Usuário:DAR7/Testes/História do Brasil/Invasões holandesas no Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Olinda, então a urbe mais rica do Brasil Colônia, foi saqueada e destruída pelos holandeses, que escolheram o Recife como a capital da Nova Holanda. O mapa de Nicolaes Visscher mostra o cerco a Olinda e Recife em 1630.[1]

As invasões holandesas no Brasil referem-se ao projeto de ocupação do Nordeste brasileiro pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.) durante o século XVII. Em uma determinada noitada de março de 1644, a população recifense foi conclamada pelo conde Johann Mauritius van Nassau (João Maurício de Nassau) — governante e patrocinador do Brasil Holandês — para comparecer a uma enorme festa através da qual, prometeu ele, um boi voaria. Houve quem depois não acreditasse, costuma ser verdade. Até os mais descrentes, no entanto, devem ter ponderado antes de zombar na cara do conde. Enfim, eles se encontravam na cidade mais global e desenvolvida das Américas. Um quintal florescia em que anteriormente era banhado. O porto fervia cheio de embarcações e produtos do mundo inteiro. Fabricavam completamente os engenhos. Ruas perfeitamente asfaltadas eram percorridas por muitos oficiais da Inglaterra, investidores do judaísmo, aventureiros da Suécia, mascates da Escócia, negociantes da Alemanha e de França. Ademais, nessa mesma tarde, ocorrera a inauguração da mais extensa ponte das Américas, um fenômeno arquitetônico de 318 metros de extensão. A partir de que fora empossado como “governador, capitão e almirante-general das terras que a Companhia das Índias Ocidentais conquistou ou por conquista em solo brasileiro”, Nassau resolveu fazer o seguinte: chegou a construir a colônia. No dia em que a ponte foi inaugurada e o boi voador foi festejado, no entanto, para o “príncipe” somente sobraram 60 dias de presença no Brasil. Ainda que o boi tenha voado, a obra de Nassau em seguida chegaria a fracassar.[2]

Por 24 janeiros, a Holanda foi proprietária de sete das dezenove capitanias em que era dividido o Brasil durante o século XVII. Antigo parceiro comercial dos portugueses, atacou a mais extensa das possessões de Portugal, dentre outros motivos, uma vez que começava a travar com os espanhóis o conflito por sua autonomia. Dominar o Brasil era juntar o proveitoso do benefício do açúcar ao prazeroso da represália contrária a um adversário antigo. A invasão da zona brasileira de produção açucareira era um plano que teve articulação minuciosa da Companhia das Índias Ocidentais — instituição de capital particular que ganhou do governo da Holanda o monopólio do comércio entre os continentes americano e africano. No entanto, no mês de março de 1630, a cidade do Recife foi tomada pelos holandeses, que aí permaneceram antes da época em que foram expulsos em janeiro do ano de 1654. No decorrer dessa metade de século, o ponto mais alto da época em que o Brasil foi dominado pela Holanda havia sido marcado pelo “tempo de Nassau” (1637–1644). Isso começou o legado em conformidade com a qual o futuro da nação haveria sido mais bem-sucedido se o plano colonial da Companhia das Índias Ocidentais se mantivesse. No entanto, a verdade é que, da forma que fora previsto por Nassau, menos de um janeiro depois que ele partiu — no momento anterior à qual fez com que voasse “couro de boi repleto de palha amarrado por fios escondidos pela noite” — o feliz Brasil Holandês foi definitivamente azedado.[2]

Companhia das Índias Ocidentais e invasão da Bahia[editar | editar código-fonte]

A tomada do Brasil havia sido um esquema que teve a articulação da Companhia das Índias Ocidentais (WIC, West Indische Compagnie), criada em junho de 1621 nos padrões de sua similar, a Companhia das Índias Orientais (fundada em 1602). Com orçamento original de sete milhões de florins, a WIC constituía uma sociedade de capital aberto a qual conseguiu o estanco, por 24 janeiros, do desbravamento dos continentes americano e africano. A maioria dos sócios era de pequenos investidores — calvinistas convencidos fugitivos da região meridional dos Países Baixos a Amsterdã. Dezenove diretores compunham o conselho administrativo da WIC: dezoito nomeados por conselhos regionais e um escolhido pelo governo central. Em oposição à sua predecessora, a WIC concedeu alguns lucros: somente em 1628, depois que a esquadra espanhola anual foi capturada pelo pirata Pieter Heyn, dividendos não puderam ser pagos pela Companhia para os sócios. Havia sido este dinheiro o qual possibilitou a dominação de Pernambuco, após a expulsão dos holandeses da Bahia. Apesar de ter dominado em Angola os portos de onde chegavam os escravos e trazido os processos de cultivo de cana-de-açúcar e de fabricação de açúcar às Antilhas, a WIC apresentou saldo negativo. Tão intensamente que, em 1674, vendeu aos ingleses uma ilha denominada de Manhattan.[3]

