Usuário:DAR7/Testes/História de Curitiba/História do Ahu e do São Lourenço

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O bairro Ahu possui sua denominação ligada aos povos indígenas que povoavam Curitiba há muito tempo. O então Ahu já era considerado como um dos 27 Quarteirões de Curitiba, bem mais extenso do que sua superfície atual, no decorrer do século XIX, em 1854. Por isso, era mencionado nos documentos de terras situadas em regiões que mais tarde se transformaram em seus bairros adjacentes. A existência de colonizadores alemães e italianos caracterizava o segundo meado do século XIX. Tais povos eram agrupados em chácaras perto da Estrada da Cachoeira, atual Avenida Anita Garibaldi. No primeiro meado do século XX, essa principal estrada ainda se estabelecia como limite do Ahu de Baixo com o Ahu de Cima. Daí percebe-se a justificativa pelo qual o edifício da Prisão Provisória de Curitiba naquele momento localizava-se no Ahu de Cima. Tal prédio passou a ser denominado Prisão Provisória do Ahu. Essa prisão foi durante muitos anos como o principal ponto referencial do bairro. A instituição da Província Santíssima Trindade das Irmãs da Divina Providência comprou e se instalou no então Cassino do Ahu. No sítio havia uma fonte bastante procurada pelos residentes do bairro e que acreditavam haver a partir de quando os povos indígenas moravam na região.[1]

A denominação do bairro São Lourenço veio em honra ao santo católico, um dos mais famosos dos mártires de Roma, São Lourenço de Huesca. Os documentos históricos mostravam o povoado de São Lourenço constituído por campos e chácaras, no segundo meado do século XIX, anos 1860. A então região era rodeada pelas colônias do Abranches e do Pilarzinho. Estas formavam uma faixa verde composta por colonizadores na periferia de Curitiba. No momento era constante o pedido de terras. Estas eram voltadas à Câmara de Curitiba, para a instalação de propriedades nas vizinhanças do então Caminho do Assungui (Rua Mateus Leme). Mais tarde, esse caminho centralizou, em suas proximidades, a povoação local e estabelecimentos comerciais, entremeados por casas de campo. Também nesse mesmo século, o São Lourenço se encontrava compreendido no então Distrito Policial de São Casemiro do Taboão o qual tornou-se Cartório Distrital, em 1891. Nos anos 1970, o Curtume e a Fábrica de Velas constituíam referência local, no então bairro. Então o estabelecimento do Parque São Lourenço se transformou em um ponto de identidade na cidade. Tal região ultrapassava seus limites no recebimento dos mais longínquos.[2]

1693[editar | editar código-fonte]

A Vila de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, atualmente Curitiba, foi criada oficialmente em 29 de março de 1693, como comprova a ata. Seria colonizada aos poucos a região de enorme vegetação, repleta de pinheiros, guabirobas, imbuias e aroeiras. Não existia notícias oficiais a respeito dos bairros Ahu e São Lourenço nessa época. Somente no século XIX, surgem os mais antigos documentos oficiais de existência. Mas os historiadores creem que os indígenas, que povoavam Curitiba, já usavam a região. Isso porque a designação Ahu vem do idioma tupi-guarani, podendo ter o significado de "alimentar-se" ou "manacial". Vários indígenas levam a acreditar que o manacial empregado pelos nativos é o mesmo que foi conservado até hoje. E que está no interior do Colégio da Divina Providência.[3]

1853[editar | editar código-fonte]

Já constam como subordinados ao Distrito Policial de São Casemiro do Taboão os bairros Ahu e São Lourenço, em 1853. Nesse ano, se dá a emancipação política do Paraná. O Ahu surge como um dos vinte e sete quarteirões que formavam a cidade, na relação de eleitores preparada pela paróquia de Curitiba. O Ahu dispunha apenas de quatro fazendas documentadas na paróquia, um ano após o Paraná ter sido desmembrado, em 1854. Anos depois, vinham à Câmara Municipal de Curitiba várias solicitações de cartas de foro. Estas pediam terrenos para serem criadas propriedades e casas de campo. Estas se localizariam na região que se expandia à beira do antigo Caminho do Assungui (atual Mateus Leme). E de uma das mais importantes vertentes, a Estrada da Cachoeira (atual Avenida Anita Garibaldi).[4]

1866[editar | editar código-fonte]

