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Usuário(a):Professora Sônia/Testes

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O Potencial das Ferramentas Digitais para Promover a Avaliação Formativa, Autêntica e Significativa[editar | editar código-fonte]

Introdução[editar | editar código-fonte]

A avaliação educacional é uma parte fundamental do processo de ensino e aprendizagem, o que é respaldado por GADOTTI em Educação e poder: introdução à Pedagogia do conflito" (1984), ao afirmar que a “avaliação é inerente e imprescindível, durante todo processo educativo que se realize em um constante trabalho de ação-reflexão[1]”. Tradicionalmente, a avaliação é entendida como meio para medir o progresso dos alunos e garantir que as metas de aprendizagem sejam alcançadas, no entanto, entender a avaliação apenas como medida do conhecimento adquirido pelos alunos, torna-a muito redutora na sua conceção e aplicação.

A avaliação poderá assumir várias funções mas, de modo geral, é importante tanto para conduzir, orientar e avaliar a própria aprendizagem como para aferir as necessidades de melhoria contínua tanto do processo de ensino-aprendizagem, como dos próprios programas curriculares, das práticas educativas e do sistema escolar.

Nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante na avaliação educacional e, com a crescente adoção de plataformas e ferramentas digitais, a avaliação digital tem-se tornado cada vez mais comum em escolas e universidades em todo o mundo e essas ferramentas digitais podem ser usadas para transformar a avaliação num instrumento que contribua para uma aprendizagem mais significativa e autêntica.

Neste artigo, exploraremos a cultura da avaliação, fazendo um breve retrospecto das gerações e abordagens da avaliação, destacando o papel do estudante na avaliação, com ênfase no potencial das ferramentas digitais para promover a avaliação formativa, autêntica e significativa, analisando o impacto da avaliação digital na educação. Além disso, examinaremos as oportunidades que a avaliação digital oferece para promover a aprendizagem.

Uma Visão dos Conceitos e Gerações da Avaliação[editar | editar código-fonte]

As "Gerações da Avaliação" referem-se às mudanças históricas nas conceções e práticas de avaliação ao longo do tempo e é nessa perspetiva que será apresentada essa visão das gerações da avaliação.  

Avaliar é prática inerente ao fazer pedagógico. Ainda assim, é um assunto que provoca incertezas e inseguranças tanto para avaliados, quanto para avaliadores. E essas incertezas e inseguranças propagam-se quando se fala em Avaliação Digital, por isso, é necessário, antes de qualquer análise, relembrar o referencial teórico que norteia o tema.  

Considerando Guba e Lincoln[2] (1989), percebe-se que o conceito de avaliação passou por transformações. Considerando a tipologia por eles defendida, confirma-se a existência de quatro gerações de avaliação, em linhas gerais, assim apresentadas:

  1. Geração da Medida (avaliação como mensuração);  
  2. Geração da Descrição ou Verificação (avaliação como descrição do objeto / avaliação como verificação da congruência entre os objetivos estabelecidos pelo professor/sistema educativo e o desempenho dos alunos.)
  3. Geração do Julgamento (avaliação associada à formação de juízo);  
  4. Geração da Negociação (avaliação como negociação entre avaliados e avaliadores).

É interessante refletir sobre a forma como a avaliação tem sido definida e utilizada desde a 1ª geração até hoje e perceber que, embora seja notória a evolução e as mudanças introduzidas em cada uma das 4 gerações de avaliação, com o intuito de dar resposta às exigências e aos desafios contextuais e sociais da geração anterior, é claro também que ainda hoje estão bastante presentes, no sistema de avaliação escolar, as práticas avaliativas das primeiras gerações de avaliação (como medida e descrição/verificação) e, mais recentemente, as práticas integradas que abrangem características das várias gerações, o que demonstra que todas as gerações contribuíram e se enraizaram no sistema de avaliação escolar, sendo utilizadas até à atualidade.

Importa considerar ainda que, a partir de 2000, houve mudanças acentuadas no processo de avaliação e, consequentemente, há teóricos que defendem a existência de novas gerações. Bouchard e Fontan (2008)[3], por exemplo, propuseram uma nova perspectiva para a avaliação, denominada por eles de "quinta geração de avaliação" que enfatiza uma abordagem mais abrangente e integrada da avaliação, considerando dimensões sociais, emocionais e éticas do processo educativo, além das dimensões cognitivas. Nessa perspetiva, reforça-se a visão de que a avaliação deve ser vista como uma ferramenta para a aprendizagem, utilizada para promover uma reflexão crítica sobre o processo educativo e suas implicações para a formação do aluno como cidadão. O livro "Restorative Assessment: Strength-Based Practices That Support All Learners[4]" de Laura Greenstein tem como objetivo promover uma abordagem de avaliação que fortaleça os alunos e os apoie em seu processo de aprendizagem. Embora Greenstein não se refira diretamente à quinta geração de avaliação proposta por Bouchard e Fontan, sua abordagem de avaliação pode ser vista como uma implementação prática dos princípios da quinta geração, promovendo uma abordagem centrada no aluno, formativa, contínua e restaurativa.

Já no final de 2019, com a pandemia de Covid-19 - uma crise sanitária global que se espalhou por todo o mundo, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 - a educação e o processo de ensino-aprendizagem foram profundamente afetados. Instituições de ensino foram obrigadas a adotar, repentinamente e sem a devida preparação prévia, modelos de ensino remoto e híbrido, que apresentam desafios e particularidades diferentes do ensino presencial.