No momento em que as primeiras velas neerlandesas se dirigiram defronte a Salvador, em plena manhã do dia 8 de maio de 1624, o que se encontrava prestes a terminar foi o anúncio de uma invasão. Há meses anteriores, espiões a serviço da Espanha souberam da armação de uma frota pelos holandeses para encetar ataque contra a Bahia. Mesmo assim, o governador-geral do Brasil, Diogo de Mendonça Furtado não pôde solicitar ao monarca que fortificasse a urbe. O bispo D. Marcos Teixeira aconselhou ao soberano que investisse na edificação da Sé, e não na construção duma fortaleza. Salvador, que era um “tesouro precioso, no entanto, inseguro”, permaneceu “uma urbe livre, protegida por 80 recrutas pagos”. Nem sequer era, por isso, nada complicado à frota de 26 embarcações, 450 bocas-de-fogo, 3 300 soldados, liderada por Jacob Willekens, invadir Salvador.[3]

Realmente, faltaram 24 horas: o bombardeio começou nas matinas de 9 de maio. Na escuridão do mesmo dia, a cidade foi apressadamente abandonada pela população. No amanhecer de 10, quando entraram na praça abandonada, os holandeses esbarraram com o governador, que estava “determinado a falecer de espada no punho”. Mendonça Furtado foi detido e mandado para a Holanda, com o butim da vitória: 3 900 caixas de açúcar e bastante pau-Brasil. Mais uma coisa: o roubo era tanto que um oficial neerlandês disse que os homens “mensuravam ouro e prata nos chapéus abarrotados e apostar quatrocentos florins em um lance de dados”. A duração da alegria do exército era de dois dias. A invasão holandesa, durava somente um janeiro.[3]

Quando invadiram a Bahia, os neerlandeses estavam a concretizar um esquema que estabeleceu de maneira minuciosa uma carta que explicava as razões pelas quais a Companhia das Índias Ocidentais poderia tentar retirar para o monarca espanhol e a relação do que deve ser produzido pelo Brasil. Ainda iniciavam ataque a antigos parceiros comerciais.[3]

Numa época anterior à União Ibérica, grande mercado era mantido por Portugal e Espanha. Na cidade de Lisboa, os holandeses compravam drogas do Oriente, vinho e especialmente sal setubalense, importante para a sua desenvolvida indústria da pesca. Em permuta, colocavam peixe, trigo, queijo, metais, instrumentos de náutica e panos. Com o começo da cultura açucareira em terras brasileiras, essas relações de comércio se aproximaram ainda mais: realmente todo o açúcar que se produzia no Brasil era preparado para o consumo e de lá se distribuía ao restante do continente europeu. O mais antigo engenho de açúcar brasileiro era de um bancário neerlandês — e a maior parte dos que chegaram depois, custeada por eles. Em torno de 1621, somente em Amsterdã existiam vinte e cinco refinarias açucareiras.[3]

No entanto, a partir do ano de 1568, Holanda estava guerreando com Espanha — e conseguiu a soberania nas sete colônias setentrionais em 1579, um janeiro anterior à absorção do Estado português por Espanha (Portugal somente seria totalmente independente em 1648). Quando foi capturada uma grande quantidade de embarcações holandesas em Lisboa, Filipe II de Espanha decidiu acabar com as permutas de Portugal com Holanda. No ano de 1609, uma paz de doze janeiros foi firmada por Espanha e Holanda. Devido àquele momento, somente naquela época, cinquenta mil caixas de açúcar partiram do Brasil à Holanda — toda caixa abrigava 525 kg. Assim que a trégua findou em 1621, os holandeses não aceitaram largar mão dessa excelente atividade econômica. A recém-criada Companhia das Índias Ocidentais propôs, naquela época, o ataque ao Brasil. No entanto, o projétil partiu através da parte traseira da arma.[3]

Mesmo que Salvador tivesse sido invadida durante 24 horas, não foi possível que o sertão baiano fosse conquistado pelos holandeses. A luta de canarinhos e portugueses — chefiada por Matias de Albuquerque — tinha sido forte no campo e foi baseada nas estratégias da guerra brasílica, em outras palavras, conflito de guerrilhas. No dia 22 de março de 1625, a mais extensa armada que já tinha cruzado o Equador (52 embarcações com 12 mil soldados), foi enviada por Espanha para Salvador. Cercados, os holandeses se renderam em 1.º de maio. Entretanto, eles voltariam depois.[3]

