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Aloha Wanderwell

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Aloha Wanderwell
Aloha Wanderwell
Nascimento Idris Galcia Welsh
13 de outubro de 1907
Winnipeg
Morte 4 de junho de 1996
Newport Beach
Cidadania Canadá
Cônjuge Walter Wanderwell
Ocupação explorador, diretor de fotografia, realizadora de cinema, realizadora de documentários, editora de filme, atriz, conferencista, fotógrafa, produtora cinematográfica, escritora

Aloha Wanderwell (13 de outubro de 1906, Winnipeg, Manitoba, Canadá - 4 de junho de 1996), nascida Idris Galcia Welsh e posteriormente Idris Galcia Hall, foi uma exploradora, autora, cineasta documentarista, aviadora e automobilista canadense, referida por alguns historiadores como a versão feminina de Indiana Jones.[1] Aos 16 anos, tornou-se na primeira mulher piloto a circunavegar o globo num Ford 1918 Modelo T, durante um período de cinco anos (1922–1927). Durante a sua vida, percorreu cerca de 500.000 milhas por 80 países.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros Anos[editar | editar código-fonte]

Idris Galcia Welsh nasceu a 13 de outubro de 1906, em Winnipeg, Manitoba, filha de Margaret Jane Hedley e Robert Welsh. Três anos depois, quando sua mãe se casou com Herbert Hall, um abastado investidor e rancheiro da Ilha de Vancouver, foi perfilhada pelo padrasto, passando a utilizar o nome Idris Galcia Hall[2] e a viver entre Parksville e Duncan, na Colúmbia Britânica.[3]

Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, o seu padrasto ingressou na Força Expedicionária Canadense e após chegar à Inglaterra foi transferido para o Exército Britânico, tendo sido nomeado tenente da Infantaria Ligeira de Durham. Durante esse período, Idris, a sua irmã Margaret Verner "Miki" Hall e sua mãe, seguiram-no pela Europa, onde viajaram pela Inglaterra, Bélgica e França. Durante a sua estadia na Europa, Idris frequentou os internatos Benedictine Soeurs du Saint-Sacrement em Courtrai, Bélgica, e Chateau Neuf em Nice, França.[3] Em junho de 1917, Herbert Hall foi morto em combate em Ypres, Bélgica.[4]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Com apenas 16 anos, Idris começou a sua carreira de aventureira e exploradora em Paris, quando, em 1922, respondeu ao anúncio “Brains, Beauty & Breeches – World Tour Offer For Lucky Young Woman… Wanted to join an expedition!” que procurava jovens destemidas para realizar uma expedição à volta do mundo ao lado do controverso e popular automobilista polaco Walter “Cap” Wanderwell (nascido Valerian Johannes Pieczynski). Em 1921, Walter Wanderwell ficara conhecido pela sua participação na Million Dollar Wager, uma corrida de resistência à volta do mundo entre duas equipas que competiam com carros modelo T da Ford. Figura polêmica, havia também sido preso nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial sob suspeita de ser espião alemão, mas foi libertado em 1918. Possuindo conhecimentos sobre mecânica, Idris Hall conseguiu o cargo, partindo para África, onde conduziu pela primeira vez um Ford Model-T.

Durante as suas viagens, Idris Hall trabalhou como tradutora, motorista e documentarista, aprendeu a pilotar aviões e automóveis, assumiu o nome artístico “Aloha Wanderwell” e iniciou uma relação amorosa com Walter, embora ele fosse casado na época.[4] O casal, sob a alçada das Expedições Wanderwell, teve inúmeras aventuras e peripécias que documentaram em vários filmes. Os documentários, registados em nitrato de 35 mm e filme de 16 mm, estão guardados atualmente nos arquivos da Biblioteca do Congresso e da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.[5] Durante esse período, Aloha se apresentou como oradora no palco, dando palestras sobre as viagens que realizava, tendo como pano de fundo o filme mudo Car and Camera Around the World.

A Expedição Wanderwell[editar | editar código-fonte]

Durante as suas viagens por África, de 1926 a 1928, quando não tinham combustível, utilizaram materiais não convencionais como querosene, água, bananas esmagadas e até gordura de elefante.[6] Na Índia, por diversas ocasiões tiveram que rebocar o seu carro Ford, devido às monções e ao piso enlameado, assim como na China, em 1924, durante a guerra civil, devido à falta de combustível, utilizaram trabalhadores chineses para empurar o carro durante 80 milhas (cerca de 129 km).

Durante uma das suas expedições no Brasil, Aloha Wanderwell viveu entre os Bororos, realizando a primeira documentação cinematográfica do povo indígena, e em 1924, em Calcutá, cruzou-se com aviões que realizavam a primeira circunavegação aérea, conseguindo documentar o evento.

