Usuário:DAR7/Testes/História de Curitiba/História do Orleans, do São Miguel, da Augusta e da Riviera

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1693[editar | editar código-fonte]

Em 1693, não existiam registros de povoadores nas áreas de Orleans, Riviera, Augusta e São Miguel. As primeiras informações oficiais de residentes datariam do século XIX. Nesse período, o presidente da Província do Paraná, Lamenha Lins, em consonância com a política de Portas Abertas do imperador do Brasil, D. Pedro II, decidiu fundar na região as colônias Riviere, D. Pedro, Tomaz Coelho, Dom Augusto e Santo Inácio. De maneira estratégica, Lamenha Lins posicionou essas colônias perto da cidade. Com isso, objetivava atenuar a carestia de mão de obra e alimentos em Curitiba.[1]

1875[editar | editar código-fonte]

No dia 19 de janeiro de 1867, foi promulgado o decreto número 3784 pelo governo imperial, estabelecendo diretrizes para a criação e desenvolvimento de colônias no Brasil. Em 1875, o governador Lamenha Lins inaugurou a Colônia Orleans, abrangendo uma área de 377 hectares, dividida em 66 lotes, e abrigando 63 famílias e 249 habitantes. Dessas pessoas, 182 tinham mais de dez anos, enquanto 67 possuíam menos de dez anos. No ano seguinte, em 1876, foram estabelecidas as colônias Riviere, D. Augusto, Santo Inácio e D. Pedro, cada uma com aspectos distintos, dimensões de quinhões específicos e predominantemente habitadas por imigrantes poloneses, cujo propósito era a produção de alimentos. Em 1877, o presidente da Província do Paraná elogiava a habilidade agrícola dos colonos, observando que as áreas anteriormente cobertas por matas virgens já estavam aradas e cultivadas. Isso resultava em boas colheitas de trigo e centeio. No ano de 1878, cerca de 800 imigrantes poloneses residiam nas quatro colônias.[2]

1880[editar | editar código-fonte]

Os imigrantes poloneses foram agraciados com uma diminuta ermida assim que vieram. Porém, devido à intensa religiosidade entre eles, a capela logo tornou-se reduzida. Esse fato os conduziu a erguer, de 1878 a 1880, a Igreja de Santo Antônio de Orleans, acompanhando o estilo polonês com torres de madeira. Havia inexistência de ferramentas e miséria na colônia. Em consequência disso, a argila para a edificação foi compactada com os membros inferiores. E todo o material necessário foi transportado pelos próprios colonos. Estes, na época, ainda não dispunham de cavalos ou carroças. O panorama já era de uma aldeia polonesa. Naquele momento, o distrito de Nova Polônia, como eram denominadas as colônias, acolheu a chegada do imperador do Brasil, Dom Pedro II. Este se encontrava rumo a Ponta Grossa. Durante o acolhimento que foi organizado com todas as precauções, a comunidade solicitou contribuição para o erguimento da igreja. O Imperador prontamente comprometeu-se a mandar um presépio do orago Santo Antônio e dois sinos para a torre da paróquia. Poucos meses após seu percurso pela colônia, o compromisso estava concretizado.[3]

1905[editar | editar código-fonte]

No início de um novo século, já se podiam notar vantagens e desvantagens na disposição das colônias. Inexistiam estradas, e durante os períodos sem cultivo, os colonos ficavam sem ocupação. Apesar disso, era de sua responsabilidade o abastecimento a cidade, pois não conseguiam garantir alimentos para si próprios. Também havia queixas sobre a ausência de quinhões para profissionais como ferreiros, carpinteiros e sapateiros. Estes poderiam complementar as atividades agrícolas e, gradualmente, transformar o núcleo em uma vila autossustentável. Diante da recusa frequente das solicitações realizadas ao governo, a possibilidade foi a autogestão e a solução dos problemas na própria comunidade. Naquela época, a igreja e seus arredores se tornaram centros significativos para debater problemas, organizar a sociedade, promover a união e proporcionar entretenimento à comunidade. Habitantes de Orleans, Santo Inácio, D. Pedro, Riviera, Tomaz Coelho e demais colônias frequentemente se congregavam ali.[4]

1915[editar | editar código-fonte]