Tempo de Nassau, Palácio das Torres e Frans Post[editar | editar código-fonte]

A Bahia foi invadida, e isso somente prejudicou a Companhia das Índias. No ano de 1628, no entanto, passando longe de Cuba, a armada anual da prata de Espanha foi capturada pela companhia, tinha obtido um butim de 14 milhões de florins (a metade de seu orçamento originário). Uma vez que se enriqueceu, a WIC decidiu planejar que o Brasil fosse invadido novamente. O ponto que se escolheu desta feita tinha sido a mais extensa e maiormente poderosa região que produzia açúcar. Ademais de ter 130 engenhos (encarregados de mil toneladas anuais de açúcar), Pernambuco constituía uma capitania privada, mas não verdadeira, por isso, pior-mente equipada.[4]

Em 15 de fevereiro de 1630, uma frota, que era dotada de 77 embarcações, sete mil soldados, 170 canhões, apareceu em frente a Marim — igualmente denominada de Olinda. Por mais que o governador Matias de Albuquerque, cujo avô era o antigo donatário Duarte Coelho, resistisse heroicamente de novo — e, anteriormente à sua partida, ele tivesse conseguido que 24 embarcações atracadas no porto fossem incendiadas —, o Recife tinha sido invadido de imediato. Desta feita, a invasão duraria cerca de 20 janeiros.[4]

A invasão holandesa em território pernambucano (de onde se espalhou para sete das dezenove capitanias constituintes do Brasil na época) está dividido em três etapas:[4]

  • A mais antiga, entre 1630 e 1637, teria sido marcada pela valiosa época em que os luso-brasileiros resistiram no interior;
  • Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês floresceu em relativa concórdia;
  • Entre 1645 e 1654, travou-se o conflito que teria resultado na ocasião em que os invasores foram expulsos;

Após três centenários e meio, o experimento de Holanda em terras brasileiras permanece ligado à época de Nassau.[4]

Johann Mauritius van Nassau-Siegen veio a nascer no dia 17 de agosto de 1604, na cidade de Dillenbourg, na Alemanha. Seu avô era o conde João VI, que, por seu turno, tinha sido irmão do príncipe Guilherme de Orange, que fundou os Países Baixos. Através do lado materno, tinha sido bisneto de Cristiano III, monarca dinamarquês. Apesar do seu ingresso aos quatro janeiros na carreira castrense, Nassau possuía educação humanista: em plena Universidade de Basileia, aprendeu filosofia, teologia, ciências militares, música, matemática, esgrima, boas maneiras e equitação. Tinha se tornado coronel aos 25 janeiros, resolveu lutar com os espanhóis, decidiu encomendar pinturas de Rembrandt e construir um palacete na cidade de Haia. No mês de agosto de 1636, a WIC o convidou para que fosse governador-geral do Brasil holandês. Já que o salário de mil e quinhentos florins por mês (mais 15 mil adiantados e 2% acima de todos os prisioneiros de guerra) era interessante — e as despesas com sua nova residência, eram enormes, Nassau resolveu aceitar. No dia 23 de janeiro de 1637, veio ao Recife, com 3 mil soldados, 800 marujos e 600 índios e africanos.[4]

Devido à sua tolerância, competência, dedicação e agilidade, Nassau tinha feito uma administração excelente. Em primeiro lugar, invadiu Porto Calvo, a mais recente concentração em que se resistiu contra os conquistadores. Em seguida, resolveu atrair os agricultores luso-brasileiros lhes dando empréstimos para erguer novamente seus engenhos — e os protegeu dos comerciantes agiotas de Holanda e do judaísmo, tendo limitado os juros para 18% anuais. Concedeu liberdade de religião, resolveu tratar melhor os indígenas, aumentar o açúcar produzido, urbanizar o Recife, proteger os profissionais da arte e apaziguar a colônia. Tinha sido um príncipe.[4]

Na planície situada no ponto de encontro do rio Capibaribe e Beberibe (área pantanosa parecida com os Países Baixos), Nassau construiu a Cidade Maurícia, que simbolizava seu governo. Aí, na ilha de Antônio Vaz (atualmente bairro de Santo Antônio), ergueu, por conta própria, o Vrijburg, sua morada oficial, igualmente denominada de Palácio Friburgo ou das Torres. Tinha escrito frei Manuel Calado, religioso o qual visitou o local:[4]

No meio daquele areal infrutuoso, plantou um jardim e todas as castas de árvores de fruto que dão no Brasil.

