Afloramento (geologia)
Em geologia, um afloramento é a exposição de uma rocha na superfície da Terra. Pode ser formada naturalmente pela erosão do solo que cobria a rocha, ou pela ação humana, como por exemplo, em cortes de estradas ou em pedreiras.
Afloramentos são muito importantes nos estudos geológicos pois permitem a observação direta das rochas e o estudo da geologia local e regional. Além disto, possibilitam a coleta de amostras destas rochas, que podem ser analisadas em laboratórios quanto à sua composição mineralógica e química, idade, conteúdo fossilífero (no caso de rocha sedimentares), e etc.
Através dos afloramentos, os geólogos podem fazer mapas geológicos de superfície e, assim, conhecer as características das rochas em uma região e sua extensão em área, e auxiliar na pesquisa de recursos minerais, petróleo, na geologia de engenharia e etc.
Tipos de afloramentos rochosos no Brasil
[editar | editar código-fonte]Ao longo do Brasil são reconhecidas 4 áreas rochosas distintas de afloramento rochoso:
- Afloramentos calcários
- Campos de altitude
- Campos rupestres
- Inselbergues
Cada grupo rochoso possui uma flora distinta, com espécies de plantas específicas que se desenvolvem apenas nesses ambientes. A destruição ou alteração desses afloramentos pode ameaçar essas plantas únicas, tornando a conservação dessas rochas e suas espécies essencial para preservar a biodiversidade e a própria existência dessas plantas na Terra.[1]
Inselbergue
[editar | editar código-fonte]Entre as quatro áreas rochosas, os inselbergues se destacam, sendo formados principalmente por granito e gnaisse. Essas rochas, que se destacam como elevações monolíticas ou agrupadas isoladas na paisagem, são mais comuns em regiões tropicais, embora ocorram em todo o mundo. Elas criam paisagens únicas e atraem visitantes ao longo do ano, não apenas pela beleza do entorno, mas também pela natureza local.[2] No Brasil, os inselbergues são definidos como formações abaixo de 1000 metros de altitude, enquanto as mais altas são chamadas de campos de altitude. O termo “Pão de Açúcar”, embora seja o nome de um inselbergue famoso no Rio de Janeiro, é também usado para se referir a inselbergues na Região Sudeste do Brasil. Originado do alemão “insel” (ilha) e “berg” (montanha), o termo foi criado pelo geólogo Friedrich Bornhardt em 1900 para descrever montanhas de origem Pré-Cambriana que se destacam do plano circundante, inicialmente observadas nas planícies da Namíbia. Os inselbergues podem ser considerados “ilhas de habitats” ou “ilhas terrestres”, dependendo da escala de análise.[3]
Flora de inselbergue
[editar | editar código-fonte]À distância, os inselbergues parecem ser vastas extensões de rocha nua, mas desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade por serem ecologicamente isolados. Esses ambientes são influenciados pelas fitofisionomias ao redor e possuem filtros ambientais específicos, como alta insolação, temperaturas elevadas, grande evaporação e baixa cobertura do solo, que limitam a disponibilidade de nutrientes e água. As plantas que colonizam os inselbergues variam, podendo crescer diretamente sobre a rocha, em sedimentos ou em ilhas de vegetação, conforme a declividade e a profundidade do solo. Esses ambientes apresentam uma rica diversidade de espécies, muitas delas endêmicas da Mata Atlântica, e funcionam como refúgios ecológicos. Aproximadamente 45% das espécies endêmicas da Mata Atlântica ocorrem apenas em locais marginais como os inselbergues, tornando sua preservação essencial para manter a biodiversidade. Entre as espécies que habitam os inselbergues, destacam-se as famílias Cyperaceae e Velloziaceae, além de licófitas, musgos e fungos liquenizados. Estas plantas e organismos, como as licófitas do gênero Selaginella, são importantes para a sucessão primária e a formação de "tapetes" vegetais que facilitam o crescimento de outras espécies.[4]
Inselbergues referem-se a rochas maciças cristalinas, enquanto fragmentos dessas rochas que se soltam e permanecem dispersos na vegetação. Esses fragmentos podem acumular diversas plantas, incluindo algas, briófitas, samambaias e angiospermas, dependendo de fatores como área de superfície, exposição solar, e proximidade com rios e o oceano.[5] No Parque Estadual da Serra da Tiririca, observou-se que grandes figueiras, como Ficus adhatodifolia e Ficus gomelleira, têm raízes que se inserem nas fendas dos matacões, ajudando a estabilizá-los e prevenir deslizamentos. Além disso, espécies herbáceas formam comunidades rupícolas e saxícolas nos matacões, acumulando matéria orgânica. As famílias Araceae, Begoniaceae e Bromeliaceae são especialmente notáveis por reter material orgânico do dossel, contribuindo para a formação de novos substratos sobre os matacões.[6]
Degradação ambiental
[editar | editar código-fonte]Embora o conhecimento sobre a flora dos inselbergues ainda seja limitado, houve avanços significativos, como o checklist de plantas vasculares apresentado para a Região Sudeste e Bahia. Essas áreas não são prioritárias para conservação e enfrentam intensa destruição devido a atividades humanas, como pastoreio, extração de rochas, coleta de plantas, queimadas, turismo, introdução de espécies exóticas, e outros impactos como pisoteio, descarte de resíduos e vandalismo. A falta de educação ambiental nas Unidades de Conservação agrava o problema, levando à diminuição de plantas endêmicas, raras e ameaçadas. Os inselbergues são importantes para a descoberta de novas espécies e o reencontro com espécies raras, o que reforça a necessidade de sua conservação.[7]
Referências
- ↑ (Porembski, 2007; Scarano, 2014; De Paula et al. 2016; 2024).
- ↑ (Porembski 2007; De Paula 2016)
- ↑ (Lima et al., 2009; De Paula et al., 2016; 2024).
- ↑ (Porembski et al., 1998; Scarano, 2009; De Paula et al., 2016; 2020; Silva, 2016; Neves et al., 2017; Machado et al., 2020).
- ↑ (Krupek, 2007; Barros et al., 2009; Barbosa, 2010; Mortara 2012).
- ↑ (Barros, 2008; Dutra Junior 2021; 2024; Machado et al. 2022)
- ↑ (Pinheiro, 2014; Fernandes et al., 2020; 2023; De Paula et al., 2016; 2020; 2024; Machado et al., 2022)
Bibliografia
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- DUTRA JUNIOR, D. L. S. Araceae do município de Maricá, estado do Rio de Janeiro, Brasil. 2024. 207 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) – Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024.
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Ligações externas
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