Na sequência da pandemia, tem havido uma maior preocupação em trazer novos conceitos, modelos e práticas de avaliação que se ajustem aos desafios e ao contexto social e escolar que vivemos hoje, nomeadamente, no que respeita à avaliação em ambiente digital.  

Infográfico produzido no Canva para ilustrar as gerações da avaliação, com base em Guba e Lincoln/ Bouchard e Fontan/ Greenstein
Infográfico produzido no Canva para ilustrar as gerações da avaliação, com base em Guba e Lincoln/ Bouchard e Fontan/ Greenstein

Então, embora ainda não haja um consenso sobre uma sexta geração de avaliação, há alguns autores e especialistas em educação que propõem mudanças significativas na forma como a avaliação é realizada a fim de valorizar habilidades e competências que vão além do conhecimento técnico e académico, como a criatividade, a resiliência, a capacidade de adaptação e a colaboração. Nesse sentido, a avaliação deve ser capaz de avaliar essas habilidades e competências de forma mais ampla e profunda, levando em conta as diversas formas de aprendizagem que cada aluno pode apresentar. De qualquer forma, essa possível sexta geração ainda é um assunto a ser mais bem analisado.   Com essa breve análise, fica evidente que estudar as gerações da avaliação é estudar a evolução histórica das concepções e práticas de avaliação ao longo do tempo.  Fica evidente também que avaliar faz parte do nosso cotidiano, mas é claro que o cotidiano muda e com ele também muda a educação e, consequentemente, a avaliação. Segundo Luckesi (2006),

“...o processo avaliativo está relacionado ao contexto mundial educacional da época, não se dá, nem se dará num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo e, consequentemente de educação, que possa ser traduzido em prática pedagógica" (p. 28)[5].

E, nesses muitos contextos pelos quais a humanidade passou e vem passando, nota-se que a geração subsequente, geralmente, não descartou tudo o que já havia sido defendido na anterior, mas procurou "promover melhorias" e se ajustar ao novo contexto, ou seja, cada geração da avaliação, embora apresente novas perspetivas e enfoques, geralmente não descarta completamente os conhecimentos e conquistas da geração anterior, mas busca construir e expandir sobre elas.

Cultura da Avaliação[editar | editar código-fonte]

A Cultura da Avaliação pode ser entendida de diferentes maneiras. De maneira geral, pode-se dizer que a Cultura da Avaliação se refere a um conjunto de crenças, valores, atitudes e práticas em relação à avaliação educacional em uma determinada sociedade, escola ou comunidade. Essas crenças e práticas podem afetar a maneira como os professores avaliam os alunos, como os alunos se percebem e como a sociedade valoriza a educação. Nesse sentido, STIGGINS (2007), em "Assessment through the student's eyes[6]", evidencia que historicamente, um papel importante da avaliação tem sido detetar e destacar essas diferenças e descreve a cultura da avaliação como um conjunto de crenças e valores que influenciam a maneira como as pessoas pensam sobre avaliação e seu papel na educação.

A Cultura da Avaliação também pode ser entendida como uma abordagem de avaliação que se opõe à "Cultura do Teste". A "Cultura do Teste" enfatiza a avaliação baseada em testes padronizados e pontuações numéricas, muitas vezes com o objetivo de classificar e comparar alunos e escolas. Essa abordagem pode levar a uma visão limitada da aprendizagem e da avaliação, que se concentra apenas nos resultados em testes, em vez de desenvolver habilidades e competências mais amplas nos alunos.

Em contraste, a Cultura da Avaliação busca promover uma abordagem mais holística e formativa da avaliação, que se concentra no desenvolvimento das habilidades e competências dos alunos, em vez de apenas pontuações numéricas em testes. Essa abordagem pode incluir a avaliação de diferentes tipos de desempenho, como projetos, trabalhos em grupo e avaliações baseadas em portfólios, bem como a promoção de feedback contínuo e personalizado para os alunos. Em linhas gerais, é o que defende Jussara Hoffmann (2003): em seu livro "Avaliar para Promover: as setas do caminho[7]", ao criticar a cultura do teste e defender uma avaliação mais formativa e processual, que leve em conta o contexto e as necessidades dos alunos.

A mudança de uma "Cultura do Teste" em que o feedback surge apenas para justificação da nota/classificação final, assumindo o docente o total controlo da avaliação, para uma "Cultura da Avaliação" (Amante e Oliveira, 2017[8]), exige que o estudante passe a ter um papel ativo e autorregulador da aprendizagem (Bandura, 2001[9]) e se envolva na avaliação através de diversas estratégias, nomeadamente, da avaliação por pares ou da autoavaliação (Amante & Oliveira, 2019[10]), desenvolvendo também a literacia na avaliação.  

Em resumo, a "Cultura da Avaliação" pode ser entendida como um conjunto de crenças e refere-se à forma como a avaliação é vista numa determinada sociedade, escola ou comunidade, mas também pode ser entendida como uma abordagem de avaliação que se concentra numa perspetiva mais holística, formativa e centrada no estudante, em contraposição à abordagem baseada em testes da "Cultura do Teste".