Entre milhões de frutos e flores, Nassau cultivou igualmente duas mil palmeiras. Construiu um jardim zoológico com todas as categorias de animais que se encontram nacionalmente. O conde costumava adorar “que todas as pessoas vissem seus interesses”. Concedeu à população carne e divertimento: contra a monocultura, forçou que senhores de engenho plantassem mandioca, “o pão brasileiro”. Através de decreto, tornou proibido que cajueiros, agora quase extintos, fossem derrubados. Tinha ladeado as vias públicas com árvores de mamão, jenipapo e mangas. Tornou proibido, por intermédio de edital, que “o bagaço de cana fosse lançado nos açudes e rios”, tendo evitado a morte de peixes que matavam a fome dos empobrecidos. Realizou cavalhadas, o conhecido mito do boi voador e peças teatrais. Tinha convocado o mais antigo parlamento democrático continental. Autorizou que sinagogas fossem construídas, resolveu aproximar católicos e calvinistas (somente nem sequer realizou concessões para os jesuítas). A população o costumava comparar a Santo Antônio, a “quem nenhuma pessoa solicitava ajuda sem ser ouvido”.[4]

Primeiro europeu que retratou o esplendor do meio ambiente dos trópicos, Frans Post (1608–1669) tinha sido um excelente paisagista, cujo trabalho, aprimorado e cuidadoso, Nassau tinha doado para o monarca Luís XIV de França, no ano de 1678. Post somente criou dezoito pinturas no lugar, desde que observou diretamente a paisagem do Brasil. No entanto, o trabalho de Post, que ficou no Brasil entre 1637 e 1644, aumenta mais de duzentas pinturas: constituem paisagens “fictícias” realizadas em Holanda desde que ele tivera vislumbrado no Brasil.[4]

Um tesouro humanista[editar | editar código-fonte]

As provas de que o conde João Maurício de Nassau tinha sido um simulacro de príncipe renascentista que acabou se materializando nos trópicos se encontram conservadas na grande herança cultural e artística que se produziu no decorrer da época em que permaneceu por sete janeiros no Brasil. Nassau conduziu em sua comitiva, 46 artífices, especialistas, artistas e eruditos. Uma vez que se deslumbrou com o meio ambiente tropical vigoroso e viçoso, resolveu encarregar seus protegidos da catalogação, da pintura, do estudo e da preservação de vegetais e animais das Américas. Tornou o caju e o abacaxi em emblemas dessa “linda nação do Brasil, que não há outra idêntica abaixo do céu”. Assim como trabalho de arte que se fez perante seu mecenato, merece destaque igualmente a obra científica feita em menos de dez anos. Dentre os eruditos famosos da Corte tropical de Nassau estão incluídos Johann Benning, docente de física e ética da Universidade de Leiden; Constantin L'Empereur, autoridade no Talmude; e o profissional de saúde Servaes Carpentier. Nassau desejava criar no Recife uma universidade livre. Morreu antes de realizar seu desejo.[5]

Mesmo assim, o trabalho de dois especialistas conduzidos por Nassau é imposto, ainda atualmente, como um dos mais ilustres da história da cultura erudita do Brasil. No ano de 1648, a grandiosa Historia Naturalis Brasiliae de Georg Marcgraf e Willem Piso foi publicada em Leiden, na Alemanha. Pesquisas a respeito de enfermidades tropicais e plantas medicamentosas do Brasil foram realizadas por Piso, que era profissional de saúde pessoal de Nassau. O clima foi estudado e mais de cem espécies de animais e plantas classificadas por Marcgraf, que nasceu em Liebstad, na Alemanha, no ano de 1610, e morreu 34 anos depois em Angola. A morte surpreendeu Marcgraf, astrônomo, naturalista, agrimensor, cartógrafo e matemático, que deixou numerosas obras incompletas. Pesquisadores de hoje creem que, caso vivesse mais tempo, seria um dos mais importantes naturalistas de todas as épocas — duvidosamente mais importante a partir de Aristóteles. Na residência em que viveu no Recife, entre 1637 e 1642, Marcgraf contava como um observatório astronômico mandado vir de Holanda por Nassau. Quando observou o trabalho de Marcgraf, o pároco Antônio Vieira viu que ele com certeza teria despertado a ganância mundial das “terras que muito menos costumamos saber valorizar”.[5]

Pintores de Nassau[editar | editar código-fonte]

