Violet Jessop

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Violet Constance Jessop
Violet Jessop
Jessop em uniforme de enfermeira, em 1915
Conhecido(a) por sobreviver ao desastre do RMS Olympic (1911), ao naufrágio do RMS Titanic (1912) e ao naufrágio do HMHS Britannic (1916)
Nascimento 2 de outubro de 1887
Bahía Blanca, Argentina
Morte 5 de maio de 1971 (83 anos)
Great Ashfield, Suffolk, Inglaterra
Causa da morte insuficiência cardíaca
Nacionalidade argentina
irlandesa
Ocupação hospedeira
enfermeira
Empregador(a)

Violet Constance Jessop (Bahía Blanca, 2 de outubro de 1887Suffolk, 5 de maio de 1971) foi uma comissária de bordo e enfermeira argentina que ganhou notoriedade após sobreviver, respectivamente, aos naufrágios dos navios "irmãos" da classe Olympic, RMS Titanic e HMHS Britannic em 1912 e em 1916. Jessop ainda se encontrava a bordo do outro "irmão", o RMS Olympic quando este colidiu com o cruzador HMS Hawke em 1911.[1][2] Por tudo isso, ficou conhecida como "Miss Unsinkable"[3] ou "Senhorita Inafundável".[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Violet nasceu em 2 de outubro de 1887, nos arredores de Bahía Blanca, na Argentina. Era filha de William e Katherine ("Kelly") Jessop, oriundos de Dublin que haviam emigrado para a Argentina na década de 1880 para tentar a sorte na criação de gado ovino.[5][6] Violet era a mais nova de nove filhos, tendo três morrido à nascença. Violet contraiu tuberculose com uma tenra idade mas, apesar das previsões dos médicos que apontavam que a criança só teria alguns meses de vida, sobreviveu à doença.[7]

Quando o seu pai morreu em Mendoza, a família regressou à Grã-Bretanha. A sua mãe encontrou emprego como hospedeira de bordo na Royal Mail Line enquanto Violet recebia educação num convento. A saúde da sua mãe deteriorou-se, e Violet desistiu da escola para se tornar uma hospedeira como a mãe; primeiro na Royal Mail Line e, em seguida, na White Star Line. Inicialmente, Violet encontrava-se apreensiva em relação ao seu novo trabalho por não gostar da ideia de navegar no Atlântico Norte devido às condições climáticas e por ter ouvido rumores pouco agradáveis acerca dos passageiros exigentes que se serviam daquela companhia de navios.

RMS Olympic[editar | editar código-fonte]

Ilustrações documentando os danos causados ao RMS Olympic (à esquerda) e ao HMS Hawke (à direita), após a colisão dos dois navios.

Jessop entrou ao serviço da White Star Line em 1910, trabalhando 17 horas por dia e com um ordenado mensal de £210 (equivalentes, hoje, a cerca de £231 ou €280). Começou por trabalhar a bordo do RMS Olympic que era, à altura, o maior navio de passageiros do mundo, sendo cerca de 30 metros maior do que qualquer outro navio.[8][5]

Violet Jessop encontrava-se a bordo do navio quando, no dia 20 de setembro de 1911, próximo da Ilha de Wight, este colidiu com o cruzador HMS Hawke que, por ter dimensões muito menores, teria sido sugado pelas pás das hélices do Olympic.[1][8] Como resultado, dois dos compartimentos estanques do Olympic ficaram abertos ao mar e parte das suas hélices ficou torcida; a proa do Hawke ficou completamente destruída. Ainda assim, os dois navios não naufragaram, e conseguiram deslocar-se até ao porto de Southampton.[8]

RMS Titanic[editar | editar código-fonte]

Violet sentia-se realizada com o trabalho a bordo do Olympic, e não fazia menção de trabalhar para o novo navio da White Star Line, o RMS Titanic (que era idêntico ao Olympic porém maior e mais opulento). Os seus amigos acharam que seria uma ótima experiência, por isso Violet seguiu o seu conselho e subiu a bordo do Titanic como hospedeira de bordo na manhã do dia 10 de abril de 1912.[1]

Dentre as pessoas que Violet viria a mencionar nas suas memórias encontra-se Thomas Andrews, que a hospedeira admirava bastante. "Muitas vezes, durante a nossa ronda, encontrávamos o nosso estimado arquiteto andando pelo navio frequentemente com uma cara de cansaço, mas com ar de satisfação. Nunca se esquecia de parar para nos dar uma saudação alegre; o seu único arrependimento era que nos estivéssemos 'cada vez mais longe de casa'. Todos sabíamos o amor que ele nutria pela sua casa Irlandesa, e suspeitávamos que ele ansiava por regressar à paz da sua atmosfera para um descanso muito merecido e para tirar a arquitetura naval da ideia por uns tempos." Violet ainda menciona ter travado amizade com o violinista escocês Jock Hume.

Os botes salva-vidas são lançados ao mar enquanto o Titanic afunda.

Era seu hábito respirar o ar fresco do convés antes de se retirar para o seu quarto, à noite, e que "Se o sol já não brilhava com tanta intensidade no quarto dia, e se um friozinho se arrastava pelo ar à medida que a noite se instalava, era apenas para enfatizar o calor e a luxuosidade do interior do navio". Nas suas memórias, Jessop escreve que, para a viagem inaugural do Titanic, ela havia trazido uma cópia de uma oração hebraica traduzida para o inglês que uma velha mulher Irlandesa lhe tinha dado. Após se deitar no seu beliche ela leu essa oração, e depois emprestou-a à sua companheira de quarto para que a lesse (presume-se que esta companheira de quarto fosse a hospedeira Elizabeth Leather). A oração, segundo Violet, servia para a proteger contra o fogo e a água. Violet era uma católica devota, que levava um rosário no avental e que acreditava piamente no poder da oração.