O mapa de Curitiba no ano de 1915 mostra a estrutura e os aspectos físicos da cidade e das colônias. Curitiba, Araucária e Campo Largo se misturavam. A precoce inexistência da Barragem do Passaúna tornava as atuais municipalidades e suas diminutas vilas e colônias uma unidade. Por intermédio do mapa, é possível ver que o atual território do bairro São Miguel estava subordinado a colônia Tomaz Coelho. E que o bairro Augusta na época constava com a denominação de colônia D. Augusto. Prevaleciam casas de campo e propriedades rodeadas por um bioma formado por padarias, matas de Araucária e pelos pântanos do rio Passaúna.[5]

1928[editar | editar código-fonte]

Nos anos 1920, as colônias, que existiam há quarenta anos, participavam do cotidiano de Curitiba. Os tropeiros que cortavam a região tocando gado já se encontravam habituados a escutar os poloneses falando alto de longe com seu linguajar característico: "Fecha o portão porque senão a boiada come toda a nossa batatinha". A atividade para comercializar na cidade as riquezas que plantavam era difícil. Os imigrantes partiam precocemente e vinham durante a hora do almoço na catedral para comercializar, direto do campo e da carruagem, aquilo que cultivavam. Na Vila Augusta, os menores de idade cursavam a Escola Isolada Augusta e brincavam galgando árvores, levando a boiada e se entretendo em um olho d'água que existia nos fundos da escola. Os amantes namoravam sob o olhar dos genitores e perto dos suínos e frangos que penetravam ocasionalmente em casa. Nesse mesmo intervalo de tempo, a comunidade vivenciou um momento embaraçoso, com uma epidemia de tifo preto. As aulas foram paralisadas e diversos indivíduos morreram. O sofrimento aparentava deixar os imigrantes ainda mais resistentes.[6]

1933[editar | editar código-fonte]

Em 1930, a paróquia, erguida pelo padre Przytarski, fora destruída para a edificação de um novo templo, que, mais uma vez, foi construído com a contribuição da comunidade polonesa, que assumiu as despesas da obra. Em 8 de fevereiro de 1933, a comunidade estava de trajes e calçados novos para a missa de inauguração da nova igreja. Porém, as transformações não se restringiram apenas à área religiosa. No dia 20 de outubro de 1938, foi dissolvido o distrito de Nova Polônia, que compreendia as colônias Orleans, Santo Inácio, Riviera, D. Augusto, porção das colônias Rebouças e Tomaz Coelho. Com isso, uma porção de seu território começou a estar subordinada ao município de Campo Largo, ganhando a denominação de Ferraria. O restante chegou a integrar o recém-fundado distrito de Campo Comprido.[7]

1940[editar | editar código-fonte]

Se na colônia Orleans a vida já era dura nas colônias longínquas o complicado era ainda mais difícil. Na colônia Riviera, a atual Rua Edmund Eckstein na época denominava-se Estrada da Riviera. Os únicos meios de transporte que ainda existiam eram a bicicleta, a carroça ou o cavalo, visto que era quase impossível um automóvel transitar por ali. Grande parte das famílias então se ocupavam da agricultura, entretanto, alguns já chegavam a laborar nas fábricas que iam se estabelecendo na periferia perto de Araucária Campo Largo. Para as mulheres, não transar antes do casamento, além de um tabu religioso, era ainda um problema estratégico. Na comunidade, eram famosas as "tias" que muitas vezes reiteravam "não vai se entregar para o rapaz, se não ele vai te deixar.[8]

1951[editar | editar código-fonte]

Ao passo que no centro da cidade os automóveis realizaram o footing na Rua XV e a iluminação dos neons fazia a noite aparentar dia, na região de Orleans, Riviera, São Miguel e Augusta, água na época vinha do poço, a energia elétrica chegava dos lampiões e o fogão era à lenha. As aquisições eram realizadas em armazéns no bairro Portão. Os menores de idade colaboravam no campo e seu principal entretenimento era o próprio meio ambiente. Banhar-se no rio, capturar peixes, perseguir os animais, escalar nas árvores e saltar de galho em galho, eram a brincadeira da criançada. Durante o inverno, os jovens recolhiam pinhões, os comercializavam e utilizavam o dinheiro para adquirir um sapato ou chinelo, mercadorias mais caras de então. As paqueras se iniciavam durante o culto, nos batismos e nos matrimônios. Com o começo de uma paquera, principiava a maratona de um "namorado apaixonado". Em função da distância das casas de campo, havia necessidade de percorrer entre 20 e 30 km a pé, de bicicleta ou cavalo para rever a amante. Outro problema era ser admitido pelos pais da garota que indagavam e procuravam saber se o rapaz era verdadeiramente solteiro, de família unida e, especialmente, aquele que trabalhava muito. Se as respostas fossem elogiativas, faltava pouco para a comunidade receber mais uma família.[9]

