Vicente Guimarães

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Vicente de Paulo Guimarães (Cordisburgo, 23 de maio de 1906 - Rio de Janeiro, 2 de junho de 1981) foi um educador, jornalista e escritor de literatura infantil e juvenil.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filho de Luis Guimarães e Maria Lima Guimarães. Exerceu as atividades de jornalista, professor,[2] e inspetor federal do ensino. Dedicou toda sua vida à educação dos jovens, seja como professor, seja como escritor.[3]

Criou o personagem Vovô Felício, que também era seu pseudônimo.[1] Publicou mais de 40 livros para o público infanto-juvenil,[4] e na década de 1940 foi o criador do suplemento literário infantil do jornal O Diário Católico, de Minas Gerais, o primeiro da América Latina.[1] Foi fundador da Biblioteca Infantil Caio Martins em Belo Horizonte e das revistas infantis Era uma vez..., Sesinho[5] e Caretinha.[4]

Para adultos, escreveu o livro Joãozito: infância de João Guimarães Rosa, sobre a vida e especialmente a infância de seu sobrinho, Guimarães Rosa, do qual era somente dois anos mais velho. Ambos conviveram intimamente na infância. Também adaptou para o público jovem o conto de Guimarães Rosa O burrinho pedrês, publicando-o com o título de Última aventura do Sete de Ouros. Segundo a pesquisadora Camila Rodrigues, Vicente foi um dos responsáveis por abrir "ao escritor mineiro um campo de observação para o universo infantil".[6]

Obra[editar | editar código-fonte]

Guimarães Rosa incentivou Vicente para que seguisse na linha da literatura infantil, e recomendou que se informasse lendo literatura especializada em pedagogia e puericultura. Na análise da pesquisadora Sarah Ipiranga, a obra de Vicente Guimarães geralmente tem uma ênfase educativa, voltada para a formação moral e cívica do público infantil.[4] Segundo a pesquisadora Nelly Coelho, ele desenvolveu uma abordagem semelhante à de Monteiro Lobato, mas incorporava ideias construtivistas, e embora tenha sido um dos autores que contribuíram para uma evolução no gênero infantil, sua obra tem um fundo tradicionalista alinhado com a ideologia dominante.[7] De qualquer forma, ela diz que "sua frase ágil, pitoresca, bem humorada foi, sem dúvida, o maior trunfo na conquista do pequeno leitor, pois transmitia de maneira fácil as 'lições' ou 'moralidades' que as estórias carregavam".[3] A historiadora Olga Brites, que estudou a linha editorial que adotou na revista Sesinho, voltada para filhos dos funcionários do SESI, que dirigiu entre 1947 e 1960, tinha como objetivo formar a consciência da futura classe trabalhadora, cujos valores deveriam estar centrados na disciplina, na moral, na família, no progresso, no trabalho e na religiosidade, criando uma imagem de mundo idealizada e sem conflitos.[8][9]

Entre suas principais publicações estão João Bolinha virou gente,[10] Rui. Biografia de Rui Barbosa para a infância e juventude,[11] Histórias divertidas, Os três irmãos, Festa de Natal e A princesinha do castelo vermelho, todas com várias edições.[5] Também deve ser destacado Joãozito: infância de João Guimarães Rosa, que segundo Ana Martins Costa é o relato mais detalhado já escrito sobre a infância do escritor.[12]

Publicou diversas peças de teatro infantil, destacando-se O pacificador, Tiradentes, Uma visita ilustre, O dia da Bandeira, e Dia do professor, destinadas a montagem em festividades escolares.[13]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Nas palavras de Rodrigues, "consideradas as semelhanças entre a produção de ambos os escritores, cabe aqui destacar que há, da mesma maneira, pelo menos uma diferença fundamental entre as estórias escritas pelo tio Vicente e as de autoria de seu sobrinho João: Vicente dedicou-se a escrever estórias em livros para crianças. Tal escolha garantiu seu sucesso e notoriedade nesse meio editorial, na época em que ainda estava escrevendo, tanto que em 1967 se chegou a instaurar no Rio de Janeiro o dia 23 de maio – data de seu nascimento – como o Dia do Livro Infantil".[14]

