta uma narrativa, cheia de lógicas associativas, isto é, carregada de sinais intertextuais que fazem o leitor ter acesso a uma multiplicidade de caminhos e sentidos na sua prática literária. Narrativas sobre um povo perdido, cercadas de mistérios, sobre um povo perdido, que, após um sonho, um rei convoca pessoas de diferentes religiões para definir qual seria a crença oficial da monarquia: judaísmo, islamismo e cristianismo. Essa tríade religiosa tinha a missão de produzir três dicionários, cada um apresentando, à sua maneira, sobre os costumes e a vida social do reino de maneira correta. Ambos dialogavam sobre os modos de condução do cotidiano monárquico, carregada de discussões acerca do certo e do errado, da moral e bons costumes. O romance tem duas versões: uma masculina e a outra feminina; ambas apresentam quinze linhas diferentes uma da outra e que, ao escolher cada uma delas, o leitor da obra estará disposto a participar da jornada literária promovida por Pavich[10].  

No Brasil, Raquel Wandell[11]i produz a obra “Leituras do Hipertexto: viagem ao dicionário Kazar”, baseado no romance do escritor servo e que trata sobre a temática do hipertexto na literatura. Segundo Wandelli, o aparato eletrônico não determina a hipertextualidade, mas que ambas caminham juntos.  O hipertexto[12] é um processo de leitura e escrita, uma potencialidade que pode ser ou não ativada em determinado meio. Sua análise literária sobre a obra de Pavitch[9] contribui no esclarecimento da discussão a respeito do hipertexto no aparato impresso (analógico). Segundo ela, “O Dicionário Kazar”, significa um livro dentro do outro, que vai muito além da história de um povo desaparecido, apresentando uma rede de narrativas simultâneas que se produzem em torno desse povo, e, mais que isso, a forma hipertextual como elas se entrelaçam, se superpõe e se contradizem.

Em 1992, no manifesto “Literary machines”, Theodor Nelson[13] (ver Projeto Xanadu), considerado o inventor do termo hipertexto, define como uma prática de escrita associativa , não sequencial e diz que o hiper tem um odor ruim em alguns campos e pode sugerir agitação e patologia, como faz na medicina e na psicologia. Mas em outras ciências o hiper conota extensão e generalidade, como no hiperespaço matemático, e foi essa a conotação que quis dar a ideia. (Literary machines. Sausalito, California: Mindful Press).

De acordo com Wandelli[11], essas sequencias associativas significa um texto que vai além do próprio texto, que é mais do que uma palavra na sequência da outra, do início ao fim, sem variação permitida. Possibilita a concretização do que parecia ficar no plano da metáfora ou da sugestão, quando Roland Barthes e Umberto Eco falavam em texto ilimitado, que se expande para incluir interpretações do leitor. Recursos paratextuais e links (sinais, marcas, palavras que explicitam a ligação entre pontos distantes) engaja o leitor a se mover de um intertítulo a outro de forma não sequencial, a fazer suas próprias conexões, incorporar seus próprios links e a produzir seus próprios percursos.

Pierre Lévy[14], autor da obra “As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática", diz que o hipertexto é um conjunção de nós conectados. Eles ser palavras, imagens, gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Informação ligados não linearmente, a exemplo de corda com nós amarrados (em que cada um pode conter uma rede completa), onde estendem suas ligações em estrela. Segundo ele, explorar o hipertexto significa, portanto, traçar uma rota em um ambiente de complexa rede de comunicação.

Para Wandelli[11], a noção de hipertexto passa pela ideia de hipertextualidade como uma força e ela está incluída na capacidade de a escrita e a leitura alcançarem um espaço fluido de produção textual e agenciamento de percursos, a partir de uma base de lexias. Quando o aparato material e a história trabalham a favor dessa potência, através de recursos articulados como paratextualidade, multilinearidade, interatividade, fragmentação e interconectividade, a hipertextualidade materializa-se no objeto hipertexto.

O livro ou o computador como suporte e o hipertexto como processo explodem a leitura linear de princípio, meio, fim e incluem o leitor na construção de narrativas, favorecendo campo para sua participação criativa no ambiente virtual de criação coletiva de pensamento.  A forma do texto em rede articula de maneira diferente das obras convencionais com aporias como parte/todo, margem/centro, leitor/criador, no sentido de distender os limites entre esses binômios. Esse funcionamento do texto gera consequências estéticas importantes, entre elas a acentuação da multivelocidade, o descentramento e a movimentação do suporte de leitura. Na ausência de um todo aparente e pré-organizado, o leitor vê-se obrigado a traçar seu caminho em trajetos sem informações precisas. Para Wandelli[11], é preciso delimitar os princípios que operam essa forma de organização textual evitando o vale-tudo de que todas as obras impressas, ou mesmo eletrônicas, venham a ser consideradas hipertextos.