Nem sequer foi precisamente como se Rembrandt ou Rubens desembarcassem nos trópicos. No entanto, tinha sido quase isso. Os artistas plásticos denominados de Frans Post e Albert Eckhout chegaram a Pernambuco, no ano de 1637, e isso marca, de alguma maneira, uma das datas mais brilhantes da história da arte brasileira. Conduzidos a Pernambuco por Maurício de Nassau — encarregado, de maneira pessoal, por pagar seus salários —, Eckhout e Post herdaram ao futuro uma riqueza artística fora do comum: a mistura de ciência e cultura concretizada por eles em suas pinturas e desenhos é o mais antigo registro de imagens paisagísticas, botânicas, zoológicas e indígenas brasileiras. Quase quatrocentos anos posteriormente, a mesma qualidade e o mesmo frescor são preservados por suas obras.[6]

Eckhout e Post eram os mais talentosos, no entanto, nem sequer os únicos artistas plásticos que integravam a comitiva feita desembarcar no Recife por Nassau. Demais seis profissionais da arte os costumavam acompanhar. Todos possuíam residência e alimentos, salário constante e bastante serviço para frente: teriam sido os mais antigos europeus que registraram, no próprio local, o meio ambiente exuberante em colônias as quais, até aquela época, estiveram dominadas por Portugal.[6]

Albert Eckhout (nasceu em Groningen, na Holanda, no ano de 1612) morou no Brasil ao longo de sete janeiros, entre 1637 e 1644 — entre 25 e os 33 anos, por isso. Costumava sentar à mesa do novo conde (o qual desembarcou no Recife com 33 janeiros inconclusos), de modo geral acompanhado de Frans Post, que igualmente houvera chegado aos trópicos no brilho de seus 25 anos. Eckhout tinha sido um pintor do naturalismo que dominava excepcionalmente a produção de gravuras de modelos vivos, proprietário dum estilo que tinha alto individualismo e detalhismo, que se dispunha à documentação de tipos humanos, animais e plantas nunca retratados antes pelos europeus.[6]

O exótico fascinava Eckhout. Seus desenhos em estatura real de índios, pardos e africanos lhes dão, ademais de serem antropológica e etnograficamente, muito caráter altivo e digno. Eckhout tinha pintado pessoas, nem sequer verdadeiros exotismos tropicais. O trabalho de seu amigo Frans Jansz Post, conhecedor das paisagens do Brasil, que se sentiu fascinado pelo caráter luminoso e viçoso do Novo Mundo — parte que soubera registrar de maneira extremamente perfeita em seus quadros. Quando retornou à Europa, Nassau resolveu doar as telas de Post ao monarca francês Luís XIV, e os Eckhout ao rei dinamarquês Frederico III.[6]

Outro profissional da arte cujo trabalho comemora o denominado “período nassoviano” chama-se Zacharias Wagener. Verdadeiro combatente não graduado da Companhia das Índias Ocidentais, sua denominação não aparecia na relação inicial de profissionais artísticos conduzidos ao Brasil. No entanto, a partir da época em chegou ao Recife, no ano de 1634, esse alemão de Dresden tinha demonstrado ser muito hábil e um desejo contínuo pelo meio ambiente dos trópicos. Elevado a “dispenseiro-escrevente” e a escrivão pessoal de Wagener, Nassau, simples “artista plástico dominical” produziu mais de cem quadros e gravuras litográficas de animais do Brasil. Quando retornou da Europa, no ano 1643, costumava levar com ele as versões originais de Thierbuch, ou Livro dos Animais, um simulacro de tradução popular da Historia Naturalis Brasiliae, de autoria de Marcgraf. Além disso: o trabalho de Wagener influenciou muito Albert Eckhout. Também, com Frans Post, Eckhout tinha sido, de maneira definitiva, um prodígio artista que vivia no Brasil.[6]

Expulsão dos Holandeses e Guerra Brasílica[editar | editar código-fonte]

No dia 6 de maio de 1644, após diversos meses em conflito com os diretores da Companhia das Índias Ocidentais, João Maurício de Nassau resolveu renunciar ao governo do Brasil Holandês. O que ele decidiu provocou revolta e outras regiões dominadas pelos holandeses (naquele tempo, mais de mil quilômetros de litoral a partir de São Luís do Maranhão a Sergipe). Em uma recente tentativa de conciliação, certos dos mais famosos luso-brasileiros do Recife — dentre os quais o senhor João Fernandes Vieira, o mais endinheirado de todos e, depois um dos mais importantes chefes da denominada “Insurreição de 1645”, — mandaram uma mensagem em que tinham dito que Nassau tinha se ausentado desta colônia ultramarina, logo se terá de voltar a tornar aniquilado qualquer coisa o que com sua existência tinha se alcançado e florescido. Por isso foi de maneira justa o que tinha acontecido. Antes do final de maio, lamentado por índios, africanos e caucasianos de diversos países, Nassau saiu. Antes de um janeiro, a guerra irrompeu.[7]