Ahu e São Lourenço mostram indícios de progresso, em 1866. Surgem diversos pedidos de fazendeiros luso-brasileiros em atas da Câmara Municipal de Curitiba com os sobrenomes Ribeiro, Viana, Santos, Mattoso e ainda de alguns alemães como Frederico Bathmann. Uma década depois, são mencionados José Laruva, Joaquim Dias Rocha, Tertuliano Teixeira de Freitas, Romão Joaquim Gomes. Além disso, são citados sobrenomes muito conhecidos como Abreu, Ribeiro, Saldanha, Cabral e Vianna. Junto desses existem sobrenomes alemães como Hey, Miller, Kentope e Amegner. Isso prova a existência de colonizadores na região.[5]

1900[editar | editar código-fonte]

O quarteirão do Ahu foi promovido à condição de distrito policial, compreendendo as regiões do Ahu, Atuba, Cachoeira, Colônia Venâncio, Santa Cândida e parte da Colônia Antônio Prado. Isso ocorreu em consequência do decreto n.º 67, de 6 de abril de 1900 . O bairro já começava a traçar a sua identidade, salvo a importância institucional recebida. Dessa forma, nasceu a 18 de julho, a Societá Italiana Di Mutto Soccorso Vittorio Emmanuelle II, posteriormente denominada de União Cultural Ahu. Já começava a se fazer presente a importância de seus imigrantes especialmente os alemães e os italianos. Quer na sua presença social, no legado cultural, na arquitetura das residências. Estas conferiam uma característica europeia à Avenida Anita Garibaldi. A inauguração do Hospício Nossa Senhora da Luz, pela Santa Casa de Misericórdia, ocorreu em 1903. O edifício atraiu a atenção do governo paranaense que, em 1905, o adquiriu. A Penitenciária do Ahu nasceu dessa transação comercial. Esta se transformou em um dos mais importantes marcos referenciais da região. Tal instituição começou a conceder a denominação de Avenida da Penitenciária a uma das mais conhecidas ruas, a atual Avenida Anita Garibaldi. Hoje, conforme o decreto 774/75 que criou a atual divisão de bairros em Curitiba, a Prisão Provisória do Ahu está situada no bairro do Cabral.[6]

1910[editar | editar código-fonte]

A fortuna trazida pela exploração da erva-mate a Curitiba vinha à região do Ahu e São Lourenço, onde se implantavam várias barricarias. As barricarias eram "indústrias" para a fabricação de barris com muitos objetivos, dentre elas, encaixotar a erva-mate. Nesse momento, as barricas constituíam uma das principais maneiras para embalar produtos. O curote era um barril menor, empregado na transportação da água ou da pinga. As barricarias ainda faziam tinas e tininhas, as primeiras usadas para lavar roupas e as segundas para higienizar os pés. No decorrer do processo de fabricação, a duela (tora de pinheiro) era purificada com uma ferramenta denominada raspilha, que aplainava e rapava a madeira. Em seguida, as duelas era agrupadas, cintadas (presas à barrica) e armadas até se constituir um barril. Além da importância econômica das barricarias, sua presença envolvia a união dos trabalhadores e a interação dos habitantes do bairro. No A Sociedade dos Barriqueiros do Ahu foi criada nos desfecho dos 1910. Tal entidade, além de agrupar os trabalhadores, realizava bailes, casamentos, festas juninas, exibições de circo. Passava filmes em seu cinema e promovia campeonatos de bocha.[7]

1915[editar | editar código-fonte]

A situação da região era indicada pelo mapa de Curitiba. O Ahu, mais próspero, já aparece com arruamento e quinhões marcados, situado mais a oeste, em uma região que atualmente está subordinada ao bairro Cabral. O São Lourenço pode ser observado no mapa como uma região de diversas casas de campo, então sem arruamento. E situado um pouco mais ao norte de onde se encontra agora. O comércio que ia ao norte do Paraná por meio da Estrada do Assungui e Estrada da Cachoeira já transformava a região em um local muito ocupado. No Ahu, mais perto do centro da cidade, determinados estabelecimentos comerciais já eram tradicionais. Então, João Evangelista Artigas era proprietário do primeiro botequim da cidade, Frederico Lambertucci tinha uma barricaria e Francisco Caron uma "indústria de café". Reinaldo Hecke e Clemente Puppi foram taverneiros, João Reboli foi barbeiro, Simão Mansur tinha um negócio de propriedades e armarinhos. Eduardo Piegel possuía uma padaria e Antônio de Paula igualmente era proprietário de botequim. Com o tempo, novas casas comerciais nasceram, os netos viraram avôs e novas ruas foram construídas, várias delas com a designação dos antigos vendedores do Ahu.[8]