Neste aspecto, Wandelli[11] diz que determinar somente o uso do meio eletrônico como o marco divisório entre obras hipertextuais ou não, fica inviável. Para ela, o aparato material da escrita não determina o processo de leitura, mas funciona juntos, em que o livro pode ser trabalhado a favor de um processo hipertextual, a exemplo do romance “O Dicionário Kazar”, que, no que tange, por sua vez, tem vasto meio de acessos a outras histórias, multilinear e plural.

Estar preparado para ser um leitor de hipertextos significa estar atento e disposto a produzir sentidos e estabelecer leituras em formato de rede, integrando e interagindo com diferentes unidades de sentidos. Assim, segundo Coscarelli, é fundamental que os leitores desenvolvam e organizem as suas habilidades em funções específicas tais como conseguir localizar, avaliar, sintetizar, monitorar e visualizar elementos em um texto por meio da leitura e da compreensão. De acordo com Wander Melo Miranda[15], na rede de interfaces que é o hipertexto, a velocidade - o clique sobre um botão, a quase instantaneidade do passar de um nó para outro é a interface que reforça o princípio da não -linearidade da leitura-navegação, enquanto ao mesmo tempo que denuncia o ritmo cada vez mais rápido de armazenamento de informações no âmbito da esfera tecnocientífica. A velocidade junta-se à leveza: ao contrário dos pesados volumes de livros, que têem na página a unidade de dobra elementar do texto, o hipertexto “permite todas as dobras imagináveis", “redobra e desdobra à vontade, muda de forma, se multiplica, se corta e se cola de outra vez e de outra forma.

O debate a respeito do desenvolvimento da leitura de múltiplas fontes deve, sobretudo, ser uma preocupação dos profissionais da educação, que devem se informar e buscar maneiras concretas e instigantes para despertar o interesse dos alunos e fazer com que eles se tornem leitores exemplares de hipertextos no ambiente digital.

No que se refere aos professores, é esperado que eles sejam habilidosos leitores de múltiplas fontes para estarem qualificados a compartilhar experiências com seus alunos, é interessante também que os profissionais do ensino criem e articulem textos em ambiente digital, para poderem, por meio da experiência enquanto autores, aprimorarem suas próprias habilidades enquanto leitores e conseguirem instigar a imaginação e o entusiasmo de seus alunos pela leitura. Como habilidades específicas, os professores devem estar capacitados para articularem as informações de diversos textos lidos, reconhecerem a procedência e validade dos textos encontrados no ambiente digital e desenvolver reflexões pertinentes que envolvam os textos lidos de maneira coerente.

Abordar o tema da formação de leitores de hipertexto de múltiplas fontes significa desenvolver estratégias de articulação e integração textual, possibilitando dinamizar a leitura tradicional e despertar a curiosidade do leitor. Nesse caso, espera-se que o indivíduo esteja disposto a interagir de forma a produzir sentidos entre textos de diferentes gêneros, disponíveis no meio eletrônico. Assim, exerce uma atividade que requer ativação dos seus conhecimentos prévios de mundo que, por sua vez, precisam ser relacionados nesta dinâmica de leitura e escrita em ambientes virtuais de produção de conteúdos diversos.

Os novos letramentos digitais[editar | editar código-fonte]

Ao tratar dos novos letramentos digitais, os quais estão inseridos no contexto da web 2.0, Moita Lopes reconhece-os como ambientes que possibilitam debates políticos, tais como as ágoras e os moinhos medievais. Os novos letramentos digitais podem ser, então, considerados como espaços de discussão, de reinvenção social, de agenciamento e de transgressão. Nesse sentido, percebe-se a mudança de ethos dos usuários das novas tecnologias, ao passo que deixam de ser apenas consumidores para, no contexto da web 2.0 (com os ambientes de afinidades – tais como as redes sociais e os blogs, por exemplo –, nas wikis, fan-fiction etc.), assumirem também o papel de produtores de sentido, logo, constituindo o ethos colaborativo e participativo.  