A partir do mês de junho de 1644, portugueses e neerlandeses gozavam de um tratado, que resultou do armistício que se assinou dentre ambos os países em breve após Portugal recuperar sua independência, tendo se separado dos espanhóis (em dezembro do ano de 1640). Mesmo assim, sem que Nassau estivesse presente para conciliar, os ilustres senhores de engenho luso-brasileiros se rebelaram contrariamente ao “dominador” neerlandês: a maior parte deles se encontrava endividada com a Companhia das Índias Ocidentais. A libertação do Brasil costumava implicar ter se libertado igualmente das dívidas. As mais recentes safras foram más (ocorreram cheias, fogo se alastrando e epidemias de 1641 até 1644), o preço mundial da cana-de-açúcar tivera desabado, a tolerância espiritual da época de Nassau acabou.[7]

Esse conjunto de motivos conduzido ao que eclodiu o mais antigo conflito: em 3 de agosto de 1645 travou-se a batalha de Tabocas, que iniciou a insurreição. Apesar da luta de vários homens somente de paus e foices, bateram-se os neerlandeses. Brevemente, encurralar-se-iam totalmente no Recife. Mesmo assim, o combate tinha entrado em um enorme impedimento: o sertão era dominado pelos luso-brasileiros, no entanto, o Recife continuava impossível de ser expugnado. A condição foi mantida dessa forma por três janeiros, até a defrontação dos exércitos rivais nos montes Guararapes, na periferia do Recife, em 19 de abril de 1648.[7]

Então, mais de 2500 luso-brasileiros, comandados por Fernandes Vieira, Felipe Camarão, Vidal de Negreiros e Henrique Dias, venceram cerca de 4 500 neerlandeses, que se distribuíram em sete regimentos, chefiados pelo tenente-general da Alemanha, Siegmundt von Schokoppe. A guerra, chamada de primeira batalha de Guararapes, fez aumentar a coragem dos que praticaram a insurreição. Quase um janeiro em seguida, e naquele mesmo local, os dois exércitos tornaram a ter se enfrentado. Mil soldados foram perdidos pelos neerlandeses, comandados por Johann van der Brincken. Dentre os do Brasil, vieram a morrer 47 caucasianos e 60 índios e africanos, dentre os quais Henrique Dias.[7]

O alemão Johann Nieuhoff, que costumava trabalhar para a WIC e acabou de se tornar o mais importante historiador do conflito, tinha anotado que o 19 de fevereiro do ano de 1649 tinha sido o mais mal-sucedido de muitos no Brasil que foi experimentado em vários anos. Isso porque, embora o ataque do Exército Brasileiro fosse bravo, o inimigo, incentivado pelo mais recente êxito e esperançoso em ser numericamente superior, tinha conseguido fazer com que a força terrestre de Holanda batesse em retirada. Morreram todos os comandantes de Holanda. A segunda batalha de Guararapes tinha sido um conflito de decisão. Ainda assim, os neerlandeses levariam cinco anos para capitularem.[7]

Cercados no Recife, os invasores se opuseram bravamente antes do dia 26 de janeiro de 1654. No entanto, naquela época, em conflito com os ingleses, em contínua guerra interior com a província da Zelândia e tendo precisado do sal português para ter preservado seus peixes, os neerlandeses resolveram desistir da guerra açucareira, largando o Brasil. No ano de 1661, após ter recebido pagamento de quatro milhões de cruzados, os neerlandeses tinham abdicado oficialmente de suas reivindicações em pleno nordeste. Naquele momento, os jardins e palácios de Nassau já se “consumiram no fogo voraz e nos sangrentos janeiros de guerra”. O conde tinha sido governador de Kleve, na Alemanha, em que veio a morrer, no ano de 1679, aos 75 janeiros, angustiado e pobre — com a sua grandiosa “Brasiliana” espalhada por diversos palácios europeus.[6]

A mais importante colaboração brasileira para a história militar se deu há mais de trinta anos na época em que os quais as tropas luso-brasileiras lutaram contra o dominador neerlandês: nos morros e pântanos, nas florestas e nas areias pernambucanas, é possível que os brasileiros inventaram a guerra de guerrilhas. Como conheciam profundamente e se adaptaram ao meio ambiente dos trópicos, lusitanos como Matias de Albuquerque, índios como Felipe Camarão e afrodescendentes como Henrique Dias tinham idealizado uma estratégia de combate a qual, de acordo com o historiógrafo Gonsalves de Mello “antecipou o estilo brasileiro de jogo de futebol”. Na opinião de Gilberto Freyre, a “guerra brasílica” constituía “um grupo de talentos surpreendentes, manhosos, astuciosos, ligeiros e, de modo simultâneo, brilhante e individualmente espontâneo… algo de capoeira e de dança”. Os inimigos, ainda que vencidos, souberam ter reconhecido que estratégias indígenas eram excelentes. Testemunha que presenciou a segunda batalha dos Guararapes, o neerlandês Michiel von Goch tinha escrito que os exércitos brasileiros tinham “ligeireza e agilidade naturais, de forma que atravessam florestas e várzeas, costumam subir muitas colinas e descer em todas de maneira notavelmente rápida e ágil”.[7]

