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Comemoração como ritualização da história[editar | editar código-fonte]

Existem diferentes tradições teóricas ao longo do tempo que trataram do tema das comemorações. Estas tradições teóricas são originárias de diversas áreas do conhecimento humano como a sociologia, a antropologia e a história.[1] Uma delas é a que relaciona a comemoração com um processo de ritualização da história. Ritualização da história é um processo por meio do qual são criadas várias manifestações de cunho ritualístico com o objetivo de criar representações simbólicas que pudessem mobilizar o povo para que este recebesse lições vivas da história.[2]

O processo de ritualização da história na Modernidade é descendente direto de outros processos anteriores a este período. O primeiro deles descende do ritual religioso do universo cristão e o segundo das festas seculares, notadamente criadas pela Revolução Francesa.[2] As comemorações modernas estão intimamente ligadas às construções das nacionalidades operadas a partir do século XIX e tinham por finalidade representificar o passado. Neste processo, elas silenciavam o fato de serem evocações seletivas, parciais.[2]

Estes silenciamentos praticados pelas comemorações foram objeto de questionamentos por grupos sociais que não se sentiam contemplados ao longo da história. Estes questionamentos ocorrem em função de as comemorações praticadas ao longo do século XIX terem um perfil definido: a celebração de indivíduos das elites cultas que tentavam hegemonizar o poder simbólico, condição essencial de radicação de todo o poder.[3] As comemorações modernas são práticas cívicas elaboradas principalmente pelo Estado que visam pavimentar uma sociabilidade e, para isso, pressupunha uma certa religiosidade cívica. Cada ato comemorativo procurava recordar o passado e manifestar-se em um espetáculo simbólico e emotivo, criando o ambiente propício para reforçar a religação dos indivíduos a uma totalidade.[2]

As comemorações cívicas ao serem engendradas mobilizam a memória, desempenhando uma função essencialmente pedagógica de formação dos cidadãos que vivem no interior das fronteiras dos estados nacionais. Sendo assim, há um modelo cunhado no século XIX de comemoração feito a partir de um culto cívico dos mortos que revela elementos de uma religiosidade civil. Este modelo surgiu da tomada de consciência de que as representações racionais só podem ser mobilizadoras quando completadas por cultos, tal qual acontecia no universo religioso, que fornecessem significado simbólico e coletivo ao sentido do tempo.[2]

  1. MARCELINO, Douglas (2016). «Culto cívico dos mortos e escrita da história: reflexões sobre a obra de Fernando Catroga.». Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS. Revista Anos 90 (44): p.305. Consultado em 27 de maio de 2024 
  2. a b c d e CATROGA, Fernando (2005). Nação, Mito e Rito: Religião Civil e Comemoracionismo. Ceará: Edições NUDOC-UFC. p. P.110 
  3. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval (2019). O tecelão dos tempos (novos ensaios de teoria da história). São Paulo: Intermedios. p. 183