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À disposição de Sua Majestade

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O tempo de mandato dos primeiros-ministros britânicos está "à disposição de Sua Majestade". Na foto, Isabel II com os primeiros-ministros de seu reinado: David Cameron, John Major, Tony Blair e Gordon Brown.

À disposição de Sua Majestade ou à vontade de Sua Majestade (em inglês: At His Majesty's pleasure) é um termo jurídico referente à duração indeterminada de tempo de encarceramento ou de serviço e mandato dos cargos designados diretamente pelo monarca de uma nação.[1][2] A expressão é oriunda do conceito de que determinados cargos políticos são designados diretamente pelo monarca e são alterados somente sob sua vontade expressa ao invés de estarem sujeitos à vontade popular ou influências ideológicas específicas.[3][4]

O termo é aplicado mais frequentemente em referência aos cargos nomeados diretamente pelo Soberano britânico no Reino Unido, mas também ocorre em outros Reinos da Comunidade das Nações e nas demais monarquias contemporâneas como Espanha, Países Baixos e Omã.[5][6] Nos Estados monárquicos em que o soberano é representado por um vice-rei ou governador-geral, a frase costuma ser adaptada para "à disposição do Governador-Geral", refletindo o poder deste cargo de representar diretamente os interesses do soberano naquele território.[7][8]

Aplicação contemporânea[editar | editar código-fonte]

Serviço à Coroa[editar | editar código-fonte]

Atualmente, o termo "À disposição de Sua Majestade" costuma ser empregado no caso de indivíduos nomeados diretamente pela Coroa sem tempo predeterminado de mandato, sendo mais comum nos casos de governadores-gerais, primeiros-ministros e ministros da Coroa dos Reinos da Comunidade das Nações. No Canadá especificamente, os vice-governadores das províncias apontados pelo Governador-geral são descritos pela Lei constitucional de 1867 como "à disposição do Governador-geral" e não do monarca.[9] De igual modo, os Ministros de Estado australianos são descritos como servindo "à disposição do Governador-geral" na Constituição da Austrália.[10]

Encarceramento[editar | editar código-fonte]

O termo também aplica-se a casos de detenção prisional por tempo indefinido. Um magistrado pode julgar que um cidadão seja "detido à disposição de Sua Majestade" por crimes que incluam graves ofensas ou diante de alegação de insanidade mental indeferida.[11] Este procedimento costuma ser aplicado quando entende-se haver um grande risco de reincidência criminal e também como substituição à pena de prisão perpétua. Por exemplo, a Seção 259 do Ato de Sentenciamento de 2020 (válido somente em Inglaterra e Gales) afirma: "quando um indivíduo condenado por homicídio ou qualquer outro crime cuja pena é fixada por lei como prisão perpétua e parece ao tribunal ter menos de 18 anos de idade no momento em que o crime foi cometido (...) O tribunal deve condenar o infrator à detenção durante a vontade de Sua Majestade".[12]

Os detidos sob esta pena são periodicamente revisados para determinar se sua sentença pode ser abreviada ou comutada. Apesar de tradicionalmente este poder recair somente sobre o monarca, há diversas outras autoridades inferiores que normalmente encarregam-se da supervisão de comportamento e regulamentação de penas de infratores. Também são estabelecidos prazos mínimos, antes dos quais o preso não pode deixar o regime. Este papel era função direta do Secretário do Interior até 2000, quando passou a ser um dos encargos do juiz de primeira instância.[13] As sentenças dos presos são normalmente consideradas completas quando o órgão de revisão declara-se "satisfeito com o fato de que houve uma mudança significativa na atitude e no comportamento do infrator".[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Queen's pleasure». Parlamento do Reino Unido. Consultado em 8 de julho de 2024 
  2. Seraj, Zaf (21 de janeiro de 2024). «Law experts explain what it means to be detained at His Majesty's pleasure after first Malaysian charged with stalking acquitted». Malay Mail. Consultado em 8 de julho de 2024 
  3. Chancellor, Johnny Vaughan (13 de abril de 2002). «At her majesty's pleasure». The Guardian. Consultado em 8 de julho de 2024 
  4. Haddon, Catherine (13 de setembro de 2019). «Appointment of prime ministers and the role of the King». Institute for Government. Consultado em 8 de julho de 2024 
  5. «¿Puede el Rey Felipe VI negarse a firmar los indultos?». ABC España. 16 de junho de 2021. Consultado em 8 de julho de 2024 
  6. «¿Qué hace el Rey?». Congresso dos Deputados do Reino de Espanha. Consultado em 8 de julho de 2024 
  7. «Powers and functions of the Governor-General». Parlamento da Austrália. Consultado em 8 de julho de 2024 
  8. Bellefontaine, Michelle (9 de junho de 2023). «Alberta Premier Danielle Smith appoints 24 ministers to new cabinet». CBC News. Consultado em 8 de julho de 2024 
  9. «Constitution Act, 1867». Solon.org. 29 de março de 1867. Consultado em 8 de julho de 2024 
  10. «Commonwealth of Australia Constitution Act, II.62». Federal Register of Legislation. 1 de janeiro de 1901. Consultado em 8 de julho de 2024 
  11. «Children and Young Persons Act 1933». legislation.gov.uk. 1933. Consultado em 8 de julho de 2024 
  12. «Sentencing Act 2020». legislation.gov.uk. 2020. Consultado em 8 de julho de 2024 
  13. a b «Review of Minimum Terms set for Young Offenders detained at her Majesty's Pleasure». HM Courts Service. 2 de janeiro de 2000. Consultado em 8 de julho de 2024