Personagens da Guerra Brasílica[editar | editar código-fonte]

Apesar de sua articulação e parcial condução por integrantes da alta elite luso-brasileira, a guerra contrária a Holanda ficou famosa como o conflito que tinha lançado o alicerce do patriotismo brasileiro porque o exército enfrentando o dominador foi chamado de “a amálgama das três raças”. Essa expressão é, de certa forma, compreensível, já que, ademais dos pelotões comandados pelos luso-brasileiros Vidal de Negreiros e Fernandes Vieira, o triunfo somente foi tornado possível devido ao batalhão de africanos, comandado por Henrique Dias e ao de índios, chefiado por Felipe Camarão, do Rio Grande do Norte. Os neerlandeses igualmente dispuseram de aliados indígenas: nativos das nações chamadas de Poti, Paraupaba e Janduí, ademais do mulato Domingos Calabar. Em breve, a história de vida resumida de certas personalidades da guerra do açúcar:[8]

  • João Fernandes Vieira: Madeirense, no entanto, tendo vivido no Brasil a partir dos dez janeiros, houvera lutado corajosamente contra os neerlandeses antes de sua prisão por eles no ano de 1635. Na época, tinha se aliado ao dominador e, tendo se tornado senhor de engenho e negociante, comprou “a maior riqueza da terra”. Endividado com a WIC, chefiou a revolta depois de Nassau sair.
  • André Vidal de Negreiros: Mais um endinheirado senhor de engenho virando líder das guerrilhas. Invadiu o Recife no ano de 1654, tendo se tornado governador de Pernambuco e de Angola até o ano de 1666.
  • Felipe Camarão: Nasceu no Rio Grande do Norte no ano de 1591, Antônio Poti (“camarão” em língua tupi) foi convertido para o cristianismo, se tornou um dos mais confiáveis aliados dos lusitanos e o índio brasileiro mais honrado. Líder de um batalhão com somente cento e setenta indígenas, conseguiu importantes glórias. No ano de 1633, o monarca Filipe III lhe concedeu escudo de armas e ordenado de 40 mil-réis. Antônio Poti acabou de se tornar na época dom Felipe Camarão. No ano de 1635 recebeu comenda da Ordem de Cristo. Geralmente, lutava ao lado da esposa, Clara. Após a primeira batalha dos Guararapes, Camarão morreu em agosto de 1648.
  • Henrique Dias: Descendente de africanos livres, foi apresentado a Matias de Albuquerque na frente dum batalhão de africanos “de quatro tribos: Minas, Angolas, Ardas e Crioulos”. Machucado na batalha de Camandituba, amputou 50% do membro superior. Após serem expulsos os neerlandeses, foi indicado “Governador dos Negros, Crioulos e Mulatos”.
  • Domingos Calabar: Guerrilheiro mestiço, combateu ao lado de Matias de Albuquerque, no entanto, tinha passado para o partido dos neerlandeses no mês de abril de 1632. Causou bastante preocupação para os brasileiros. Preso no mês de julho de 1634, tinha sido enforcado, torturado e esquartejado. Lugar semelhante ao dos caciques Poti, Janduí e Paraupaba, os quais ajudaram os dominadores.

Futuro do pretérito no Brasil Holandês e vida rural e urbana[editar | editar código-fonte]

O Brasil, que sempre teve tanta abundância e eficácia na autocrítica, tinha enraizado em seu folclore histórico a hipótese de que deveria se transformar em um país de ordem e progresso, brilhando ao calor da zona tropical, caso permanecesse diante da dominação de Holanda, se libertando do legado português. Ademais do quadro emocional que revela tanto, que históricas realidades poderiam ter se escondido na retaguarda desse desejo que se apresenta de maneira tão frequente como fato? Um hipotético Brasil holandês teria sido de verdade uma opção mais bem-sucedida que o verdadeiro Brasil português? Muito provavelmente que não seria.[9]