1920[editar | editar código-fonte]

Até então, não faziam parte da vida diária dos habitantes do Ahu e São Lourenço, a água encanada, a luz elétrica e o serviço público de transporte até então. Nos matagais que rodeavam a atual Avenida Anita Garibaldi, os passarinhos eram capturados pelos meninos. Ao passo disso, o pó nos dias secos e o barro em épocas de chuva seguiam as carruagens e os cavalos na atual Rua Marechal Hermes. Isso porque a região era bastante famosa por sua produção de cavalos. Outros, uniam a família para realizar piquenique no Parque Ahu e tomar banho em mananciais naturais já conhecidas por seus efeitos terapêuticos. Era conhecido igualmente então o Tiro do Ahu, que utilizava os grandes campos da região para adestramento militar.[9]

1935[editar | editar código-fonte]

A inauguração do Cassino do Ahu ocorreu no terreno do parque homônimo, no começo da década de 1930. Desde então, a região se tornaria famosa na história da cidade. Coincidentemente ou não, a prosperidade chegou com o cassino. Eram pavimentadas algumas ruas e foi alterada e aperfeiçoada a iluminação, até essa época feita por lamparinas movidas a azeite. Os automóveis, que antes eram uma novidade para os habitantes, começaram a andar todos os dias pela travessa Cassino Ahu (atual Rua Brasilino Moura). Os principais empresários, os homens mais endinheirados, as mulheres mais belas. E as orquestras mais conhecidas começaram a procurar as ruas do Ahu para vir ao principal cassino que Curitiba possui. Em 1936, ele teve suas atividades encerradas pelo então interventor do Paraná, Manoel Ribas, o mesmo que o reabriu em 1939. Faliu definitivamente em 1946, no momento que a prática do jogo foi vedada no Brasil.[10]

1949[editar | editar código-fonte]

Também eram mais evidentes as consequências do desenvolvimento, que veio com o cassino, nos anos 1940. Algumas poucas residências que iam despontando no decorrer da Avenida Anita Garibaldi, na altura da região do cognominado Ahu de Cima, sucediam o local dos belos eucaliptos. Estes enfeitavam a propriedade da família Schimidt. O Ahu e parte do São Lourenço já eram loteados até então em três porçôes: o Ahu de Baixo, o Ahu de Cima e o Estribo Ahu. O Ahu de Baixo se encontrava perto do centro da cidade e da Penitenciária do Ahu. O Ahu de Cima se situava na parte mais elevada. E o Estribo Ahu, se localizava ao redor da estação do trem. Nessa época, era bastante aguardada a vinda do trem. Os moradores do bairro se congregavam no estribo para comtemplar sua chegada de Rio Branco do Sul. O trem estava cheio de engradados de frangos, de suínos e de enorme quantidade de milho. Ali, começava a se expandir um comércio mais forte, que progressivamente estimulou o desenvolvimento do bairro.[11]

1957[editar | editar código-fonte]

A região do Ahu de Cima e Estribo Ahu (agora de jure no território da Boa Vista e da Barreirinha) recebia um de seus principais monumentos religiosos em 1955. Isso se deu com a criação da Paróquia de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Esta, certo tempo depois, foi incorporada à Paróquia de Santo Antônio da Boa Vista. Eram tempos de se escutar as histórias de confronto entre os clubes Rio Branco e Operário do Ahu. Ou das proezas de Emílio Beira que sempre cavalgava, arremessando sua corda para todos os lados e, às vezes, jogava seu laço a um dos residentes do bairro. No São Lourenço, a novidade foi um descendente de italianos, denominado Vitor. Em um pequeno bar, ele comercializava os mais diversos gêneros de batidas e para complementar oferecia anchovas, pescadas e pirão. Era o começo do Bar do Vitor. Este era tido como um dos mais antigos e gostosos endereços gastronômicos da cidade, na década de 1970.[12]

1958[editar | editar código-fonte]