Abordagens da Avaliação Educacional[editar | editar código-fonte]

Infográfico contendo questões básicas para definir a abordagem de avaliação a ser adotada: o quê, como, quando, onde, porque e para que avaliar.

Enquanto as gerações da avaliação indicam uma mudança no foco e na natureza da avaliação ao longo do tempo, as abordagens da avaliação remetem para as formas específicas e concretas de aplicar os conceitos e ideias que caracterizam cada geração nos contextos educacionais. Assim sendo, existem diversas abordagens de avaliação, nomeadamente, a diagnóstica, a formativa, a sumativa, a por competências, a participativa, a autêntica, a significativa, a digital entre outras, que podem ser utilizadas, separadamente ou combinadas. Essa multiplicidade de abordagens remete para a complexidade do processo de avaliação, que pode ter sido exponenciado com o advento das TIC.  

Para escolher qual abordagem de avaliação utilizar, é importante considerar questionamentos em relação a quê, como, quando, onde, porque e para que avaliar. Questionamentos como esses,  podem ajudar a selecionar a abordagem mais adequada para cada situação e a maximizar a efetividade do processo de avaliação.

Uma vez que seria impossível exaurir o assunto neste artigo e que o foco reside no aprofundamento do estudo sobre o POTENCIAL DAS FERRAMENTAS DIGITAIS PARA PROMOVER A AVALIAÇÃO FORMATIVA, AUTÊNTICA E SIGNIFICATIVA, iremos centrar a nossa atenção nas abordagens relacionadas: formativa, autêntica, significativa e digital.

AVALIAÇÃO FORMATIVA[editar | editar código-fonte]

O conceito de Avaliação Formativa foi proposto em 1967 por Scriven, no livro “The Methology of Evaluation[11]” que, desde então, passou a ser amplamente citado e discutido por estudiosos da área. Considerando a teoria de Scriven, é possível afirmar que Avaliação Formativa é um processo contínuo de Avaliação e Feedback que ocorre durante o período de aprendizagem. Assim a avaliação destina-se à melhoria da aprendizagem, uma vez que possibilita ao estudante, através de feedback oportuno, e adequado, identificar possíveis constrangimentos e ao professor ajustar a sua forma de ensinar e garantir que as necessidades dos alunos sejam atendidas.

Benjamim Bloom, idealizador da famosa Taxonomia de Bloom, na década de 1950 e um dos autores mais influentes na área de educação, via a avaliação formativa como uma parte fundamental do processo de ensino e aprendizagem. Ele acreditava que a avaliação formativa deveria ser contínua e que os professores deveriam usar uma variedade de técnicas para avaliar o progresso dos alunos, com ênfase na retroalimentação para ajudar os alunos a monitorar seu próprio progresso e melhorar continuamente.

Diversos estudiosos da educação, como Philippe Perrenoud, Jean-Pierre Astolfi, Jacques Tardif, entre outros veem a avaliação formativa como um meio supervisionar o processo de aprendizagem dos alunos, de forma a permitir que o professor adapte o ensino às necessidades e possibilidades dos alunos e que estes possam desenvolver a sua autonomia e responsabilidade mediante o próprio processo de aprendizagem.  

Em suma, a Avaliação Formativa revela inúmeras vantagens para o processo de ensino e aprendizagem, quer em ambientes físicos, quer em ambientes virtuais, uma vez que permite aos professores e aos alunos acompanhar o progresso da aprendizagem ao longo do tempo e adaptar as atividades de ensino em tempo real, considerando as particularidades e necessidades individuais. De referir que em ambientes virtuais de aprendizagem, a avaliação formativa pode ser facilitada, pela forma rápida e precisa com que se pode distribuir o feedback e por estar mais facilitada a inclusão de atividades de avaliação personalizadas, a fim de serem atendidas as necessidades individuais de cada aluno.    

AVALIAÇÃO AUTÊNTICA[editar | editar código-fonte]

A Avaliação Autêntica é uma abordagem que procura valorizar o desempenho do estudante em atividades relacionadas com o contexto real, ou seja, relevantes para o seu futuro profissional e/ou pessoal. É uma forma de avaliação que proporciona aos alunos a oportunidade de aplicar o que aprenderam em simulações de situações ou problemas autênticos e demonstrar as suas competências de maneira autêntica, mediante a execução de projetos, tarefas práticas e/ou outros tipos de tarefas. Relaciona-se com a noção de sustentabilidade, no sentido de favorecer a autonomia e a experimentação de situações reais ou hipoteticamente reais, promovendo a aprendizagem ao longo da vida.  

Para Wiggins (1990)[12], a Avaliação Autêntica é uma abordagem que tem em conta todo o processo e não somente o produto, concentrando-se em avaliar o conhecimento e o desempenho dos alunos em tarefas e atividades que refletem as demandas do mundo real. Enquanto Meyer (1992)[13] entende a Avaliação Autêntica como aquela que visa ao desempenho do estudante, tendo em conta o contexto em que foi desenvolvida a atividade, ou seja, a avaliação de uma produção textual, realizada dentro de um prazo alargado permite ao estudante o controlo do espaço, do tempo, da motivação, dos recursos.