No ano de 1971, o historiógrafo Mário Neme resolveu se debruçar a respeito do problema e, no seu documento denominado de Fórmulas políticas do Brasil holandês, tinha concluído que o argumento de os holandeses estarem prontos a tornar o Brasil um país de ordem e progresso surgiu nos escritos do frei lusitano Manuel Calado, historiador do Brasil neerlandês o qual foi “o convidado assumido do conde de Nassau”.[9]

Em sua grandiosa História do Brasil, publicada no ano de 1854, Francisco Varnhagen tinha ecoado o argumento de Calado. No entanto, de acordo com Neme, tinha escrito em uma época em que “a intelectualidade do país costuma estar previamente disposta contra os portugueses… época em que o reagir da ex-colônia passa para a etapa psicológica de todos os descontentamentos, provocados pelos conflitos da abolição, da independência e da república”. Não há nada que possibilite imaginar, conforme Neme, que um Brasil holandês teria sido mais bem-sucedido do que o Brasil português.[9]

Não é uma hipótese isolada. Tinham escrito os historiógrafos Arno e Maria José Wehling no livro denominado de Formação do Brasil Colonial:[9]

A ideia de que a colonização holandesa teria sido superior à portuguesa, pelo senso de organização, nível cultural e grau de liberdade, se baseia num preconceito, numa ilusão de ótica e num erro de informação. A ilusão de ótica… é admitir a existência de colonizações 'melhores' ou 'piores', quando a natureza da instituição colonial faz com que ela seja objeto — de lucro, em geral, mas também de populações excedentes — e não sujeito da relação.

A utopia dum Brasil neerlandês de ordem e progresso nasceu por causa da administração de Nassau, bem acima da má educação lusitana da época. No entanto, da forma como foi notado pelo historiógrafo Bóris Fausto:[9]

Nassau representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais, outra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial luso.

Realmente, basta fazer uma análise do que aconteceu nas outras possessões neerlandesas — nas Antilhas, na Ásia e nas Guianas — para extrair como conclusão que, com a falta de Nassau, o Brasil possuiria um futuro melhor. Além disso, da forma que foi observado pelo professor:[9]

Os holandeses não se tinham apoderado do Brasil com a intenção de o colonizar (…) de para aqui se transferir com as famílias e estabelecer um renovo da pátria: movia-os sobretudo o interesse mercantil.

Na época em que as riquezas, que o açúcar prometia, tinham minguado, os neerlandeses escolheram deixar de conquistar mais terras. Quando o fizeram, tinham abandonado de maneira inapelável os tapuias e o potiguares, seus aliados nativos de cerca de vinte janeiros — e nunca trabalharam para tê-los defendido da represália luso-brasileira.[9]

Ambas as características mais conflituosas dentre os modelos coloniais que Holanda e Portugal estabeleceram já tinham sido largamente pesquisadas no Brasil. Já no ano de 1907, Capistrano de Abreu costumava observar que os holandeses dominaram de maneira fácil os municípios nordestinos e jamais conquistaram o sertão — e a ação invertida que veio depois: os portugueses costumavam reconquistar os campos, no entanto, não tinham capacidade de invadir as cidades — habituava revelar que os primeiros gostavam da cidade, enquanto os lusos só queriam se refugiar na paz do campo. Natural, entretanto, que, no decorrer do período neerlandês, tivesse estourado uma guerra dos senhores de engenho luso-brasileiros e os mercadores neerlandeses. Na possessão lusitana, eram predominantes os anseios dos agricultores; na neerlandesa, os dos comerciantes.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

Referências

  1. Luiz Geraldo Silva. «A Faina, a Festa e o Rito. Uma etnografia histórica sobre as gentes do mar (sécs XVII ao XIX)». Google Books. p. 122. Consultado em 28 de junho de 2016 
  2. a b Bueno 2003, p. 88.
  3. a b c d e f g Bueno 2003, pp. 90–91.
  4. a b c d e f g h i Bueno 2003, pp. 91–92.
  5. a b Bueno 2003, p. 93.
  6. a b c d e f Bueno 2003, pp. 94–95.
  7. a b c d e f Bueno 2003, pp. 95–96.
  8. Bueno 2003, p. 97.
  9. a b c d e f g h Bueno 2003, pp. 98–99.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bueno, Eduardo (1997). História do Brasil: os 500 anos do país em uma obra completa, ilustrada e atualizada. São Paulo: Folha de São Paulo 
  • Bueno, Eduardo (2003). Brasil, uma história: a incrível saga de um país. 2ª ed. São Paulo: Ática 
  • Bueno, Eduardo (2012). Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre DAR7/Testes/História do Brasil/Invasões holandesas no Brasil

[[Categoria:Guerra Luso-Holandesa]]