A tour global incluiu 43 países. O autor Stookie Allen afirma que durante esse período, Aloha Wanderwell cortou o cabelo e lutou como membro da Legião Estrangeira Francesa.[3]

A white man and woman standing in front of a Ford automobile painted with the words "Wanderwell around the world endurance contest"; both are wearing uniform-style clothing
Walter e Aloha Wanderwell com o seu automóvel Ford em uma publicação de 1925

"Primeira mulher a dirigir ao redor do mundo", 1922–1927[editar | editar código-fonte]

Aloha Wanderwell se tornou a primeira mulher a dirigir ao redor do mundo, começando e terminando a sua jornada em Nice, França, entre 29 de dezembro de 1922 e janeiro de 1927.[7] Até então o título pertencia a Harriet White Fisher, considerada a primeira mulher a circunavegar o mundo num automóvel, entre 1909 e 1910,[8] contudo ela usava motorista e não conduzia.

Parcialmente patrocinada pela Ford Motor Company, a viagem à volta do mundo também se sustentou financeiramente através das filmagens e palestras de viagens que realizava, desde África, passando pelo Médio Oriente até à Ásia.[9]

Encontro com o povo Bororo, Brasil[editar | editar código-fonte]

Em 1930 e 1931, Aloha Wanderwell aprendeu a pilotar um hidroavião alemão, "Junker", que mais tarde pousaria numa parte desconhecida do Rio Amazonas quando os Wanderwells viajaram para o estado de Mato Grosso, no Brasil, onde montaram acampamento na Fazenda Descalvados em Cuiabá e ostensivamente procuravam pelo explorador perdido Coronel Percival Harrison Fawcett, que desaparecera em busca da lendária Cidade Perdida de Z em 1925.

A bordo do hidroavião, fizeram várias expedições. Uma vez, ao ficarem sem combustível, realizaram uma amaragem no rio Paraguai e receberam ajuda do povo Bororo. O operador de câmara da Wanderwall Expeditions filmou uma dança cerimonial, uma encenação de primeiro contato com os moradores de Boboré, e homens Bororo a simular dolorosas dores de parto. O filme mudo de 32 minutos, chamado Last of the Bororos, está preservado nos Arquivos de Filmes de Estudos Humanos da Smithsonian Institution e inclui o encontro de Aloha Wanderwell com o explorador brasileiro Cândido Rondon.[3][10][11]

Casamento com Walter Wanderwell[editar | editar código-fonte]

Chegando aos Estados Unidos em 1925, Aloha casou-se com Walter Wanderwell a 7 de abril, em Riverside, Califórnia. O seu matrimónio impediu o FBI de prender Walter Wanderwell sob a Lei Mann, uma lei que proíbia o transporte de mulheres através das fronteiras estaduais para "fins imorais".[4][12]

Fruto do seu casamento, Aloha deu à luz uma filha, Valri, em dezembro de 1925 e um filho, Nile, em abril de 1927.

Após as suas viagens, em 1929, os Wanderwell retornaram aos Estados Unidos onde moravam em Miami e doaram um dos seus Modelo T, conhecido como Little Lizzie, para Henry Ford antes da exibição do filme Car and Camera Around the World.[13] Em 1942, Henry Ford decidiu que Little Lizzie e 50 outros automóveis seriam desmantelados para o esforço de guerra.[14]

Assassinato de Walter Wanderwell[editar | editar código-fonte]

No final de 1932, o casal Wanderwell comprou um iate, o Carma, de 110 pés, com a intenção de documentar em filme a sua viagem aos Mares do Sul.

A 5 de dezembro de 1932, um dia antes do embarque, Walter Wanderwell foi assassinado a bordo do iate, enquanto este estava no porto perto de Long Beach, Califórnia.[15] William James Guy, membro da expedição de 1931 à América do Sul, que havia tentado criar um motim numa viagem anterior, foi julgado pelo crime. Guy tinha um álibi e foi absolvido pelo júri e pelo juiz Kenny.[4][16] Outro homem, Edward Eugene Fernando Montague, foi brevemente considerado suspeito, mas nunca foi acusado.[4]

Vida posterior[editar | editar código-fonte]

Em 1933, um ano após o assassinato do seu marido, Aloha Wanderwell casou-se com Walter Baker,[17] no estado de Luisiana,[4] e continuou as suas viagens, visitando mais de 80 países e seis continentes, dirigindo mais de 800.000 quilómetros em veículos Ford.[18] Os seus últimos filmes incluem To See the World by Car (1935–37), India Now, e Explorers of the Purple Sage, em Technicolor, que contém a única filmagem conhecida de Desert Dust, o famoso cavalo selvagem palomino.

Aloha continuou a dar palestras e, durante esse período, escreveu um relato autobiográfico de suas viagens, Call to Adventure!, publicado em 1939 e republicado em 2012.

