Usuário(a):Tuka65/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Breve biografia[editar | editar código-fonte]

Tulio Kahn é um sociólogo brasileiro especializado em criminalidade e segurança pública. Nasceu em Santos em 1965 e se formou em ciências sociais pela PUC-SP em 1988. Em 1992 obteve o mestrado em ciência política pela USP com a tese "O Voto Obrigatório" e em 1998 o doutorado na mesma instituição com a tese "As bases de autenticação dos regimes autoritários". É autor de diversos livros, artigos e pesquisas abordando temas como vitimização, ciclos criminais, desarmamento, estatísticas criminais, policiamento comunitário, sensação de insegurança, metodologia de pesquisa criminológica e diversos outros.

Tulio Kahn falando no Ministério da Justiça

Desde 2012, coordena a área de justiça e segurança pública da Fundação Espaço Democrático, ligada ao PSD.

Kahn é tido como um dos mais criativos criminólogos do país e exemplo disso é foi a criação da metodologia para a construção de um Índice de Criminalidade[1], quando era pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (entre 1992 e 1995). O índice de Criminalidade resume a magnitude da criminalidade num determinado local ou período e é basicamente a somatória de taxas de indicadores criminais relevantes, ponderado pela pena média atribuida ao crime pelo Código Penal. Como pesquisador do NEV e militante de direitos humanos, redigiu os relatórios brasileiros para a ONU relativos aos Pacto dos Direitos Civis e Políticos (CCPR) e à Eliminação de todas as Formas de Discriminação (CERD)[2]. Editou os relatórios "Os Direitos Humanos no Brasil" [3]e foi um dos colaboradores do primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos (1996), lançado no governo Fernando Henrique Cardoso.

Ele foi um dos primeiros pesquisadores a utilizar a metodologia dos crimes auto-reportados para investigar a participação em contravenções, crimes e uso de drogas em estudantes brasileiros e foi o responsável pela introdução da metodologia ICVS[4] no Brasil em 1997, desenvolvida pelo UNICRI, para realização de pesquisas de vitimização comparadas em escala internacional. Foi pioneiro na utilização do método contábil para estimar os custos da violência no Estado de São Paulo. Foi um dos primeiros a utilizar a metodologia da "jornada para o crime" e mapas de probabilidade para prever o local de moradia de um estuprador serial em São Paulo[5].

Foi pesquisador visitante do LACS (Latin American and Caribean Studies na Universidade de Michigan) em 1995, do CILAS na Universidade de San Diego (1996) e do Centro de Estudos Brasileiros de Oxford (2006). Nas Nações Unidas, fez parte dos grupos de trabalho para o aperfeiçoamento da coleta de estatísticas criminais para os projetos ICVS e Crime Trends junto ao UNICRI e atuou como consultor da OMS, PNUD, Banco Mundial e BID, entre outras agências internacionais, em projeto de prevenção à violência e estatísticas internacionais de criminalidade[6].

Gestor público[editar | editar código-fonte]

Além de pesquisador, Kahn participou de diversas administrações no âmbito estadual e federal ocupando cargos no primeiros escalão na Secretaria de Administração Pentenciária de São Paulo (1997 a 1998), no ILANUD (1999 a 2002), no Ministério da Justiça (2002 e 2003) e na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (2003 a 2011). No ILANUD, Kahn foi o idealizador e um dos elaboradores do primeiro Plano Nacional de Segurança Pública[7], anunciado pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 2000.

No Ministério da Justiça, fez o primeiro Boletim e a primeira divulgação de estatísticas criminais nacionais em 2002 e trouxe para a Senasp o projeto PIAPS[8], desenvolvido pelo Gabinete de Segurança Institucional da presidência e que foi o primeiro programa de segurança nacional a enfatizar a perspectiva da prevenção para a redução da criminalidade.