Todo o patrimônio do então Cassino do Ahu, incluindo a histórica fonte do bairro, bastante famosa por suas propriedades terapêuticas, foi comprado pelas irmãs da Divina Providência, em 1958. No edifício do antigo cassino, tais religiosas começaram o processo de estruturação da Província Santíssima Trindade das Irmãs da Divina Providência. Apesar das mudanças realizadas no edifício, para se adaptar às novas finalidades, as irmãs mantiveram boa parte de sua arquitetura. isso porque tais religiosas pensaram no valor histórico do estabelecimento para a história da cidade. A fachada foi conservada. E, no interior, o salão de jogos começou a compreender uma capela. E o salão de danças foi convertido em auditório e salas de reuniões. Com o passar dos anos, foram erguidos a direção administrativa da Província Santíssima Trindade, uma casa de retiros e cursos de diplomação religiosa. O convento e o colégio da Divina Providência, subdividido em prédios de educação infantil, ensino fundamental e médio.[13]

1970[editar | editar código-fonte]

A região mostrava sinais expressivos de progresso, no decorrer das décadas de 1960 e 1970. Viviam no São Lourenço 5 035 moradores, em 1970. Obras de infraestrutura ainda começavam a surgir. A inauguração do parque São Lourenço se deu em 1972. Tal equipamento urbano, ao mesmo tempo, solucionava a questão das inundações na região. E presenteava à população uma opção de diversão e um centro de criatividade que começava a operar onde antes havia um curtume e uma indústria de velas. A Guarda Mirim foi criada no local onde operara a matriz do convento da Divina Providência, já em 1974. No mesmo ano, os habitantes de Curitiba viram ao talvez nunca pudessem imaginar. A união dos então adversários Operário Sport Club do Ahu e União Cultural Ahu, constituindo a Sociedade Urca.[14]

1980[editar | editar código-fonte]

A diferença entre Ahu e Ahu de Cima era mais uma vez assunto de reportagem de jornal, em 16 de maio de 1982. Na região, a principal modernização foi o erguimento de prédios que começavam a alterar uma paisagem que anteriormente era formada somente por residências com quintais, pomares e varandas. No São Lourenço, o erguimento do Colégio Santa Maria era a novidade. Tal instituição de ensino se transferira de uma antiga construção no centro da cidade para um inovador complexo perto do Parque São Lourenço. Em consequência dos diversos parques que foram sendo implantados em bairros próximos como Pilarzinho e Abranches, Ahu São Lourenço se desenvolveriam ainda mais. Isso aconteceu no decorrer dos anos de 1980 e 1990.[15]

1998[editar | editar código-fonte]

Uma provável transformação da penitenciária do Ahu, era publicada pelos jornais, em 1998. Tais meios de comunicação mencionaram o fato dele estar fincado em uma das zonas residenciais mais caras de Curitiba. Uma controvérsia começada no decorrer do segundo mandato do governador, Ney Braga, retornava às discussões nas esquinas, nos jornais e nos bares. As discussões eram outras nos colégios. No colégio Ângelo Gusso, direção, discentes e docentes "recartografavam". E pesquisavam a região contestando a atual divisão dos bairros Ahu (Ahu de Cima, Ahu de Baixo), São Lourenço e Boa Vista. Eles mostram que é bebendo da fonte que se vem ao conhecimento do mundo.[16]

Referências

  1. «NOSSO BAIRRO/AHÚ» (PDF). ippuc.org.br. Consultado em 1 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 3 de fevereiro de 2023 
  2. «NOSSO BAIRRO/SÃO LOURENÇO» (PDF). ippuc.org.br. Consultado em 1 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 3 de fevereiro de 2023 
  3. Fenianos 2000, p. 17.
  4. Fenianos 2000, p. 18.
  5. Fenianos 2000, p. 19.
  6. Fenianos 2000, pp. 20–21.
  7. Fenianos 2000, p. 22.
  8. Fenianos 2000, p. 23.
  9. Fenianos 2000, p. 24.
  10. Fenianos 2000, p. 25.
  11. Fenianos 2000, p. 26.
  12. Fenianos 2000, p. 27.
  13. Fenianos 2000, p. 28.
  14. Fenianos 2000, p. 29.
  15. Fenianos 2000, p. 30.
  16. Fenianos 2000, p. 31.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fenianos, Eduardo Emílio (2000). Ahú: São Lourenço: da fonte a providência. Curitiba: UniverCidade