Baker & O’Neill (1994)[14] aliam o desempenho à autenticidade da tarefa, ou seja, às tarefas que sejam significativas para o estudante no imediato ou a longo prazo. Esta avaliação do desempenho foca a sua atenção na capacidade de comunicação, de resolução de problemas ou pensamento crítico, enquanto Newmann et al., (1996)[15] enfatiza a relevância e a aplicação prática do conhecimento e habilidades, permitindo que os alunos demonstrem sua compreensão e habilidades de maneira significativa.

Por sua vez, Darling-Hammond(1995)[16] defende que a Avaliação autêntica tem quatro características comuns: são projetadas para serem verdadeiramente representativas do desempenho no campo; os critérios usados ​​na avaliação procuram avaliar os “essenciais” do desempenho em relação a padrões de desempenho bem articulados; a autoavaliação desempenha um papel importante; os alunos apresentam seus trabalhos publicamente e oralmente, o que aprofunda seu aprendizado e garante que eles realmente entendam o que estão estudando.

Grant, Fedoruk, Nowell(2021)[17] acrescem que a Avaliação Autêntica se concentra na avaliação de habilidades de pensamento crítico, solução de problemas e criatividade, o que permite que os alunos demonstrem a sua compreensão e competências de maneira autêntica.

Considerando esse referencial teórico, nota-se que é possível combinar a Avaliação Autêntica com a Avaliação Digital. Os educadores podem criar tarefas e atividades autênticas promotoras do pensamento crítico, mediante a resolução de problemas e com recurso ao trabalho colaborativo em que as tecnologias digitais possam contribuir para a consecução das tarefas e, cumulativamente, para coletar dados de desempenho dos alunos. Dessa forma, será possível obter uma compreensão mais abrangente do desempenho dos alunos e oferecer feedback personalizado e imediato para apoiar a aprendizagem contínua.  

Nessa perspetiva, Oliveira&Pereira(2021)[18] sintetizam as diferentes abordagens em dois grupos: as centradas na autenticidade, com tarefas abertas, que implicam trabalho colaborativo e a criação de produtos, desenvolvidas em ambientes digitais; as centradas na avaliação autêntica e na autenticidade, focadas em atividades ligadas a contextos reais, em que a avaliação de competências se institui como uma avaliação autêntica.

Assim, é evidente que a inclusão das tecnologias possibilita o alargamento dos contextos, nomeadamente com recurso a simulações, e definem o próprio contexto de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento de múltiplas competências em simultâneo (comunicação, digitais ou argumentativas, por exemplo). Os educadores podem criar tarefas e atividades autênticas promotoras do pensamento crítico, mediante a resolução de problemas e com recurso ao trabalho colaborativo em que as tecnologias digitais possam contribuir para a consecução das tarefas e, cumulativamente, para recolher dados de desempenho dos alunos. Dessa forma, será possível obter uma compreensão mais abrangente dos desempenhos e oferecer feedback personalizado e imediato para apoiar a aprendizagem contínua.

AVALIAÇÃO SIGNIFICATIVA[editar | editar código-fonte]

Uma das principais características da abordagem significativa da avaliação é o envolvimento ativo dos alunos no processo de avaliação, que pode incluir a definição de critérios de avaliação, a autoavaliação e a avaliação de pares. Estas estratégias ajudam a criar um ambiente de aprendizagem colaborativo e podem aumentar o empenho e a motivação dos alunos.  

Essa abordagem tem sido aplicada em diversos contextos educacionais, desde a educação básica até a educação superior e formação profissional e está ancorada na Teoria da Aprendizagem Significativa, proposta, na obra The Psychology of Meaningful Verbal Learning[19], por David Ausubel em 1963.  Segundo, Moreira, a partir das ideias de Ausubel,

“... a Aprendizagem Significativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e que essa interação é não-literal e não-arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos significados ou maior estabilidade cognitiva”[20].   

Ainda nesse artigo, MOREIRA defende que

“... a avaliação da aprendizagem significativa deve ser predominantemente formativa e recursiva. É necessário buscar evidências de aprendizagem significativa, ao invés de querer determinar se ocorreu ou não. É importante a recursividade, ou seja, permitir que o aprendiz refaça, mais de uma vez se for o caso, as tarefas de aprendizagem”.  

Em resumo, a abordagem significativa da avaliação valoriza a compreensão profunda e a aplicação prática do conhecimento, enfatiza a relevância deste e das competências desenvolvidas para o mundo real e incentiva o envolvimento ativo dos alunos no processo de avaliação. Nesse sentido, é fundamental que os educadores utilizem uma variedade de estratégias de avaliação, como a avaliação formativa, para identificar o progresso do aluno e forneçam feedback construtivo. Neste contexto, a Avaliação Digital pode promover a avaliação mais autêntica, ao permitir que os alunos demonstrem a sua compreensão e aplicação do conhecimento em contextos do mundo real, por meio de simulações, jogos educativos, projetos digitais, entre outras possibilidades.

AVALIAÇÃO DIGITAL[editar | editar código-fonte]

A avaliação digital pode ser vista tanto como uma abordagem da avaliação quanto um recurso tecnológico que pode ser utilizado em diferentes gerações de avaliação.