Segundo o autor, tais mudanças, além de interferirem diretamente nas relações sociais, que são intensificadas, ressignificam a concepção que se tinha sobre autoria, a qual passa a ser menos importante ou mesmo apagada, visto que o que está em evidência são as ações conjuntas, a colaboração. Os novos letramentos digitais, portanto, possibilitam que os indivíduos se tornem mais participativos na sociedade, estabelecendo novas formas de comunicação as quais permitem que estes sejam não apenas usuários, mas também produtores de conteúdo midiático, tomando decisões com base nas informações disponíveis pelos meios digitais, e, ao compreenderem as funções da mídia, são capazes de avaliar criticamente tais conteúdos.[16]

Segundo Roberto Aparici[17], toda pessoa pode ser e agir como um meio de comunicação, interagindo por meio das redes sociais disponíveis. E nesse cenário virtual de relações humanas, cada indivíduo ou grupo realiza a sua prática digital em um ambiente diverso e plural de produção coletiva de conhecimento. Essas iniciativas digitais implicam em consequências importantes para o desenvolvimento do conhecimento em ambientes de produção digital de conteúdos e seu compartilhamento, de modo gratuito e solidário pelas redes. Nesse sentido, o letramento digital permite a inserção efetiva nesse universo, de modo a garantir que haja o uso democrático dos meios para a utilização das ferramentas disponibilizadas na atualidade, ou seja, de acordo com Canclini (apud Aparici)[17], o ambiente digital transforma o modo de ver e de ler, as formas de reunir-se, de falar e escrever, de amar e saber que somos amados (a distância), ou talvez imaginá-lo.

Essas ferramentas de softwares, para Carlos Eduardo Cortés[18], é a base na qual a Internet assume o papel de fenômeno tecnosocial de redes, ou seja, um modo  de trabalho em equipe, cujas plataformas constituem novas formas de ativismo cidadão e de criação coletiva baseada em alianças voluntárias.



Referências[editar | editar código-fonte]

  1. https://plus.google.com/+UNESCO (2 de agosto de 2019). «Brasília». UNESCO (em inglês). Consultado em 31 de julho de 2021 
  2. «Saber-fazer». Wikipédia, a enciclopédia livre. 25 de abril de 2019. Consultado em 24 de julho de 2021 
  3. OLIVEIRA, Francisco Ariclene; SANTOS, Ana Maria Sampaio Dos (2019). «DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR ATRAVÉS DA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: UM CONVITE À REFLEXÃO». Revista Paidéi@ - Revista Científica de Educação a Distância (20). ISSN 1982-6109. doi:10.29327/3860.11.20-11. Consultado em 31 de julho de 2021 
  4. OROZCO, Gomes Guillermo (2014). Educomunicação: recepção midiática, aprendizagens e cidadania. {tradução: Paulo F. Valério}. São Paulo: Ed. Paulinas. 
  5. Buzato, Marcelo El Khouri (2009). «Letramento e inclusão: do estado-nação à era das TIC». DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada (1): 01–38. ISSN 0102-4450. doi:10.1590/s0102-44502009000100001. Consultado em 31 de julho de 2021 
  6. «Jesús Martín-Barbero». Wikipédia, a enciclopédia livre. 20 de julho de 2021. Consultado em 24 de julho de 2021 
  7. «Infovia». Wikipédia, a enciclopédia livre. 6 de abril de 2020. Consultado em 24 de julho de 2021 
  8. «Hazarski Recnik». Wikipédia, a enciclopédia livre. 20 de abril de 2019. Consultado em 24 de julho de 2021 
  9. a b «Milorad Pavić». Wikipédia, a enciclopédia livre. 31 de agosto de 2019. Consultado em 24 de julho de 2021 
  10. PAVITCH, Milorad. O Dicionário Khazar (Hazarski rečnik), São Paulo, Marco Zero, 1989; Lisboa, Dom Quixote, 1990. [S.l.: s.n.] 
  11. a b c d e Wandelli, Raquel (2003). Leituras do Hipertexto: viagem ao Dicionário Kazar. Florianópolis & São Paulo: Editora da UFSC & Imprensa Oficial. 05 páginas 
  12. «Hipertexto». Wikipédia, a enciclopédia livre. 9 de dezembro de 2020. Consultado em 24 de julho de 2021 
  13. Theodor, Nelson (1992). Literary machines. Sausalito, California: Mindful Press. 
  14. LÉVY, Pierre (1993). As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34 Letras. 
  15. MIRANDA, Wander Melo. «Ficção virtual». Revista de Estudos da Literatura: Belo Horizonte, v3, 19 out. 1995, pg.9 
  16. «Afinal, o que é letramento digital». CENPEC. Consultado em 31 de julho de 2021 
  17. a b APARICI, Roberto (2014). Educomunicação: para além do 2.0; {tradução Luciano Menezes Reis}. São Paulo: Ed. Paulinas. 
  18. CORTÉS, Carlos Eduardo (2008). Cuando comenzamos a hablar de banda ancha comunitaria? Nuevos desafíos en politica publica de radiodifusión. Conferencia apresentada no seminario internacional “Radio local: politicas y legislacion. La Paz, Bolívia.: [s.n.]