Usuário(a):Teoria do conflito realístico/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

'''Teoria do Conflito Realístico'''

A teoria do conflito realístico, segundo Campbell (1965), assume que os grupos têm objetivos incompatíveis e estão em competição por recursos escassos, causando assim conflitos entre eles.

=Estudo que deu origem a Teoria=

Muzafer Sherif e outros estudiosos de sua época realizaram um importante experimento a respeito de conflitos intergrupais no Parque Estadual Robbers Cave, em Oklahoma (Sherif, 1966; Sherif et al., 1961; Sherif e Sherif, 1982). O autor reuniu garotos que seguiam um padrão: brancos, norte-americanos de classe média, entre 11 e 12 anos, bons alunos e com bom comportamento.

A proposta foi a de que esse grupo passasse duas semanas em um acampamento de verão, participando de atividades, sem saber que seu comportamento estava sendo observado dia-a-dia.

Ao longo desse período, o grupo foi dividido em dois grupos: os Águias e os Cascavéis. O objetivo desse experimento era investigar de que maneira uma oposição implícita de interesses provocava o conflito intergrupal evidente.

O estudo passou por várias fases. A primeira durou a maior parte do período, equivalendo a uma semana, e produziu alto grau de união entre os indivíduos de cada grupo.

Tanto a chegada ao acampamento, quanto o alojamento dos meninos foram feitos separadamente, de modo que seus chalés tivessem uma distância razoável, sendo assim, integrantes de um mesmo grupo interagiriam muito, enquanto que os dois grupos em si pouco se relacionavam.

Foram propostas diversas atividades em equipe a fim de desenvolver o senso de cooperação entre os integrantes de um mesmo grupo, tais como cozinhar, escavar um buraco para construir uma piscina, transportar canoas por terrenos irregulares até a água e participar de vários jogos.

Os garotos trabalhavam juntos, uniam esforços, organizavam-se em relação a divisão de tarefas e ao mesmo tempo divertiam-se, criando um sentimento cada vez mais solidário entre si mesmos e individualista perante o outro grupo.

Na segunda fase do experimento, Sherif e seus colegas iniciaram a indução do conflito entre os dois grupos por meio de um torneio de jogos como beisebol, futebol, cabo-de-guerra e caça ao tesouro. Somente o vencedor ganharia prêmios neste torneio, sendo assim, um grupo só atingiria seus objetivos em detrimento do outro.

No início o espírito esportivo estava presente, entretanto, o sentimento de “competir é o que importa” tornou-se um “temos que vencer a qualquer preço”.

Com o passar do tempo os meninos passaram a se referir aos seus rivais como “covardes” ou “trapaceiros”, entre outros termos pejorativos.

Após uma derrota marcante em um dos jogos, os Águias queimaram uma faixa deixada pelos Cascavéis, e quando estes últimos descobriram tal ameaça, confrontaram os adversários e uma briga de socos se iniciou.

Na manhã seguinte, não houve grandes mudanças, pelo contrário, o clima de tensão entre os grupos aumentou ainda mais depois de atos de violência física, ameaças, xingamentos e ataques aos chalés rivais. Além disso, esse ambiente conflitante passou a ser frequente pelos dias seguintes.

Quando os pesquisadores questionaram os meninos a respeito da índole e do caráter dos adversários, as avaliações foram negativas e ao final do torneio os participantes recusaram-se a tem qualquer tipo de contato com os integrantes do outro grupo.

Nos últimos estágios do estudo, Sherif e os pesquisadores tentaram reduzir o nível de antagonismo com diversas estratégias, as quais falharam inicialmente. Entretanto, depois introduziram importantes objetivos, os quais para serem alcançados, demandavam a cooperação entre os dois grupos, e assim a redução da rivalidade foi atingida (Sherif et al., 1961).