Como uma abordagem de avaliação, a avaliação digital é uma maneira específica de realizar uma avaliação, que envolve o uso de tecnologia digital para coletar e analisar dados de desempenho dos alunos. Isso pode incluir o uso de plataformas de aprendizagem on-line, ferramentas de avaliação automatizadas, jogos educativos digitais, entre outros. Portanto, a avaliação digital pode ser vista como uma abordagem da avaliação que usa tecnologia para coletar e analisar dados de desempenho do aluno. Nessa perspectiva, podemos citar Ramos (2021)[21], que defende a avaliação digital como uma prática pedagógica que utiliza ferramentas tecnológicas para avaliar a aprendizagem dos alunos de maneira mais eficiente, fornecendo feedback em tempo real e permitindo a personalização do processo educacional."  

Por outro lado, a avaliação digital também pode ser vista como um recurso tecnológico que pode ser utilizado em diferentes gerações de avaliação. Por exemplo, na terceira geração de avaliação, que se concentra na avaliação autêntica, a tecnologia pode ser usada para coletar evidências autênticas do desempenho do aluno, como gravações de vídeo ou áudio, fotos, textos digitais, entre outros. Essa visão é respaldada por Araújo (2019)[22] ao afirmar que a avaliação digital se refere ao uso de tecnologias digitais para coletar, analisar e interpretar informações sobre o desempenho dos alunos em uma variedade de contextos educacionais, permitindo que os professores e educadores façam ajustes no ensino e na aprendizagem de acordo com os resultados da avaliação.  

Em resumo, a avaliação digital pode ser vista como uma abordagem de avaliação que usa tecnologia para coletar e analisar dados de desempenho do aluno, mas também como um recurso tecnológico que pode ser utilizado em diferentes gerações de avaliação.

Dito isso, é pertinente afirmar que Avaliação Digital pode abranger diferentes abordagens de avaliação, como a formativa, sumativa, autêntica, significativa ou por competências, uma vez que pode ser usada para monitorar o progresso dos alunos, identificar suas necessidades de aprendizagem, avaliar o alcance dos objetivos de ensino, avaliar as habilidades dos alunos em situações autênticas e fornecer feedback imediato e personalizado.

A avaliação digital é um processo de avaliação contínua e integrada que usa a tecnologia para coletar e analisar dados de desempenho do aluno, fornecendo feedback imediato e personalizado e promovendo a melhoria contínua da aprendizagem, assim é possível afirmar que Avaliação Digital pode ajudar a tornar a avaliação mais inclusiva e equitativa, permitindo que os alunos sejam avaliados de acordo com suas habilidades e necessidades individuais. Ela também pode permitir aos educadores, a partir de uma visão mais detalhada do desempenho dos alunos, ajustes no ensino e na aprendizagem de acordo com os resultados da avaliação, ou seja, pode promover a melhoria contínua da aprendizagem, o que podemos respaldar em Balula (2014)[23], em seu artigo “Avaliação Digital como Aprendizagem”.  Em resumo, a Avaliação Digital é uma abordagem inovadora de avaliação que permite que as instituições educacionais usem tecnologias digitais para criar ambientes de avaliação mais flexíveis, eficientes e inclusivos, além de fornecer feedback imediato e personalizado para os alunos.  

Assim, seja como uma abordagem de avaliação, seja como um recurso tecnológico, as definições de Avaliação Digital enfatizam o uso de tecnologias digitais para coletar, analisar e interpretar informações sobre o desempenho dos alunos, permitindo que os educadores forneçam feedback imediato e personalizado e ajustem o processo educacional de acordo com as necessidades dos alunos e, nesse contexto, encontramos atores fundamentais que, mesmo com todas as mudanças vivenciadas no processo de ensino e aprendizagem ao logo dos tempos, continuam exercendo papéis novos, mas decisivos: professores e estudantes.

Papel do Professor e do Estudante na Avaliação Digital[editar | editar código-fonte]

Considerando as abordagens formativa, autêntica e significativa da educação e, consequentemente, da avaliação, verifica-se que tanto o estudante quanto o professor continuam a ser os protagonistas do processo, mas com novos papéis a desempenhar, sobretudo, neste novo cenário da avaliação digital.

Conforme Silva (2003, p.265), citando Barbero (1998, p.23)O professor (...) de mero transmissor de saberes, precisará converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipas de trabalho, sistematizador de experiências, e memória viva de uma educação que, em lugar de aferrar-se à pedagogia da transmissão, valoriza e possibilita o diálogo e a colaboração entre os participantes da aprendizagem[24] Assim, o papel do professor na avaliação digital, para além de utilizar ferramentas digitais para recolher e analisar dados, a fim de monitorizar o progresso dos estudantes e ajustar o processo de ensino e aprendizagem de acordo com as necessidades identificadas, deve proporcionar oportunidades para que estes se possam envolver ativamente no processo, desenvolvendo atividades e projetos que permitam a recolha de dados autênticos sobre a aprendizagem e fornecer feedbacks oportunos e adequados.

Já o estudante tem o papel de se envolver ativamente, utilizando ferramentas digitais para monitorizar o próprio desempenho e refletir sobre o processo de aprendizagem. Além disso, deve ter a oportunidade de participar da recolha de dados e de colaborar na definição de critérios e indicadores de avaliação, a fim de tornar a avaliação mais autêntica e significativa, em conformidade com o preconizado pelo conceito de Agência do Estudante.