Violet conta-nos que se encontrava "confortavelmente sonolenta" na sua cama, mas não a dormir, quando o navio colidiu contra um iceberg na noite de 14 de abril.[9] Recebeu ordens para que se levantasse e para que subisse ao convés, onde constatou que os passageiros se encontravam calmos. Passado um pouco, as hospedeiras testemunharam as mulheres serem arrancadas dos seus maridos e serem depositadas nos botes salva-vidas com os seus filhos. Passado algum tempo, um oficial ordenou-as a entrar num dos botes (número 16) para mostrar às senhoras passageiras como os botes eram seguros. À medida que o bote era lançado ao mar, o oficial entregou-lhe um bebé aninhado em cobertores que Jessop, sem saber de quem se tratava, prontamente agarrou e protegeu durante a noite.

Após cerca de oito horas no bote, Violet e os outros passageiros foram salvos pelo RMS Carpathia, um navio que os resgatou do mar. Enquanto a bordo do Carpathia, uma senhora tirou o bebé que havia sido deixado aos cuidados de Violet dos braços desta e afastou-se. Violet recorda-se de estar demasiado gelada e dolorida para sequer pensar que era estranho que a senhora que lhe levara o bebê não parara para lhe agradecer. A identidade do bebé (e da senhora que ficou com ele) é, ainda hoje, desconhecida.[8]

HMHS Britannic[editar | editar código-fonte]

Durante a Primeira Guerra Mundial, Violet juntou-se à Cruz Vermelha Britânica, onde trabalhou como enfermeira.[5] Em 1916, estava a bordo do navio-hospital HMHS Britannic quando o navio atingiu uma mina marinha e se afundou no Mar Egeu.[1][10] Ela conseguiu subir a bordo de um bote salva-vidas (assegurando-se de levar consigo a sua escova de dentes que, segundo ela, foi aquilo que sentiu mais falta após o naufrágio do Titanic) mas, quando este foi lançado ao mar, foi sugado contra as hélices do navio.[10] Violet saltou do bote para dentro de água, mas a sucção levou-a a bater de cabeça contra a quilha do navio. Ficou temporariamente inconsciente, mas um dos outros botes salva-vidas pescou-a do mar e salvou-a.[1][7]

Vida tardia[editar | editar código-fonte]

Após a guerra, Violet continuou a trabalhar para a White Star Line, antes de se juntar à Red Star Line e, depois, novamente à Royal Mail Line. Durante o seu emprego na Red Star Line, Violet embarcou em dois cruzeiros à volta do mundo no maior navio daquela companhia, o SS Belgenland.

Teve um "breve e desastroso" casamento na década de 1920, do qual não teve filhos. Em 1950, aposentou-se em Great Ashfield, em Suffolk. Violet Jessop faleceu de insuficiência cardíaca no dia 5 de maio de 1971.[11][12]

Referências

  1. a b c d e (em inglês) Damon, Duane (abril de 2012). «Angel of the White Star Violet Jessop». Cobblestone. 33 (4). p. 16 
  2. (em inglês) Kaplan, David A.; Underwood, Anne (25 de novembro de 1996). «The iceberg cometh». Newsweek. 128 (22) 
  3. Jurberg, Ash. «Miss Unsinkable — The Lady Who Survived The Titanic and Two Other Shipwrecks». History of Yesterday (em inglês). Consultado em 20 de Janeiro de 2022 
  4. «A história da argentina que sobreviveu a três naufrágios desastrosos - incluindo o do Titanic». BBC News. Consultado em 20 de Janeiro de 2022 
  5. a b c (em inglês) Jessop, Violet; Maxton-Graham, John (1997). Titanic Survivor. Dobbs Ferry, Nova Iorque: Sheridan House. ISBN 1-57409-184-0 
  6. (em inglês) «Violet Jessop Biography». Biography.com. A&E Television Networks. Consultado em 26 de abril de 2016 
  7. a b (em inglês) Solomon Reid, Deborah (1 de janeiro de 1998). «Titanic survivor: the newly discovered memoirs of Violet Jessop who survived both the Titanic and Britannic disasters». The Women's Review of Books. 15. p. 9 
  8. a b c d (em inglês) Upton, Emily (28 de janeiro de 2014). «The woman who survived all three disasters aboard the sister ships: The Titanic, Britannic, and Olympic». Today I Found Out.com. Consultado em 26 de abril de 2016 
  9. (em inglês) Protasio, John (2012). «A Titanic Centennial». Naval History. 26 (2). p. 48 
  10. a b (em inglês) Gleick, Elizabeth; Carassava, Anthee (26 de outubro de 1998). «Deep Secrets». Time International (South Pacific Edition) (43). p. 72 
  11. (em inglês) Jessop, Violet (4 de abril de 2012). Titanic Survivor. [S.l.]: Sheridan House. p. 224. ISBN 978-1-4617-4032-2 
  12. (em inglês) Wynn, Stephen; Wynn, Tanya (31 de maio de 2017). Women in the Great War. [S.l.]: Pen & Sword Books Limited. p. 87. ISBN 978-1-4738-6542-6 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]