Esteve à frente da Coordenadoria de Análise e Planejamento da SSP/SP quando os homicídios cairam drasticamente de 12812 casos em 1999 para cerca de 5 mil casos em 2011, uma das maiores quedas de homicídio[9][10] já observadas no mundo, colocando São Paulo ao lado de Nova Iorque e Bogotá entre os grandes casos de queda de criminalidade[11]. Ali desenvolveu a prática de reuniões períodicas de planejamento com os principais gestores das polícias, com base em evidências estatísticas provenientes do sistema INFOCRIM[12], que ajudou a aperfeiçoar. Na CAP, Kahn criou a meta dos 10 homicídios por cem mil habitantes para o Estado de São Paulo, confundida até hoje com uma suposta recomendação da ONU ou nível epidemiológico de violência, embora não haja documentação atestando essa recomendação.

Foi um dos primeiros a perceber o impacto da disponibilidade das armas de fogo sobre os homicídios e a preconizar o foco policial na busca e apreensão de armas. Introduziu também pioneiramente nas polícias as óticas do policiamento orientado a problemas, a teoria das janelas quebradas, a discussão sobre o CPTED (Prevenção do Crime através do Desenho Ambiental), a regulação dos espaços semi públicos e diversos outros temas estudados pela criminologia. Defensor da regularização do trabalho na folga dos policiais, ajudou a elaborar a Operação Delegada, na qual policiais de folga atuam contra a desordem urbana junto à Guarda Municipal. Na SSP, foi co-coordenador do Disque Denúncia, secretário executivo da Comissão de Letalidade Policial e Tutor Master do programa de ensino à distância do Ministério da Justiça.

Fogo amigo e a questão da transparência das estatísticas criminais[editar | editar código-fonte]

Depois de ajudar a derrubar os homicídios em São Paulo em mais de 70% e colaborar por anos nas campanhas e programas de segurança do PSDB, em março de 2011, Kahn foi demitido da Secretaria de Segurança Pública, depois que seu desafeto, o então secretário de segurança Antonio Ferreira Pinto, entregou a um jornalista da Folha de S. Paulo um dossiê com supostas vendas de dados sigilosos da secretaria pela empresa de consultoria Angra, onde o sociólogo era sócio. Desde que assumiu a Secretaria de Segurança, Kahn e Ferreira Pinto - tido como "linha dura" - entraram em rota de colisão por conta de visões diferenciados sobre transparência de dados, letalidade policial, direitos humanos e outros temas envolvendo a gestão. Kahn, considerado homem de confiança do ex-secretário Saulo de Castro, pediu demissão ao governador Serra em 2009 assim que Ferreira Pinto assumiu a pasta mas foi incentivado a permanecer no cargo pelo então vice governador Aluisyo Nunes Ferreira. O desentendimento final entre os dois se deu em 2011 envolvendo a proposta da CAP de divulgar publicamente as estatísticas criminais desagregadas no site da SSP, medida defendida por Kahn e combatida internamente por setores das polícias e do governo.

Ferreira Pinto foi gravado pelas câmeras de segurança do Shopping Higienópolis entregando um envelope com o dossiê ao jornalista Mário Cesar Carvalho, da Folha de São Paulo, que fez a matéria dois dias depois. Kahn foi desligado da SSP[13] e dois meses depois a pasta começou a divulgar pela internet as estatísticas criminais desagregadas. Ferreira Pinto e a Folha alegaram na ocasião que o sociólogo impedia esta divulgação para poder vender estes dados através da sua empresa de consultoria.

Com base nas matérias veiculadas pela imprensa, o presidente do PT Rui Falcão entrou com um pedido de investigação no Ministério Público de São Paulo. Kahn não chegou a ser denunciado em nenhuma das investigações preliminares abertas - administrativa e criminal - por falta de evidências que comprovassem a venda de dados. O sociólogo sustentou que nunca foi contrado pela SSP e sempre atuou como consultor da mesma, sendo pago, bem como sua equipe de pesquisadores e outros funcionários da SSP, através de contratos diversos que foram arranjados pela própria pasta, com anuência e conhecimento do governo estadual, nas gestões Alkimin e Serra[14]. Em 2012, foi convidado pelo então vice governador do Estado, Guilherme Afif Domingues, para coordenar a área de segurança e justiça da Fundação Espaço Democrático.