Um aspeto primordial assenta nesta recetividade dos docentes em permitir que o estudante tenha maior agência (controlo e envolvimento) nos processos de avaliação e feedback digitais porque, para se implementar estratégias de avaliação que permitam uma maior agência  do estudante, é necessário que os docentes assumam um papel orientador na avaliação e não um papel dominante neste processo, promovendo um feedback contínuo e construtivo que favoreça o diálogo entre o estudante e o docente e até entre os próprios estudantes. Nas palavras de Gipps (1999)[25] há dois tipos de feedback que estabelecem a conexão entre a avaliação e a aprendizagem: feedback avaliativo, que se trata de avaliar e julgar o desempenho dos alunos sem oferecer orientação para melhoria; e feedback descritivo, que fornece informações detalhadas sobre o desempenho do aluno em relação às tarefas propostas. O feedback descritivo pode ser subdividido em duas categorias: feedback que especifica o progresso, no qual o professor fornece uma avaliação do trabalho e indica quais conhecimentos e processos foram utilizados, bem como orienta o aluno sobre o que deve ser feito para melhorar; e feedback construtivo, em que tanto o professor quanto o aluno avaliam o trabalho juntos, discutem maneiras de melhorar e incentivam o aluno a assumir mais responsabilidade pela própria aprendizagem. Essa abordagem encoraja a reflexão e o engajamento dos alunos na escola, fornecendo dicas e fazendo perguntas, ou seja, promove a agência do estudante.

Para Casanova et al. (2022)[26] não há consenso em relação à definição de agência do estudante, mas há consenso de que o termo está relacionado com a ideia de que o "estudante desenvolve controlo ou uma sensação de controlo sobre o seu processo de aprendizagem e, consequentemente, a capacidade de ter uma voz ativa neste processo", pelo que deve incluir o desenvolvimento de capacidades como a autoavaliação, a autorregulação, a definição de metas, a resolução de problemas e a tomada de decisões. Quando um estudante tem uma voz ativa no seu próprio processo de aprendizagem, torna-se mais responsável e empenhado na aquisição do conhecimento e pode ter uma experiência de aprendizagem mais significativa.  

Na avaliação digital, a agência do estudante torna-se crucial, uma vez que estão mais propensos a envolver-se em atividades de avaliação de forma reflexiva e crítica, serem mais capazes de lidar com desafios, mais eficazes em utilizar as ferramentas e recursos disponíveis para realizar as tarefas de avaliação digital, a fim de adquirirem uma compreensão mais profunda e significativa dos conteúdos a apreender. De salientar que, quando os estudantes têm agência, são mais capazes de gerir o seu próprio tempo e de se preparar adequadamente para as tarefas de avaliação, levando a um desempenho mais eficaz.

A avaliação digital exige, desta forma, que estudantes e professores se adaptem a novos papéis e responsabilidades num ambiente educacional em constante evolução. Embora possa haver desafios e obstáculos a serem enfrentados, é importante reconhecer que a agência do estudante e o envolvimento do professor são fundamentais para uma avaliação eficaz e significativa. Ao trabalharem juntos, podem aproveitar as oportunidades oferecidas pelas Plataformas de Avaliação Digital (PADs) para promover uma avaliação, de facto, formativa, capaz de promover, inclusive, melhorias no processo de aprendizagem como um todo.

Uso de Ferramentas Digitais na Avaliação[editar | editar código-fonte]

O uso das PADs desempenha um papel importante na avaliação formativa, autêntica e significativa, pois as ferramentas digitais oferecem oportunidades para recolher, analisar e apresentar dados sobre o desempenho dos alunos, permitindo aos professores fornecer feedback mais imediato e personalizado. Além disso, podem ajudar a tornar a avaliação mais autêntica, permitindo aos alunos trabalhar em projetos e tarefas que se assemelhem ao trabalho do mundo real.

Conforme explicitado anteriormente, na abordagem formativa da avaliação, as ferramentas digitais podem ser usadas para recolher dados em tempo real sobre o desempenho, permitindo aos professores ajustar a instrução e o feedback para atender às necessidades individuais dos alunos. Já na abordagem autêntica, as ferramentas digitais podem ser usadas para simular ambientes de trabalho e fornecer oportunidades para os alunos desenvolverem projetos e tarefas que se assemelham ao trabalho do mundo real. Na abordagem significativa, as ferramentas digitais podem ser usadas para recolher dados sobre o desempenho dos alunos em relação a objetivos de aprendizagem significativos, nomeadamente, no que concerne ao pensamento crítico, resolução de problemas ou colaboração.

Importa que sejam criadas as condições necessárias para que estas e outras estratégias possam ser implementadas e sejam eficazes. Para tal, é importante que sejam desenvolvidas ferramentas e recursos que o permitam nas PADs. Estas deverão contribuir para a maior agência do estudante na avaliação e, para tal, devem ser desenhadas com funcionalidades que permitam tanto a preparação para a avaliação e feedback (antes da submissão efetiva dos trabalhos e da realização das atividades) como para a avaliação final, promovendo o feedback e o diálogo permanente entre o docente e o estudante e a melhoria contínua da avaliação das aprendizagens.

O uso de ferramentas digitais pode então tornar a avaliação formativa, autêntica e significativa mais eficaz, fornecendo aos professores e alunos oportunidades para recolher, analisar e apresentar dados de forma mais eficiente e fiável, além de ajudar a tornar a avaliação mais autêntica, permitindo aos alunos trabalhar em projetos e tarefas que se assemelham ao trabalho do mundo real.