=Princípios da Teoria=

Segundo Campbell (1965), grande parte da elaboração elegante da teoria tem a ver com o curso dos conflitos, com as formações de alianças, com as melhores estratégias em conflito, com relativas recompensas. Muitas outras características, mais descritivas do que dedutivas talvez, são de alta relevância e enumeradas abaixo:

'1.    A incompatibilidade e divergência de interesses entre os indivíduos pertencentes a grupos diferentes, provoca os conflitos intergrupais. Este último é mais intenso quando as partes envolvidas no conflito têm mais a ganhar com a vitória;'

'2.    Um choque de interesses intergrupal evidente, ativo ou um conflito passado entre esses grupos, nos quais há a presença de indivíduos ameaçadores, competitivos e hostis, podem ser coletivamente chamados de “ameaça real”, e proporcionam a percepção da “ameaça real”;'

'3.    A verdadeira ameaça causa hostilidade em direção à fonte de ameaça. Tal princípio é muitas vezes deixado implícito por ser considerado óbvio demais, mesmo sendo uma proposição característica da teoria do conflito realista. Sherif (1961) estabelece que isso ocorre devido a aversão entre o que ele identifica como exogrupo e endogrupo, e a percepção de uma ameaça causada por um deles;'

'4.      A ameaça causa solidariedade entre indivíduos do mesmo grupo;'

'5.    A ameaça aumenta a consciência/percepção da própria identidade dos integrantes de um mesmo grupo;'

'6.    A ameaça aumenta a proximidade entre as fronteiras e limites do grupo, sobre um ponto de vista figurativo de manutenção da distância social, de acordo com Coser (1956, pp. 95-104);'

'7.    A ameaça reduz a extinção ou abandono dos integrantes do grupo. Coser (1956, pp. 95-104) especifica tal princípio como um dos aspectos da solidariedade dos indivíduos de um mesmo grupo;'

'8.    A ameaça aumenta a punição e a rejeição dos desertores. Este mecanismo específico de manutenção solidária da vingança contra os renegados e desertores é notado por Coser (1956, pp. 67-72);'

'9.    A ameaça cria punição e rejeição para anormais pervertidos. Este mecanismo solidário de redução de tolerância para leais inovadores, revisionistas, e hereges vem sendo notado por Coser (1956, pp. 70-71, 100-101) e Sherif (1961);'

'10.  A ameaça aumenta o etnocentrismo;'

'11.  A falsa percepção de uma ameaça vinda de um grupo em relação a outro grupo causa o aumento da solidariedade do endogrupo e hostilidade em direção ao exogrupo, ou seja, os ameaçados se solidarizam uns com os outros e se unem contra os ameaçadores.'

=Limitações e Críticas a Teoria=

Taylor e Moghaddam (1994) estabelecem sete dificuldades em relação a teoria do conflito realístico:

'1.    A definição de conflito;'

'2.    O pressuposto de que todo conflito é ruim;'

'3.    O tratamento de grupos minoritários;'

'4.    Os participantes dos estudos;'

'5.    A despreocupação com grupos abertos;'

'6.    A negligência das relações de poder;'

'7.    A ênfase em soluções psicológicas para problemas oriundos de conflitos de interesses materiais.'

#1.    Definição de conflito. As interpretações de um conflito, sua operacionalização e suas consequências são diversas, consequentemente, seus resultados podem ser os mais variados e vistos sob diferentes enfoques. Por exemplo, competições entre grupos de estudantes e uma guerra entre nações são conflitos, e mesmo que sejam estudados a partir de uma mesma teoria, são de dimensões completamente diferentes.

#2.    Todo conflito é ruim. Segundo a teoria, todo conflito deve ser evitado ou resolvido. Porém, muitas vezes um conflito é ocasionado por uma competição, onde um grupo se destaca diante do outro colocando este último em desvantagem. Esse sentimento de inferioridade, pode causar estímulos ao grupo, dar iniciativa e vontade de seguir em frente e mostrar que também é capaz de chegar ao mesmo patamar. Seguindo esse ponto de vista, um conflito seria um despertar para a produtividade e competitividade deste grupo “perdedor”. Assim, a presença de um conflito seria mais construtiva do que a ausência dele.

#3.   Tratamento de grupos minoritários. Segundo os autores, a teoria não explica quais são os processos que guiam as percepções subjetivas de grupos a respeito de condições objetivas de vantagem/desvantagem, pois parte do princípio de que todo conflito é ruim e deve ser evitado ou resolvido.

#4.   Participantes dos estudos. Os estudos e experimentos feitos para comprovar a teoria foram realizados com pequenas amostras e não populações, o que aumenta as chances de extrapolações nos resultados.