O casal se estabeleceu em Cincinnati, Ohio, onde Aloha trabalhou na rádio (WLW Radio) e no jornalismo impresso. Em 1947, ela e Baker mudaram-se para a comunidade de Lido Isle, em Newport Beach, Califórnia. Aloha fez sua apresentação final para 150 familiares e convidados, com o Dr. Pete Lee, curador do Museu de História Natural de Los Angeles em 1982. Ela morreu em 4 de junho de 1996. [4]

Obras[editar | editar código-fonte]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

  • Australia Now
  • Cape to Cairo
  • Car and Camera Around the World
  • Explorers of the Purple Sage
  • Flight to the Stone Age
  • India Now
  • Last of the Borobos
  • Magic of Mexico
  • My Hawaii
  • River of Death
  • To See the World by Car
  • Victory in the Pacific

Literatura[editar | editar código-fonte]

  • Call to Adventure!

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Wanderwell, Aloha; Trust, Richard Diamond; 949-891-1024; Info@alohawanderwell.com. «Aloha Wanderwell - World's Most Widely Traveled Woman». Aloha Wanderwell (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2024 
  2. Obee, Dave (20 de novembro de 2016). «Fearless young adventurer had roots on the Island». Times Colonist. Consultado em 22 de novembro de 2016. Arquivado do original em 21 de dezembro de 2019 
  3. a b c d Levine, Allan E. «Aloha Wanderwell». The Canadian Encyclopedia. Consultado em 16 de Agosto de 2022  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Levine" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  4. a b c d e f g Newton, Michael (2009). «Wanderwell, Walter». The Encyclopedia of Unsolved Crimes 2nd ed. New York: Facts on File. pp. 385–387. ISBN 978-1-4381-1914-4  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Newton" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  5. Rickey, Carrie (17 de abril de 2019). «Overlooked No More: Aloha Wanderwell, Explorer and Filmmaker». The New York Times. New York Times. Consultado em 22 de junho de 2019. Arquivado do original em 18 de maio de 2020 
  6. «Globe-Circling Car to be Gift to Ford: Aloha Wanderwell to Present Dearborn Museum Auto She and Husband Used». The New York Times. November 30, 1929  Verifique data em: |data= (ajuda)
  7. «Guinness World Records: First Woman to Drive Around the World in an Automobile, 1922–1927». Consultado em 4 de julho de 2017. Arquivado do original em 21 de outubro de 2021 
  8. Harriet White Fisher: A Woman's World Tour in a Motor, 1911
  9. Bell, Joseph N. (30 de setembro de 1989). «The Newport Connection to 'Great Air Race'». Los Angeles Times. Consultado em 8 de outubro de 2012. Arquivado do original em 14 de maio de 2015 
  10. «Last of the Bororos 1930–1931». Human Studies Film Archives. Smithsonian Institution. Consultado em 8 de outubro de 2012. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2016 
  11. Staples, Amy J. (2006). «Safari Adventure: Forgotten Cinematic Journeys in Africa». Film History: An International Journal. 18 (4): 392–411. doi:10.1353/fih.2007.0007. Consultado em 8 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 3 de fevereiro de 2016 
  12. Levine, Allan E. «Aloha Wanderwell, Walter Piecynski, assorted hanky-panky and the Mann Act». Armchair Adventurers. Consultado em 5 de outubro de 2012. Arquivado do original em 23 de janeiro de 2013 
  13. «Around-the-World Movie: Miss Wanderwell's Exploits With Camera Shown at Fifth Avenue.». The New York Times. 17 de dezembro de 1929. Consultado em 23 de julho de 2018. Arquivado do original em 23 de julho de 2018 
  14. Treace, Dan. «The Wanderwell Expedition: Model T Fords circle the globe 1919–1925». Tmodelman.com. Consultado em 5 de outubro de 2012. Arquivado do original em 14 de janeiro de 2012 
  15. «Guy Arraigned in Yacht Murder; Hearing Dec. 19». St. Joseph Gazette. 15 de dezembro de 1932. Consultado em 6 de dezembro de 2020. Arquivado do original em 3 de março de 2023 
  16. «Wanderwell Note Lost Since Death: Widow, at Trial, Says Missing Paper Involved Guy, the Man Accused of Murder». The New York Times. February 4, 1933  Verifique data em: |data= (ajuda)
  17. Mashon, Mike (25 de março de 2015). «The Films of Aloha Wanderwell Baker: An Archival Collaboration | Now See Hear!». The Library of Congress. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  18. «World Traveler Received Greatest Thrill in View of Rulers at Close Range». Ottawa Citizen. June 22, 1939. Consultado em December 6, 2020. Arquivado do original em March 3, 2023  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Baker, Aloha (1939). Call to Adventure!. New York: R.M. McBride & company. OCLC 3431170 
  • Papers of Aloha Baker, 1918–1932.
  • Aloha Wanderwell Call to Adventure: True Tales of the Wanderwell Expedition, First Women to Circle the World in an Automobile. ISBN 1484118804ISBN 1484118804
  • Christian Fink-Jensen with Randolph Eustace-Walden Aloha Wanderwell: The Border-Smashing Record-Setting Life of the World's Youngest Explorer published by Goose Lane (Vancouver, British Columbia, Canada), 2016
  • Tejera, P. (2018). Reinas de la carretera. Madrid: Ediciones Casiopea.

links externos[editar | editar código-fonte]