Assim sendo, qual será a verdadeira função de uma Plataforma de Avaliação Digital? Veículo, mecanismo de facilitação ao feedback ou caminho para implementar melhores práticas de avaliação?  

As PADs podem atuar como veículos para a avaliação digital, fornecendo aos educadores uma plataforma para criar e distribuir tarefas de avaliação, bem como recolher e analisar dados de desempenho dos alunos. Além disso, também podem atuar como mecanismos de facilitação para feedback, permitindo que os educadores o forneçam de forma imediata e personalizada com base no desempenho dos alunos. De igual modo, as PADs também podem ser usadas como um caminho para implementar melhores práticas de avaliação, pois permitem que os educadores usem métodos mais autênticos e significativos, ao fornecer uma variedade de ferramentas e recursos para criar tarefas mais estimulantes e desafiadoras.

Assim, fica claro que as PADs têm várias funções na avaliação digital, mas vale lembrar que “...de nada adianta mudar as ferramentas, se o professor continuar classificando os alunos em bons e maus[27]”, conforme defende Celso Vasconcellos. Ou seja, a mudança na forma como a educação é entregue só é suficiente se o professor entender que cada aluno tem capacidades, talentos e competências diferentes, pelo que deve ser avaliado de maneira justa e não estereotipada. Da mesma forma, o aluno deve assumir o papel de protagonista neste palco, atuando como parceiro ativo na construção do conhecimento, ou seja, assumindo a primeira pessoa naquilo que Hadji (2001) denomina “avaliação em 1ª pessoa”[28].  

Impacto da Avaliação Digital na Educação[editar | editar código-fonte]

Infográfico com análise SWOT da Avaliação Digital
Análise SWOT da Avaliação Digital, considerando os textos: Casanova, D. (2022). Estratégias para promover a agência do estudante no processo de avaliação e feedback digital e Amante, L. (2017). Cultura da avaliação e contextos digitais de aprendizagem: o modelo PrACT

A avaliação é uma das atividades mais importantes no processo de ensino e aprendizagem, que permite aos professores e estudantes identificar as lacunas no conhecimento e desenvolver as habilidades necessárias para alcançar os objetivos educacionais. Com o avanço da tecnologia, a avaliação digital tornou-se cada vez mais comum nas instituições de ensino. No entanto, há opiniões divergentes sobre os seus impactos na educação. Alguns autores argumentam que a avaliação digital pode ser mais justa, rápida e económica, enquanto outros acreditam que ela pode ter efeitos negativos na aprendizagem dos alunos. Neste contexto, é importante ter uma visão mais ampla sobre o assunto.

Por um lado, alguns autores não veem com bons olhos essa abordagem da avaliação e colocam em foco os desafios, destacando que a facilidade de acesso a recursos digitais pode aumentar a possibilidade de fraudes e plágios (Pereira et al., 2021)[29], comprometendo a integridade da avaliação. Além disso, afirmam que a dependência de tecnologias e equipamentos para a realização da avaliação pode gerar problemas técnicos e de acesso para alguns estudantes, resultando numa avaliação não equitativa (Oliveira, M. M., & Garcia, 2020)[30]. Afirmam ainda, que a realização de avaliações totalmente digitais também pode levar à redução da interação social e do contato presencial entre estudantes e professores, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento dos alunos (Nassar, 2008)[31]. Por fim, destacam que a avaliação digital pode ter dificuldades em avaliar aspetos subjetivos, como a criatividade e a originalidade, que seriam mais facilmente identificados em avaliações presenciais.  

Em contrapartida, há aqueles que colocam em foco as oportunidades e destacam a maior facilidade e agilidade na recolha, correção e análise de dados dos estudantes, a possibilidade de feedback mais rápido e personalizado (Silva et al., 2020)[32], a ampliação do alcance da avaliação, o maior envolvimento dos estudantes com a avaliação e a possibilidade de avaliar habilidades e competências difíceis de serem avaliadas por meio de testes tradicionais. Afirmam ainda que, com o uso de plataformas digitais e aplicativos específicos para a educação, é possível fornecer um feedback mais ágil e individualizado aos estudantes, permitindo que estes direcionem os seus esforços e aperfeiçoem a sua aprendizagem. Além disso, defendem que a avaliação digital torna a avaliação mais acessível e flexível para os estudantes, permitindo que estes participem independentemente da sua localização (Casanova et al., 2022)[33] ou horário de estudo, e pode tornar a avaliação mais atrativa e motivadora, incentivando-os a participar e a dedicar-se mais ao processo de aprendizagem. Por fim, onde os opositores veem uma fraqueza, os defensores veem uma força, destacando que a avaliação digital permite a avaliação de habilidades como a criatividade, a colaboração e a resolução de problemas, o que pode levar a uma avaliação mais completa e precisa dos alunos.