#5.   Despreocupação com grupos abertos. As pesquisas que comprovam a teoria foram realizadas com grupos fechados, onde os participantes não tinham a possibilidade de trocar de grupo, assim como na pesquisa de Halevy e colaboradores (2006): israelenses não têm a possibilidade de se tornar palestinos, e vice-versa.

#6.   Negligência das relações de poder. As pesquisas enfocam grupos com níveis de poder iguais e negligenciam a importância deste poder no estudo dos contatos intergrupais, pois para os críticos o poder é um aspecto central nos estudos sobre relações intergrupais.

#7.   Ênfase em soluções psicológicas para conflitos oriundos de interesses materiais. Embora a teoria admita que as divergências de interesses sejam a causa dos conflitos intergrupais, a resolução dos conflitos depende de mudanças nas percepções das partes envolvidas.

Brenner e Brown (1998) ainda criticam os seguintes aspectos:

'1.    Diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo;'

'2.    Cooperação e vieses de julgamento;'

'3.    Necessidade de explicitação do conflito;'

'4.    Interdependência entre grupos e conflitos não realísticos.'

#1.   Diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo.  Para que a teoria se comprove há a necessidade de forte diferenciação entre endogrupo e exogrupo, de modo que a competição e a simples existência do conflito não a sustentaria.

#2.   Cooperação e vieses de julgamento. Mesmo quando os grupos precisam cooperar entre si, os vieses de julgamento não desaparecem.

#3.   Necessidade de explicitação do conflito. Segundo Brenner e Brown (1998, p.566), “mais do que causar a identificação com o endogrupo, a competição intergrupal e o conflito percebido podem se uma consequência da identificação grupal e da diferenciação endogrupo-exogrupo”. Seguindo esse ponto de vista, exogrupos sempre serão vistos como concorrentes para as metas do endogrupo.

#4.   Interdependência entre grupos e conflitos não realísticos. A interdependência negativa pode advir dos conflitos de interesses percebidos, não realísticos, ou de elementos intangíveis. Pesquisas sobre discriminação intergrupal e paradigmas do grupo mínimo tem mostrado que basta alocar os indivíduos em grupos distintos para que surjam julgamentos enviesados e comportamento discriminatório. Porém, os resultados são diferentes quando se fala de alocar recursos versus gerar estimulações aversivas, já que os comportamentos discriminatórios a favor do endogrupo podem ser minimizados ou até mesmo equiparados.

==Referências==[editar | editar código-fonte]

{{Donald T. Campbell – Ethnocentric and other altruistic motives. In: LEVINE, D. (org.). Nebtaska symposium on motivation. Lincoln: University of Nebraska Press, 1965.

Lewis Coser, The Functions of Social Conflict. New York: The Free Press, 1956.

Muzafer Sherif - The Robbers Cave Experiment: Intergroup Conflict and Cooperation. Wesleyan University Press, 1961.[editar | editar código-fonte]

Muzafer Sherif – Group conflict and co-operation: their social psychology. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1966.[editar | editar código-fonte]

Muzafer Sherif and Carolyn Wood Sherif - Production of intergroup conflict and its resolution – Robbers Cave experiment. In: REICH, J. W. (Ed.). Experimenting in society: Issues and examples in applied social psychology. Glenview, IL: Scott, Foresman, 1982.[editar | editar código-fonte]

Donald M. Taylor, Fathali M. Moghaddam -  Theories of Intergroup Relations: International Social Psychological Perspectives[editar | editar código-fonte]

Cláudio Vaz Torres / Elaine Rabelo Neiva e Colaboradores – Psicologia Social: Principais Temas e Vertentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. (pp. 265 - 269)[editar | editar código-fonte]

Brewer, M. B.; Brown R, J. Intergroup relations. In: Gilbert, D.T.; Fiske, S.T.; LINDZEY, G. (orgs.) The handbook of social psychology. 4. Ed. Boston, MA: McGraw-Hill, 1998[editar | editar código-fonte]

Psicologia Social / H. Andrew Michener, John D. DeLamater, Daniel J. Myers; tradução Eliane Fittipaldi, Suely Sonoe Murai Cuccio. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. (pp. 460 - 462)[editar | editar código-fonte]

HALEVY, N.; SAGIV, L.; ROCCAS, S.; BORNSTEIN, G. Perceiving intergroup conflict: from game models to mental templates. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 32, n. 12, p. 1674 – 1689, 2006.}}[editar | editar código-fonte]