Militância pelos direitos fundamentais e debate público sobre segurança[editar | editar código-fonte]

O sociólogo é conhecido por pautar seus argumentos com base em evidências empíricas e pelo rigor no trato dos argumentos. Como militante de direitos humanos, foi colaborador da Comissão Teotônio Vilela, do Instituto Sou da Paz, da Humans Right Watch, Justiça Global, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, do grupo de pesquisa da discriminação da USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Na debate público, esteve envolvido em diversas questões de políticas públicas e campanhas, tais como a campanha do desarmamento, tendo sido um dos principais articuladores e defensores do Estatuto do Desarmamento[15] aprovado em 2003.

Participou também da diversas campanhas eleitorais e da elaboração de programas partidários na área de segurança para o candidatos Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alkimin, entre outros. Entre as causas defendidas publicamente ressaltem-se a criação do Ministério da Segurança Pública, a questão da transparência das estatísticas criminais, da redução da maioridade penal, da redução do consumo de alcool, da prevenção às drogas, do racismo, das penas alternativas, do desarmamento[16] civil e da redução da letalidade policial, entre outros temas.

Citações[editar | editar código-fonte]

  1. «Folha de S.Paulo - Novo índice aponta cidades mais violentas - 10/03/98». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de março de 2018 
  2. Heyns, Christof H.; Viljoen, Frans (30 de janeiro de 2002). The Impact of the United Nations Human Rights Treaties on the Domestic Level (em inglês). [S.l.]: Martinus Nijhoff Publishers. ISBN 9041117199 
  3. Os Direitos humanos no Brasil. [S.l.]: NEV. 1993 
  4. «Folha de S.Paulo - 63% dos paulistanos já sofreram violência - 01/01/98». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de março de 2018 
  5. «Época - EDG ARTIGO IMPRIMIR - Onde a fera vai atacar». revistaepoca.globo.com. Consultado em 22 de março de 2018 
  6. Nations, United (31 de março de 2010). Forum Sur Le Crime Et La Societe / Forum on Crime & Society: Ameliorant La Connaissance Sur Le Crime, Vers Meilleur Data / Better Known in Crime, Towards Better Data (em francês). [S.l.]: United Nations Publications. ISBN 9789212302737 
  7. «Túlio Kahn: 'Virtudes e defeitos do Plano Nacional de Segurança' – Espaço Democrático». espacodemocratico.org.br. Consultado em 23 de março de 2018 
  8. «Sobre segurança pública e segurança nacional (1) - Opinião - Estadão». Estadão 
  9. «Época - NOTÍCIAS - "São Paulo deve sair da epidemia de violência no segundo semestre de 2008"». revistaepoca.globo.com. Consultado em 22 de março de 2018 
  10. «Protecting citizens from themselves». The Economist (em inglês). Consultado em 22 de março de 2018 
  11. «Brasil - NOTÍCIAS - Uma vitória sobre o crime». revistaepoca.globo.com. Consultado em 22 de março de 2018 
  12. «Revista Galileu - NOTÍCIAS - Conheça software que ajudou a reduzir o crime em São Paulo». revistagalileu.globo.com. Consultado em 22 de março de 2018 
  13. «Cai coordenador que vendia dados sigilosos de segurança pública - São Paulo - Estadão». Estadão 
  14. Luis Nassif Online (4 de março de 2011). «Luiz Eduardo Soares e o caso Túlio Kahn» 
  15. Rohter, Larry (13 de junho de 1999). «Brazil, High In Shootings, Is Proposing To Ban Guns». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331 
  16. felipemello. «"Onde há mais armas, há mais suicídios e homicídios"». CartaCapital