1966[editar | editar código-fonte]

O rio Passaúna, "avenida" o mais importante da região, via seu curso ser alterado demoradamente pelos habitantes que desbravavam seu barro nas fábricas de cerâmica. De qualquer forma, na época da piracema ainda se podia observar milhões de lambaris, bagres e demais peixes galgando o rio para a desova. Alguns narram que as traíras da região eram tão enormes que havia a necessidade de exterminá-las com uma espingarda. Em 1960, a família Eckstein levou o primeiro automóvel ao bairro. Como algumas famílias estavam unidas, veio a energia elétrica. As enormes fazendas eram loteadas dentre os herdeiros e seus descendentes que contraíam núpcias e acompanhavam o hábito de morar ao lado dos parentes. Os matrimônios, sempre com muita festividade, eram acompanhados com churrasco, frango, leitão, cerveja, refrigerantes caseiros e vinho. O fluxo da BR-277 chegava a alterar a organização da região que até aquela época somente conhecia estradas de terra.[10]

1975[editar | editar código-fonte]

Cem anos haviam decorrido a partir da vinda dos primeiros imigrantes à região. Muito havia se transformado e muito havia continuado. No panorama, não era mais a floresta e os capões que prevaleciam no território, mas sim os cultivos e as residências tipicamente polonesas. No cotidiano, os costumes religiosos e a vida familiar se transformaram muito pouco. Na economia, a agricultura era a única atividade econômica, já com a colaboração, para alguns, do trator e dos carros. Na mesma época, boa parte das terras da região chegava a ser transferida para a implantação da Cidade Industrial de Curitiba. Assustados, vários imigrantes deixaram as plantações, deram suas fazendas e foram desempenhar sua função de empregados no centro da cidade. Anos mais tarde, os primeiros lotes e favelas sucederiam regiões até aquele momento reservadas à lavoura.[11]

1986[editar | editar código-fonte]

A novidade dos anos 1980 para Riviera, São Miguel e Augusta fora a construção do Rio Passaúna. Ao invés do rio que tinha de 6 a 8 m de comprimento, um grande lago gerado pela barragem da Estação de Abastecimento de Água do Passaúna, com mais de 3,5 milhões de metros quadrados. Além de residências e solos arados, ficou transbordada e a lembrança de cerca de um centenário de imigração. Os jornais anunciavam que o Orleans já havia adquirido aparência de bairro. Os residentes pediam pavimentação nas ruas e mais bem sucedido serviço de transporte coletivo e coleta de lixo.[12]

1990[editar | editar código-fonte]

À beira de um novo século, a região conhecia os reflexos de se encontrar no limite do campo a metrópole, do rural com o urbano. Grande parte dos habitantes não tinha certeza se precisava quitar o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) ou Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR). Em certas residências, a água até aquele momento chegava do poço e a energia elétrica estava vindo. A explosão populacional chegou com a Cidade Industrial e as ocupações de terra, levaram a insegurança e o medo. Não era mais possível ir para cama com as portas abertas. No começo da década de 1990, bairro São Miguel ingressava no roteiro turístico de Curitiba com a estreia na região do Parque Municipal do Passaúna. Como antigamente, muito havia se transformado, porém, muito havia continuado. Unidos, Orleans, Riviera, Augusta e São Miguel entravam no ano 2000 totalizando 2 332,4 hectares predominantemente formados por água, áreas verdes e habitantes solicitando que a natureza jamais deixasse de ser aí.[13]

Referências

  1. Fenianos 2000, p. 19.
  2. Fenianos 2000, p. 20.
  3. Fenianos 2000, p. 21.
  4. Fenianos 2000, p. 22.
  5. Fenianos 2000, p. 23.
  6. Fenianos 2000, p. 24.
  7. Fenianos 2000, p. 25.
  8. Fenianos 2000, p. 26.
  9. Fenianos 2000, p. 27.
  10. Fenianos 2000, p. 28.
  11. Fenianos 2000, p. 29.
  12. Fenianos 2000, p. 30.
  13. Fenianos 2000, p. 31.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fenianos, Eduardo Emílio (2000). Orleans: São Miguel, Augusta, Riviera: a Polônia Curitibana. Curitiba: UniverCidade 

Categoria:História dos bairros de Curitiba