Um ponto importante destacado é que, com o aumento do uso das tecnologias da informação e comunicação no contexto educacional, tem sido necessário repensar o papel da avaliação no processo de ensino e aprendizagem online. Nesse sentido, a reflexão sobre a avaliação digital é fundamental, com ênfase na importância de uma abordagem que leve em consideração a "avaliação para a aprendizagem" e a "avaliação como aprendizagem" (Balula, 2014)[34], que propõe que a própria avaliação seja vista como um processo de aprendizagem. Nessa abordagem, a avaliação é vista como uma ferramenta para desenvolver competências e habilidades, em vez de apenas medir o conhecimento adquirido. (Barberà, 2006)[35]. Ao utilizar a avaliação digital e participatória (Cardoso e Salema, 2015)[36] como aprendizagem, é possível oferecer oportunidades para aprimorar a aprendizagem e contribuir para uma educação mais significativa e autêntica. Por isso, é fundamental que educadores e alunos estejam abertos a mudanças e sugestões, a fim de explorar todo o potencial que a avaliação digital pode oferecer na promoção de uma educação mais inovadora e efetiva.

A nossa postura, enquanto estudiosos da Avaliação Digital na Educação, é que a avaliação como um todo é “um combate diário” (Hadji, 2001)[37] e, quando se trata de avaliação digital, não podemos assumir, simplesmente, a defesa de um ou de outro aspeto, uma vez que a avaliação torna-se importante no momento da informação prática aos professores sobre a qualidade das aprendizagens que os alunos estão a desenvolver. Ao mesmo tempo, oferece uma boa oportunidade para melhorar tanto o processo de aprendizagem quanto as ações futuras de ensino mediante a reflexão, a autocrítica e a autocorreção a partir da prática escolar (Méndez 2002)[38].   

Neste sentido, é necessário ter uma visão ampla sobre o assunto, que nos permita ir além da dualidade: bom ou mau. É necessário identificar os aspetos negativos (fraquezas e desafios), a fim de minimizar os seus efeitos e responder adequadamente aos desafios e também valorizar, incentivar e aprofundar os aspetos positivos (forças e oportunidades), a fim de garantir uma avaliação justa e eficaz para os estudantes, coerente e adequada para professores e “tecnologicamente mediada no digital e com o digital”. (Moreira, et tal, 2020)[39].   

Considerações Finais[editar | editar código-fonte]

Ao abordar o potencial das ferramentas digitais para promover a avaliação formativa, autêntica e significativa, notamos que ainda há muito a ser estudado, mas ante o exposto, entendemos que o ato de avaliar pretende-se dirigido “a uma avaliação orientada para melhorar” (Fernandes, 2012), ou seja, para atuar nas dimensões do ensino e da aprendizagem. Regula as aprendizagens realizadas e questiona o processo de ensino, promovendo a decisão compreensiva e contextualizada (Weiss, 1996, citado em Pinto, 2016). Não obstante, a avaliação mantenha as suas funções de classificação e de certificação com peso significativo na prossecução de estudos e nas políticas educativas, as tecnologias digitais possibilitaram a aceleração da mudança no paradigma avaliativo por permitir “trabalhar com uma diversidade de ferramentas e atividades que centram a aprendizagem no estudante proporcionam múltiplas formas de interação, designadamente a colaborativa” (Amante, Oliveira & Pereira, 2017) e criam ambientes de aprendizagem mais adaptados aos tempos modernos e, sobretudo, ao aluno contemporâneo que cresceu no meio digital.  

Freire (1993)[40] destaca que o ato de estudar, ensinar e aprender pode ser difícil, mas também é prazeroso e deve ser uma experiência positiva para o aluno, sendo importante que os educandos percebam isso e se entreguem ao processo. Notamos que essa afirmação se aplica ao tema estudado aqui já que, em avaliação digital, também é fundamental considerar o papel tanto do professor quanto do estudante, uma vez que ambos são protagonistas nesse processo e que o feedback é uma ferramenta essencial para garantir a qualidade da avaliação digital, pois permite ao aluno entender seus pontos fortes e fracos e ao professor aprimorar sua prática pedagógica.   Vale lembrar que educação e, consequentemente, a avaliação é um processo em construção. Em outras palavras, nem avaliação nem o modo de ensinar está acabado e estático, mas pode ser lapidado e melhorado conforme as necessidades educacionais, ou seja, avaliação é um processo dinâmico que está em constante evolução e essa realidade se aprofunda, quando se trata de avaliação digital.  

Após o estudo, ficou claro que ferramentas digitais apresentam uma grande oportunidade para dar à avaliação um caráter mais significativo e autêntico, transformando-a em um instrumento apto a promover a aprendizagem, graças a sua capacidade de oferecer feedback imediato e personalizado, promover a avaliação formativa e incentivar a participação ativa do estudante. Assim, é indiscutível o potencial dessas tecnologias para revolucionar o processo de avaliação na educação para que seja de fato participatória (Cardoso e Salema, 2015) e em 1ª pessoa (Hadji, 2001)

Em resumo, a avaliação digital, conforme apresentado no decorrer deste artigo, tem o poder de transformar a educação em uma prática mais personalizada, adaptável e participativa, capaz de atender às necessidades individuais de cada aluno e aos anseios dos professores por uma educação de qualidade. Com o uso adequado de ferramentas digitais, é possível promover uma avaliação formativa e autêntica, que considere a diversidade de metodologias e a participação ativa dos alunos no processo avaliativo. Dessa forma, elas se consolidam como ferramentas fundamentais para a promoção de uma educação mais significativa e relevante, nesta realidade cada vez mais conectada, onde diariamente surgem novos padrões. 

Referências Bibliográficas[editar | editar código-fonte]

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