Nelly Coelho, no Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira, disse que sua produção foi divulgada na imprensa especializada e em literatura, e homenageando "seu fecundo trabalho de incentivo ao ensino, à educação cultural da criança e à produção de uma literatura destinada a ela, o seu nome foi dado a inúmeras bibliotecas infantis, clubes de leituras escolares e grêmios estudantis em vários estados do Brasil. [...] A leitura de qualquer um de seus livros infantis deixa evidente o espírito de educador que sempre norteou Vicente Guimarães. [...] A literatura infantil de Vicente Guimarães é das que cumpriram sua tarefa: encantou milhares de crianças em todo o Brasil".[15]

Segundo Leonardo Arroyo, "a literatura infantil de Vicente Guimarães implica uma valorização da experiência com que poucos autores podem contar hoje no Brasil. [...] Em face do êxito como contador de estórias, escreveu vários livros, que são realmente bons, porque marcados por aquele processo oral, objetivo, direto, concreto. Alguns de seus livros alcançaram várias edições. [...] Sua atividade é importante na literatura infantil brasileira também pela iniciativa da fundação de algumas revistas para a infância".[5]

Referências

  1. a b c Soares, Lucas Gonçalves. Práticas de ler, ouvir ler e ouvir contar textos literários na escola: uma história registrada em cadernos de planejamento de professoras das séries/anos iniciais (1962 -2017). Doutorado. Universidade Federal de Pelotas, 2021, p. 98
  2. «SENAC Minas Gerais - DescubraMinas». www.descubraminas.com.br. Consultado em 29 de setembro de 2020 
  3. a b Coelho, Nelly Novaes. A literatura infantil: história, teoria, análise: das origens orientais ao Brasil de hoje. Quíron, 1981, p. 385
  4. a b c Ipiranga, Sarah Diva da Silva. Imagens da Infância: Crianças, Aprendizagem e Formação nos Contos de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Doutorado. Universidade Federal do Ceará, 2010, p. 37
  5. a b c Arroyo, Leonardo. Literatura infantil brasileira. Editora Unesp, 2011, 3ª. ed. p. 329
  6. Rodrigues, Camila. Escrevendo a lápis de cor: Infância e história na escritura de Guimarães Rosa. Doutorado. Universidade de São Paulo, 2014, pp. 9-10; 58
  7. Apud Souza, Damaris Leme de. Literatura infantil: origens e contribuições na educação infantil. Licenciatura. Universidade Estadual Paulista, 2016, p. 19-20
  8. Brites, Olga. Infância, trabalho e educação: a revista Sesinho (1947/1960). Editora Universitária São Fanscisco, 2004, pp. 23-48
  9. Brites, Olga. "Mulheres de Sesinho". In: Projeto História, 1994 (11): 161-170
  10. Piedade, Amir Aparecido dos Santos. O Sagrado na Literatura Infantil brasileira de 1950 a 1985. Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006, p. 25
  11. Nazareth, Flávia Beatriz Ferreira de. "A construção da memória de Rui Barbosa: Uma pauta política". In: Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, 2019; 11 (1): 41-63
  12. Costa, Ana Luiza Martins. "Veredas de Viator". In: Cadernos de Literatura Brasileira, 2006 (20-21): 55 — Edição Especial
  13. Pereira, Sandra Márcia Campos. "Teatro infantil: um olhar para o desenvolvimento da criança". In: Aprender - Caderno de Filosofia e Psicologia da Educação, 2005; III (4)
  14. Rodrigues, p. 67
  15. Coelho, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira. EdUSP, 1995, pp. 119-122